A alma, dissemos, vem de Deus; é, em nós, o princípio da
inteligência e da vida. Essência misteriosa, escapa à análise, como tudo quanto
dimana do Absoluto. Criada por amor, criada para amar, tão mesquinha que pode
ser encerrada numa forma acanhada e frágil, tão grande que, com um impulso do
seu pensamento, abrange o infinito, a alma é uma partícula da essência divina
projetada no mundo material.
Desde a hora em que caiu na matéria, qual foi o caminho que seguiu
para remontar até ao ponto atual da sua carreira? Precisou passar vias escuras,
revestir formas, animar organismos que deixava ao sair de cada existência, como
se faz com um vestuário inútil.
Todos esses corpos de carne pereceram, o sopro dos destinos dispersou-se
lhe as cinzas, mas a alma persiste e permanece na sua perpetuidade, prossegue
sua marcha ascendente, percorre as inumeráveis estações da sua viagem e
dirige-se para um fim grande e apetecível, um fim que é a perfeição.