Parábola da figueira seca

Parábola da Figueira que secou
(Marcos XI, 12:14)

No dia seguinte, saindo eles de Betânia, teve fome. Vendo ao longe um a figueira que tinha folhas, foi ver se, porventura, acharia nela alguma coisa. Aproximando-se, nada achou senão folhas; porque ainda não era tempo de figos. Disse-lhe:

Nunca jamais coma alguém fruto de ti; e seus discípulos ouviram isto. Quando chegava a tarde saíram da cidade. Ao passarem de manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz. Pedro, lembrando-se disse-lhe: Olha, Mestre, secou-se a figueira que amaldiçoaste!



1. Cairbar Schutel

Antes de estudarmos esta passagem, uma consideração se apresenta às nossas vistas. Esta figueira não será a mesma que serviu de comparação ao Mestre para a exposição da sua parábola, cap. XIII, 6 a 9 do Evangelho de Lucas? Cremos que sim, porque senão não haveria motivo para tão sumária execução.

Se a própria Parábola da Figueira Estéril ensina a necessidade de cultivo, de conserto, de reparo, de fertilização com adubos, antes de toda e qualquer resolução decisiva, como, de momento, sem os requisitos preceituados neste ensinamento, Jesus resolveu fulminar a árvore que se achava bem enfolhada, bem copada?

Para o leitor, insciente do sentido espiritual das Escrituras, outra dificuldade se mostra com aparente contradição entre a narração do texto de Marcos e a de Mateus. Este diz “no mesmo instante secou a figueira” (Mateus XXI, 18:22, aquele: “Pela manhã, viram que a figueira estava seca até a raiz”.

Entretanto, essa contradição é só aparente. Os antigos quando se exprimiam sobre a duração de um fato, de uma coisa, de um fenômeno qualquer, não eram explícitos, como nós somos.

Por exemplo, a palavra que traduzimos por eternidade, queria dizer um tempo incalculável, indeterminado, de longa duração. A Escritura fala de meses de trinta anos, em vez de meses de trinta dias. Acresce ainda a circunstância de que a hora os hebreus abrangia, cada uma, três das nossas.

Para a expressão “no mesmo instante”, aplicada ao tempo em que a figueira secou, o período de cinco horas cabe perfeitamente, se compreendermos o modo enfático com que foi pronunciada, porque uma árvore, mesmo que cortada pela raiz não secará nesse espaço de tempo.

Naturalmente não era a primeira vez que Jesus e os seus discípulos viam aquela figueira. Por três anos consecutivos viram-na sem frutos, e mesmo depois de estercada ela permaneceu estéril.

Do que Jesus se aproveitou para demonstrar, aos que tinham de ser seus seguidores, o poder de que se achava revestido e o alto saber que o orientava.

Acode-nos uma lembrança também interessante. Diz Marcos que “a árvore não tinha senão folhas, porque não era tempo de figos”. Ora, esta figueira, forçosamente devia pertencer ao número daquelas árvores que dão fruto o ano inteiro; tanto mais que a parábola fala de cultivo e de adubo à mesma aplicados.

Se considerarmos o clima daquela região, veremos que é perfeitamente admissível a nossa hipótese. A região fria está quase adstrita ao Norte, nas montanhas do Líbano.

À proporção que se desce para Efraim, Manassés e Judá, a temperatura sobe, e aumenta ainda mais para os lados de Saron e nas costas do Mediterrâneo, tocando o grau tropical do Vale do Jordão e no Mar Morto. Por essas bandas é que se deveria encontrar a figueira, por ser mesmo o terreno mais fértil para plantações.

A figueira, aparentemente, estaria bem situada. Por que não dava frutos? Adubos não lhe faltaram, cuidados não lhe foram regateados! Por que seria que só lhe vinham tronco, galhos e folhas? Com certeza, aquele circuito onde ela se achava era improdutivo, e improdutivo de tal modo que nem os adubos lhe venciam a esterilidade.

Ou então a semente era “chocha”, era de fundo estéril, tornando-se inúteis todos os cuidados. Seja como for, o ensino de Jesus é muito significativo, por haver escolhido uma árvore, a fim de melhor gravar no ânimo de seus discípulos a lição que lhes queria transmitir, bem assim às gerações que deveriam estudar nos Evangelhos, a verdade que orienta e salva.

É instrutivo porque, havendo o Mestre tomado por ponto de comparação uma figueira, deixou bem claro que a lei de Deus, estendendo-se a toda a criação e sendo eterna, irrevogável, tanto tem ação sobre as árvores, os animais, como sobre as criaturas humanas.

Essa lei, que rege na figueira a produção dos frutos, é a mesma que rege nos homens a produção das boas obras. Uma árvore sem frutos é uma árvore inútil, estéril, que não trabalha.

Uma alma também sem virtudes é semelhante à figueira, na qual Jesus não encontra frutos. Há portanto, frutos de árvores e frutos de almas; frutos que alimentam corpos e frutos que alimentam Espíritos; todos são frutos indispensáveis à vida, tanto dos corpos, como das almas.

A figueira, por não ter frutos, secou, embora bem enraizada, de tronco bem formado, de galhos bem ramificados, de copa bem enfolhada.

Assim também o Espírito, o homem, a mulher, e até as crianças sem bons sentimentos, sem virtudes divinas, sem ações caritativas, generosas, celestiais, estejam embora vestidos de seda, recamados de brilhantes, reluzentes de ouro, hão de forçosamente sofrer as mesmas consequências ocorridas à figueira que, por não dar frutos, secou ao império da palavra de Deus.

Desta explicação resulta a necessidade de praticarmos sempre as boas ações, e, em nossos corações, fazermos provisão dos ensinos celestiais, para que o Verbo de Deus se traduza por generosas ações.

Entretanto, a palavra de Deus não é só moral, é também sabedoria; e se analisarmos por esta face a seca da figueira, chegaremos à conclusão de que a palavra de Jesus não era simples palavra, mas também ação.

Jesus, durante a sua missão terrestre, foi sempre acompanhado de uma grande falange de Espíritos que executavam suas ordens.

Quando Jesus disse à figueira: “nunca jamais coma alguém fruto de ti”, alguns desses Espíritos, com o poder de que dispunham, fizeram secar a figueira, assim como nós o faríamos aquecendo o seu tronco.

O centurião, em cuja casa Jesus curou, a distância, um servo que estava paralítico, compreendeu bem o poder de Jesus e por certo sabia dos auxiliares que com ele agiam quando disse:

“Eu também tenho soldados à minhas ordens, e digo a um: vai ali, e ele vai; a outro: vem cá, ele vem; ao meu servo: faze isto, e ele o faz”.

Com isso, o centurião teria feito ver a Jesus que conhecia o seu poder, a milícia que o acompanhava e os servos prontos a executarem suas ordens.