O
que é Deus? Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Allan
Kardec, em O Livro dos Espíritos, item l.
O
Ser cuja realidade transcende o próprio universo permanece ainda incompreendido
pela grande maioria de suas criaturas, de seus filhos. O homem já nasce com a
intuição de que existe uma força soberana que se irradia em todo o universo, à
qual dá o nome de Deus.
Entretanto,
sabemos que a verdade, assemelha-se à luz da aurora, que vai clareando
lentamente até atingir a exuberância do sol do meio-dia. O conhecimento do homem
a respeito de seu Criador não foge à regra.
Inicialmente,
não podendo compreender os atributos de um ente espiritual que detém todo o
poder e todas as perfeições num grau absoluto, o homem passou a humanizar Deus,
transformando-o segundo os seus conceitos, à sua imagem e à sua própria
semelhança. Começa a emprestar ao Criador Supremo suas próprias imperfeições e
cria a imagem de um Deus antropomórfico.
O
homem transforma Deus numa divindade humanizada, que se ira, sente raiva,
precisa de sacrifícios para aplacar sua sede de justiça e sangue; enfim,
personaliza o Criador, atribuindo-lhe a imagem de um ancião de longas barbas,
dominando um paraíso beatífico e pronto para irar-se ao primeiro sinal de
rebeldia ou ignorância de suas criaturas, de seus filhos.
A
ignorância do homem colocou a divindade tão distante do ser humano que se
tornou quase impossível à criatura chegar-se ao Supremo Senhor, o Pai. Observamos,
por exemplo, como a ideia a respeito de Deus evoluiu no transcorrer dos
milênios.
Segundo
a tradição bíblica, os filhos de Adão estabeleceram o culto à divindade oferecendo
sacrifícios e oferendas ao ser que entendiam ser Deus. Caim e Abel, na alegoria
dos livros hebraicos (Gn 4:3-4), começaram com suas dádivas, frutos da terra e sacrifícios
de animais, e estatuíram a primeira forma de culto, quando a criatura, em sua
ignorância, pôde perceber, de maneira imprecisa, a presença de Deus na criação.
A
partir daí o homem passou a desenvolver seu próprio conceito de Deus,
humanizando-o, indo desde a adoração às forças da natureza até o estabelecimento
de um sistema ritual que incluía sacrifícios, manjares e muito sangue para
tentar agradar a divindade, conforme se pode ler no Pentateuco, conjunto de
livros bíblicos supostamente escritos por Moisés.
No
sistema de culto estabelecido pelos hebreus, Deus era visto como uma divindade
que necessitava de sangue e outras demonstrações inferiores para se satisfazer.
Na realidade, esse tipo de culto primitivo não passava de uma tentativa de
barganhar com a divindade.
Com
Jesus, no entanto, caiu o véu que encobria os olhos do homem; ele trouxe-nos um
conceito de Deus mais compatível com a realidade universal. Jesus chamou Deus
de Pai e falou, em suas palavras sábias, que "tempo virá que os verdadeiros
adoradores do Pai o adorarão em espírito e verdade, porque Deus é espírito, e
importa que seja adorado em espírito e verdade" (Jo 4-23-24).
Compreende-se,
com Jesus, que Deus é Amor, Justiça, Vida; enfim, é o Pai de todas as
criaturas, o princípio sobre o qual se sustenta a idade do universo. Cai por
terra todo o sistema de sacrifícios e barganhas que o homem tentou incutir em
sua mente a respeito de Deus. Mas é com a Doutrina Espírita, que se estabelece
o conceito de que Deus é Consciência Cósmica, que a humanidade marcha para uma
compreensão cada vez mais ampla da divindade.
Descartando
a ideia de um Deus antropomórfico, que se confunde com a própria criatura, os
imortais revelam que Deus é a causa causal de todas as coisas, a Consciência
Suprema sempre presente em todo o universo, transcendendo com esse conceito
todos os outros até então trazidos para a humanidade.
Deus
não é mais personificado, é o Espírito do Universo. Por analogia, podemos
compará-lo ao que o espírito encarnado é para o corpo físico. Deus é Espírito,
disse Jesus. O espírito é uma consciência que rege o mundo orgânico. Cada órgão,
cada célula, cada átomo do corpo físico acha-se intimamente ligado ao espírito,
embora o espírito não seja a soma desses órgãos. Sem o espírito, o corpo seria
apenas uma massa disforme, não um homem.
Deus
é a Consciência que estabelece a ordem e a harmonia do universo. Cada
constelação, cada galáxia, cada planeta, cada sol, cada erva, cada átomo é
eternamente preenchido pela Consciência divina. Deus é imanente a toda a
criação.
Mas
a criação não é o Criador. Ele é a Consciência que fecunda de vida todo o
universo, que mantém os mundos na amplidão, em sua eterna marcha, suspensos sob
sua atuação, nos espaços infinitos.
Mas
a realidade divina transcende tudo isso. Imaginai por um momento o aspecto
físico e energético do universo. O conjunto dos sistemas siderais, os reinos
estelares, as famílias planetárias com o cortejo de humanidades que carregam consigo,
as galáxias e universos, cuja grandeza foge à capacidade de compreensão dos
seres criados.
Além
disso, nessa realidade física, desdobrando-se em outras faixas vibratórias, que
também fogem à compreensão do homem terreno, vibram seres e coisas, outra
realidade, outras dimensões. Aí igualmente está presente, coordenando,
orientando, mantendo a existência de todas as coisas que vivem em estados diferentes
da matéria física, a Consciência Universal, Deus.
Além
desses outros campos de vida, adentrando o domínio de campos energéticos e,
mais ainda, de abstrações mentais, mundos que superam a própria existência do
tempo e do espaço, da forma e das dimensões conhecidas pelo homem, a Consciência
Cósmica de Deus a tudo preside, a tudo governa, a tudo mantém.
E
de analogia em analogia entendemos, através de mil conceitos, o que a Doutrina
Espírita diz ao afirmar que Deus é a "causa primária de todas as
coisas", imanente e transcendente a toda a criação. Ele está presente em
cada coisa, desde o átomo à erva que nasce no campo, ao homem que não o
compreende em Sua grandeza, aos sistemas na imensidade.
Mas
Deus está igualmente além de qualquer realidade objetiva ou subjetiva, além de
qualquer fronteira vibratória, de qualquer limite que a imaginação possa conceber,
irradiando seu pensamento soberano em todas as partes do universo e eternamente
presente em qualquer lugar.
O
universo se apresenta como a materialização do pensamento divino. Sua essência
incompreendida é sempre presente. Sua presença e existência resultam nas Leis
Universais, que as criaturas estudam através dos séculos. Sua eterna presença é
Lei. Paira acima de qualquer conceito filosófico ou definições existentes ou
que venham a existir a respeito dele.
Imanência
e transcendência. O conceito que o Espiritismo vos mostra a respeito de Deus prepara-vos
para viver na Era Cósmica que se avizinha. Seus atributos de eternidade,
atemporalidade, onisciência, onipotência, onipresença, já longamente discutidos
em todas as religiões, na Doutrina dos Imortais são ampliados com a visão
cósmica de Deus.
Não
podemos comparar a Divindade a uma força ou energia, pois força e energia são
perfeitamente explicáveis pelos modelos da nomenclatura científica terrena. O
Ser onisciente é mais ainda do que qualquer conceito o possa definir.
No
ensinamento bíblico, quando Moisés perguntou ao Enviado do Eterno quem ele era,
a resposta foi: "Eu sou o que sou" (Ex 3:14). Esse nome, embora
incompreensível para a maioria dos mortais, encerra a verdade de que Deus permanece
indefinível pelo vocabulário humano.
Certo
que podemos nos aproximar de uma compreensão de seus atributos, mas defini-lo é
ainda impossível. Compreendê-lo ainda é difícil, mas com a vinda de Jesus e a
revelação espírita ampliou-se o entendimento a respeito dos atributos da
Divindade.
O
que mais podemos fazer é, a partir de comparações, tentar nos aproximar o mais
possível, na medida de nossa acanhada compreensão, da grandeza do Todo-Sábio. A
realidade inquestionável é que Deus é Pai, na definição mais clara que Jesus
pôde dar à humanidade.
Ao
analisarmos os primeiros momentos conhecidos da vida universal, as primeiras
manifestações da vida no micro ou macrocosmo, podemos perguntar: Existiu um
poder idealizador e organizador que deu origem ao universo?
Quem
ou Que deu a base e formulou as leis que desde o princípio presidiram a
evolução? De onde surgiu a primeira informação que ordenou as moléculas do DNA?
Onde está a inteligência dinâmica que estruturou o primeiro átomo ou que deu
carga elétrica ao primeiro elétron?
Ao
observarmos a perfeição das leis e sua estrutura material tal como foram
descobertas por físicos e sábios de variadas épocas, perguntamos: Quem estatuiu
ou o Que elaborou tais leis de forma que elas regulem cada segmento da vida universal?
Necessariamente,
a razão nos impele para a existência de um plano diretor de todas as formas do
universo. Como disse certo sábio de vosso mundo, "Caso Deus não existisse,
teríamos de inventá-lo, para encontrar a razão de ser de tudo o que
existe".
Diante
de simples observações materiais, qualquer ser com um mínimo de bom senso
compreende que há uma intenção organizadora e modeladora por traz de tudo o que
existe. Caso a Terra estivesse afastada do Sol apenas um único centímetro a
mais da distância em que se encontra, jamais a vida teria chance de se
desenvolver da forma como se desenvolveu em sua superfície.
Observando
a Lua, as leis que regulam as forças que a prendem em suas balizas,
compreende-se que, se as forças gravitacionais que a sustentam fossem dispostas
um grau a mais ou a menos do que se observa, o satélite de vosso planeta seria
arrastado irremediavelmente para a superfície planetária ou se arrojaria ao
espaço, causando cataclismos climáticos e geológicos que, com certeza,
impediriam a vida de se organizar tal como se organizou ao longo dos milênios.
Com
relação ao próprio Sol, centro do vosso sistema planetário, com seu sistema
equilibrado de fusão e fissão nuclear, caso não fosse estabelecido o equilíbrio
entre sua pressão interna e externa, não teria passado de uma bomba de
proporções galácticas, e a vida em vosso mundo não teria se desenvolvido
conforme observais atualmente.
Observando
mais de perto, vemos como a simples existência dos raios ultravioleta ou outras
radiações perigosas vindas do cosmos fez surgir a necessidade de uma película
protetora de ozônio que impedisse esses mesmos raios de destruir a vida
organizada.
Tudo
isso e muito mais leva a pensar seriamente que há uma intenção por trás de tudo
o que existe e um planejamento divinamente orientado para estatuir as leis, as
distâncias, as forças que regulam a vida e suas manifestações em toda parte do
universo.
Em
tudo está a Consciência de Deus, elaborando a vida, dinamizando as leis,
regulando a evolução de uma forma maravilhosa. Alonguemos mais as nossas
observações e aprofundemo-nos nos conceitos, sem, contudo, perder a
simplicidade.
A
existência de um Ente Supremo, de uma Consciência que tudo orienta, que tudo
gerou, desperta em nós a compreensão de que essa inteligência, para administrar
tudo isso, todo o complexo da vida cósmica, há de ser necessariamente onisciente.
Esse
Ser deve saber com antecedência e em plenitude tudo aquilo que deve acontecer,
todos os passos de suas criaturas, todas as escolhas e, necessariamente, todas
as consequências dessas escolhas.
É
impossível conceber a Suprema Consciência sem o atributo da onisciência.
Portanto, podemos entender que todos os caminhos escolhidos, todas as lutas e
fracassos, vitórias ou derrotas que o ser experimenta ao longo de sua
trajetória evolutiva terão de ser conhecidos, previstos e admitidos no plano
diretor do Todo-Sábio.
Contudo,
não podemos dizer, resolvendo essas questões filosóficas de uma forma
simplista, que os seres criados estejam fadados a uma lei inexorável da qual
não podem furtar-se ou subtrair-se. Ao lado da onisciência do Poder Criador e da
Mente Diretora do Universo, a providência divina é, igualmente, um atributo ou
uma forma de a Suprema Consciência definir as variáveis que auxiliarão os seres
criados na escolha a seguir.
Em
fases embrionárias ou infantis da vida no cosmos, é necessária a polaridade, a
visão dualista do mundo, a fim de que os seres se situem no contexto educativo
da vida e administrem a possibilidade de escolher. O bem e o mal, dessa forma,
aparecem no cenário do mundo como as trevas em relação à luz, o caos em relação
à ordem.
Durante
a fase infantil da evolução anímica, é preciso a existência dos contrastes para
que o ser compreenda a real grandeza do caminho do bem. Mesmo assim, suas
escolhas foram previstas pela Onisciente Sabedoria, que dispõe de leis para
regular o processo educativo de seus filhos.
Surge
então, no cenário do mundo, o elemento dor, necessariamente vinculado à própria
manifestação da lei que regula os efeitos em relação com as causas. A dor
assume um papel importante na vida orgânica do universo. A lei que a regula em
sua intensidade foi propositadamente gerada pela mente do Todo-Poderoso.
Dor
e sofrimento são recursos inseridos no próprio programa de desenvolvimento do
cosmos a fim de regular as ações das criaturas e marcar a necessidade de
retorno do caos aparente para a ordem real.
Toda
vez que algum ser ou alguma parte do universo tende ao caos ou à desarmonia, a
dor e o sofrimento surgem como forças dinâmicas que atuam em sentido educativo
e coercitivo, orientando a parte desarmônica para o sentido pleno da vida — a
ordem e a harmonia.
A
dor traz em si mesma, implícita em sua própria existência, uma lei de
auto-extermínio. Ou seja, a dor consome-se a si mesma, tão logo o ser se adapte
à rota do bem, da ordem e da equidade. Tudo isso foi previsto pela onisciência do
Todo-Poderoso.
Conhecendo
com antecedência as escolhas, os acertos e desacertos de seus filhos, antes
mesmo de serem criados, estatuiu as leis morais, para que pudessem regular as
relações e as decisões, de forma que ninguém se perca na caminhada.
As
leis morais, juntamente com as leis físicas, servem como prova para todas as
criaturas de que existe um planejamento oculto, um direcionamento de cada ser,
cada situação, para um fim determinado, e de que é impossível que alguém ou
algum ser, em qualquer parte do universo, aja ou escolha um caminho contrário à
lei de Deus.
Toda
vez que, na visão limitada e estreita do homem terrestre, o ser escolhe um
caminho equivocado, produzindo o mal, a lei geral da harmonia entra em ação, e
surge a dor como elemento reparador e educador, orientando o ser para a readaptação.
O
processo da vida orgânica do mundo contém em si todos os recursos de forma a
regular os atos morais da criatura, e, assim, onisciência e providência divinas
convivem com absoluta perfeição, orientando o universo moral.
A
Suprema Sabedoria dispôs o universo como berço da vida. Galáxias, sóis,
planetas, poeira estelar existem unicamente com a finalidade de aconchegar a
vida. Tudo foi disposto com objetivos definidos. Assim, cada ser minúsculo do
vosso mundo, cada criatura, verme, vírus ou outra qualquer forma de vida
existem para o perfeito equilíbrio do ecossistema da vida universal.
Diante
da complexidade e da variedade da vida no mundo, a única forma de vida que, ao manifestar-se,
pode usufruir e entrar em relação direta com as outras formas de vida,
interferir, criar, destruir, amar, odiar, sentir e raciocinar é a forma inteligente.
Todos
os outros seres que antecedem o homem na escala evolutiva estão na condição de
ensaios da vida. O ser inteligente é o único capaz de transformar e auto transformar-se,
com consciência, e direcionar-se inteligentemente nas múltiplas escolhas que a
Suprema Lei faculta aos seres.
A
Suprema Inteligência, ao estatuir as leis do universo, insuflou nas próprias
leis a condição de que os seres criados as descobrissem e compreendessem.
Organizou o universo como um sistema orgânico em que mundos e sóis funcionassem
à semelhança de subsistemas.
Sociedades
de espíritos, de seres inteligentes ou não, biosferas, culturas e mundos são diretamente
influenciados pelas criaturas pensantes, que provocam com suas escolhas as
reações que desencadeiam as transformações ocorridas no mundo. O homem é o
agente de Deus para a evolução do próprio universo.
As
leis físicas, espirituais e morais foram formadas e elaborações de tal maneira,
que o próprio ser possa provocar, acelerar ou dinamizar as transformações sociais,
políticas, filosóficas, religiosas, evolutivas ou biológicas, alterando
profundamente o ecossistema universal.
Qualquer
que seja sua escolha, na finalidade do processo em que se situa, o homem sempre
estará participando ativamente do aperfeiçoamento da vida. Ao atuar fisicamente
no mundo, influenciando-o com suas escolhas de uma forma negativa, entram em
ação as leis físicas, imediatamente, que ativarão suas defesas para recuperar e
reorganizar a parte em conflito.
Da
mesma maneira, quando o indivíduo atua no universo moral, também devido às suas
escolhas, influenciando de forma equivocada o contexto em que se situa, as leis
morais determinarão elementos reparadores para sua reeducação.
De
qualquer ângulo que se observe, seja pela disposição material, física, moral ou
religiosa em que todas as coisas possam se manifestar, não há como excluir a
ideia de Deus, de uma Consciência Organizadora, idealizadora e diretora de tudo
o que existe.
Por
trás de tudo, está Deus; tudo o que existe está mergulhado e existe em Deus,
nada pode ser concebido fora de Deus. Essa é a realidade primeira e última da criação.
Deus está sempre presente na criação, mas não é a própria criação. O Criador
não se confunde com a criatura.
Deus simplesmente é
...
Compilado
do livro Gestação da Terra
Autor:
Alex Zarthu (Espírito) e Robson Pinheiro