Quando se lança um golpe de
vista sobre o passado, quando se evoca a recordação das religiões
desaparecidas, das crenças extintas, apodera-se de nós uma espécie
de vertigem ante o aspecto das sinuosidades percorridas pelo pensamento humano.
Lenta é sua marcha. Parece, a princípio, comprazer-se nas criptas sombrias da
Índia, nos templos subterrâneos do Egito, nas catacumbas de Roma, na meia-luz
das catedrais; parece preferir os lugares escuros à atmosfera pesada das
escolas, o silêncio dos claustros às claridades do céu, aos livres espaços, em
uma palavra, ao estudo da Natureza.
Um primeiro exame, uma
comparação superficial das crenças e das superstições do passado conduz
inevitavelmente à dúvida. Mas, levantando-se o véu exterior e brilhante
que ocultava às massas os grandes mistérios, penetrando-se nos santuários da
Idéia religiosa, achamo-nos em presença de um fato de alcance considerável. As
formas materiais, as cerimônias extravagantes dos cultos tinham por fim chocar a
Imaginação do povo. Por trás desses véus, as religiões antigas apareciam sob
aspecto diverso, revestiam caráter grave e elevado, simultaneamente científico
e filosófico. Seu ensino era duplo: exterior e público de um lado, interior
e secreto de outro, e, neste último caso, reservado somente aos “iniciados”.