O vácuo absoluto existe em alguma parte no Espaço
universal? Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria
que te escapa aos sentidos e aos instrumentos. (Allan Kardec. O livro dos
espíritos, q. 36)
Adeptos há da Doutrina
Espírita que rejeitam, até hoje, a versão ultimamente muito ventilada pelos
Espíritos desencarnados, por meio de obras ditadas psicograficamente, de um
mundo material, invisível aos olhos carnais, mundo esse vibrátil e intenso, no
qual existirá, em estado aperfeiçoado, ampliado até a vertigem, muito do que na
Terra existe.
Respeitamos,
certamente, a opinião dos refratários a essa revelação, visto que, se é dever
de qualquer cidadão respeitar opiniões alheias, ao espírita, com muito maior
razão, assistirá o dever de consideração à opinião do próximo, ainda quando
antagônica ao seu modo de ver e pensar.
Não seria, porém,
ocioso raciocinarmos sobre ensinamentos particulares aos domínios da Doutrina
Espírita, raciocínios que, se nenhum proveito trouxerem à instrução que nos
cumpre dilatar diariamente, ao menos nos auxiliarão no aprendizado da
meditação, exercitando-nos o pensamento para voos mais arrojados.
Estas páginas, como
as demais que compõem o presente volume, não são frutos do nosso raciocínio
pessoal, como o não são de nossas concepções doutrinárias, visto que temos o
cuidado de jamais estabelecer concepções pessoais em assuntos de Espiritismo.
Certos da nossa
fragilidade, renunciamos bem cedo à vaidade das opiniões próprias, para nos
achegarmos aos mestres e grandes vultos da Doutrina e junto deles buscar o
ensinamento seguro, aceitando igualmente o que o Invisível espontaneamente nos
revela, quando concorde com os ensinamentos básicos, revelações que, algumas
vezes, têm contrariado mesmo as ideias que havíamos feito sobre mais de um
assunto.
Temos sido, portanto,
tão somente um veículo transmissor das ideias e do noticiário do Espaço, e,
mercê de Deus, empenhamo-nos esforçadamente em ser passiva aos dedicados amigos
invisíveis, ao se valerem da nossa faculdade.
E, por isso mesmo, o
que aqui se afigura escrito por nossa pena mais não será do que o murmúrio das
vozes de amigos espirituais que nos dirigem o cérebro e impulsionam o lápis,
depois de haverem arrebatado o nosso Espírito a giros instrutivos pelo mundo invisível,
as mais das vezes.
Desde o advento da
Doutrina Espírita, os nobres habitantes do mundo espiritual que se têm
comunicado com os homens, por intermédio de grande variedade de médiuns,
afirmam ser a Terra um pálido reflexo do Espaço.
O livro dos médiuns,
de Allan Kardec, Segunda Parte, no belo capítulo VIII – “Do laboratório do
mundo invisível” – é fecundo em explicações que oferecem base para estudos e
conclusões muito profundas quanto à vertiginosa intensidade do plano invisível,
a possibilidade de realizações, ali, por assim dizer, “materiais”, que as entidades
desencarnadas sempre afirmaram e que nos últimos tempos vêm confirmando com
insistência e pormenores dignos de atenção.
E no precioso
compêndio A gênese, também de Allan Kardec, lemos o seguinte, no capítulo XIV,
subtítulo “Ação dos Espíritos sobre os fluidos. Criações fluídicas. Fotografias
do pensamento”:
13. Os fluidos espirituais, que constituem um dos estados
do fluido cósmico universal, são, a bem dizer, a atmosfera dos seres
espirituais; o elemento donde eles tiram os materiais sobre que operam; o meio
onde ocorrem os fenômenos especiais, perceptíveis à visão e à audição do
Espírito, mas que escapam aos sentidos carnais, impressionáveis somente à
matéria tangível; o meio onde se forma a luz peculiar ao mundo espiritual, diferente,
pela causa e pelos efeitos, da luz ordinária; finalmente, o veículo do
pensamento, como o ar o é do som.
14. Os Espíritos atuam sobre os fluidos espirituais, não os
manipulando como os homens manipulam os gases, mas empregando o pensamento e a
vontade. Para os Espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o
homem. Pelo pensamento, eles imprimem àqueles fluidos tal ou qual direção, os
aglomeram, combinam ou dispersam, organizam com eles conjuntos que apresentam
uma aparência, uma forma, uma coloração determinada; mudam-lhes as
propriedades, como um químico muda a dos gases ou de outros corpos
combinando-os segundo certas leis. É a grande oficina ou laboratório da vida
espiritual
E, no item 3, desse
mesmo capítulo, encontraremos:
3. No estado de eterização, o fluido cósmico não é
uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e
mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações
constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são
dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo
invisível.
Dentro da relatividade de tudo, esses fluidos têm para os
Espíritos, que também são fluídicos, uma aparência tão
material, quanto a dos objetos tangíveis para os encarnados e são, para eles, o
que são para nós as substâncias do mundo terrestre. Eles os elaboram e combinam
para produzirem determinados efeitos, como fazem os homens com os seus
materiais, ainda que por processos diferentes.
Os próprios Espíritos
ditos sofredores, até mesmo os criminosos, que se costumam apresentar em bem
dirigidas sessões práticas, narram acontecimentos reais, positivos, que no
Invisível se sucedem, um modo de viver e de agir, no Espaço, muito distanciado
daquele estado vago, indefinível, inexpressivo, que muitos entendem seja o
único verdadeiro, quando a Revelação propala, desde o início, um mundo de vida
intensa, mundo real e de realidades, onde o trabalho se desdobra ao infinito e
as realizações não conhecem ocasos.
Nas entrelinhas de
grandes e conceituadas obras doutrinárias, existem claras alusões a sociedades,
ou “colônias”, organizadas no além-túmulo, onde avultam cidades, casas, palácios,
jardins etc., etc. Na erudita e encantadora obra “Depois da morte”, do eminente
colaborador de Allan Kardec, Léon Denis, o qual, como sabemos, além de
primoroso escritor, foi um grande inspirado pelos Espíritos de escol, no
capítulo XXXV, a exposição dessa tese não somente é fecunda e expressiva, como
também mesclada de grande beleza, como tudo o que passou por aquele cérebro e
aquela pena.
Diz Léon Denis: O Espírito, pelo poder de sua vontade,
opera sobre os fluidos do espaço, os combina, dispondo-os a seu gosto, dá-lhes
as cores e as formas que convêm ao seu fim. É por meio desses fluidos que se
executam obras que desafiam toda comparação e toda análise.
Construções aéreas, de cores brilhantes, de zimbórios
resplendentes: sítios imensos onde se reúnem em conselho os delegados do
Universo; templos de vastas proporções de onde se elevam acordes de uma
harmonia divina; quadros variados, luminosos: reproduções de vidas humanas,
vidas de fé e de sacrifício, apostolados dolorosos, dramas do infinito. Como descrever
magnificências que os próprios Espíritos se declaram impotentes para exprimir
no vocabulário humano?
É nessas moradas fluídicas que se ostentam as pompas das
festas espirituais. Os Espíritos puros, ofuscantes de luz, agrupam-se em
famílias. Seu brilho e as cores variadas de seus invólucros permitem medir a
sua elevação, determinar-lhes os atributos.
Compilado do livro: Devassando o Invisível
Autor: Yvonne A. Pereira