Um acidente com uma lancha, faz uma
professora de 33 anos, passar por uma trágica situação. Teve suas pernas
decepadas. Hoje está treinando para andar com as pernas artificiais. Seis meses
após o acidente, a professora mantém o otimismo. Perguntada sobre a origem
desse ânimo ela confessa não saber que tinha toda essa força.
Atribui a Deus e ao apoio da família e conta
que no início, foi ela quem deu força para o marido e os filhos. Decidira não
viver lamentando o que perdera e sim o que ganhara, ou seja, a “vida”. Estar
viva para ela foi uma vitória, ainda que sem as pernas.
Mas o que esse fato tem a ver com a
resiliência do título? A resiliência é caracterizada por um conjunto
de atitudes adotadas pelo ser humano para resistir aos embates da vida. O
conceito se destaca exatamente pela capacidade do indivíduo dar a volta por
cima das situações de risco e voltar “transformado”, crescendo com a
experiência.
A análise dos comportamentos leva à ideia de
que todo ser humano traz dentro de si essa capacidade inata. Assim, diz-se que
um indivíduo é resiliente quando consegue superar (e não necessariamente
eliminar) as adversidades, encontrando forças para aprender com elas. A forma
como lidamos com os agentes estressores é que determina o grau de resiliência.
Voltando ao comportamento da professora,
percebemos sua atitude resiliente quando demonstra uma força, uma coragem que,
como dissemos, existe latente no ser humano e que emerge diante das situações
difíceis. Ora cria seus próprios fatores de proteção, ora utiliza os externos
(Deus e a família). Destaque-se aqui o elo com a religião para ajudar no
enfrentamento dos conflitos.
Conhecedores de que nosso planeta abriga
seres em diversas escalas de evolução, e que, os mais adiantados servem de
exemplo para nosso próprio crescimento, fica mais fácil entender porque alguns
são mais fortes e descobrem em si mesmos a força para lutar. Jesus já dizia que
só teríamos o fardo que aguentássemos suportar! Por isso, a professora, apesar de
toda luta, serve de exemplo para tantos outros.
Joanna de Ângelis, no livro “O Despertar do
Espírito” (p.173) nos esclarece que “essa força para o crescimento, haure a ele
(o espírito) na realidade de si mesmo, inserido nos painéis profundos da sua
essencialidade”. Vamos ao encontro do conceito do espírito eterno, milenar, que
atravessa as eras em aprendizado contínuo.
A professora revela como encontra forças:
“Como não posso voltar atrás, tenho de dar a volta por cima. Quando vejo que
estou ficando triste, digo a mim mesma: levanta essa cabeça! Esse comportamento
exemplifica como o sofrimento pode ser modificado “mediante a coragem de os
defrontar e trabalhá-los corajosamente com os instrumentos da realidade”.
A teoria da resiliência defende a capacidade
individual do ser humano de aprender a trabalhar comportamentos que reduzam a
ação dos agentes estressores, admitindo que a personalidade pode mudar sua
maneira de ser, se a ela forem dadas as ferramentas adequadas para a construção
do novo indivíduo.
Ao entender que o ser humano pode ser
modificado para melhor, a teoria da resiliência se aproxima do conceito
espírita de evolução espiritual. Diz a professora: “Como é certo que não terei
minhas pernas de volta, não adianta ficar na cama chorando. Tenho de ficar boa
para cuidar da minha família. Tento usar minha energia para mudar o enredo
dessa história”.
Ao se fazer um exame do sofrimento,
observamos que, conforme esclarece o Espiritismo, cada um passa pelas
experiências que necessita para evoluir. E que essas experiências podem ou não
vir carregadas de um sofrimento intenso. Já a forma de lidar com a dor vai
variar de indivíduo para indivíduo.
Joanna de Ângelis complementa dizendo que “a
sensibilidade à dor depende do grau de evolução do ser, do seu nível de
consciência”. Diz ainda, a nobre mentora que “à medida que progride, que sai do
mecanismo dos fenômenos e adquire responsabilidade como decorrência da
conscientização da sua realidade, ele se torna mais perceptivo ao sofrimento,
embora, simultaneamente, mais resistente”.
É a lucidez da consciência que equipa o
indivíduo na superação da amargura, do desespero, da infelicidade, esclarece
Joanna. Segundo a sábia mensageira de Cristo, em virtude da compreensão que o
ser demonstra em torno dos objetivos espirituais de sua existência, fica mais
fácil entender e aceitar o sofrimento e a necessidade de ainda se encontrar nas
faixas mais ásperas do mecanismo evolutivo.
Essa aceitação e superação dos desafios que a
vida terrena nos oferece é que demonstram atitudes resilientes. Mais uma vez a
Psicologia Espírita se aproxima da ciência, no caso, da Psicologia Social,
quando mostra e explica as semelhanças e diferenças do comportamento dos
espíritos encarnados aqui na Terra.
Fonte: Fátima Araújo de Carvalho – RIE
ÂNGELIS, Joanna de. O Despertar do Espírito.
Psicografia: Divaldo Pereira Franco. Salvador: LEAL, 2000 – 2a. ed.