Em nome do Grande Espírito do Universo, queremos hoje
assegurar a amizade, a benevolência e a generosidade de todos os caboclos com
os homens da Terra. Embora saibamos que o homem no mundo dificilmente imagina o que
nos inspira a amizade, estaremos a seu lado no despertamento da consciência
espiritual. Se algum dia as armas dos homens tiraram nossa terra e nos tiraram
nossa gente, temos a compreensão de que foi uma transição necessária para
estabelecer uma nova etapa na vida dos povos do mundo. Nossa palavra e nossa
dedicação são como as estrelas; não empalidecem nunca.
Aqui na Aruanda, na terra dos caboclos e de todas as gentes,
sabemos a grandeza e o valor dos nossos céus, do ar que respiramos e do calor
que aquece nossas almas. Aqui sabemos que não somos donos da pureza do ar ou do
brilho da água. Somos apenas espíritos que os preservam, e que um dia utilizamos tais
recursos em favor de nosso povo. Toda a Terra e seus habitantes são e serão sempre sagrados para
nossa gente, do mesmo modo como a Aruanda representa para nós o céu onde os
guerreiros se reúnem em nome do sagrado, em nome da vida e do Grande Espírito.
Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina
nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados em nossa Aruanda , tanto
quanto na terra que amamos, segundo as sagradas tradições e crenças dos nossos
ancestrais.
Sabemos que o homem no mundo não compreende nosso modo de trabalhar
em seu favor; os religiosos muitas vezes nos rejeitam pois desconhecem o valor
de nosso conhecimento ou não acreditam que possamos ter sabedoria. Mas não importa! Eles,
nossos irmãos brancos e de muitas raças, ainda ignoram que um torrão de terra é
igual ao outro. Que somos todos iguais perante o Espírito do Universo.
A terra é nossa irmã, é nossa amiga e, depois de cultivá-la com
sabedoria, o homem branco a deixará renovada para sua descendência, e virá ele
também algum dia para a Aruanda, onde verá o fruto de seus dias e o valor da
natureza à sua volta. É preciso preparar os homens para a plantação da sabedoria, numa
Terra que será a herança para seus filhos, e o respeito a ela reverterá em seu próprio benefício.
A lembrança dos antepassados e a ciência dos espíritos garantirá
aos nossos irmãos na Terra o direito de viverem num mundo renovado, quando então,
talvez, possamos retornar em novos corpos, um dia, para ajudar nossos irmãos a semearem
um novo tempo, uma nova humanidade.
As cidades dos homens, cheias de vida e de conhecimento, precisam
de nós, a
fim de lhes garantirmos uma vida de paz, não a paz enganadora do silêncio, mas
a paz que será construída com muito trabalho, suor e nossa contribuição. Não se pode encontrar
paz sem a tomada de consciência da vida espiritual, sem saber que somos todos
espíritos, filhos do Grande Espírito, e assim respeitar nossa divina herança.
Aqui na Aruanda é o lugar onde atualmente podemos ouvir o
desabrochar da folhagem na primavera, o zunir das asas dos insetos ou o barulho
da revoada dos pássaros é onde podemos conviver de maneira pacificada com o
lobo, o leopardo e a serpente. E aqui é o lugar a partir do qual inspiramos o ser
humano para que possa aguçar seus ouvidos e voltar a ouvir a voz do Grande Espírito
dentro de si mesmo; quem sabe reaprender a ouvir a voz dos rouxinóis e da cotovia?
Sei que nossos espíritos preferem ouvir o suave sussurro do vento
sobre as águas e sentir o cheiro da brisa, purificada pela chuva ao meio-dia,
com o aroma do pinho, da alfazema ou do limão. Mas voltaremos à Terra para
levar essas aragens benfazejas aos sentidos de nossos irmãos brancos. É nossa tarefa
protegê-los de seus inimigos íntimos ou espirituais. Quem sabe auxiliemos os
homens no mundo a voltar seus sentidos para as paisagens internas, até que um
dia possam vir para a Aruanda, ou para outras terras no espaço, reaprendendo a viver como
filhos do Grande Pai.
Sabemos que o homem, nosso irmão, carece de valores que somente
daqui, da Aruanda, podemos lhe inspirar. Assim como o ar é precioso para o
homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar (os animais, as
árvores e as flores) os homens nossos irmãos também são preciosos para nossos espíritos
e os abraçaremos como irmãos quando aportarem em Aruanda, depois de atravessarem
o grande rio da vida.
Somos considerados por muitos como selvagens, que não compreendem
como as descobertas e invenções do novo mundo dos brancos possam ser mais
valiosas que a natureza, da qual nós, peles-vermelhas, usufruímos um dia na
medida certa, o suficiente para sustentar nossa própria existência.
Que é o homem sem nossa ajuda? Poderá sobreviver a si mesmo? Aos
seus inimigos íntimos e espirituais? O homem precisa de nós, os caboclos, os índios,
os considerados selvagens e de todos os que habitam a Aruanda, de todas as gentes e
todos os povos, para que não morra de solidão espiritual.
Não podemos permitir que o que aconteceu e acontece com os animais
na Terra aconteça também com os homens, seus filhos e seus espíritos. De alguma maneira,
temos de ajudar nossos irmãos a sobreviver, sem afetar a vida em torno de si. Sobreviver com o máximo
de qualidade que lhe for possível.
Para isso, nossas falanges de espíritos da natureza precisam limpar o
ambiente psíquico da morada humana, senão dentro em breve será difícil para o
homem branco respirar no próprio mundo onde vive. Lembremos, meus irmãos índios,
peles-vermelhas, puris, caboclos de todas as nações indígenas, que tudo quanto
fere a Terra, fere também os filhos da Terra, os próprios homens, nossos irmãos.
Se vossos filhos viram um dia os próprios pais humilhados na
derrota, ante a exterminação de nossa raça, é hora de nossos guerreiros, que
sucumbiram sob o peso da vergonha ao florescer a civilização dos brancos, recuperarem sua glória,
ajudando o mesmo homem a manter viva a chama da fé no Grande Espírito e manter
a Terra em paz.
Um dia retornaremos ao mundo em novas roupagens e precisamos
auxiliar agora, a fim de encontrarmos um mundo pelo menos um pouco melhor do que
aquele que deixamos. De uma coisa sabemos com absoluta certeza, caboclos: o homem branco
vem do mesmo Grande Espírito que nós todos viemos, e um dia, com
certeza, ele irá descobrir que nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que
pode ser dono Dele da mesma maneira como desejou possuir a própria terra e outros
seus irmãos.
Então, avante, guerreiros de Aruanda! Vamos em direção à morada dos
homens, vamos
com nossos arcos e flechas, nosso grito de guerra, limpando o caminho
espiritual de todos os povos, de todas as gentes e ajudando nossa raça, a raça
humana, a
melhorar-se, a sobreviver e viver com harmonia, mesmo ante a realidade invisível
que muitos ainda desconhecem.
Compilado por Harmonia Espiritual do
livro
Cidade dos Espíritos, Ângelo Inácio (espírito)
e pelo médium Robson Pinheiro.