Parábola do Bom Samaritano

26 Parábola do Bom Samaritano
(Lucas X, 25:37)

Levantando-se um doutor da lei experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na lei? Como lês tu? Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo.

Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? Prosseguindo Jesus disse:

Um homem descia de Jerusalém a Jerico, e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. Por uma coincidência descia por aquele caminho um “Sacerdote”; e quando o viu, passou de largo. Do mesmo modo também um “Levita”, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo.

Um “Samaritano”, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem,e vendo-o, teve compaixão dele, e chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, e pondo-o sobre seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o, e quanto gastares de mais, na volta to pagarei.

Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe JESUS: Vai e faze tu o mesmo.

1. Cairbar Schutel

Se examinarmos atentamente a Doutrina de Jesus, veremos em todos os seus princípios a exaltação da humildade e a humilhação do orgulho.

As personalidades mais impressionantes e significativas de suas parábolas são sempre os pequenos, os humildes, os repudiados pelas seitas dominantes, os excomungados pela fúria e ódio Sacerdotal, os acusados pelos doutores da lei, pelos rabinos, pelos fariseus e escribas do povo, em suma, os chamados heréticos e descrentes!

Leiam a passagem da Mulher adúltera, a Parábola do Publicano e do Fariseu, a do Filho Pródigo, a da Ovelha Perdida, a do Administrador Infiel, a do Rico e o Lázaro, vejam o encontro de Jesus com Zaqueu, ou com Maria de Betânia, que lhe ungiu os pés; a Parábola do Grão de Mostarda em contraposição à da frondosa Figueira sem Frutos, e a do Tesouro Escondido em contraposição à dos tesouros terrenos e das ricas pedrarias que adornavam os Sacerdotes.

Esta afirmação se confirma com esta sentença do Mestre aos Fariseu e doutores da Lei: “Em verdade vos afirmo que as meretrizes e os pecadores vos precederão no Reino dos Céus”.

E para que melhor testemunho desta verdade, que aparece aos olhos de todos os que penetram o Evangelho em Espírito, do que esta Parábola do Bom Samaritano?

Os Samaritanos eram considerados heréticos aos olhos dos Judeus ortodoxos, por isso mesmo eram desprezados, anatematizados e perseguidos. Pois bem, esse que, segundo a afirmação dos Sacerdotes, era um descrente, um condenado, foi justamente o que Jesus escolheu como figura preeminente de sua parábola.

O interessante, ainda, é que a referida parábola foi proposta a um doutor da Lei, a um Judeu da alta sociedade que, para tentar o Mestre, foi inquiri-lo a respeito da vida eterna.

O Judeu doutor não ignorava os mandamentos, e como os podia ignorar se era doutor! Mas, com certeza, não os praticava! Conhecia a teoria, mas desconhecia a prática.

O amor de toda a alma, de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força que o doutor Judeu conhecia não era ainda bastante para fazê-lo cumprir seus deveres para com Deus e o próximo.

Amava, como amavam os Fariseus, como os Escribas amavam e como amam os Sacerdotes atuais, os Padres e os Pastores contemporâneos e os doutores da lei de nossos dias. Era um amor muito diferente e quiçá oposto ao que preconizou o Filho de Deus.

Finalmente, a Parábola do Bom Samaritano refere-se verdadeiramente a Jesus: O Viajante ferido é a Humanidade saqueada de seus bens espirituais e de sua liberdade, pelos poderosos do mundo, o Sacerdote e o Levita significam os Padres e Pastores das religiões que, em vez de tratarem dos interesses da coletividade, tratam dos interesses dogmáticos e do culto de suas igrejas, o Samaritano que se aproximou e atou as feridas, deitando nelas azeite e vinho, é Jesus Cristo.

O Azeite é o símbolo da Fé, o combustível que deve arder nessa lâmpada que dá claridade para a vida eterna,  a sua Doutrina; o Vinho é o suco da vida, é o Espírito da sua palavra, os dois Denários dados ao hospedeiro para tratar o doente, são a Caridade e a Sabedoria, o mais que o enfermeiro gastar. Resume-se na abnegação, nas vigílias, na paciência, na dedicação, cujos feitos serão todos recompensados.

Enfim, o Hospedeiro representa os que receberam os seus ensinos e os denários para cuidarem do ”viajante ferido e saqueado”.