O Espírita na transição planetária

O trabalhador espírita diante da transição
planetária – Por Maria Angela Coelho Mirault

Vivemos, é certo, um momento apocalíptico. Basta que estejamos atentos aos noticiários para que reconheçamos esse instante de transição planetária. O caos aparentemente instalado, diagnosticado em todo lugar, tem-se, facilmente, detectado nas artes. Filmes, novelas, literatura, música, internet, jogos eletrônicos apresentam como nunca antes visto a temática da violência, da luxúria; da perda da infância, da ludicidade, do entretenimento saudável, do sonho, da beleza, enfim, que ainda há na vida.

No entanto, paradoxalmente, abordagens com temática espiritualista conduzem milhares de nós aos cinemas, às audiências de tevê, ao consumo da literatura de autoajuda. E nesse interlúdio em que o caos parece imperar, enquanto nova ordem emerge aqui e ali, a sede por uma crença brota da grande maioria dos corações em conflito.


Surgem, para todos os gostos e necessidades, religiões parcimoniosas que induzem criaturas à velha e ineficaz barganha com Deus. Nunca, como agora, os vendilhões dos templos se apresentam de todas as formas e por todos os canais a uma multidão que procura um lenitivo para seus temores. Luta-se e morre-se em nome de um Deus, de uma crença, de uma “verdade”, com mais vigor e “certeza’, do que há séculos da sangrenta História Religiosa da Humanidade.

Nesse cenário,
a Doutrina Espírita não pode ser apenas considerada mais uma opção de crença. Esclarecedora, Consoladora que é, foi disponibilizada pelo incansável e eficiente trabalho do Professor Hipolyte Leon Denizard Rivail, em meados do século XIX, de forma a servir de alívio e, aí, sim, de autoajuda ao homem do nosso tempo. Inúmeros e abnegados trabalhadores dos Planos Superiores empenharam-se, e ainda se empenham, para a magnitude da tarefa; de auxiliar a Humanidade nessa transição à caminho das coisas e do Reino de Deus.

Nessa conjuntura, a responsabilidade dos trabalhadores de última hora é imensa. Nenhum de nós foi trazido a esse apostolado compulsoriamente, visto que, no trabalho da difusão e divulgação da Mensagem Cristã, só se aliam voluntários, seja qual for o lado em que nos mantenhamos filiados; como trabalhadores do bem, ou opressores da luz.

Quantos são os obstáculos e os obstaculizadores da implantação do Reino de Deus, tal como já nos previra Jesus? De que lado, estamos, pois? Somos mensageiros do bem, ou nos mantemos filiados aos que impedem e conspurcam a propagação da Boa Nova? Essa reflexão precisa ser feita com urgência, individualmente, pelo trabalhador espírita: a quem tenho depositado minha consciência e emprestado minha sensibilidade; com quem me tenho afinado, sintonizado e representando, nesse contexto, afinal?

Não podemos, mais, nos tempos em que vivemos, hoje, vivenciar, em nossos ambientes religiosos, momentos e práticas de trivialidade, nos assemelhando, copiando e arremedando outras práticas religiosas.
É hora de nos questionarmos, sobre as atitudes que privilegiamos, em nossos Centros Espíritas, que deveriam ser, antes de tudo, lugares para a promoção do estudo e da prática da caridade Evangélicos, à luz dos Postulados Cristão trazidos á lume pela Codificação.

Só o conhecimento da Verdade, proporcionado pelo estudo sistemático disponibilizado pela Doutrina Espírita - que veio para arejar esses postulados milenares - é capaz de trazer lenitivo à dor desse momento. Não podemos deixar que nossos lugares sejam apenas mais um, dentre inúmeros outros, lugares de entretenimento, de rituais, de manipulação, de submissão e de medos, fadados a se tornarem mais uma dentre milhares de instituições religiosas equivocadas de atração, de vendas de ilusões, promoção e de barganha com as Leis de Deus.

Paulo de Tarso, o convertido de Damasco, é o mais exemplar modelo de trabalhador a ser seguido por todos os cristãos.
Tão logo se sentiu tocado pelo Mestre, nunca mais voltou a ser o que era. Transgressor das normas e padrões vigentes em sua cultura judaicogreco-romana a qual defendia apaixonadamente transitou, sem dúvidas e sem disfarce, para assimilar novos valores e difundir a Boa Nova. O Apóstolo dos Gentios, sem qualquer hesitação, desde sua convocação, trilhou passo-a-passo as pegadas traçadas por Jesus, cumprindo com determinação o seu destino, filiando-se as hostes do Bem.

No episódio vivido na estrada de Damasco, não foi convencido, convenceu-se, não foi convertido, converteu-se. “Senhor, o que queres que eu faça?” – marco da transmutação de Saulo em Paulo – ocorreu no foro intimo; a luz que brilhou do seu interior destinava-se também a iluminar um mundo sedento, tal como hoje, dos postulados cristãos. Preparou-se, contudo, para a grandeza da tarefa que abraçou.

De imediato, percebeu que não lhe bastava a conversão sem o estudo, a reflexão e a vivência dos postulados que conquistaram seu coração. Sem ter sido um dos apóstolos que conviveram com Jesus, tornou-se o maior dos divulgadores da Verdade que Cristo veio propagar, a Verdade que reina e impera em toda a Criação; a Verdade do Evangelho de Jesus que veio codificar a Mensagem Cósmica de Deus aos homens de todos os tempos desse planeta.

Paulo de Tarso deve ser o modelo do que intentamos ser em nossa jornada de trabalhadores da Seara do Mestre, muito longe ainda, é verdade, da prontidão com a qual correspondeu à convocação de Jesus.
Talvez ainda não tenhamos nos encontrado verdadeiramente com o Mestre em nossa estrada de Damasco, mas, talvez, já estejamos a caminho. Talvez já lhe possamos apresentar as qualificações da perseverança e fidelidade, tal como Paulo o fizera com sua fidelidade à Torá e a Moisés.

Talvez já tenhamos auferido o lastro necessário para a tarefa grandiosa de ombrearmos na caminhada das Forças do Bem. Mas, nos preparemos, sem que tergiversemos; não nos acovardemos, nem minimizemos nossa missão. A Doutrina Espírita, tal como já revelara, Allan Kardec, não necessita de adeptos, senão os esclarecidos. Evangelizemo-nos, esclarecemo-nos, estudemos, vivenciemos o Cristianismo antes de nos colocarmos na condição de medianeiros e condutores de outras almas, para que tenhamos segurança em nosso caminhar, para que sejamos água pura aos sedentos desta jornada tão crucial para todos nós.

Diante do fracasso de suas primeiras empreitadas, Paulo deixou a afoiteza de lado, retirou-se para o deserto, preparou-se, antes de assumir de fato a tarefa de propagação do Cristianismo. Fortalecido nas Escrituras, que se lhe arraigaram ao patamar de conhecimento anterior, saiu a pregar e a propagar a Mensagem de Deus aos homens amadurecidos ao seu entendimento.

Naquele tempo, tal quanto hoje, o Consolador requeria de seus profitentes uma disponibilidade pretérita e complementar à aquisição das Leis Maiores da Vida. Mergulhemos, pois, nos passos de Paulo e, com ele, sigamos o doce Nazareno, sem dúvidas e sem reservas; pois nada mais atual do que a trilha e o exemplar caminhar de Paulo, na história do Cristianismo.


As coisas de Deus,
embora, urgentes, não devem ser apressadas, preparemo-nos, pois, e caminhemos à luz da Doutrina Espírita, para que possamos albergar a nossa volta outras e outras almas na mesma sintonia e exemplar caminhada rumo ao Reino de Deus.