Justiça – Ave Luz

Betsaida era o centro de muitas atenções, devido à permanência, por algum tempo, ali, do Divino Amigo, dos seus admiradores e, principalmente, dos irmãos da comunidade em Cristo. Nas ruelas e praças, reuniam-se criaturas discutindo sobre a fama de Jesus, se ele era realmente o Messias. Pairava no ar um composto de fé e de dúvida da massa humana. Ao passar por esses grupos, alguns dos discípulos viam-se questionados de todas as formas, e apenas abençoavam a todos, sem que a resposta fosse a solução. Ainda não havia a ordem “ide e pregai”. A edificação doutrinária, dentro de cada um, estava por se fazer.


O Mestre começara o plantio, sem se descuidar da assistência aos seus companheiros do coração. Apareciam, por vezes, certos agitadores para desmoralizar a doutrina nascente. Porém, enquanto isso, surgiam novas curas, até mesmo no meio das agitações, e o enfermo, cego ou paralítico, sentia, no íntimo, a presença de Jesus, e gritava, correndo, o nome de Deus e do novo profeta. O ambiente contrário, na sua premeditação, tornava-se força de fé, que se espalhava como um raio. Nas cidades circunvizinhas crescia a esperança de muitos, avolumava-se a alegria dos sofredores, e agigantava-se a convicção no colégio apostolar do grande Nazareno.

O Fenômeno Espírita

Em todas as civilizações, o culto dos desencarnados aparece como facho aceso de sublime esperança. Rápido exame nos costumes e tradições de todos os remanescentes da vida primitiva, entre os selvagens da atualidade, nos dará conhecimento de que as mais rudimentares organizações humanas guardam no intercâmbio com os “mortos” suas elementares noções de fé religiosa. Aparições e vozes, fenômenos e revelações do mundo espiritual assinalam a marcha das tribos e das povoações do princípio.


No Egito, os assuntos ligados à morte assumem especial importância para a civilização. Anúbis, o deus dos sarcófagos, era o guardião das sombras e presidia à viagem das almas para o julgamento que lhes competia no Além. Na China multimilenária, os antepassados vivem nos alicerces da fé. Em todas as circunstâncias da vida, os Espíritos dos avoengos são consultados pelos descendentes, recebendo orações e promessas, flores e sacrifícios.

Quem foi André Luiz?

Na década de 60, quando estudava a série das obras de André Luiz, psicografadas por Francisco Cândido Xavier, naturalmente entusiasmado com a riqueza de suas informações, colhidas em estágios realizados em vários setores de aprendizagem de Mais Além, e transmitidas com atraente descrição romanceada, também tive, como muitos confrades, a curiosidade de saber quem era o autor, desencarnado há poucas décadas, que se ocultava com aquele pseudônimo.


Esta curiosidade foi aguçada por uma observação da revista Reformador que, ao divulgar o lançamento de mais uma obra de André Luiz, pela FEB, identificou-o como um ilustre médico do Rio de Janeiro. Passei, então, a pesquisar sua identidade, consultando biografias de vultos da medicina brasileira, embora lembrando sempre da advertência de Emmanuel, conforme se lê em seu prefácio para o livro Nosso Lar, o primeiro da série: “Embalde os companheiros encarnados procurariam o médico André Luiz nos catálogos da convenção. Por vezes, o anonimato é filho do legítimo entendimento e do verdadeiro amor”. Confirmando a advertência do sábio Guia espiritual do médium, minhas pesquisas foram infrutíferas.

A Índia

Dissemos que a doutrina secreta achava-se no fundo de todas as religiões e nos livros sagrados de todos os povos. De onde veio ela? Qual a sua origem? Quais os homens que a conceberam e fizeram depois a sua descrição? As mais antigas escrituras são as que resplandecem nos céus. Esses mundos estelares que, através das noites calmas, deixam cair serenas claridades, constituem as escrituras eternas e divinas de que fala Dupuis. Os homens têm-nas, sem dúvida, consultado antes de escrever; mas os primeiros livros em que se encontra exposta a grande doutrina são os Vedas.


É o molde em que se formou a religião primitiva da Índia, religião inteiramente patriarcal, simples e pura, com uma existência desprovida de paixões, passando vida tranquila e forte ao contacto da natureza esplêndida do Oriente. Os hinos védicos igualam em grandeza e elevação moral a tudo o que, no decorrer dos tempos, o sentimento poético engendrou de mais belo. Celebram Agni, o fogo, símbolo do Eterno Masculino ou Espírito Criador; Sorna, o licor do sacrifício, símbolo do Eterno Feminino, Alma do Mundo, substância etérea.

Ave Luz – Tolerância

Betsaida! Betsaida! Formosa cidade que resplandece na história por ser berço, não somente de Filipe, o apóstolo, inquieto por saber os segredos do Criador e da vida – como de André e Pedro. Burgo pertencente ao reino da Galileia, eixo do discipulado do Divino Mestre!

O Sol começava a distribuir seus primeiros raios de um ouro encantador, como se fossem as mãos de Deus abençoando a vinha fecundante da Terra, com sementes de luz. Filipe já se encontrava de pé, contemplando a natureza, que fazia palpitar cada vez mais seu coração ansioso pela verdade, manifestando, em cada batida, interesse profundo por um diálogo que lhe acalmasse o raciocínio.


Deixou que a luz do astro o beijasse em todas as direções. Lembrou-se da juventude junto aos pais, seus amigos, os rebanhos, a pesca, as flores. Parou os pensamentos, encantando, sem nenhuma mescla de dúvida sobre a grande inteligência que nos comanda a todos, sentindo o Senhor palpitar em toda a criação. Seu raciocínio se empalidecia diante do que o coração lhe oferecia como esperança, que transmutava as claridades do tempo em fé, aquela fé, que mais tarde, o Evangelho anunciaria como capaz de transportar montanhas.