Em torno do Cristianismo
Cairbar Schutel – abril de 1934
Revista Internacional de Espiritismo
O Cristianismo veio abrir à humanidade um vasto campo de estudo e de observação. Lendo-se, com atenção, o Novo Testamento, vê-se muito bem que o escopo principal de Jesus, longe de querer fundar uma religião, teve por fim incutir nos seus discípulos e ouvintes a idéia de uma vida intérmina que resiste às injunções da destruição.
As “bem-aventuranças”, excelentes exortações de esperança e consolação com que Ele erguia o ânimo abatido dos sofredores e desprotegidos da sorte, os Seus feitos maravilhosos de curas, os Seus prodígios na manipulação dos pães e dos peixes, no deserto, seja a transformação da água em vinho, nas bodas de Caná, todos esses fatos assinalam muito bem os poderes psíquicos de que Ele era dotado, poderes esses que se desenvolvem atualmente nos homens e se acham magnificamente catalogados no “Livro dos Médiuns” e constituem o apanágio das almas que têm suas vistas voltadas para as coisas espirituais.
Em todos os seus discursos e exortações à multidão que o cercava, Jesus não Se esquecia de anunciar o Seu principal ponto de vista, que Ele resumia muito bem, na seguinte sentença: “O mandamento que eu trouxe do Pai é Vida Eterna; e eu, segundo o meu modo de ver pessoalmente, vos afirmo, porque tenho conhecimento pleno, de que há Vida Eterna”.
Esse divino preceito, emanado de seus lábios puríssimos, foi plenamente demonstrado depois pelo incomparável Missionário, com as Suas aparições e manifestações depois da morte, fenômenos transcendentes que, pode-se dizer, constituem a base fundamental da Sua Doutrina, o alicerce indestrutível da Sua Palavra.
A Imortalidade, para Jesus, constitui a grande luz, cujas sublimes irradiações se estendem ao passado, projetando-se numa trama maravilhosa, em coloridos mosaicos, pela senda da perfectibilidade de ascendentes estâncias felicitantes, que nos estão reservadas. Assim têm compreendido todos os grandes homens que estudam e perquirem o porquê da vida, o motivo das peripécias por que passamos na Terra.
É muito natural e lógico que, existindo um Ser Superior, Autor da nossa vida, não poderia Ele nos criar a não ser para um fim útil de eterna existência e de incessante progresso, para apreciarmos e tomarmos parte na grande obra Universal, com as suas luzes e sons cambiantes, formando a maravilha dos mundos, que, como disse o Senhor, são as Suas múltiplas moradas.
Continuador, agora, da grande Doutrina Cristã, o Espiritismo, desdobrando-se em fatos que podem ser estudados e examinados por todos, vem prender a atenção do mundo inteiro, novamente, para a Doutrina da Imortalidade, base principal de toda a ciência, de toda a religião e de toda a organização social.
Os fenômenos psíquicos e sensoriais hodiernos, produzidos como têm sido, com certa intensidade, vêm assinalar, como outrora, o nascimento de uma era nova para a humanidade, tão desviada da fé, do amor e da sabedoria.
Estes fatos, como os que cimentaram o Cristianismo, não têm caráter milagroso e sobrenatural, como lhes pretendem dar os sacerdotes das seitas oficiais, cujos dogmas e sacramentos têm desvirtuado a essência da idéia Cristã, têm desnaturado, por completo, a Doutrina Imaculada do Filho de Deus.