A festividade em Betsaida tornara-se natural. Na pacata cidade
da Galiléia, para muitas famílias era uma fonte de renda que trouxe abundância
para milhares de pessoas que antes viviam em dificuldades. O comércio se
estendeu por todas as ruas estreitas, pátios e esquinas. A pesca teve um
impulso assustador. Em poucas semanas, os turistas sustentavam a alegria do
povo da região, pelos cenários fáceis que lhe caíam às mãos.
No entanto, o Cristo era a atração principal, era o fenômeno do
espírito, como luz divina a atrair sofredores, mesmo na inconsciência, como
falenas hipnotizadas pela claridade. Mesmo no seio dessa ignorância, onde
poucos, lembravam-se da realidade espiritual, os ventos carregavam o bem-estar
de que a esperança se faz portadora.
Na verdade, podemos dizer que era uma festividade que se assegurava na fé que, se não alcançara o transportar de montanhas, firmara, por algum tempo, muita alegria. Quem pudesse olhar de longe notaria um homem de porte elegante, mas simples, passando, apressado, no meio da multidão, sem que o intenso movimento o atraísse.
Um belo manto caía em seu corpo bem formado e uma extensão do mesmo tecido descansava na curvatura do seu braço esquerdo. Seus olhos brilhavam com intensidade e a sua mente, como uma usina humana e espiritual, formava imagens as mais engenhosas possíveis. Esse homem era Mateus, também chamado de Levi, o cobrador de impostos nas alfândegas que pertenciam ao reino de Roma.
Na verdade, podemos dizer que era uma festividade que se assegurava na fé que, se não alcançara o transportar de montanhas, firmara, por algum tempo, muita alegria. Quem pudesse olhar de longe notaria um homem de porte elegante, mas simples, passando, apressado, no meio da multidão, sem que o intenso movimento o atraísse.
Um belo manto caía em seu corpo bem formado e uma extensão do mesmo tecido descansava na curvatura do seu braço esquerdo. Seus olhos brilhavam com intensidade e a sua mente, como uma usina humana e espiritual, formava imagens as mais engenhosas possíveis. Esse homem era Mateus, também chamado de Levi, o cobrador de impostos nas alfândegas que pertenciam ao reino de Roma.
O ideal de grandeza não arrefecera no seu coração. Mudara,
depois que conhecera Jesus, o modo pelo qual pensava ser grande, para
satisfazer sua mente faminta de realizações, sem que mais tarde o enfado o
visitasse. Mateus cultivava agora, mais as coisas do espírito, que quanto mais
adquiridas, maiores perspectivas abrem de se adquirir mais. Na realidade, é uma
fonte inesgotável que não cabe, nem por sonhos, em uma cabeça humana, mesmo a
mais dotada de capacidade espiritual.
Levi ouvira, ao longe, uma voz que o chamara. Quis se fazer de
surdo, mas a consciência não o permitiu. Abranda sua marcha e nota, em
disparada, o velho Zaquim, antigo vendedor de jóias da Judéia. Sabedor de que
Mateus apreciava ouro e pedrarias trabalhadas por artistas famosos, Zaquim
queria mostrar-lhe as que recebera diretamente do Tisnão.
Mateus espera, e o anão cumprimenta-o com toda a reverência,
chama-o a um canto da rua, abrindo algo que parece um alforje. Tira um volume
envolto em várias flanelas e os poucos raios de sol da tarde fazem brilhar aos
olhos do discípulo caríssimas preciosidades.
O patrício judeu esperava a admiração de Levi, que passou os
olhos de leve, com uma frieza que dispensava palavras. Mesmo assim, o
comerciante insistiu com o apóstolo: Veja, Senhor, como são lindas... essa aqui
— e aponta com o indicador — é digna de um cobrador de impostos do grande
império. Dificilmente tocarás em tesouro semelhante a este! E se esforça para
que Levi apanhe as jóias.
Mateus sente no coração a imagem do diagnóstico que os outros deveriam
fazer da sua pessoa e, com muita tristeza, responde ao vendedor ambulante
acerca das belezas que a natureza ofertara aos homens, mas que ele agora
dispensava, por serem cabides de mais peso para a consciência.
Sorriu complacente e falou com carinho: Zaquim, meu amigo, o
maior prazer que tive neste instante foi vê-lo com saúde. Nos últimos dias,
tenho lembrado muito de você, pelo seu grande interesse em alegrar os outros.
Acho isso uma virtude encantadora, pois existem muitos tristes no mundo.
Ah, se houvesse milhares e milhares de Zaquins, no afã de
trabalhar para essas almas que ainda não tiveram a ventura de sentir a
felicidade da alegria, pelo menos por alguns momentos! Conheço uma escola onde
pode educar as suas faculdades, que invejamos no bom sentido, pois é lá que o
cobrador de impostos está transformando as suas grandezas transitórias em
riquezas imperecíveis.
Quando quis falar do Cristo com mais profundidade, não mais viu
o velho Zaquim, que muito bem conhecia o Mestre, sua fama e o seu
desprendimento acerca das coisas materiais. Notou também, pela conversa mudada
de Levi, que o cobrador de impostos abandonara totalmente as idéias anteriores.
O discípulo de Jesus apressa o passo novamente e, sorrindo em
silêncio, pensa com respeito: “Ajuda, meu Deus, ao velho Zaquim, para que ele
possa nos ajudar na alegria dos outros, sem nos escravizar pelo interesse que
desmerece a caridade”.
Mateus adentra a igreja improvisada, que já se encontrava
aromatizada pelos ideais elevados do Mestre. O Senhor percebeu a entrada de
Levi, o último que faltava para que as trancas se fechassem por grossas mãos,
apressadas em ouvir as dissertações do Rabi da Galiléia. Tiago sentiu que uma
voz lhe pedia uma oração, olhou para Jesus e Este acenou a cabeça, confirmando.
Ambiente sereno. Muitos discípulos fitavam Mateus. Este se
incomoda com o fato e pensa em abrir a reunião perguntando a Jesus sobre algo
que lhe torturava a alma, já que ele não conseguia alcançar a solução desejada.
Fala, com humildade: Mestre! Mesmo tendo
eu vivido muito tempo em posição menos digna aos olhos dos judeus, confesso que
sempre minha consciência pedia Dignidade, em tudo que fazia e pretendia fazer.
Acho que a altivez de um homem o coloca em posição grandiosa
tanto física quanto espiritualmente falando, e essa autoridade moral me traz dificuldade
para que eu possa entendê-la e aplicá-la na vida que levava e na que, hoje,
tenho a felicidade de viver contigo. Eis que te peço, com modéstia, que
respondas se é certo que a tenho, ficarei contente e, mais do que isso, ficarei
devedor da tua graça.
Mateus — falou Jesus com moderação — a Dignidade de um homem
depende dos princípios e ideais que abraça. O organismo se acostuma com os
alimentos, quando não existem outros que mais lhe apeteçam. As leis de um país
são de acordo com o povo que ele acolhe, por determinação de Deus.
O modo pelo qual se sente e se entende a Dignidade varia de
pessoa para pessoa, mas em verdade te digo, as bases fundamentais são as mesmas
em todas as criaturas, ou para todas as criaturas e nações.
As variações são, por assim dizer, mudanças de cores, sem
deixarem de ser coisas coloridas. A tua Dignidade, onde estavas quando foste
chamado para o apostolado, era de fidelidade aos que te faziam servo. Contudo,
podia ela ser valorizada, no respeito para com aqueles que te entregavam os
tributos, como sendo o suor do rosto.
Levi, meu filho, não pode existir caráter puro sem que a
caridade esteja presente, assim como a caridade sem amor espiritual perde quase
todo o seu valor.
Sabemos dos teus ideais, que ultrapassam as fronteiras do homem
comum. As tuas idéias são faraônicas, deixam estampar nas tuas estruturas a
feição de grandeza, por isso é preciso teres maiores cuidados. Tu pareces
alterado nas tuas criações mentais e elas te perseguem, tomando a maior parte
do teu tempo de trabalho e de repouso.
Esses grandes navios, que descarregavam às tuas vistas,
começaram por simples desenhos, por poucas palavras, pelo toque de duas mãos,
de minuto a minuto, e de dia a dia e, talvez, anos. Todos os esforços tiveram
uma seqüência, que o tempo dominava, e nada foge dessa lei.
Vê, Mateus, o espaço de profeta a profeta, para que se
consolidem as leis de Deus na Terra e nos corações dos homens! Não queiras
coisas grandes demais, sem começar pelas pequenas, que formam o alicerce de tudo
o que existe.
A Terra está sendo bafejada pela luz de Deus, agora com mais
intensidade, mas, para tanto, é bom que saibas do gasto de milênios sem conta.
Somente as gerações do futuro se certificarão, pela fé e pela ciência, da
verdade que acabo de te dizer.
Mateus estava perplexo. E os outros discípulos? Cada um olhava
para o outro com admiração e interesse. Jesus prossegue com suavidade às vezes
mesclada de algumas expressões enérgicas: Levi! A decência, no meio em que ora
vives, é obrigada a desvestir-se das roupas da imposição interesseira. Ela não
pode aceitar as escórias da mentira autoritária para satisfazer a arrogância e
a brutalidade.
Todos os que aqui se reúnem foram chamados e escolhidos por uma
força maior, para que, por esse meio, possas sentir e entender a boa nova do
reino, aprimorando tuas virtudes e procurando outras, pela luz que acendemos
para todos. Compreendemos a intenção que tens da sinceridade, a vontade de
seres grande para ajudar os menores. Não obstante, é muito justo que olhes os meios
que procuras.
E muito nobre que todas as vias sejam lícitas, para que não
venhas a cair, antes de andar. A honra faz parte, meu filho, das belezas
espirituais da alma, mas é quando ela não exige a destruição, nem procura
humilhar os que nos ofendem. Honra é Dignidade, é honestidade diante dos nossos
compromissos, à luz do amor.
E Jesus continua com ternura: Mateus, meu amigo, haverás de
encontrar muitas e muitas oportunidades para testar o coração na Dignidade
pura, porque aquele que se aproxima da verdade, sofre primeiro as Consequências
da mentira e do engano.
Fez-se silêncio absoluto. O apóstolo, que pretendia coisas
grandes, sentiu, naquela noite, com Jesus, que, com o Mestre, a verdadeira
grandeza era sem limites e, para conquistá-la, Ele, Jesus, era o caminho
imprescindível por que todos deveriam passar, enriquecendo a vida, em busca de
Deus.
Compilado
do livro: Ave Luz
Autor:
Shaolin (espirito) e João Nunes Maia