Cessação do Sofrimento - Joanna de Ângelis

Cessação do Sofrimento – 04 Capítulo
Do livro Plenitude de Joanna de Ângelis

Na condição de enfermidade, o sofrimento, para ser curado, encontra diversos meios eficazes. Alguns o atenuam, outros são inócuos, e raros se apresentam como de eficiência incontestável.

A cura real, porém, somente se concretizará se a terapia extirpar-lhe as causas. Enquanto não se extingam as suas fontes geradoras, ele se manifestará inevitavelmente.

Desde que o mau uso da razão o origina, é indispensável agir no fulcro do seu desencadeamento, de modo a fazer cessar a energia que o aciona e vitaliza.


Nos reinos irracionais, nos quais o sofrimento resulta do fenômeno evolutivo através do desgaste natural das formas por desestruturação das moléculas e células, o concurso do amor humano atenua-lhe a intensidade, alterando o campo e proporcionando lenitivo de equilíbrio ou saúde.


O homem, que pensa, é responsável pela preservação da vida, que se manifesta em outros matizes e faz parte do conjunto que lhe sustenta a existência, possibilitando a evolução de todos os seres e princípios vitais.

Desse modo, os atentados e a desconsideração à ecologia se reflete na vida humana, qual ocorre com sua preservação e cuidados. São as ações respondendo pelos seus efeitos.

A fim de que se possa fazer cessar o sofrimento, torna-se imprescindível a aquisição de uma consciência responsável, capaz de remontar-lhe às origens, analisá-las e trabalhá-las com direcionamento adredemente planejado.

A educação do pensamento, a disciplina dos hábitos e a segurança das metas são os recursos hábeis para o logro, sem os quais as terapias e técnicas se tornam paliativas, sem resultarem solucionadoras.

Em alguns casos o sofrimento, em si mesmo, ainda é a melhor terapia para o progresso humano. Enquanto sofre, o homem menos se compromete, demorando-se em reflexão, de onde partem as operações de reequilíbrio.

É comum a mudança de comportamento para pior, quando diminuem os fatores afligentes. Uma sede de comprometimento parece assaltar o individuo imaturo, que parte para futuras situações penosas, complicando os parcos recursos de que dispõe.

Desse modo, a duração do sofrimento muito contribui para uma correta avaliação dos atos a que ele de deve entregar.

Porque se origina no primitivismo pessoal, pensamentos e a ações reprocháveis induzem-no a uma existência infeliz, da qual se liberta somente quando se resolve por escalar a montanha do esforço direcionado para a evolução, a serenidade, a harmonia, trabalhando os metais grosseiros da individualidade e moldando-os no calor do sacrifício.

Sem esse, não há elevação moral, nem compreensão das finalidades da existência terrena. Insculpidas na consciência, as Divinas Leis propelem a realização do bem que jaz em germe.

A demora pela definição é resultado de período normal para o amadurecimento que faculta eleger o que deve, daquilo que não convém realizar.

A cura de uma enfermidade impõe a extinção das suas causas. Alguém que haja sido mordido ou picado por uma áspide ou um inseto venenoso, deve, de início, bloquear, mediante garrote, a expansão do tóxico, para combatê-lo depois.

Diante de uma pessoa que foi atingida por uma seta envenenada, recomenda antiga sabedoria hindu, arranca-se-lhe a flecha primeiro, para depois tomar-se outra providência qualquer.

As setas morais venenosas, cravadas no cerne da alma, enquanto não sejam retiradas, continuam resistindo aos antídotos aplicados nos seus danos, por prosseguirem contaminando suas vítimas.

Educar a mente, disciplinando a vontade, constitui o passo inicial para extirpar as causas das aflições, infundindo responsabilidades atuais, geradoras, por sua vez, de novos resultados saudáveis, para propiciarem o futuro bem-estar a que se está fadado.

A recomendação de JESUS sobre o amor é de eficácia incontestável, por ser, esse sentimento, gerador de valores responsáveis pela felicidade humana. O amor dulcifica o ser e incita-o às atitudes edificantes da vida.

Mediante a sua vigência, pensa-se antes de tomar-se decisões, considerando-se quais as que são mais compatíveis com a ética e os anseios do próprio coração.

Jamais desejando para o seu próximo o que não gostaria de experimentar, assumem-se compromissos de prosperidade, sem prejuízo de natureza alguma para si ou para os outros.

A própria lucidez gerada pelo amor induz ao perdão indiscriminado para todas as pessoas, por conseqüência, para si mesmo.

O olvido do mal, com abandono de propósitos de vingança, é inadiável para alguém liberar-se de expressiva soma de sofrimentos.

As idéias deprimentes, acalentadas como resultados do ressentimento ou do desejo de retribuição malévola, geram enfermidades que dilaceram os tecidos orgânicos e desconsertam os equipamentos emocionais. Enquanto vigem, demora-se os sofrimentos dominadores.

Por sua vez, o remorso e o arrependimento das ações infelizes, a tristeza e os desgostos delas derivados constituem fatores mentais dissolventes que se instalam nas engrenagens da alma, provocando distúrbios psicológicos, físicos e morais de demorado curso.

O perdão para as faltas alheias luariza a paisagem íntima, clareando as sombras da angústia insistente que bloqueia a alegria de viver, produzindo sofrimentos injustificáveis.

Cerrada a porta de uma afeição, agredido por um amigo desconhecido, deve-se sempre seguir adiante no rumo das outras, das inúmeras portas abertas que nos aguardam, e da compreensão fraternal para com o revel, considerando-o um enfermo ignorante do mal que o consome.

A vida são as incessantes oportunidades que surgem pela frente, jamais os insucessos que ocorreram no passado. Assim, libertar-se do acontecimento negativo, qual madeira podre que se arremessa nas águas do rio do esquecimento, é atitude de saudável sabedoria.

Tal comportamento credencia o homem a ser perdoado pelo seu irmão, que o libera do pagamento dos seus momentos infelizes, não irradiando contra ele pensamentos destrutivos (idéias anestesiantes) que sempre são assimilados pelo fenômeno da sintonia mediante a consciência de culpa.

Quando alguém se liberta do lixo mental, acumulado pela ignorância e pela futilidade, começa o seu restabelecimento espiritual, e toda uma atividade nova se lhe apresenta favorável, abrindo-lhe espaço para a saúde.

Nesse grupo de tentames edificantes está o auto-perdão. Considerando a própria fragilidade, o individuo deve conceder-se a oportunidade de reparar os males praticados, reabilitando-se perante si mesmo e perante aqueles a quem haja prejudicado.

A perfeita consciência do auto-perdão não se apóia em mecanismos de falsa tolerância para com os próprios erros, que seria negligência moral, conivência e imaturidade, antes representa uma clara identificação de crescimento mental e moral, que propicia direcionamento correto dos atos para a saúde pessoal e geral.

O arrependimento, puro e simples, se não acompanhado da ação reparadora, é tão inócuo e prejudicial quanto a falta dele.

Assim, o complexo de culpa é igualmente danoso, porque não soluciona o mal praticado, sendo, ademais, responsável pelo agravamento dos seus maus resultados.

O auto-perdão compreende a posição mental a respeito do erro e a satisfação íntima ante a possibilidade de interromper o curso dos males causados, como arrancar-lhes as raízes encravadas em quem lhe padece a constrição.

Será possível lograr o cometimento por meio de uma análise meticulosa dos fatores que levaram à ação reprochável, examinando outras alternativas que não foram utilizadas e que não teriam produzido efeitos negativos, para depois predispor-se à oportuna reconsideração da atitude, liberando-se da desconfortável injunção de culpa conflituosa.

Se, ante a resolução de auto-renovação, não se encontra a receptividade por parte da vítima, não constitua, esta recusa, um novo motivo para atrito, senão estímulo para continuar-se com o propósito salutar, revestindo-se de mais paciência e tolerância, a fim de enfrentar-se a reação do outro, igualmente enfermo e sem disposição, por enquanto, para liberar-se do mal que o entorpece.

O auto perdão ajuda o amadurecimento moral, porque propicia clara visão da responsabilidade, levando o indivíduo a cuidadosas reflexões antes de tomar atitudes agressivas ou negligentes, precipitadas ou contraditórias no futuro.

Quando alguém se perdoa, aprende também a desculpar, oferecendo a mesma oportunidade ao seu próximo. O bem-estar que experimenta faculta-lhe a alegria de propiciá-lo ao outro, o ofendido, gerando uma aura de simpatia a sua volta, que se converte em clima de liberação do sofrimento.

A cessação real do sofrimento, portanto, dá-se quando, erradicadas as suas causas, desaparecem-lhe os naturais fenômenos das conseqüências.