O Amor como Força Divina – Compilado do livro
Transição Planetária – Manoel P. de Miranda e Divaldo Franco
Prosseguíamos
na atividade por quase vinte horas ininterruptas e preparávamo-nos para o
retorno à nossa comunidade espiritual para um breve repouso. Abdul silenciara o
seu canto oracional e se encontrava em profunda meditação, permitindo-se
irradiar diáfanas energias que diluíam lentamente a densa treva que o archote
conduzido por Ana iluminava parcamente.
Nesse
momento, aproximou-se
um grupo de Espíritos agressivos como uma organização de bandidos desencarnados, quando, um deles, que
parecia o chefe, bradou, estentóreo, interrogando: Quem é o responsável
pela invasão desta área? Dr. White aproximou-se sem alarde e explicou que ele
era o encarregado de realizar o labor de atendimentos àqueles desencarnados em aflição,
acompanhado pelos amigos que o assessoravam.
Elucidou
que não houvera acontecido qualquer tipo de invasão, considerando-se que aquela
era uma terra de ninguém, desde quando fora vergastada pela tragédia coletiva
que sobre ela se abatera.
Não pôde
prosseguir, porque o arrogante, que se vestia de maneira típica das gangues
regionais das grandes urbes, cortou-lhe a palavra com grosseria: Pois saiba que esta
área a mim me pertence, portanto, tem proprietário, desde muito antes do que
você se refere como catástrofe.
Fui
informado por um dos meus subalternos, vigilante a meu soldo, sobre as
ocorrências que me interessam e que daqui foi enxotado, fazendo-o correr, esclarecendo-me que
estranhos invasores de outro lugar haviam-se apossado do nosso território. Chamado nominalmente
para resolver a prebenda, venho com os meus servidores exigir-lhes o abandono
das ações não solicitadas.
Calmamente,
o
médico respondeu que ai se encontrava atendendo ao apelo dos Guias espirituais
do país,
que haviam recorrido à ajuda de todos quantos o desejassem, de ambos os planos
da vida, a fim de serem diminuídas as aflições defluentes da tragédia coletiva.
E esclareceu: Seu apelo havia chegado à nossa comunidade, conforme ocorrera
com muitas outras, quando se ouviu o som de uma corneta que tocava a música Silêncio, expressando a dor que
se abatia sobre milhares de vidas no planeta terrestre.
Apresentamo-nos
ao nosso governador e fomos autorizados a participar do ágape da solidariedade
com os irmãos sofredores que estamos atendendo. Isso, porém - interrompeu-o
novamente com atrevimento - não justifica a sua e a intervenção nefasta dos demais,
estrangeiros que são, em nossos negócios, desconhecedores dos nossos hábitos e
costumes.
Desde a época da colonização holandesa aqui, através da Companhia das índias,
no século XVI, que nos rebelamos, os nacionais, contra os invasores de nossas
terras.
Timor
Leste, dominada pelos portugueses, há séculos, ainda se encontra atravessada em
nossa garganta. A morte não nos interrompeu os ideais libertários, e embora
tenhamos retornado ao solo amado, pelos renascimentos corporais, volvemos às
origens,
para daqui defendermos os nossos direitos de construir a nacionalidade com as
nossas próprias emoções.
Assim
sendo, continuaremos a libertar nosso povo que tem sido vítima da intervenção
alienígena, pagando qualquer preço. Não há muito, governos perversos e
piores do que nós, entregaram-nos ao ocidente, em cuja interferência teve papel
destacado o Japão, gerando mais infelicidade e enriquecimento ilícito dos seus
chefes,
tanto o que dominava antes, quanto aquele que o derrubou ferozmente, sem
nenhuma consideração pelos ideais nacionais.
Somos,
portanto, nós,
os indonésios, que temos o direito de aplicar a justiça, através dos nossos
métodos disciplinadores e punitivos, naqueles que são expulsos do corpo pelo
fenômeno da morte. Compreendo a sua colocação patriótica — informou o nobre mentor -
no entanto, as fronteiras a que você se refere, ficaram na geografia terrestre
que não é abrangida por esta área, afinal todas de propriedade divina.
Ouvindo-se
o amigo expor o seu pensamento, tem-se a impressão de tratar-se de um benfeitor
do povo sofrido, quando em verdade é um explorador impenitente das energias dos
trânsfugas que lhes tombam nas armadilhas perversas, sendo arrastados para os
lugares de profundo sofrimento, distantes da esperança e da misericórdia.
A
isso chama de justiça, de disciplina? Como se atreve a tomar a adaga da justiça real
nas próprias mãos, se ainda não consegue dominar os ímpetos asselvajados que
lhe constituem o caráter enfermo?
Aqui
estamos a convite dos reais governadores do país, portanto, dos respeitáveis
embaixadores de Deus, com o objetivo de desalgemar os irmãos infelizes dos seus
despojos e libertá-los dos vampiros do Além-túmulo, e tenha certeza de que não
arredaremos pé dos nossos compromissos, confessando-lhe que, de maneira alguma, temos
medo das suas ameaças e da farândola que o acompanha temente e assustada.
O
estúrdio expressou o ódio que o dominava, arengando: Essa tarefa
pertence-nos a nós, que utilizamos os nossos métodos conforme as leis que vigem
cá, sem a
necessidade de qualquer contributo de violadores dos direitos alheios.
Saberemos expulsá-los dentro de alguns minutos.
Com a
expressão asselvajada, segurando um feroz mastim e aplaudido pela malta insana,
que tocava tambores e sons estranhos com tubos perfurados, impôs, ríspido: Agora suspendam as
ações e acabem com os seus arenzéis, batendo em retirada.
Deixem os nossos pacientes
aos nossos cuidados, conforme sempre sucedeu, pois que sabemos tomar conta de
todos eles.
E
gargalhou sardônico, esfogueado, transtornado. Sem apresentar qualquer emoção
perturbadora, Dr. White enfrentou-o, elucidando: O caro amigo encontra-se
totalmente equivocado a nosso respeito, porquanto não o tememos e menos o
obedeceremos. Iremos prosseguir em nossa faina fraternal e ficaríamos, aliás,
muito gratos, se o seu grupo se diluísse, e aqueles que o desejarem queiram
auxiliar-nos na empresa em que nos encontramos envolvidos.
O
carrasco zombou, cínico, e arremeteu, furibundo: Atacar! Dizimemos os
impostores e ladrões! Como se aguardasse essa reação, o nobre médico concentrou-se
profundamente diante dos agressores e, naquele horrendo chavascal,
transformou-se numa lâmpada esparzindo claridade que fez estacionar a horda que
erguia os seus instrumentos de guerra: flechas, azagaias, lanças e outros de apresentação
exótica.
Tomados
de surpresa, ouviram sua voz profunda e melodiosa, enérgica e poderosa, no seu
próprio dialeto: “Arrependei-vos e dobrai-vos à vontade do Senhor dos Mundos”.
Chega o
momento, em vosso desvario, que somente se apresenta uma alternativa para escolher:
abandonardes
o ódio e a perseguição desditosa para abraçardes o amor. Escoam-se os anos e
permaneceis hostis ao Bem e à Verdade. Vossa impiedade transborda, e vossa
loucura, ao invés de inspirar temor ou ódio, provoca a compaixão.
Decênios
se passaram desde que aderistes à loucura que cultivastes nos regimes da
impiedade que infelicitou vosso povo, transferindo-o para além da morte, de modo que
permanecestes sicários dos vossos irmãos igualmente infelizes, a salvo da vossa
crueldade e loucura.
Ouvi-me!
Sou a voz da vossa consciência anulada pela desesperação, que perdeu o uso da
razão, mas que necessita libertar-se. Agora é o vosso momento de alegria e
emancipação. Silenciai o ódio nos sentimentos, deixai o medo dos infelizes que
vos intimidam e vinde para as nossas fileiras, as do Bem.
Enquanto
a voz, firme e doce, penetrava a acústica das almas, vimos cair sobre o
tremedal bátegas de luz, não mais os raios destrutivos de antes, e que tocando
aqueles rebeldes penetrava-os, provocando mudanças interiores, levando-os ao pranto
e a exclamações lamuriosas.
Libertai-vos
do mal — prosseguiu o instrumento da Verdade — e adotai o amor a vós mesmos,
inicialmente, para depois poderdes amar o vosso próximo e, por fim, a Deus.
Sois todos, como nós outros, filhos do mesmo Pai Generoso que vos espera
compassivo. Este é o vosso momento de renovação, aproveitai-o com decisão e
coragem de romper as amarras da ignorância e da perversidade que vos têm
infelicitado por tão largo período.
Ao
silenciar, num clima psíquico, e emocional superior, os desditosos atiraram
ao solo as armas que brandiam e, dominados pela força do amor, pediam amparo e
adesão à nossa hoste, passando para o lado em que nos encontrávamos, subitamente envolto
pela claridade suave que se dilatava do Mensageiro da Luz.
Blasfemando,
o chefe do grupo ordenava que soltassem os cães contra os desertores e nós
outros, ou que disparassem os seus dardos e flechas, inutilmente, porque
a debandada foi geral. À medida que mudavam de lado, atirando-se aos nossos
braços acolhedores, dilatava-se a faixa vibratória defensiva que nos resguardava de
qualquer tipo de agressão externa.
Vinde,
também, vós que estais sedento de luz e de amor, dirigiu-se ao chefe aturdido. Nada
obstante, apresentando a fácies de horror, o desditoso comandante emitiu um estranho
ruído e, num esgar pouco comum, após tremer como varas verdes, foi tomado por
uma convulsão semelhante à epiléptica, estertorando, e tombou, literalmente, no
solo.
Alguns
dos seus subordinados, que seguravam os cães e os instrumentos de guerra, aparvalhados
com o que acontecia, debandaram em ruidosa correria, gritando
desesperadamente. Logo após, fez-se silêncio, somente interrompido pelo aluvião
do choro convulsivo dos candidatos à renovação.
Suavemente,
o Guia retomou a postura anterior e, bem humorado, afirmou: Jesus sempre vence! Temos
muito serviço pela frente. Recambiar os nossos irmãos assustados à comunidade
própria para agasalhá-los, é o nosso dever. Irei recorrer ao auxílio de outros grupos
especializados neste tipo de auxílio, que operam nesta área.
O amor é força divina que sempre triunfa!