Miramez – Capítulo 87 do livro Médiuns

Prudência do Médium

Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. (Mateus, 10:16)

O médium prudente assimila em seu caminho a chave da segurança. Com efeito, nunca deve esquecer a simplicidade, sem que essa idéia ou postura o leve à displicência.

O preparo espiritual do discípulo de Jesus torna-se bastante longo, pois essa educação muda a natureza do indivíduo, transformando o modo pelo qual pensa e vive na Terra.

No entanto, as leis da fraternidade e do amor, que sustentam a vida de tudo nos convocam para outro ritmo de vivência, e a nossa obediência nos leva a descobrir que verdadeiramente esse é o caminho, a verdade e a vida.

Uma das grandes descobertas do Espírito é a conscientização do homem de que a natureza, em se falando dos vegetais, minerais e animais, está, de certa forma, ligada a ele, por meios alheios à sua vontade.

Queiramos ou não, linhas invisíveis nos fazem sentir a irmandade em tudo que existe. E de alma para alma? Uma, vamos tornar a afirmar nesta mensagem, é continuação da outra, e todas se encontram ligadas como os órgãos do corpo físico.

Ninguém, absolutamente ninguém, pode viver sozinho, dispensando a cooperação dos seus iguais. E quem não pensa dessa forma, ainda não começou a desembaraçar-se das prisões da ignorância. Somente o tempo, pelo sopro de Deus, os acordará do pesadelo.

Quando começamos a nos preparar pelo amor, interessando-nos pelo bem da coletividade, disciplinando os nossos próprios impulsos inferiores, eis que estamos sendo enviados como ovelhas para a boca de lobos vorazes, a que se refere o Evangelho de Jesus, anotado por Mateus.

Porque quem pensa, trabalha ou escreve, fala e dá exemplo, universalizando ou procurando ser um cidadão universal, se torna, para a maioria, uma personagem incômoda, porquanto a maioria no mundo em que vive é dominada pelo egoísmo, pela vaidade, pelo ciúme, prepotência, orgulho etc.

Até hoje, quem se preocupa com o bem-estar dos outros é tido como desajustado e, nessa incompreensão, é ofendido, da maneira como a ofensa evolui no século presente. Completa o Evangelho, ajudando-nos a suportar: Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.

É na prudência e na simplicidade cristã que a tolerância toma corpo, a solidariedade cala os ofensores e o trabalho em favor de todos estimula o amor. Tanto os cristãos antigos como os modernos estavam, e estão, entre os lobos, porém esperando que eles se convertam em ovelhas.

É o cansaço no mal que faz com que procurem o bem. Não são os lobos exteriores que fazem os discípulos temerem mais, e sim aqueles que se encontram dentro de nós, que se apresentam com variados nomes: ciúme, vaidade, intolerância, maledicência, ódio, preguiça, etc.

O modo de vida ensinado por Jesus Cristo acalma o mundo consciencial em toda a sua profundeza, e as virtudes vividas pelos discípulos transformam o lobo do fundo da alma, reclamado aí por vidas sucessivas, em adubo benfeitor, e esse em vida, na lavoura de Deus.

O sensitivo cristão é uma gleba do Senhor, onde o agricultor é ele mesmo, que sempre colhe o que semeia, e recebe o que dá. Aqui lembramos aos médiuns da necessidade da prudência. Ela é qual a chuva na época do plantio.

Quando ouvirem alguém, ou falarem com alguém, não se esqueçam dessa força espiritual que coloca seu portador na posição de garantia e de respeito. E nesse clima levará o nome e a obra do Cristo para que a paz possa ali nascer.

O que nos dá ânimo na jornada evolutiva é esta verdade: quem se apresenta como lobo hoje, pelo mal que faz, vai ser ovelha amanhã, interessando-se pelo bem. E quem não dava importância à prudência vai procurá-la, pois ela acalma a mente e cria a serenidade, que escapa aos que alimentam a violência. Mas por muito tempo ainda vai existir esta advertência:

Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. (Mateus, 10:16)