Recordando o Evangelho, bússola mora pela qual devemos sempre nos
mirar, sejamos
nós espíritas ou não, Jesus lançou-nos um desafio fundamental para alcançarmos,
um dia, a tão desejada felicidade plena, muito distante ainda
deste mundo de dores excruciantes e sofrimentos lancinantes no qual
presentemente estagiamos, ou seja: “Sede perfeitos como é perfeito o PAI que
está no céu”. (Mateus 5: 48)
Como é missão do Espiritismo moderno o sublime papel de agente
transformador das consciências humanas rumo a tal desiderato, é imprescindível examinarmos,
portanto, à luz dos seus ensinamentos como tem sido o teor dos nossos
pensamentos, objetivo deste ensaio.
Posto isso, cumpre inicialmente destacar que o pensamento é algo tão
vital que o Espírito Joanna de Ângelis esclarece, na obra “Atitudes renovadas”,
que “a
força dinâmica geradora e mantenedora do universo é o Divino Pensamento”.
Consequentemente, podemos inferir que Deus opera maravilhas através
do seu pensamento criador. Na verdade, basta prestarmos atenção e encontraremos
os seu sinais em toda a parte. O Espírito Emmanuel, por sua vez, ressalta o nosso
desconhecimento acerca da “ideoplasticidade do pensamento”.
Como filhos do Pai Celestial também somos dotados do atributo de
pensar. Mais ainda, podemos exercer essa prerrogativa com total liberdade. Aliás, se
há algo impraticável de cercear é a nossa condição de pensar. Com efeito, a nossa
mente pode nos levar aonde desejarmos, mesmo que o nosso corpo esteja manietado
ou completamente inutilizado.
Na verdade, estamos sempre pensando. De fato, alguns estudos
sugerem que o indivíduo normal elabora cerca de 95 mil pensamentos por dia. No entanto, como
observa a referida benfeitora: “Lamentavelmente, a grande maioria é constituída
de
ressentimentos, interesses vis, paixões negativas, anseios libertinos,
repetitivos, vulgares, quando não são elaborados em formas inexpressivas”.
De fato, é duro ter que admitir que nem sempre acalentamos
pensamentos saudáveis, para dizer o mínimo. Explorando outros ângulos do assunto,
pondera Emmanuel na obra “Pão Nosso” que:
“Para um esquimó, o céu é um continente de gelo, sustentado a
focas. Para o selvagem da floresta, não há outro paraíso, além da caça
abundante. Para o homem de religião sectária, a gloria de além-túmulo pertence
exclusivamente a ele e aos que lhe afeiçoam. Para o sábio, este mundo e os círculos
celestiais que os rodeiam são pequeninos departamentos do Universo.”
Desse modo, como conjectura Joanna de Ângelis, “cada qual vive no mundo
edificado pelo seu pensamento”. Por isso, concita-nos Emmanuel a observarmos as nossas
experiências diárias, dado que os eventos externos repercutirão, de algum modo,
no nosso interior, consoante o material de reflexão que acolhemos em nossa
consciência.
Em outras palavras, acolhemos em nossa consciência (campo
mental) aquilo que nos atrai. Os pensamentos que abrigamos revelam a nossa essência e, por extensão,
nosso grau evolutivo. Ousamos afirmar que os pensamentos são o alimento da alma. Com
base nessa metáfora, portanto, com que tipo de alimento (pensamentos) nutrimos
a nossa alma?
Nesse sentido, Emmanuel nos adverte na referida obra que respiramos em
instância superior ou inferior, conforme situarmos a nossa mente. Por conseguinte,
teremos por companhia os gênios que invocarmos. Além disso, se optarmos pelo
repouso certamente o encontraremos em todas as suas nuances.
Mas, em contrapartida, se nos decidirmos pelo trabalho e esforço
próprio também encontraremos variadas formas de “servir”. Joanna de Ângelis é,
a seu turno, absolutamente enfática ao declarar que “aquele que não tem
bons, possui maus pensamentos, não havendo, nessa área, um tipo de neutralidade
em que a mente nada elege”.
Portanto, qual é a polaridade das nossas elaborações mentais? Consideremos,
com base em Joanna de Ângelis, que cada pensamento gera uma emoção
correspondente que conduz, por sua vez, a determinada somatização. Desse modo, depende
exclusivamente de nós liberarmos mais serotonina do que cortisol em nosso
organismo. Por
isso, “Pensamento e saúde são, portanto, termos da mesma equação da vida”.
Obviamente, é preciso controlar os pensamentos já que eles são os mecanismos
indutores das emoções. Aliás, muitos transtornos psicológicos procedem dos costumes
mentais inferiores que levam a fugas emocionais, ao vazio existencial, a
distúrbios complexos e de difícil liberação.
Em situações como a descrita, cabe inicialmente aceitarmos o diagnóstico
de que precisamos de ajuda. Em segundo lugar, desejarmos a cura como um
objetivo a ser alcançado e nos automotivarmos para a sua realização. Por fim, devemos
passar a adotar atitudes mentais positivas.
Neste sentido, a cientista Barbara Fredrick-son, na sua obra
Positivity, na qual apresenta os resultados e insights de suas longas investigações
sobre as emoções humanas, propõe que: “Positividade não apenas muda os conteúdos
da nossa mente, trocando maus pensamentos pelos bons, ela também muda o escopo
ou limites da nossa mente. Ela amplia a faixa de possibilidades que você vê”.
Ademais, para ela, positividade tem a condição de revitalizar a
nossa visão da vida, energia mental, relacionamentos e potencial. Analogamente,
Joanna de Ângelis acrescenta que “toda obra tem início no pensamento, que se
responsabiliza pela ideação a ser transformada em realidade”. Assim sendo, os nossos
pensamentos devem, idealmente, ser voltados às elaborações morais. Afinal, como
sabiamente indagava Jesus: “Por que pensais o mal em vossos corações?” (Mateus,
9:4)
A nobre orientadora espiritual nos aconselha a evitarmos “as
fixações mentais infelizes”, pois elas nos acompanharão além-túmulo gerando-nos
males desnecessários. Como lá chegaremos com as ideias e valores que cultivamos ao longo
da nossa vida na matéria, é melhor, portanto, trabalharmos por aprender “(...) a cultivar os
pensamentos edificantes, aqueles que alimentam a casa mental e se transformam
em benções insuperáveis”. Basicamente, somos reflexos dos nossos pensamentos.
Segundo Joanna de Ângelis, os pensamentos podem se configurar em “benfeitores
frequentes” ou em “algozes constantes”, conforme a ideação que neles
imprimimos.
Por isso, estaremos sempre circundados por entidades físicas ou desencarnadas
cujas emissões
mentais encontrem afinidade com as nossas. Assim sendo, o detento que tenta aplicar um
golpe numa vítima inocente por telefone celular, ou o cientista compenetrado
nas suas experiências laboratoriais buscando a cura para determinada doença estão ambos sendo
insuflados por entidades situadas no mesmo diapasão moral deles.
Por outro lado, esclarece a benfeitora que longos processos
obsessivos têm, via de regra, ligação com desregramentos da mente que ensejaram
atos infelizes em outras vidas. Como tendem a ser preservados na tela mental do autor,
acabam facilitando “a vinculação entre a vítima anterior e o seu algoz
atual...”.
Em decorrência, torna-se imprescindível a “mudança de conduta mental”
por parte da vítima para que o concorrente “justiceiro” se convença do erro no
qual incorre. Similarmente, é consensual que “as reflexões doentias, os pensamentos
negativos proporcionam a depressão, abrindo campo para tormentos inevitáveis”. Pessoas portadoras de
tais males devem se empenhar em mudar o teor dos seus pensamentos,
subtraindo-os de coisas ou assuntos rasteiros e fúteis.
De modo geral, todos nós podemos, e devemos, mudar os nossos “hábitos
de pensar”. Por meio do cultivo de ideias superiores, extraídas de leituras
enriquecedoras ao espírito, de conversas que agreguem valor ao nosso Eu e de
relacionamentos positivos estaremos construindo sólidas pontes em direção ao mais alto.
Posto isso, vale recapitular as observações de Emmanuel, na obra Fonte Viva, a
saber:
“Pensamento é fermentação espiritual. Em primeiro lugar estabelece
atitudes, em segundo gera hábitos e, depois, governa expressões e palavras, através das quais a
individualidade influencia na vida e no mundo. Regenerado, pois, o pensamento
de um homem, o caminho que o conduz ao Senhor se revele reto e limpo”.
Joanna de Ângelis observa, por sua vez, que ao nos esforçarmos “por substituir os
hábitos mórbidos por outros de natureza equilibrada”, passamos a galgar
patamares superiores “de aspirações e de sentimentos que tipificam as esferas
do bem da luz”. É claro que tal esforço nem sempre alcança um progresso
exatamente linear, podendo haver quedas e tropeços ao longo do caminho
redentor.
No entanto, as recomendações da benfeitora são para jamais
deixarmos de proceder às alterações necessárias ao nosso modo de pensar. Ao perseverarmos
nessa busca fatalmente acabaremos criando “nossos hábitos”. E quando os
incorporarmos em nosso ser, haveremos de estar envolvidos em clima permanente
de paz interior.
A benfeitora argumenta que “traições, guerras, crimes de todo porte,
assim como fidelidade, paz e trabalhos do bem se originam no pensamento que os
fomenta”.
Analogamente, o Espírito José Antônio (na obra o Quarto Crescente) assevera que
a “a fertilidade da imaginação humana é uma benção ou uma maldição, tudo depende
de como ela é usada. Pode produzir maravilhas a serviços da inteligência equilibrada,
mas pode, também, produzir da loucura às mais sórdidas intrigas”.
De fato, temos visto presentemente imagens fantásticas do espaço
sideral, graças ao trabalho de cientistas brilhantes a serviços do bem e do
esclarecimento da humanidade. Em contrapartida, somos igualmente informados de
que uma das maiores tragédias ambientais de que se tem notícia, envolvendo a
plataforma de extração de petróleo chamada Deepwater Horizon da empresa inglesa
BP, no Golfo do México, que culminou com o vazamento de 552 milhões de litros do
valiosos óleo no mar, poderia ter sido evitada.
Aparentemente, bastaria apenas que a citada companhia tivesse investido
modestos, considerando as cifras aplicadas neste tipo de negócio, US$ 500 mil num
dispositivo de segurança denominado “gatilho acústico”. Como desprezou tal
procedimento básico de segurança por “economia”, o prejuízo financeiro deverá
atingir aproximadamente US$ 37 bilhões.
De qualquer maneira, atrás destes eventos, sejam eles positivos ou
negativos, existem homens e mulheres exercendo plenamente as suas capacidades
de pensar e de decidir. Em função da semelhança das ideias, com eles (as) “cooperam”
ativamente, como já frisamos, parceiros do além-túmulo, assim como companheiros
encarnados para a execução de obras benéficas ou terríveis torpezas. Com razão, Joanna de
Ângelis acrescenta que vivendo nesta ou naquela psicosfera, seremos felizes ou
não consoante a forma como utilizarmos o nosso livre-arbítrio.
Para a benfeitora, quando aprendemos a utilizar a força do pensamento com sabedoria
e equilíbrio, transformá-la-emos em “uma alavanca tão poderosa que será fácil
mover o mundo”. Altamente didático e, ao mesmo tempo, nos preparando para o porvir,
esclarece Emmanuel como se dá o fenômeno d ideoplastia. Ou seja:
“Conhecendo o plenitude de suas faculdades, após haver triunfado em
muitas experiências que lhes asseguram elevada posição espiritual, senhores de
portentosos dons psíquicos, conquistados com a fé e com a virtude
incorruptíveis, os Espíritos superiores possuem uma vontade potente e criadora
de todas as formas de beleza.
Às vezes, apresentam-se ao vidente grandiosas cenas da história do
planeta, multidões luminosas, legiões de almas, quadros esses que, na maioria das
vezes, constituem os pensamentos materializados das mentes envolvidas que os
arquitetam,
e que atuam sobre os centros visuais dos sensitivos, objetivando o progresso
moral.”
Sendo o pensamento, portanto, o material com o qual nutrimos o nosso
espírito, é vital torná-lo impregnado de teores positivos, estribado em sólidas
bases morais e voltados ao bem. Quanto mais assim procedermos, mais voltados à perfeição
estaremos.
Texto de Anselmo Ferreira Vasconcelos
Publicado na revista Presença Espírita