Segundo a definição do Assistente Áulus, a palavra
“psicometria” designa a faculdade que têm
algumas pessoas de lerem “impressões e recordações ao contato de objetos comuns”. Psicometria é, também, faculdade
mediúnica. Faculdade pela qual o sensitivo, tocando em determinados objetos, entra em relação com pessoas e fatos
aos mesmos ligados. Essa percepção se
verifica em vista de tais objetos se acharem impregnados da influência pessoal
do seu possuidor.
Toda pessoa, ao penetrar num
recinto, deixa aí um pouco de
si mesma, da sua personalidade, dos seus sentimentos, das suas virtudes, dos
seus defeitos. A psicometria não é, entretanto, faculdade comum em nossos
círculos de atividade, uma vez que só a possuem pessoas dotadas de “aguçada sensibilidade psíquica”. E a
nossa atual condição espiritual, ainda deficitária, não permite esses
admiráveis recursos perceptivos.
Quando tocamos num objeto, imantamo-lo com o fluido que nos
é peculiar. E se, além do simples toque ou uso, convertermos inadvertidamente esse
objeto, seja um livro, uma
caneta, uma joia ou, em ponto maior, uma casa ou um automóvel em motivo de
obsessiva adoração, ampliando, excessivamente, as noções de posse ou propriedade, o
volume de energias fluídicas que sobre o mesmo projetamos é de tal maneira acentuado que a
nossa própria mente ali ficará impressa. Em qualquer tempo e lugar, a
nossa vida, com méritos e deméritos, desfilará em todas as suas minúcias ante o
“radar” do psicômetra.
Há um belo estudo de Ernesto
Bozzano intitulado “Enigmas da Psicometria”, através de cuja leitura nos
defrontamos com impressionantes narrativas, algumas delas abrangendo fases
remotas da organização planetária terrestre. O processo pelo qual é possível, ao psicômetra, entrar em
relação com os fatos remotos ou próximos, pode ser explicado de duas maneiras
principais, a saber: A parte dos fatos e impressões é retirada da própria aura do
objeto; e outra parte é recolhida da subconsciência do seu possuidor mediante
relação telepática que o objeto psicometrado estabelece com o médium.
Não tem importância que o possuidor esteja encarnado ou
desencarnado. O psicômetra recolherá do seu subconsciente, esteja ele onde
estiver, as impressões e
sentimentos com que gravou, no objeto, a própria vida. Bozzano
demonstra que não são, apenas, as pessoas os únicos seres psicometráveis. Além
do elemento humano, temos: Os animais, Os vegetais, Objetos inanimados, metais,
etc.
O filósofo italiano menciona,
na obra citada, extraordinários fenômenos de psicometria por meio do contato
com a pena de um pombo, o galho de uma árvore, um pedaço de carvão ou de barro.
Poder-se-á indagar: E se o objeto psicometrado teve, no curso dos anos,
diversos possuidores? Com a vida de qual deles o médium entrará em relação? Explica
Bozzano, com irresistível lógica, que o médium entrará em relação com os fatos ligados àquele
(possuidor) cujo fluido se evidenciar mais ativo em relação com o sensitivo. A
esse aspecto do fenômeno psicométrico, Bozzano denominou de “afinidade eletiva”.
Pela psicometria o médium revela o passado, conhece o
presente, desvenda o futuro. No tocante à relação com o passado e o
presente, qualquer explicação é desnecessária, uma vez que a alínea (“a”) nos
dá satisfatória resposta: o objeto, móvel ou imóvel, impregnado da influência
pessoal do seu dono, conserva-a durante longo tempo e possibilita o
recolhimento das impressões.
E quanto ao futuro? Devemos
esperar essa pergunta. Aos que a formularem, recomendamos a leitura da alínea
(“b”). Outra parte é
recolhida da subconsciência do seu possuidor, mediante a relação telepática que
o objeto psicometrado estabelece com o médium. Essa resposta pede,
todavia, um complemento explicativo.
Ei-lo: Toda criatura humana
tem o seu Carma, palavra com que designamos a “lei de Causa e Efeito”, em face do qual, ao
reingressarmos “nas correntes da vida física”, para novas experiências,
trazemos impresso no perispírito (“molde do corpo somático”) um
quadro de inelutáveis provações. A nossa mente espiritual conhece tais
provações e permite que o psicômetra estabeleça relação com essas vicissitudes,
prevê-las, anunciá-las e, inclusive, fixar a época em que se verificarão.
Como vemos, não há nisso
nenhum mistério. É como se o sensitivo
lesse, na mente do possuidor do objeto, o que lá já está escrito com vistas ao
futuro. Tudo muito simples, claro e lógico. Nenhum atentado ao
bom-senso. Apesar de os diversos temas mediúnicos nos terem levado, algumas
vezes, a certas explicações de natureza por assim dizer “técnica”, elucidativas
do mecanismo dos fenômenos, não é este, todavia, o objeto fundamental do livro
que procuramos escrever, mais com o coração do que com o cérebro.
Desejamos dar aos assuntos
mediúnicos feição e finalidade evangélicas. A nossa intenção é de que este trabalho chegue aos núcleos
assistenciais do Espiritismo Cristão por mensagem de cooperação fraterna, de
bom ânimo para os desiludidos, de esperança para os que sofrem, de reabilitação
para os que rangem os dentes “nas trevas exteriores”. Assim sendo, compete-nos
extrair, das considerações expedidas em torno de tão belo quão admirável tema “Psicometria”,
conclusões de ordem
moral que fortaleçam o nosso coração para as decisivas e sublimes realizações
na direção do Mais Alto.
O conhecimento da psicometria
faz-nos pensar, nos seguintes imperativos: Não nos apegarmos, em demasia, aos bens materiais; Combatermos
o egoísmo que assinala a nossa vida, com a consequente diminuição
das exigências impostas a familiares, amigos e conhecidos. Em capítulo
precedente tivemos ensejo de relacionar o fato daquela senhora que,
desencarnada havia muito, “não tinha força” para afastar-se do próprio
domicílio, ao qual se sentia presa pelas recordações dos familiares e dos
objetos caseiros.
Em “Nos Domínios da
Mediunidade”, no estudo da psicometria, temos o episódio de uma jovem que, há cerca de 300 anos,
acompanha um espelho a ela ofertado por um rapaz em 1700. Vamos
trazer para as nossas páginas parte do relato de André Luiz, a fim de
colocarmos o leitor em relação com a ocorrência.
A narrativa é de André Luiz,
quando em visita a um museu. “Avançamos mais além. Ao lado de extensa galeria,
dois cavalheiros e três damas admiravam singular espelho, junto do qual se mantinha uma jovem
desencarnada com expressão de grande tristeza. Uma das senhoras teve
palavras elogiosas para a beleza da moldura, e a moça, na feição de sentinela
irritada, aproximou-se tateando-lhe os ombros”. Acrescenta André Luiz que, à
medida que os visitantes encarnados se retiravam para outra dependência do
museu, a moça, que não
percebia a presença dos três desencarnados, mostrou-se contente com a solidão e
passou a contemplar o espelho, sob estranha fascinação.
Com a mente cristalizada
naquele objeto, nele polarizou todos os seus sonhos de moça, esperando,
tristemente, que da França regressasse o jovem que se foi. Gravou no espelho a própria vida. E
enquanto pensar no espelho, como síntese de suas esperanças, junto a ele
permanecerá. Exemplo típico de fixação mental. Relativamente a pessoas, o
fenômeno é o mesmo.
Apegando-nos, egoística e
desvairadamente, aos que nos são caros
ao coração, corremos o risco de a eles nos imantarmos e sobre eles exercermos
cruel escravização, consoante vimos no capitulo “Estranha obsessão”. Enquanto os
nossos sentimentos afetivos não assinalarem o altruísmo, a elevação, a pureza e o espírito de renúncia
peculiares ao discípulo sincero do Evangelho, o nosso caminho será
pontilhado das mais desagradáveis surpresas, estejamos na libré da carne ou no
Mundo dos Espíritos.
Amar sem ideia de recompensa;
ajudar sem esperar retribuição; pensar nos próprios deveres com esquecimento de
pretensos direitos; servir e passar “eis o elevado programa” que, realizado na medida das
possibilidades de cada um, constituirá penhor de alegria e paz,
felicidade e progresso, neste e no plano espiritual.
Reconhecendo, com toda a
sinceridade, a nossa incapacidade de, por agora, executar tal programa, forte
demais para a nossa fraqueza, podemos, contudo, esforçar-nos no sentido do gradativo afeiçoamento a ele,
considerando a oportuna advertência de Emmanuel: “Se o clarim cristão
já te alcançou os ouvidos, aceita-lhe as claridades sem vacilar”. Ainda
Emmanuel recorda que as afeições familiares, os laços consanguíneos e as
simpatias naturais podem ser
manifestações muito santas da alma, quando a criatura se eleva no altar do
sentimento superior; contudo, é razoável que o Espírito não venha a cair sob o peso
das inclinações próprias.
O equilíbrio é a posição
ideal. A fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as
almas. Colocando Jesus Cristo
no vértice das nossas aspirações, aprenderemos, com o Bem-aventurado Aflito da
Crucificação, a amar sem exigências, a servir com alegria, a conservar a
liberdade da nossa mente e a paz do nosso coração.
Aceitando-o, efetivamente,
como Sol Espiritual que aquece, com o seu Amor, desde o Princípio, a Terra
inteira, a ninguém escravizaremos. E a única escravização a que nos
submeteremos será à do dever bem cumprido!
Compilado por Harmonia Espiritual
Estudando a Mediunidade – Martins Peralva