Cidades espirituais

As cidades espirituais existem?
Por Christina Nunes

Tudo o que é criado existe. Sai do território nebuloso do metafórico, do nada, para o da manifestação. Sim, não importa aqui se a criação reside temporariamente na área do pensamento ou da idealização para tomar forma, pouco ou muito depois.

Cada objeto, casa, ponte, neste mundo, eclodiu de um ou mais de um pensamento que os projetou. Assim, nos parece lógico que sua existência possa ser admitida a partir do instante em que o fato se delineou na mente de seus idealizadores.

Confirmação para esta assertiva, aliás, verifica-se na constatação de que tudo no universo constitui energia, movimento e manipulação destas mesmas energias.

O pensamento, portanto, é energia. Possui consistência própria, cor, brilho, e influência positiva em todos os mais variados aspectos da existência, como nos demonstram os estudos de valor de C. W. Leadbeater e outros cientistas de vanguarda.

Sobretudo, o pensamento, fonte criadora por excelência, interage conosco! Atua em nosso próprio campo mental, e, portanto, é passível de modificá-lo ou robustecê-lo, obediente às leis da sintonia.

Experimente expressar pensamentos agressivos de entremeio a uma briga já acalorada, e confirmará facilmente que o que se projetou em instantes do seu campo emocional e mental para um ambiente de si já turbulento só servirá para robustecer o campo energético hostil daquele ambiente, com consequências múltiplas, e certamente desagradáveis para todos os envolvidos.

De outro modo, com consciência e intenção, façamos o inverso. Nalguma oportunidade propícia, experimentemos intervir em contenda desagradável num sentido conciliatório, harmonizador.

E também, é quase certo, na dependência das resistências individuais ou do calor do momento, poderemos verificar que a emissão intencional de um padrão mental saneador no ambiente há de, quando não, esfriar os ânimos; ou induzir os circunstantes a algum desvio salutar de atitudes no sentido de um consenso pacífico.

É um equívoco afirmar que
Não existem as cidades espirituais!

Toda esta digressão para introduzir o tema das manifestações de vida noutros níveis, imperceptíveis aos sentidos carnais, questão ainda agora tão passível de polêmicas e de debates acalorados entre espiritualistas ou interessados nesta realidade palpitante, porque costuma-se, com alguma frequência, lançar a afirmação equivocada de que as aludidas cidades, colônias ou estações provisórias de vida, na qual estagiam os Espíritos desencarnados, "não existem".

É, pois, mais do que tempo de se corrigir esta noção, por amor das realidades que a própria ciência em avanço já vai desvendando! Ou incorreremos, infelizmente, e talvez que em muito pouco tempo, nas situações havidas no passado secular com religiões institucionalizadas, que se viram obrigadas a admitir em público seus erros de visão ao condenar expoentes do pensamento que apenas, e não mais que isso, iam desvendando leis e mistérios das leis naturais, até então não compreendidos.

E, convenhamos, tratar-se-ia de um acontecimento de contexto desmoralizatório que, penso, uma Doutrina de vulto como a Codificação de Allan Kardec não merece sofrer!

Ainda esta semana lia num exemplar da revista Veja as novidades da tecnologia para os aparelhos de TV de um futuro nem tão distante. Algo, aliás, que em reflexões conjuntas com as inspirações dos mentores, mais de uma vez intuíamos, com o passar dos anos: os próximos televisores haverão de ser holográficos! Impensável, há apenas alguns poucos anos, durante os quais tais maravilhas só nos surgiam no território fantástico dos filmes de ficção, não? Pois, amigos leitores, preparem-se! É o que o porvir da tecnologia do conforto doméstico está nos reservando para breve!

Tomemos para exemplo, então, o universo das imagens holográficas, para breve análise e comparação útil! A exemplo do que acontece hoje com a TV à qual estamos habituados, as imagens projetadas no ar à nossa frente com todo o realismo nos provocarão as mesmas reações a que nos acostumamos ao assistir a um filme de ação, ou drama, ou aos documentários ou entrevistas.

Vendo, no espaço de nossa sala doméstica, atores, entrevistadores ou indivíduos emitindo opiniões ou vivenciando situações exibidas em noticiários, inevitavelmente não pararemos para considerar que "essas imagens não existem, portanto não me afetam"! Improvável!

Pude presenciar um ambiente
específico da colônia Nosso Lar.

Haveremos, sim, de nos comovermos diante da notícia triste, nos enlevarmos frente ao espetáculo musical grandioso, tal como nos aconteceria se estivéssemos presentes, em tempo real, no local onde acontece o que é exibido, porque, em verdade, as imagens nos remetem, ainda que quando se tratem de fatos gravados num tempo anterior, a pessoas e a cenários reais!

As imagens diante de nós, portanto, não possuirão consistência sólida, mas serão uma ponte para os participantes palpáveis das situações! A realidade das cidades e colônias para onde nos encaminhamos após o nosso período na esfera material de manifestação não diferem, em essência, do que acima é exposto.

Vez houve em que já as visitei, por desprendimento, e surpreendendo monumental movimento de vida, em todos os níveis! Pude presenciar, a título de estudo e colaboração, e ciceroneada por meus mentores, um ambiente específico da colônia Nosso Lar, onde se efetivam atendimentos a recém-vindos.

Conversei com pessoas, em meio a autêntico tumulto de ir e vir de quem acolhia os recém-chegados, de quem por eles era recebido, e de gente em situação de reencarnada ainda, que ali comparecia também em desprendimento noturno para visitar os seus.

Acompanhada de uma mentora gentil, em ambiente amplo, campestre, do lado de fora da Instituição socorrista, pude, inclusive, em apoio ao que ali era realizado, confortar um jovem pai inconsolável pela perda de um filho ainda em fase infantil.

Dizia-lhe que procurasse observar em volta, e compreender que afinal seu filho apenas continuava num outro lugar. Não se findara, de fato. E, ali, podia ele constatar que, matematicamente, num dia haveria o reencontro! O rapaz, expressando certo alívio, nos ouvia. E aguardava o momento em que poderia visitar o filho.

Tudo com riqueza de detalhes físicos e circunstanciais, nítidos! O rapaz era um indivíduo alvo e ruivo. A mentora que me acompanhava tinha um aspecto jovem e personalidade simpática, de estatura algo baixa e cabelos castanhos alcançando os ombros.

Não apenas ao entretenimento
se devota o exercício artístico musical

Outras ocasiões houve em que visitamos esses lugares em circunstâncias diferentes, sempre esfervilhantes de vida, desta mesma vida à qual nos vemos todos ambientados, regidas por atividades múltiplas em compatibilidade com cada iniciativa própria, com cada intenção e propensão.

Vez houve em que Iohan, o amigo espiritual querido com quem hoje realizo deliciosa parceria no trabalho dos romances psicografados, me conduziu a uma visita à estância do invisível onde habita, onde prossegue no trabalho grato que lhe caracteriza índole e pendores, como músico.

Vi-me em sala grande, de compartimentos coligados, onde vários músicos ensaiavam para uma apresentação futura. Um coral, no meio do qual fui ter com a mesma mentora atenciosa e paciente da experiência anterior, aguardando as instruções do regente dedicado.

Mais tarde, explicava-me o autor de nossas atuais obras que não apenas ao entretenimento se devota o exercício artístico e, no seu caso específico, musical, nestas esferas mais depuradas da vida.

Também é ferramenta terapêutica poderosa no restabelecimento e readaptação das dezenas de pessoas que diariamente retornam a estas dimensões da Criação divina, de modo que não há um único departamento destes lugares que não contribua para a magnetização propícia das energias de cura, de restabelecimento, as expressões mais elevadas das produções musicais, inclusive das já realizadas no âmbito da esfera física pelos grandes mestres que nos visitaram o orbe ao longo dos séculos!

Pode com facilidade, a partir dessas colocações, o leitor interessado em analisar o assunto, desde que despojado de limitações de entendimento auto-impostas, ou de preconceitos formados a partir de uma cristalização inadequada de conceitos a partir do estudo da Doutrina Kardecista, compreender que uma tal riqueza de cenários e de realizações acontecendo simultaneamente noutras dimensões da vida, às quais todos estamos destinados a retornar, não é passível de endossar a afirmação simplória de que "colônias espirituais não existem porque são criação de Espíritos inferiores!".
  
Não se ensina à criança o que se
ensina ao adulto; cada coisa tem seu tempo

Ao contrário do que se pretende com tal análise superficial, precipitada dos fatos, no próprio corpo doutrinário do Espiritismo, é dito, factualmente, no cap. IV do “O Livro dos Espíritos:

Pergunta 182: Podemos conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes mundos? Resposta: "Nós, Espíritos, não podemos responder senão na medida do vosso grau de evolução. Quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em condições de compreendê-las, e elas os perturbariam."

Pergunta 801: Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensinam hoje? Resposta: "Não ensinai às crianças o que ensinai aos adultos e não dais ao recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem o seu tempo.

Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender. Pelo seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que agora vai frutificar."

Pergunta 81: Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos? Resposta: "Sem dúvida que têm corpos, porque é necessário que o Espírito se revista de matéria para agir sobre ela; mas este envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza a que chegaram os Espíritos e é isto que determina as diferenças entre os mundos que temos de percorrer.

Porque há muitas moradas na Casa de nosso Pai, e muitos graus, portanto. Alguns o sabem e têm consciência disso aqui na Terra, mas outros nada sabem."  Basta-nos, então, uma análise criteriosa e estudo sério da própria Codificação para o preciso reajuste de entendimento.

Porque se tudo é vida e evolução, e o mesmo Cristo nos adiantou, para o nosso grau ainda restrito de entendimento de tempos recuados, que "Na Casa de meu Pai há muitas moradas", o lançar-se impensadamente, e em público, a afirmativa mal refletida de que "os mundos e colônias espirituais não existem e são criações de Espíritos inferiores" reflete, antes de tudo, profundo e invigilante desapreço, primeiro para com o que os próprios Espíritos tutelares da humanidade vêm nos segredando, em processo didático, gradativo, e concomitante com o nosso grau evolutivo nas diversas etapas de obscurecimento consciencial na matéria.

Então, Espíritos inferiores criariam locais tão perfeitos para a nossa evolução? E, em segundo, tal distorção de entendimento espelha falha mais grave de esclarecimento espiritual para com o que nos revelou o mesmo Jesus, Governador planetário em missão divina de amparo e direcionamento da nossa humanidade ainda mergulhada nas consequências lastimáveis destes e de outros erros de visão, responsáveis pelo nosso atraso e extrema desorientação nos palcos do mundo em razão desta ausência de convicção definitiva da mera continuidade da vida, proporcional aos nossos feitos!


Pois apenas esta certeza nos situará com maior determinação os passos no rumo correto para os progressos maiores da evolução do Espírito!