As harmonias do espaço

As Harmonias do espaço
Do livro O grande enigma
Por Léon Denis

Uma das impressões que nos causa, à noite, a observação dos céus, é a de majestoso silêncio; mas
esse silêncio é apenas aparente; resulta da impotência dos nossos órgãos.

Para seres mais bem aquinhoados, portadores de sentidos abertos aos ruídos sutis do Infinito, todos os mundos vibram, cantam, palpitam, e suas vibrações, combinadas, formam um imenso concerto. Esta lei das grandes harmonias celestes podemos observá-la em nossa própria família solar.

Sabe-se que a ordem de sucessão dos planetas no Espaço é regulada por uma lei de progressão, chamada lei de Bode.
As distâncias dobram, de planeta a planeta, a partir do Sol.

Cada grupo de satélites obedece à mesma lei. Ora, este modo de progressão tem um princípio e um sentido. Esse princípio se liga ao mesmo tempo às leis do número e da medida, às matemáticas e à harmonia.
 
As distâncias planetárias
são reguladas segundo a ordem moral da progressão harmônica; exprimem a própria ordem das vibrações desses planetas e as harmonias planetárias; calculadas segundo estas regras, resultam em perfeito acordo.


Poder-se-ia comparar o sistema solar a uma harpa imensa, da qual os planetas representam as cordas. Seria possível, diz Azbel, "reduzindo a cordas sonoras a progressão das distâncias planetárias, construir um instrumento completo e absolutamente afinado".

No fundo (e nisso reside a maravilha),
a lei que rege as relações do som, da luz, do calor, é a mesma que rege o movimento, a formação e o equilíbrio das esferas, de igual maneira que lhes regula as distâncias. Esta lei é, ao mesmo tempo, a dos números, das formas e das idéias.
 
É a lei da harmonia por excelência: é o pensamento, é a ação divina vislumbrada! A palavra humana é muito pobre; é insuficiente para exprimir os mistérios adoráveis da harmonia eterna. A escrita musical somente pode fornecer a sua síntese, comunicar a sua impressão estética.


A música, idioma divino, exprime o ritmo dos números, das linhas, das formas, dos movimentos. É por ela que as profundezas se animam e vivem. Ela enche com suas ondas o edifício colossal do Universo, templo augusto onde retine o hino da vida infinita.

Pitágoras e Platão acreditavam já perceber "a música das esferas". No sonho de Cipião, narrado por Cícero em uma das suas belas páginas, que nos legou a antiguidade, o sonhador entretém-se com a Alma de seu pai, Paulo Emílio, e a de seu avô, Cipião, o Africano; contempla com elas as maravilhas celestes e o diálogo seguinte se estabelece: "Que harmonia é essa, tão poderosa e tão doce que me penetra?", pergunta Cipião. Responde-lhe o avô:

"É a harmonia que, formada de intervalos desiguais, mas combinados, de acordo com justa proporção, resulta do impulso e do movimento das esferas; fundidos os tons graves e os tons agudos em um acorde comum, faz de todas essas notas, tão variadas, um melodioso concerto. Tão grandes movimentos não se podem executar em silêncio."

Quase todos os compositores de gênio que ilustraram a arte musical, assim os Bach, os Beethoven, os Mozart, etc., declararam que percebiam harmonias muito superiores a tudo que se pode imaginar, harmonias impossíveis de serem descritas.

Beethoven, enquanto compunha, ficava fora de si, arrebatado numa espécie de êxtase, e escrevia febrilmente, ensaiando em vão reproduzir essa música celeste que o deslumbrava.
É preciso uma faculdade psíquica notável para possuir a tal ponto o dom da receptividade. Os raros humanos que a possuem afirmam que, quantos já surpreenderam o sentido musical do Universo, encontraram a forma superior, a expressão ideal da beleza e da harmonia eternas.

As mais elevadas concepções do gênero humano são, apenas, um eco longínquo, uma vibração enfraquecida da grande sinfonia dos mundos.

É a fonte dos mais puros gozos do Espírito,
o segredo da vida superior, cuja potência e intensidade os nossos sentidos grosseiros nos impedem, ainda, de compreender e sentir.

Para aquele que os pode gozar plenamente, o tempo não tem medida e a série dos dias inumeráveis não parece mais que um dia. Mas essas alegrias, ainda ignoradas, no-las dará a evolução, à medida que nos formos elevando na escala das existências e dos mundos.

Já conhecemos médiuns que percebem, em estado de transe, suaves melodias. As lágrimas abundantes que vertem testemunham não serem ilusórias suas sensações.

Voltemos
ao estudo do movimento das esferas, e notemos que não há, até mesmo tratando das próprias exceções à regra universal de harmonia, e dos desvios aparentes dos planetas, nada há que não se explique e não seja assunto de admiração.

Elas constituem espécies de "diálogos de vibrações tão aproximados quanto possível do uníssono" e apresentam um encanto estético a mais nesse prodígio de beleza que é o Universo.

Um exemplo, dos mais incisivos,
é o dos pequenos planetas, chamados telescópicos, que evolvem entre Marte e Júpiter, em número de cerca de 520, ocupando um espaço de oitava inteiro, dividido em outros tantos graus; de onde a probabilidade de que esse conjunto de mundículos não constitua, como se tem acreditado, um universo de destroços, mas o laboratório de muitos mundos em formação, mundos dos quais o estudo do céu nos dirá a gênese futura.

As grandes relações harmônicas que regulam a situação respectiva dos planetas de nosso sistema solar,
são em número de quatro e encontram sua aplicação: Em primeiro lugar: do Sol a Mercúrio; neste ponto também as forças harmônicas estão em trabalho; planetas novos se esboçam.

Depois,
de Mercúrio a Marte. É a região dos pequenos planetas, em que se move a nossa Terra, representando o papel de dominante local, com tendência a afastar-se do Sol para se aproximar das harmonias planetárias superiores.

Marte, componente deste grupo e do qual podemos distinguir, ao telescópio, os continentes, os mares, os canais gigantescos, todo o aparelho de uma civilização anterior à nossa, Marte, embora menor, é mais bem equilibrado que a nossa morada. (..)

Do livro O grande enigma
Por Léon Denis