Nesta entrevista, concedida ao diretor do Anuário Espírita para a
edição de 1964, n.º 1, André Luiz (espírito) respondeu às perguntas formuladas de
números ímpares através do médium Waldo Vieira e as de números pares
através do médium Francisco Cândido Xavier. Os temas são os mais diversos: vida atual, sexualidade,
homossexualidade, reencarnação, etc.
Pergunta 1. Qual a quantidade aproximada de habitantes espirituais (em
idade racional) que se desenvolvem, presentemente, nas circunvizinhanças da
Terra? “Será lícito calcular a população de criaturas desencarnadas em idade racional,
nos círculos de trabalho, em torno da Terra, para mais de vinte bilhões, observando-se que
alta percentagem ainda se encontra nos estágios primários da razão e sendo esse
número passível de alterações constantes pelas correntes migratórias de
espíritos em trânsito nas regiões do planeta.”
Pergunta 3. Considerando-se que as criaturas dos reinos vegetal e
animal, deste e de outros planos, absorvem elementos de economia planetária,
pergunta-se: O nosso planeta dispõe de recursos para a manutenção e
sustentação de uma comunidade de número ilimitado de indivíduos ou a despensa celeste
do nosso domicílio cósmico se destina a uma sociedade de proporções limitadas,
ainda que de dimensões desconhecidas?
“Certo, nos limites do orbe terreno não é justo conceituar os
problemas da vida física fora de peso e medida, entretanto é preciso considerar
que as ciências aplicadas à técnica, à indústria e à produção, nos vários
domínios da natureza, assegurarão conforto e sustento a bilhões de espíritos
encarnados na Terra, com os recursos existentes no planeta, por muitos e muitos
séculos ainda, desde que o homem se disponha a trabalhar.”
Pergunta 4. Espíritos originários da Terra, têm emigrado, nos últimos
séculos, para outros orbes? “Seja de modo coletivo ou individual, em todos os
tempos, espíritos
superiores têm saído da Terra no rumo de esferas enobrecidas, compatíveis com a
elevação que alcançaram. Quanto a companheiros de evolução retardada, principalmente os que
se fizeram necessitados de corretivo doloroso por delitos conscientemente
praticados, em muitos casos, sofrem temporária segregação em planos regenerativos.”
Pergunta 5. Espíritos originários de outras plagas (regiões) costumam
estagiar na Terra em encarnações de exercício evolutivo? “Isso acontece com
frequência, de vez que muitos espíritos superiores reencarnam no planeta terra a
fim de colaborarem na educação da humanidade, e criaturas inferiores costumam aí
sofrer curtos ou longos períodos de exílio das elevadas comunidades a que
pertencem, pela cultura e pelo sentimento, porquanto a queda moral de alguém
tanto se verifica na Terra quanto em outros domicílios do Universo.
Pergunta 6. Considerando-se a enorme distância geométrica existente
entre dois ou mais orbes de um sistema solar ou entre dois ou mais sistemas
solares, pergunta-se:
6.a) Os espíritos, em seu desenvolvimento evolutivo, ligam-se,
necessariamente, a determinados orbes? “Em seu desenvolvimento, sim, qual
acontece com a pessoa que em determinada fase de experiência física se vincula,
transitoriamente, a certa raça ou família.
6.b) Na imensidão dos espaços que separam dois ou mais corpos celestes
vivem, também, inteligências individuais? “Isso é perfeitamente compreensível; basta lembrar os
milhares de criaturas que atendem aos interesses de um país ou de outro nas
extensões do oceano.”
Pergunta 7. Quais os processos de locomoção utilizados nas migrações
interplanetárias, considerando-se a possibilidade de migrações de entidades de
categoria até mesmo criminosa, como parece ser o caso dos imigrantes do sistema
planetário de Capela? “Esses processos de locomoção, no plano espiritual, são numerosos.
A técnica não se relaciona com a moral. Os maiores criminosos do mundo podem viajar
num jato, sem que isso ofenda os preceitos científicos.”
Pergunta 8. Onde começa o Umbral? “A rigor, o Umbral, expressando
região inferior da espiritualidade, pelos vínculos que possui com a ignorância e
com a delinquência, começa em nós mesmos.”
Pergunta 9. Onde se situa Nosso Lar? “Não possuímos termos
terrestres para falar em torno da geografia no plano espiritual, mas podemos
informar que as primeiras fundações da cidade “Nosso Lar” por espíritos
pioneiros da evolução brasileira se verificaram no espaço do território
conhecido como Estado da Guanabara.”
Pergunta 10. Por que a disciplina sexual é recomendada pelo plano
espiritual cristão? “Claramente que a disciplina sexual é recomendável em
qualquer plano da vida para que a degradação não arruíne os valores do espírito.”
Pergunta 11. Há alguma relação entre sexo e mediunidade? “Tanto quanto a
que existe entre mediunidade e alimentação ou mediunidade e trabalho, relações essas nas
quais se pede equilíbrio.”
Pergunta 12. As funções reprodutoras do sexo se destinam, somente, a
vida na Terra? “Em muitos outros orbes, compreendendo-se, porém, que mundos existem nos
quais as funções reprodutoras não são compreensíveis, por enquanto, na
terminologia terrestre.”
Pergunta 13. Espíritos sensuais mantêm atividades de natureza sexual
após a desencarnação? “Aos milhões, reclamando educação dos recursos do
sentimento e das manifestações afetivas, como acontece nos caminhos da humanidade.”
Pergunta 14. Os perispíritos das entidades espirituais que se localizam
nas vizinhanças da Terra conservam o órgão do aparelho sexual humano? “Sim, e por que
não? O órgão sexual é tão digno quanto os olhos e como não se deve atribuir aos olhos
os horrores da guerra o órgão sexual não pode ser responsável pelo vício.”
Pergunta 15. Os espíritos conservam, para sempre, as condições de
masculino e feminino? "Respondamos com os orientadores espirituais de
Allan Kardec que, na questão número 201, de “O Livro dos Espíritos” afirmaram,
com segurança, que o espírito tanto reencarna no corpo de formação masculina quanto
no corpo de formação feminina.”
Pergunta 16. Como explicar os homossexuais? “Devemos considerar
que o espírito reencarna, em regime de inversão sexual, como pode renascer em
condições transitórias de mutilação ou cegueira. Isso não quer dizer que homossexuais ou
intersexos estejam nessa posição, endereçados ao escândalo e à viciação, como
aleijados e cegos não se encontram na inibição ou na sombra para ser
delinquentes.
“Compete-nos entender que cada personalidade humana permanece em
determinada experiência merecendo o respeito geral no trabalho ou na provação
em que estagia, importando anotar, ainda, que o conceito de normalidade e anormalidade
são relativos. Lembremo-nos de que se a cegueira fosse a condição da maioria dos
espíritos reencarnados na Terra, o homem que pudesse enxergar seria
positivamente considerado minoria e exceção.”
Pergunta 17. Se vivemos tantas vezes participando da formação de casais
frequentemente diversos, como explicar o ciúme? "O ciúme é característico de
nossa própria animalidade primitiva, sombra que a educação
dissipará.”
Pergunta 18. O espírito desencarnado também está sujeito a crises
prolongadas de ciúme? “Como não? A desencarnação é um acidente no trabalho evolutivo, sem constituir por si
qualquer solução aos problemas da alma."
Pergunta 19. Como explicar a paixão que, tantas vezes, cega o indivíduo?
(A paixão é somente uma doença humana?) “Ainda aqui a animalidade em nós é a
explicação.”
Pergunta 20. O adultério é, sempre, causa de conflitos quando da volta
dos cúmplices ao plano espiritual? “Sim.”
Pergunta 21. A
reencarnação é lei imperativa em todos os orbes do Universo? “Mais
razoável dizer que a reencarnação é princípio universal, compreendendo-se que
existem esferas sublimes nas quais a reencarnação, como recurso educativo, já
atingiu características inabordáveis ao conhecimento humano atual.”
Pergunta 22. Se a Medicina da Terra aumentar (num futuro não muito
distante) a média da vida humana na crosta, do ponto de vista educacional, uma
única existência, de 500 anos, por exemplo, bastaria para libertar o espírito
das necessidades da escola terrena? "Cabe-nos aguardar o apoio mais amplo
da Medicina à saúde humana, com vista à longevidade, entretanto, em matéria
de libertação espiritual o problema se relaciona com a vontade acima do tempo. Quando a pessoa se
decide ao burilamento próprio, com ânimo e decisão, a existência física de cinquenta
anos vale muito mais que o tempo correspondente a cinco séculos, sem orientação no
aprimoramento moral de si mesma.”
Pergunta 23. É de esperar-se que nos próximos milênios, quando a Terra
se tornar um centro de solidariedade e de cultura, seja dispensado o processo
de reencarnação como elemento indispensável de experiências e estudos? “Digamos,
com mais propriedade, que o espírito, alcançando a sublimação, não mais se
encontra sujeito ao processo de reencarnação, por medida educativa, conquanto prossiga
livre para reencarnar, como, onde e quando deseje, em auxílio voluntário aos
semelhantes.”
Pergunta 24. A
duração média de vida dos encarnados racionais de outros orbes corresponde à
terrena? “Não. Essas etapas de tempo variam de mundo a mundo.”
Pergunta 25. Todas as reencarnações, mesmo as dos indivíduos vinculados
a condições inferiores, são objeto de um planejamento detalhado por parte dos
administradores espirituais? “Há renascimentos quase que automáticos, principalmente
se a criatura ainda permanece fronteiriça à animalidade, entendendo-se que
quanto mais importante o encargo do espírito a corporificar-se, junto da
humanidade, mais dilatado e complexo o planejamento da reencarnação.”
Pergunta 26. As organizações espirituais que pautam as suas atividades
dentro de programas alheios aos princípios cristãos também procedem a execuções
de programas para a reencarnação de tarefeiros (médiuns) determinados em suas organizações?
“Sim.”
Pergunta 27. Reencarnações de espíritos de ordem superior, presididas
por espíritos elevados, em meio inferior, estão sujeitos a represálias da parte
de organizações espirituais interessadas na ignorância humana? “Natural que assim
seja. Recordemos o próprio Jesus.”
Pergunta 28. Se um espírito encarnado com propósitos cristãos pode,
pela má conduta, transformar-se num instrumento das trevas, é de se perguntar
se um espírito encarnado sob os vínculos de organizações ainda não
cristianizadas no Espaço, pode, também, transformar-se num instrumento
ostensivo do programa do bem? “Perfeitamente. Assim ocorre porque o íntimo de cada um
prevalece sobre o rótulo que caracterize a pessoa no ambiente humano."
Pergunta 29. Sabemos que outras civilizações terrenas se desfizeram em
épocas remotas. Diante do perigo atual de uma conflagração atômica, é de se
perguntar: estamos às portas da nova Jerusalém ou no começo de um novo
fim? “Na condição de espíritas-cristãos encarnados e desencarnados, pensemos no futuro
da humanidade em termos de evolução, otimismo, confiança, progresso. De todas as calamidades,
a civilização sempre surgiu em novos surtos de força para o burilamento geral,
ao influxo da Providência Divina, ainda mesmo quando pareça o contrário.”
Pergunta 30. Habitantes de outros orbes conhecem a humanidade terrena,
sua história, costumes, etc.? “Sim.”
Pergunta 31. Diante dos progressos alcançados pela ciência, conseguirá
o homem aportar a outros corpos de nosso sistema solar? “Ninguém pode traçar
fronteiras às conquistas da ciência humana. Quanto mais dilatados o serviço e a
fraternidade, a educação e a concórdia na Terra, maiores as possibilidades do
homem nas conquistas do espaço cósmico.”
Pergunta 32. Se a ciência humana se servir de seus recursos, pondo em
risco a estabilidade do planeta, é de se esperar esteja a humanidade da Terra sujeita
a uma intervenção direta da parte de outros planetas? “Nossa confiança na
sabedoria da Providência Divina deve ser completa. Ainda mesmo que a
Terra se desintegrasse numa catástrofe de natureza cósmica, Deus e a vida não
deixariam de existir. Uma cidade arrasada num cataclismo não significa a destruição de
um povo inteiro.
Justo que, em nos considerando coletivamente, temos feito por
merecer longas aflições e duras provas na Terra, entretanto, diante da Infinita
Bondade, devemos afastar quaisquer ideias sinistras da cabeça popular
carecedora de harmonia e esperança para evoluir e servir. Amemo-nos uns aos
outros. Realizemos o melhor ao nosso alcance. Convençamo-nos de que o bem vive
para o mal como a luz para a sombra.
Edifiquemos o mundo melhor começando em nós mesmos, e confiemos na
palavra fiel do Cristo, que prometeu amparar-nos e auxiliar-nos “até o fim dos
séculos”.
E assim nos exprimindo não nos propomos afirmar que, a pretexto de contar com
Jesus, podemos andar irresponsáveis ou desatentos. Não. Forçoso trabalhar e
cumprir as obrigações que a vida nos trace, a fim de sermos amparados e auxiliados por ele,
sejam quais forem as circunstâncias.”