Por que Materializar Espíritos?

José Herculano Pires

Porque materializar espíritos, quando o que mais precisamos é de espiritualizar homens? A resposta é simples: porque assim provamos a existência do espírito. As tentativas de espiritualização do homem, por meio da razão e da fé, de que a Idade Média nos oferece os mais completos exemplos, não deram os resultados desejados.

Pelo contrário, o desenvolvimento do materialismo, através das ciências empíricas, ameaçou a destruição completa do edifício milenar da fé. E foi exatamente nessa hora que os fenômenos espíritas reagiram contra o materialismo, usando como diz Kardec, as mesmas armas deste e no seu próprio campo de ação.

As pessoas satisfeitas com as teorias espirituais que esposam, em geral não compreendem a necessidade de provas materiais da existência do espírito. Mas a própria história se incumbe de nos mostrar que essas provas são necessárias, a começar pelo episódio de São Tomé (Evangelho de João, capitulo 20).

Os homens se dividem, segundo um principio filosófico, em racionais e empíricos. Os racionais se contentam com a demonstração de tipo silogístico, aristotélico, mas os empíricos exigem a experiência concreta, querem por os dedos nas chagas.

E se os primeiros são bem-aventurados, nem por isso o Cristo desprezou os segundos, pois se submeteu à prova. Por outro lado, é preciso convir que “Kant” tinha razão, ao mostrar que a razão pura pode levar-nos a todas as antinomias.

Há muitos espíritas que nunca puseram os dedos nas chagas. Muitos bem aventurados que se fizeram espíritas por força do simples raciocínio. Mas há outros que só chegaram a concepção espírita depois de longas lutas, anos de dúvida e hesitação, durante as quais as provas materiais exerceram papel decisivo no seu processo pessoal de espiritualização.

Os fenômenos físicos da mediunidade: movimento de objetos, materializações e desmaterializações parciais ou totais, em voz direta (pelo qual os espíritos falam diretamente vibrando a voz no ar, sem se servirem do aparelho vocal do médium), constituem a base das pesquisas cientificas do Espiritismo. E alguém poderá alegar a inutilidade dessas pesquisas, na era cientifica em que vivemos?

Quantos desesperos, quantas angustias foram e são minorados pelas experiências espíritas de materialização! Isso prova que as materializações não pertencem apenas à ciência, mas também à religião. São as formas mais eficientes de consolação oferecidas pela doutrina espírita.

Frederico Figner e sua esposa, desolados com a perda de sua filha Rachel, só encontraram consolo quando a menina se materializou nas famosas sessões da médium “Ana Prado”, no Pará, provando-lhes que não havia sido destruída pela morte e pedindo à mãe que tirasse o luto. César Lombroso, o grande criminologista italiano, sente-se renovado ao ver sua mãe materializada, numa sessão com “Eusápia Paladino”.

As materializações consolam, confortam, renovam o homem, abrem-lhe perspectivas novas ao pensamento, demonstrando de maneira concreta a continuidade da vida após a morte. Foi graças a elas que “Richet”, o grande fisiologista, depois de angustiantes dúvidas, rendeu-se a evidência da sobrevivência e declarou, numa carta a “Cairbar Schutel”: “A morte é a porta da vida”.

Há quem se mostre aterrorizado com a possibilidade dos fenômenos de materialização, como aconteceu com o escritor “Thomas Mann”. O medo da morte, cultivado no homem ocidental através dos milênios, tem raízes profundas. Mas há também os que se alegram e se entusiasmam com eles, como o escritor “Denis Bradley” em “Rumo as Estrelas”.

A verdade, porém, é que existindo os fenômenos, devem ser objeto de pesquisa. O Espiritismo não os utiliza somente para provar a sobrevivência espiritual, mas, principalmente para investigar as relações existentes entre o sensível e o inteligível, a forma e a matéria, o corpo espiritual e o corpo material (como define o apóstolo Paulo), a alma e o corpo das concepções religiosas.

Esse problema é de importância fundamental para o homem, muito mais que a desintegração atômica e a conquista do espaço sideral. E os fenômenos de materialização encerram os segredos da sua solução.