Metaneurologia – 2 parte

Uma visão espiritual do cérebro – 2 parte
Os sonhos - Dr. Nubor Orlando Facure

A neurologia já nos esclareceu os ritmos que transitamos durante o sono e alguns mecanismos químicos ligados a ele. Já foram identificados centros no hipotálamo que estimulam o lobo frontal nos mantendo acordados e núcleos de neurônios situados na ponte que nos induz ao sono.

Sabemos, também, que durante alguns períodos de sono, os olhos se movimentam, revelando que neste instante estamos sonhando. Dormir e sonhar são indispensáveis à nossa própria sobrevivência. Conseguimos ficar mais tempo sem comer do que sem dormir.


O sonhar está intimamente relacionado com a consolidação de memórias. A nossa véspera não será lembrada se não dormirmos e produzirmos sonhos, alguns deles ligados aos últimos momentos da festa que nos animava.

O estudo da mente: Grande parte da atividade cerebral é fácil de ser reconhecida e definida. Por exemplo, reflexos são respostas que o sistema nervoso produz reagindo a estímulos. Comportamentos podem ser reduzidos a um conjunto de atitudes. Emoção é um estado de humor. Quando vamos definir “mente”, não haverá termos competentes nem acordo entre os especialistas.

Classicamente a “mente” é vista como um conjunto de funções complexas que inclui memória, percepção, linguagem, consciência e emoção. De qualquer maneira, a mente é produto de atividade complexa do cérebro. 

O corpo mental: A neurologia entende que para todos os fenômenos psicológicos existe um substrato biológico que se revela na atividade cerebral. Neurônios que se despolarizam, circuitos que se organizam em redes, áreas cerebrais que se especializam em movimentos e sensações e regiões que se agrupam compondo funções mais ou menos complexas, construindo a memória e compondo a linguagem.


“A mente seria resultado imanente dessa atividade complexa do cérebro. Sem o cérebro não existiria a mente”.

Minha proposta sobre o “corpo mental” se baseia em evidências clínicas. Exemplos neurológicos sugerem a existência de um corpo que compõe, constrói e expressa os fenômenos da mente. Com a “meta-neurologia”pretendemos sedimentar a idéia de que podemos investigar e acrescentar, paulatinamente, conhecimento sobre a anatomia e a fisiologia desse “corpo mental”.

A neurologia conseguiu fragmentar diversas funções cerebrais. Sabemos, por exemplo, onde o cérebro decodifica as características físicas de um objeto, mas não sabemos como o cérebro faz a integração dessas informações. Como o cérebro integra nossas memórias para nos fornecer uma identidade única e permanente? O “corpo mental” pode resolver todas essas questões.

A investigação do que ocorre em quadros clínicos como na histeria, no transe sonambúlico, na narcolepsia, no membro fantasma nos permite acreditar na existência de uma fisiologia específica desse “corpo mental”. Assim, podemos considerar que ele não se aprisiona nos limites do nosso corpo físico; não se restringe aos circuitos e vias da anatomia cerebral e circula por ambientes que transcendem a realidade física que conhecemos.   
     
Funções do corpo mental

A visão: O olho humano registra o impulso luminoso que nos permite identificar os objetos à nossa volta. O “corpo mental” vê sem a necessidade de luz. Ele se apodera das propriedades dos objetos. Vamos considerar que estamos diante de uma moeda. Com nossos olhos vamos saber do seu tamanho, cor, forma, talvez a sua procedência e o seu valor. Vamos dizer que se trata de uma moeda do tempo do Império.

Com o “corpo mental”, independente da luminosidade que clareia a moeda, vamos identificar, além das características físicas relatadas, todos os acontecimentos relacionados com esta moeda. O ambiente da sua fabricação e as mãos por onde ela foi negociada inúmeras vezes. O “corpo mental” registra os aspectos físicos e os eventos psicológicos a ela relacionados.

O olho humano não é o instrumento de visão do “corpo mental”. Como o que ele detecta é a vibração dos corpos, os objetos são percebidos em qualquer parte do “corpo mental” como, por exemplo, as pontas dos dedos que tocam este objeto. 

A linguagem falada: A capacidade para falar, ler e escrever estão intimamente inter-relacionadas. Para cada uma destas funções o cérebro usa um conjunto de módulos que se ligam por vias de associação. A criança aprende a falar ouvindo as pessoas à sua volta, aumentando progressivamente o seu vocabulário. Para ler e escrever ela terá que absorver o significado dos símbolos que representam as coisas e as idéias traduzidas em palavras.

Existem quadros clínicos em pacientes neurológicos que ilustram didaticamente o comportamento dessas funções. Temos lesões capazes de produzirem incapacidade para reconhecer as palavras: “agnosia” visual; para escrever, “agrafia”; para ler, “dislexia” e para falar, “afasia”.

No corpo mental essas capacidades estão ligadas à percepção do conteúdo mental das idéias, independente da forma como elas são expressas. Vamos agora considerar que estamos diante de um livro. Precisamos ler todo seu conteúdo para nos inteirarmos do seu conteúdo. Com o “corpo mental” nos apoderamos das idéias expressas no livro, dos eventos com ele relacionados e com seu autor. 

A memória: O indivíduo comum é capaz de memorizar uma seqüência de sete números, retém alguns telefones familiares, sabe endereço de alguns amigos, lembra de seus nomes e é capaz de relatar o que fez nos últimos dias. Quando faz relatos de eventos antigos como festas ou encontros com amigos, os relata de maneira mais ou menos incompleta, ressaltando que alguns desses encontros ficaram mais marcados e são tidos como inesquecíveis.

Cada um desses relatos, quando são confrontados com o testemunho de terceiros, tem sempre o colorido de outras versões mais ou menos enfáticas. Descrever uma festa de formatura tem tantas versões quanto o número de formandos.
A memória de um computador nos permite abrir um texto já escrito e revisá-lo para corrigir ou acrescentar detalhes.

A memória do “corpo mental” nos permite abrir o cenário do ambiente vivido durante os acontecimentos que presenciamos. Ele nos permite reviver o passado como se o trouxéssemos para o presente. Vivenciando um fato por uma segunda vez podemos acrescentar elementos que não nos tínhamos dado conta na primeira ocasião em que ocorreu. Um detetive poderia rever um assalto e dessa vez anotar a placa do carro que vira sair fugindo. 

Os sonhos: O “corpo mental” não é prisioneiro do corpo físico e, durante o sono, ele tem possibilidade de se libertar mais ou menos parcialmente. A emancipação do “corpo mental” facilitada pelo sono põe o “corpo mental” diante de outras realidades que ele apreende conforme seu nível de conhecimento.

Uma pessoa inexperiente colocada diante de um ambiente desconhecido perceberá muito pouco do que está presenciando. Sem experiência ficaremos totalmente perdidos na UTI de um hospital, no meio de uma mata fechada, no comando de um avião ou entre a multidão em um país estranho. E será assim que essas vivências terão de ser relatadas após passarem pelo filtro do cérebro físico.

É esse o conteúdo extraordinário dos sonhos, uma percepção espiritual filtrada pelo cérebro físico. Vez por outra, em situações especiais, conseguiremos registrar uma cópia fiel de acontecimentos que vivenciamos sonhando, fixando-a com completa lucidez.  

A mente: Temos, como hipótese, que a mente é uma entidade que se corporifica numa estrutura organizada que denominamos “corpo mental”. Esse corpo tem existência extracerebral e propriedades que se diferenciam das funções cerebrais conhecidas.

A semiologia neurológica, analisando determinados quadros clínicos, pode revelar funções que confirmam claramente a existência do “corpo mental”. Podemos perceber que a fisiologia do “corpo mental” nos dá informações confiáveis que o situa para além do cérebro físico. Explorando suas memórias podemos reviver claramente o passado.

Confirmamos que sua sensibilidade é afetada pela vibração das substâncias. Sua forma de percepção nos possibilita contato com o conteúdo e significado dos objetos, mais do que com a forma, e a linguagem se processa pela transmissão de idéias.

O corpo mental inaugura um novo paradigma
para a neurociência clínica.