O Perispírito e as mortes prematuras

Na problemática do aborto imagina-te ansiado pelo ingresso em determinada oficina, de cujo salário e experiência necessitas para efeito de aperfeiçoamento e promoção. Alcançando-a pelo concurso de mãos amigas, alimentas a melhor esperança. Em tudo, votos de paz e renovação aguardando o futuro.

Entretanto, ainda nesta hipótese, observas-te em profundo abatimento, incapaz de comandar a própria situação. Assemelhas-te ao enfermo exausto, sem recursos para te garantires e sem palavra que te exprima, suplicando em silêncio a compaixão e a bondade daqueles aos quais a sabedoria te confiou a necessidade por algum tempo e a quem prometes reconhecimento e veneração.


Mentalizado semelhante painel reflete no desapontamento e na dor que te tomariam de assalto se te visses inesperadamente debaixo de fria e descaridosa expulsão, a pancadas de instrumentos cortantes ou a jatos de venenosos agentes químicos. Nessas circunstâncias, que sentimentos te caracterizariam a reação? (Mensagem de Emmanuel - Psicografia de Chico Xavier)


1. A Gestação como Modelagem: Quando o perispírito é danificado severamente, compromete o Espírito em várias encarnações, sempre dolorosas, quando não frustradas, pela impossibilidade da coexistência pacífica com o físico, de vez que a fôrma defeituosa não é capaz de produzir uma forma harmoniosa.

Tal acontece com o suicida, que desejando anular-se evadindo-se do desespero de que é tomado, atira-se sobre os trilhos dos trens, lança-se edifício abaixo, retalha-se à navalha, ingere ácido e demais gêneros dantescos de superlativa dor.

Seu perispírito igualmente macerado, marcado com amputações profundas, sob a ação mental que cristalizou o instante agônico, permanece neste estado anos seguidos, necessitando às vezes, de várias encarnações para que haja uma remodelagem ou reestruturação celular.

Esse Espírito ao encarnar, devido às suas vibrações danosas, pode levar a mãe ao desencarne, intoxicando-lhe o corpo, culminando em tragédia em que ambos padecem. Tal acontecimento, portanto, é de prévia programação no plano espiritual, onde Espíritos comprometidos com a lei, aceitam a maternidade nessas condições, resgatando antigas promissórias, cujo débito aguardava na contabilidade divina o instante da quitação.

Muitos desses suicidas necessitam de algumas existências momentâneas na carne, sobretudo para o contato físico, ocasião em que ocorre uma rearrumação nas moléculas perispirituais por força da formação do novo corpo, que funciona qual agente modelador, refazendo estruturas antes trituradas ou retalhadas, sendo esta a causa de muitas mortes prematuras.

Apesar de, no momento da concepção ligar-se uma fôrma perispiritual deformada ao óvulo fecundado, ela vai se revestindo com a matéria orgânica, tomando uma forma humana, forçando as deformações ajustas correções, no que melhora o aspecto anatômico-fisiológico do conjunto, a cada tentativa de encarnação.

Braços atrofiados, pernas ressequidas, cabeça desproporcional. Com as tentativas seguintes, consegue se a forma adequada. No mais, com o esquecimento promovido pela redução perispiritual, volta a supremacia do instinto de sobrevivência, dos automatismos já conquistados pelo Espírito, que são fatores condicionantes secundários a forçar uma modelação segundo as determinações harmoniosas da natureza.

2. O Aborto: Qualquer que seja o método utilizado para provocar o aborto, este atinge o perispírito do reencarnante. É comum chegarem aos hospitais do plano espiritual crianças com suas feições perispirituais totalmente deformadas. Retalhadas, queimadas, esquartejadas, pois as amputações profundas no físico, desde que o Espírito as assista e com elas se envolva entrando na faixa da revolta, vingança ou similares, provocam igualmente amputações no perispírito.

Observamos tais crianças alojadas em espécies de berçários, com seus corpos apresentando as características do método abortivo pelo qual passaram. Notamos em particular, uma criança de cerca de seis meses, apresentando cicatrizes profundas, sob algo, à semelhança de uma incubadora, dotada de canos transparentes onde se via uma substância azulada que recaía sobre seu corpo.

O efeito dessa substância, espécie de luz, era provocar a união nas aberturas epidérmicas, que se mostravam delicadas a princípio, qual tênue película, mas aos poucos se adensavam normalizando o tecido cutâneo. A criança reagia e chorava incomodada, qual se sentisse dores profundas. Explicou-me o médico (instrutor) que a atendia, que aquela substância luminosa era um misto do fluido universal com fluido vital, unido a outro tipo de fluido de natureza superior.

No mesmo hospital, em outra ala, em uma espécie de UTI, crianças deformadas jaziam em profundos sangramentos, colocadas dentro de recipientes, qual se fossem réplicas de um corpo infantil, talhadas em fôrmas para remodelagem dos seus perispíritos. Muitas delas eram apenas restos que não chegavam a separar-se totalmente, devido a leve película que os unia.

A aparência, contudo, era de haverem sido retalhadas ou esquartejadas. Esses pedaços eram colocados na referida fôrma, que funcionando qual útero artificial promovia uma gestação complementar, onde a médio prazo, fazia surgir a pele, os vasos sangüíneos, as unhas e demais órgãos.

É como se um outro perispírito estivesse sendo formado em substituição ao antigo outrora deformado. A mente do Espírito (explica o instrutor) em nada interfere no processo modelador, de vez que se encontra em estado semelhante ao coma provocado, para que a sua atuação mental traumatizada ou quiçá cristalizada não interfira negativamente na modelagem.

Ainda em outra ala, observamos uma criança que se fazia acompanhar por uma sombra de adulto, que a ela se ligava. Esta criança (comentou o instrutor) por ocasião do esquecimento, não perdeu totalmente a consciência. Houve uma redução perispiritual sem a perda total da realidade, o que está provocando grande confusão mental no Espírito que ora age como criança e ora procede como adulto.

— Mas por que ele não passou por um esquecimento total? Defensiva contra algum gesto agressivo da mãe. Isso dificultou o esquecimento deixando certas lembranças vivas. Poder-se-ia até dizer que o seu instinto, no setor que zela pela sobrevivência, ficou em alerta, ciente de que adentraria terrenos perigosos ou porto inseguro.

A luta entre eles (filho e mãe) já vem de longe, e esta foi mais uma oportunidade perdida no difícil capítulo da reconciliação. Ele deverá passar por um novo processo de esquecimento; total desta vez, para que a sombra que o acompanha (seu corpo mental) igualmente seja reduzida, iniciando o crescimento normal como as crianças encarnadas na Terra o fazem.

— Por que Deus permitiu o reencarne se já sabia antecipadamente que ocorreria o aborto? Um sem número de criminosos matariam milhões de pessoas. Como a aprendizagem no presente estágio se faz mais sob os impositivos da dor que pelas diretrizes do amor, cada um colhe o que semeia e aprende como lhe convém.

Todavia, casos há em que o BASTA divino acaba com as querelas e insubordinações aparentemente sem limites. Se Deus não tivesse em mãos as rédeas do universo, nenhuma certeza teríamos de ver concretizados nossos projetos de paz e nossos sonhos de felicidade.

3. Desencarne no período de gestação: Em outro contato com o plano espiritual, observamos uma mulher gestante com várias perfurações a faca. O médico espiritual, Dr. Albert, procedeu ao parto. Através de exame superficial, notamos que as perfurações atingiram a criança, retirada à maneira cesariana e colocada em grande tubo de ensaio.

Ela apresentava um braço ressequido no qual destacava-se grande cicatriz. Voltando o olhar para a mãe, notei que seu braço fora decepado, e por apresentar-se cicatrizado à altura da lesão concluí que tal acidente não fora motivado pela arma que a vitimara.

Disse o médico: se ele chegasse a reencarnar, todos diriam tratar-se de um problema hereditário. Mas não é. Esses dois Espíritos comprometeram-se em encarnações passadas, quando se envolveram em relação culposa com eventos que provocaram vasta cota de sofrimentos a seus irmãos, no que lesaram seus perispíritos.

A criança deverá crescer normalmente, e quando atingir a idade de entender a razão de sua deformidade, passará por uma cirurgia reparadora. Deverá saber que aquela lesão é uma conseqüência de seus atos indignos no passado. A mãe igualmente sofrerá cirurgia restaurando suas perfurações.

No mapa cármico dessa mulher, o acontecimento estava previsto, não como ocorreu. Ela deveria sofrer as perfurações por um acidente, ou por outro método qualquer; só que a previsão não era para esta data enquanto a gestação se efetuava.

O homem que a matou, e que é um seu inimigo do passado, apenas precipitou o acontecimento. A criança deveria nascer e resgatar seus débitos. O homicida comprometeu-se por força desse ato impensado a trazer em seu mapa cármico as lesões que provocou a ambos.

Continuando a reunião, os Espíritos promoveram o desdobramento em um dos médiuns, que é levado a um hospital, espécie de maternidade no plano espiritual, para observações e estudos sobre o perispírito. O médium descreve o que presenciou em tom emocionado.

Encontro-me em um hospital. Parece especializado em problemas de gestação. Não estou mais usando a roupa com a qual me desdobrei, e sim uma bata lilás. Os técnicos que me acompanham igualmente usam a mesma vestimenta.

Estamos observando o caso de uma mulher gestante, já no sexto mês de gravidez, e que desencarnou em um acidente automobilístico. A sala onde me encontro é em tudo semelhante a um centro cirúrgico. A mulher observada encontra-se em uma cama de formato específico para parto, e a sua posição é adequada ao parto normal.

Noto que ela sente dor. Diz o técnico, que realmente vai ocorrer o parto, porque ambos desencarnaram com o choque e não conseguiram se desvencilhar um do outro. A mulher não sabe que desencarnou nem vai saber por enquanto. Vejo a criança nascendo, da mesma maneira que os nossos bebês na Terra; ele já está todo formado. (Meu Deus! Que coisa linda!).

Explicam-me que esse perispírito, devido à redução pela qual passou para ser acoplado ao útero, ao esquecimento a que foi submetido e ao alongamento da gestação fazendo com que ele estivesse apto a viver na Terra, deverá passar por um retorno ao estágio pré-encarnatório, quando era consciente e adulto.

Algo como se ele tivesse que esquecer o que esqueceu, voltando a ser simplesmente Espírito, aqui no mundo espiritual.

— Pergunto-lhes a razão de todo esse trabalho, de vez que a criança estava predestinada a não nascer. Respondem que não me precipite, pois saberei de tudo em breve. A criança, prosseguem, vai ter um crescimento diferente daquelas que reencarnam, vivem algum tempo, e desencarnam. Ficará em uma incubadora e seu crescimento será mais rápido por não ter havido uma vinculação com a matéria de maneira prolongada.

O crescimento dessa criança será acelerado pelos técnicos, que atuarão em sua mente, fazendo-a inclusive reassumir a sua personalidade já firmada antes do esquecimento para nascer. Agora respondem à minha indagação anterior. Foi uma prova necessária para esse Espírito, em razão de um suicídio cometido por ele no passado. Ele teria que submeter-se ao processo do nascer de novo, somente para harmonizar partes do seu perispírito, o que, graças a Deus, dizem os instrutores, aconteceu.

No entanto, ele necessita reencarnar brevemente. Quando estiver despertando aqui no mundo espiritual, ele terá que tentar novamente o reencarne, mas agora com grande probabilidade de sucesso graças à modelagem pela qual passou. Sou levado nesse instante até a mãe da criança.

Ela viu o filho. Sente-se aliviada e mostra aquela ternura que toda mãe demonstra ao olhar o filho pela primeira vez. Os técnicos vão submetê-la a um transe hipnótico, para que ela não lembre do ocorrido e possa refazer-se, no que será levada às reuniões mediúnicas para ser auxiliada e tomar conhecimento do seu drama.

Ela não poderia receber a notícia do seu desencarne de maneira brusca, afirmam os técnicos. A carga de fluidos tóxicos gerada pela dor e o desespero, sufocaria a ela e a criança.

4. O Crescimento do perispírito: Perguntei ao instrutor sobre o crescimento do perispírito em crianças. Como ele ocorre no plano espiritual?

— Após a morte física, o perispírito obedece ao ritmo do crescimento terreno, retomando com o tempo a sua estatura de adulto. As crianças desencarnadas continuam a crescer, despertando a mente e desvencilhando-se da forma reduzida, na razão direta do seu poder mental.

Os Espíritos mais evoluídos imprimem à sua vontade uma maior rapidez no crescimento, o que não ocorre com os menos evoluídos. Temos aqui entre nós, técnicos de aceleração do crescimento, onde o perispírito dentro de alguns dias, sai de sua aparência infantil para transformar-se em jovem, como se houvesse envelhecido nesse espaço de tempo, dez ou quinze anos. Nesse processo, que envolve regressão de memória, o Espírito assume seus conhecimentos anteriores.
  
5. Obsessão pós-parto: Perguntei ainda qual seria a condição do Espírito após ser vítima do aborto, quando tolhida a sua encarnação, passando este a proceder como feroz inimigo daquela que lhe seria mãe, iniciando severa obsessão. Ele perseguiria sua mãe como criança ou adulto? E o esquecimento a que fora submetido, permaneceria?

— Se uma gestação é interrompida, quer no primeiro ou no nono mês, o Espírito é acolhido em hospitais para tratamento e desenvolvimento normais. Contudo, em alguns casos de abortos provocados, notadamente quando não é a primeira vez para aquele Espírito, a depender do seu estado evolutivo, ele pode rebelar-se e ficar junto da candidata e fracassada mãe para obsidiá-la ou não.

Casos há em que o ódio gera um desbloqueio no processo de esquecimento, e o Espírito, lúcido quanto à realidade do fato, mas, perturbado quanto a seus efeitos, inicia tenaz perseguição. Ocorre algumas vezes nesses casos de mais de uma tentativa frustrada, de o Espírito reencarnante, mesmo submetido ao esquecimento, manter-se intimamente de sobreaviso, em expectativa silenciosa, vigilante, como se algum aviso secreto o mantivesse alerta para a culminância do fato.

A depressão causada pelo fracasso anterior e a ansiedade que o acompanha não favorecem um esquecimento profundo, permanecendo ele em rogativas mentais à mãe. Caso não seja ouvido em seus apelos, ele pode sintonizar a mágoa e a revolta por ocasião do aborto, gerando este ato, o rompimento do dique que guardava as recordações, desfazendo o esquecimento, pelo menos parcialmente.

Em situações como esta, o Espírito diante da agressão sofrida, pode ainda imantado ao útero materno, que deveria servir como o santuário da vida e não a porta da morte, provocar inúmeros desarranjos no organismo da infeliz que o abrigava, que vão desde hemorragias graves, até parada cardíaca, culminando com o desencarne.

Após o seu desligamento, reassumindo o domínio mental de antanho, este lhe faculta mesmo à sua revelia a condição perispiritual anterior, pois a mente sendo a artesã do perispírito se faz obedecer em generosa plasticidade. Não é, portanto, o tempo de gestação que determina ao Espírito, assumir determinada faixa de idade, e sim, a condição inerente a ele, sua orientação no tempo e no espaço, e ainda o seu relacionamento com os possíveis pais, levando-se em conta as leis de causa e efeito.

6. Gestação frustrada: O aborto provocado, além de gerar problemas físicos na abortadeira, tais como: nascimentos prematuros, nascimento de filhos defeituosos, esterilidade, problemas de fator Rh, gravidez nas trompas, perfuração do útero caracterizando peritonite, irregularidades na menstruação, tonteiras e dores abdominais, deixa inúmeras sequelas psíquicas nas quais se destacam o remorso, a monoideia motivada pelo crime, a obsessão ou auto-obsessão, angústia, solidão e outras neuroses.

Mas pode igualmente, em encarnações posteriores, determinar esterilidade, devido ao desajuste que o aborto provoca no centro genésico. Em alguns casos, a mulher nutrindo o desejo de ser mãe, impregna as células reprodutivas com acentuada carga magnética de atração, a qual dirigida pela mente ansiosa, promove o encontro do espermatozóide com o óvulo, ficando a recapitular a cada instante a formação fetal, o que concretiza no plano carnal a criação de um feto sem que haja um Espírito*.

Esse fato obedece às leis da Genética, que condiciona as células a se agruparem gerando uma forma humana. Concorre também para isso a intensa atuação mental da mãe, que auxiliando o processo biológico, faz culminar o nascimento de um ser com vitalidade celular, mas incapacitado de viver devido à ausência do Espírito e do perispírito naquele corpo.

No sentido inverso, lembramos que a gestação pode não ser levada a termo, o que não é comum, pela recusa deliberada à gravidez, onde a mulher, pela sua atuação mental, desarticula os processos celulares do feto, interferindo negativamente na modelagem do novo corpo, que não consegue, apesar da fôrma perispiritual, ordenar-se em sua anatomia e fisiologia, sobrevindo-lhe a morte.

Nesse caso, a mãe promove o aborto através de sua atuação mental. Se no desejo de ser mãe a mente ajuda na construção e modelação do feto, no sentido oposto, ela desarticula a modelagem, comprometendo-se em futuras encarnações.

7. Consequências do Aborto: O aborto provoca no perispírito da mulher desarmonias variadas, de repercussões imediatas e posteriores. O chacra esplênico e o genésico, são invadidos por toxinas que se acumulam em forma de antígenos, a provocar em futuros retornos à carne, divergências sangüíneas, moléstias nos órgãos genitais, deslocamento da placenta, hipocinesia uterina, salpingite tuberculosa, degeneração cística do cório, tumores na trompa e no ovário e numerosas patologias catalogadas ou não nos tratados de patogenia das nossas universidades.

O Espírito guarda em minudências e cores vivas, os dramas vividos, aferindo de maneira milimétrica nossa participação na ventura ou na desgraça, alheia ou nossa, revertendo-a em felicidade ou desdita a ele incorporadas.

Quanto ao perispírito, refletor incorruptível da mente, através das impressões que deixa plasmar em obediência ao seu comandante, o Espírito, abre as portas do paraíso e as do "inferno", cabendo a cada um a escolha dos caminhos onde deixar impressas suas pegadas.

Mas, há séculos os homens sabem que o farol é Jesus. Perde-se quem o abandona.

Compilado do livro: O Perispírito e suas Modelações
Autor: Luiz Gonzaga Pinheiro