Miramez – Capítulo 106 do livro Médiuns

Dar Passe – Miramez

Ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de diferentes moléstias, lhes traziam; e ele os curava, impondo as mãos sobre cada um. (Lucas, 4:40)

Se temos o dom de curar, não podemos obstinar-nos contra a vontade de Deus, como não devemos também envaidecer-nos com o fenômeno de restabelecer enfermos, pois tudo vem do Senhor e de Cristo. Somos apenas instrumentos da vontade divina.

A transmissão de energia curativa de uns para os outros é uma arte antiga, mas que somente era difundida no seio dos iniciados. As escolas temiam que o conhecimento da força magnética se popularizasse e o abuso proliferasse. Seria ele uma lâmina de dois gumes, movida pela ignorância.

Jesus veio quebrar essas regras milenárias, com a chave do amor. Abriu todas as casas secretas e colocou a luz em cima da mesa. Revelou o escondido e ampliou o que estava por ser visto.

Enquanto que para se dar um passe se movimentavam rituais e rituais, o Cristo, usando a natureza como exemplo, a mente e as mãos como meios, fazia o magnetismo espiritual fluir como fonte inesgotável, e restabelecia todos os enfermos que o procuravam.

Os escritos dos apóstolos são testemunhos do que falamos. Passaram-se séculos e parece que santos colocaram à prova sua fé e testemunho de fidelidade a Jesus. Contudo, a perseguição não se faz esperar pelas próprias comunidades que lhes emprestavam o ambiente de trabalho.

Mas o Cristo surge outra vez no raiar do século XIX e começa a corrigir o roteiro da nave doutrinária na Terra. Volta o dom de curar a tornar-se popular, pelo chamado passe.

Os Espíritos superiores acharam conveniente difundir e incentivar a faculdade curativa do ser humano, e até lhe deram o nome de “médium curador”. Um dos baluartes dos novos dias foi Franz Anton Mesmer, fazendo pública a ciência dos fluidos animais.

O magnetismo se evidenciou como verdade, mesmo a preço de muito sofrimento, e além dessa força da natureza, os mentores espirituais acharam por bem revelar os fluidos espirituais e, por intermédio dos sensitivos dotados dessa aptidão, lembrar o Mestre curando enfermos de toda ordem, restabelecendo desequilíbrios morais e espirituais, usando o próprio Evangelho como regra, onde a mediunidade pudesse ter um maior apoio e desenvolvimento onde os fenômenos do Cristo fossem repetidos.

Dar passe, na linguagem espírita, é ofertar de si mesmo alguma coisa para os enfermos, e quem dá, sabe que existem companheiros invisíveis auxiliando nessa operação cristã, e em si e em torno de si, cria-se em laboratório no qual a energia é transmutada quantas vezes for conveniente, de acordo com o tipo de desequilíbrio em questão.

Enfim, dar passe é entender a necessidade de amor que restaura todas as enfermidades. Se quisermos argumentar mais alguma coisa em favor da fraternidade, poderemos acrescentar que dar passe é granjear amigos para sempre, senão estimular a esperança e fazer difundir a grande expressão de vida conquistada pelo ser humano: a alegria.

Podemos usar esse tópico evangélico de Atos, 17:12 Com isso muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens. Com a cura pelo passe, ocorre uma profusão de convertidos.

As verdades espirituais, com essa chegada de irmãos de todas as crenças para o aconchego doutrinário do Espiritismo, realizam seu ideal maior de transformá-los no sentido do aprimoramento da conduta, de crerem mais na bondade de Deus e na justiça das leis, na misericórdia e no amor de Jesus Cristo, despertando em cada criatura o anseio de também ser bom, de ser honesto e de ser fraterno nas linhas do amor.

A mediunidade de cura é um dom admirável que não só limpa o mormaço de dúvida da mente enferma, restaurando-lhe a fé, como alivia a consciência do terapeuta psíquico. Tanto quem dá, como quem recebe, são beneficiados. Voltemos ao Evangelho:

Ao pôr do sol, todos os que tinham enfermos de diferentes moléstias, lhes traziam; e ele os curava, impondo as mãos sobre cada um. (Lucas, 4:40)