Em “O
Livro dos Espíritos”, encontramos a seguinte questão que Kardec coloca aos
espíritos: O
que é a alma (entenda-se humana) nos intervalos das encarnações? "Espírito
errante, que aspira a um novo destino e o espera". Nas questões que se
seguem, lemos também a expressão "estado errante". Um dos
significados da palavra errante, no dicionário de Caldas Aulete é
"nômade, sem domicílio fixo", e de errar, é "vaguear"
(errando ao acaso). Por sua vez, erraticidade, o mesmo que erratibilidade, quer dizer:
"caráter do que é errático. Estado dos espíritos durante os intervalos de
suas encarnações".
Bem,
chegando aos animais, surge a natural curiosidade de se saber como o seu
espírito se comporta na erraticidade, se é que para eles existe erraticidade. No
Livro dos Espíritos lemos "A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica
num estado errante, como a do homem após a morte? "Fica numa
espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um espírito
errante. O espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem
a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo
principal do espírito.
O
espírito do animal é classificado após a morte, pelos espíritos incumbidos
disso, e
utilizado quase imediatamente, não dispõe de tempo para se por em relação com
outras criaturas. Bem, vamos por partes! Algumas pessoas entendem, a partir desse
texto, que os animais, assim que desencarnam, são prontamente reconduzidos à
reencarnação.
A
expressão "utilizado
quase imediatamente" não deve ter, necessariamente, esse significado. O espírito do
animal pode
ser prontamente "utilizado" para uma infinidade de situações, dentre elas,
inclusive, o reencarne, e então, em todas elas, "não dispõe de tempo para
se por em relação com outras criaturas".
Entendo
que os animais, sendo conduzidos por espíritos humanos, não dispõem de tempo
livre, digamos assim, para se relacionarem com outras criaturas, ou fazer o que
quiserem, a seu bel-prazer mas, sim da maneira como decidiram seus orientadores.
Aliás, é o que sugere o texto em foco "O Espírito errante é um ser que
pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade".
Em “O
Livro dos Médiuns”, Kardec trata da possibilidade da evocação de animais e
pergunta aos espíritos: Pode-se evocar o Espírito de um animal? “O princípio
inteligente, que animava um animal, fica em estado latente após a sua morte. Os espíritos
encarregados deste trabalho, imediatamente o utilizam para animar outros seres,
através das quais continuará o processo de sua elaboração. Assim, no mundo dos
espíritos, não há espíritos errantes de animais, mas somente espíritos humanos.
Herculano
Pires, tradutor da obra, faz a seguinte chamada em rodapé: Espíritos errantes
são os que aguardavam nova encarnação terrena (humana) mesmo que já estejam
bastante elevados. São errantes porque estão na erraticidade, não se tendo fixado
ainda em plano superior. Os espíritos de animais, mesmo dos animais superiores, não tem
essa condição. Ler na Revista Espírita n° 7 de julho/ 1860, as comunicações do
espírito Charlet e a crítica de Kardec a respeito.
Apesar
da colocação dos espíritos ter sido taxativa, de que não há espíritos errantes
de animais, os fatos falam ao contrário. Se assim fosse, isto é, se não existissem
animais (desencarnados) no plano espiritual, como explicaríamos tantos relatos?
Como explicaríamos a existência dos chamados "espíritos da natureza?".
Ernesto
Bozzano, em Os animais têm alma? refere, dentre os 130 casos de fenômenos
supranormais com animais, dezenas de episódios com aparição de bichos em lugares
assombrados, com materialização e visão com identificação de fantasmas de animais
mortos.
Novamente, em “O Livro dos Espíritos”, lemos "Nos mundos superiores, a reencarnação é quase imediata". Se é assim a reencarnação dos espíritos mais evoluídos, seria até de se esperar que os espíritos de animais, sendo mais primitivos, demorassem mais tempo para voltar à matéria. Entretanto, nada conheço de conclusivo sobre esta questão.
Muito mais do que supomos, os animais são assistidos em seu desencarne
por espíritos zoófilos que os recebem no plano espiritual e cuidam deles. Notícias pela Folha
Espírita (dezembro/1992) nos dão conta de que Konrad Lorenz, zoólogo e
sociólogo austríaco, nascido em 1903, o pai da Etologia (ciência do
comportamento animal, que enfoca também aspectos do comportamento humano a ele
eventualmente vinculados) continua trabalhando, no plano espiritual, recebendo com
carinho e atenção, animais desencarnados.
Também
temos informações que nos foram transmitidas, pelo espírito Álvaro, de que há vários
tipos de atendimento para os animais desencarnados, dependendo da situação, em
especial para os casos de morte brusca ou violenta, possibilitando melhor
recuperação de seu perispírito. Existem ainda locais e instalações e construções adequadas para o
atendimento das diferentes necessidades, onde os animais são tratados.
Tendo
sido perguntado se os animais têm "anjo da guarda", Álvaro respondeu
que sim; alguns
espíritos cuidam de grupos de animais e, à medida que eles vão evoluindo, o
atendimento vai tendendo à individualização.
Concluindo,
podemos
dizer que para os animais é discutível se existe o estado errante ou de erraticidade. Particularmente, sou
propenso a aceitar que esse estado existe, sim, para os animais, se o
entendermos como "o estado dos espíritos durante os intervalos das
encarnações". Se esses intervalos são curtos ou longos, não se sabe exatamente. Penso que existem
situações das mais variadas possíveis, face à grandeza da biodiversidade
animal,
devendo, portanto, acontecer tanto reencarnes imediatos, quanto mais ou menos
tardios.
Por outro lado, existe ainda, a consideração feita de que o espírito errante pensa e age por sua livre vontade, além de ter consciência de si mesmo, o que não aconteceria em relação aos animais. Mas, isso não aconteceria até mesmo com espíritos humanos em determinadas e graves condições de alienação mental, como é o caso dos "ovóides", a exemplo do que refere André Luiz, no livro Libertação.
A rigor,
nesta abordagem, teríamos que condicionar o conceito de erraticidade, não
apenas ao fato do espírito (humano ou animal) estar desencarnado, vivenciando,
portanto, o intervalo entre duas encarnações, como também às suas condições
mentais do momento.
Quanto ao reencarne dos animais, perguntou-se ao espírito Álvaro se os animais estabelecem laços duradouros entre si? Sim, existe uma atração entre os animais, tanto naqueles que formam grupos como naqueles que reencarnam domesticados. Procuramos colocar juntos espíritos que já conviveram, o que facilita o aparecimento e a elaboração de sentimentos.
E qual é a finalidade da reencarnação para os animais? De acordo com os espíritos da codificação, a finalidade é sempre a da oportunidade de progresso.
Texto compilado por Harmonia Espiritual
do livro A questão espiritual dos animais