A Comunidade da perversão moral

Compilado do livro Sexo e destino
Manoel P. de Miranda (espírito) e Divaldo P. Franco

Embora não pudéssemos ver Mauro e o seu adversário que seguiam para ignota região, o irmão Anacleto conduziu-nos com segurança para o perímetro fora da cidade, em vasta área pantanosa e sombria, que certamente conhecia, e de onde recendiam odores pútridos e uma gritaria infrene enchia a noite com blasfêmias, expressões chulas e sórdidas, gargalhadas estentóricas, movimentação agitada, etc.


O cuidadoso Guia advertiu-nos que nós estávamos adentrando em uma Comunidade totalmente dedicada à perversão sexual, dirigida por implacáveis sicários da Humanidade, que ali reuniam o deboche à degradação, o cinismo à rudeza do trato, onde encontravam inspiração muitos indivíduos reencarnados e dali procedentes na área da mórbida comunicação social, da literatura doentia e da arte escabrosa para os seus espetáculos de hediondez e de degeneração moral.


Reduto imenso, criado pelas emanações morbíficas das próprias criaturas da Terra, que para lá seguiam por imantação magnética opcional, quando parcialmente desprendidas pelo sono físico, constituía um sorvedouro de paixões primárias que, no passado, destruíram culturas e civilizações, qual está acontecendo no presente com grande parte da nossa sociedade.


Quando irrompem o deboche e a insensatez, o desvario do sexo e dos compromissos morais nos grupamentos sociais, a ética, a cultura e a civilização tombam no desalinho, avançando para o descalabro e a servidão. Tem sido assim através dos tempos e, por enquanto, ainda parece que se demorará por algum tempo, até quando o ser humano se resolva por absorver os compromissos elevados e os deveres dignificadores da Vida na pauta das suas existências.

A consciência de si mesmo, a responsabilidade perante o seu próximo e a mãe Natureza, nunca devem sair da linha da conduta humana, pois que nisso residem as aspirações máximas do Espírito para a conquista da beleza e da plenitude. Torna-se me muito difícil descrever o local e o ambiente de festiva degradação com as suas personagens, participantes que, exaltados, formavam a grande massa deambulante e movimentada em todos os lados.

A tonalidade avermelhada da iluminação, que fazia recordar os archotes fumegantes do passado, colocados em furnas sombrias para as clarear, produzia um aspecto terrificante no ambiente que esfervilhava de Espíritos de ambos os lados da vida em infrene orgia de alucinados. Podia-se perceber que Espíritos vitimados por graves alterações e mutilações no perispírito misturavam-se à malta desenfreada na exaltação do sexo e das suas mais sórdidas expressões.

Figuras estranhas, com aspecto semelhante aos antigos seres mitológicos do panteão greco-romano, confundiam-se com muitos outros indivíduos extravagantes em complexas simbioses de vampirismo, carregando-se uns aos outros, acompanhando freneticamente um desfile de carros alegóricos, que faziam recordar os carnavais da Terra, porém apresentando formatos de órgãos sexuais disformes e chocantes, exibindo cenas de terrível horror, espetáculos de grosseira, manifestação da libido, nos quais se mesclavam apresentações de conúbios sexuais entre animais e seres humanos deformados sob o aplauso descontrolado da massa desnorteada.

Decorando os peculiares veículos, homens e Mulheres se apresentavam com aspecto de cortesãos que ficaram célebres pela baixeza de caráter, exibindo-se de maneira servil e provocando galhofas de uns e desejos de outros em uma terrível mescla de animalidade soez. Aquele circo de hediondez apresentava em cada momento novos e agressivos quadros, enquanto se exibiam sessões de sexo grupal ao som de música estridente e desconcertante, que mais açulava os apetites insaciáveis dos comensais da loucura.

O antro asqueroso dava-me a idéia de ser o mundo inspirador de alguns espetáculos da Terra, que ainda não atingiram aquele nível de vileza, mas que dele se vêm aproximando, especialmente durante a apresentação de alguns dos turbulentos e torpes desfiles de Carnaval. Sim, era naquela Região que se inspiravam muitos multiplicadores de opinião, que ainda insistem na liberação total dos costumes vis, como se já não bastassem o sexo explícito e vulgar, a violência absurda, a agressividade sem limites, a luxúria desmedida, o cinismo odiento, o furto desbragado, o desrespeito a tudo quanto constitui a dignidade humana, descendo a níveis já insuportáveis.

De quando em quando, aparentando a postura de guardadores da Comunidade horripilante, verdadeiros espectros humanos semi-hebetados, conduzindo mastins de grande porte, vigiavam a população, contra a qual atiçavam os ferozes animais. Telepaticamente o nobre Mentor advertiu-nos para que mantivéssemos cuidados especiais com o pensamento elevado ao Supremo Amor, sem crítica ou observações descaridosas em relação ao que víamos, a fim de não sermos surpreendidos por esses vigias terrificantes.

Num dos quadros dantescos, pudemos defrontar diversos Espíritos reencarnados, que seguiam jugulados aos seus algozes, presos a coleiras como se fossem felinos esfaimados, babando ante o espetáculo que lhes aguçava os instintos grosseiros. Entre outros, encontrava-se Mauro com o seu sicário, que dele escarnecia e o amedrontava, enquanto, debatendo-se, para liberar-se da retenção e atirar-se no vulcão de asquerosa sensualidade, urrava em deplorável aspecto.

Observamos que crianças despidas em atitudes obscenas decoravam o carro exótico, gritando e movimentando-se sensualmente, inspirando mais compaixão do que outro qualquer sentimento. Acurando, porém, a visão, surpreendemo-nos, ao constatar que se tratava de anões cínicos, apresentando-se como criaturas infantis, assim despertando os viciados em pedofilia a terem mais acicatados os seus impulsos grosseiros.

A bacante, com as suas aberrações, alongou-se, na sucessão das horas, até quando os primeiros raios do amanhecer penetraram a névoa densa, fazendo diminuir o desfile horrendo e a movimentação foi desaparecendo até ficar o ambiente, com a sua pesada psicosfera pestífera, quase vazio, exceção feita aos vigilantes e seus animais em contínua atividade. A esdrúxula sociedade ali residente seguiu no rumo das suas furnas e mansardas, a fim de continuar na exorbitância dos sentidos torpes, terminado o desfile que se repetia todas as noites.

O irmão Anacleto convidou-nos mentalmente a segui-lo, afastando-nos tão discretamente quanto nos adentráramos no dédalo infernal, aturdidos e algo asfixiados, até nos acercarmos de formosa praia que se dourava à luz solar e recebia os primeiros raios do Astro-rei como bênção de luz após a noite ensombrada no reduto em que estivéramos. O odor do haloplancto que vinha do mar renovava-nos, tanto quanto o prana da Natureza em bênçãos de vitalização restaurava-nos as forças momentaneamente alquebradas pelos fluidos morbosos da Comunidade de perversão.

Sem que enunciássemos alguma interrogação, embora o grande número delas que bailavam na mente, o Mentor gentil, utilizando-se da beleza natural do dia em começo, elucidou-nos: “O recinto infeliz onde estivemos é mantido e dirigido por alguns verdugos da Humanidade, que se nutrem dos pensamentos perversos e lúbricos dos seres humanos, que sustentam, dessa forma, a estranha coletividade que ali se homizia e que, longe de qualquer ambição idealista ou espiritualizante, reencarna-se no mundo físico trazendo as imagens das experiências vivenciadas, procurando materializá-las posteriormente entre as demais criaturas”.

"Muitos desses Espíritos, ora no corpo físico, são encontrados no mundo físico realizando espetáculos chocantes, vivendo em verdadeiras tribos de promiscuidade primitiva, vestindo-se e assumindo posturas caricatas e ridículas, de que se não conseguem libertar facilmente. Tornam-se, assim, representantes do curioso país espiritual de onde procedem e, telementalizados pelos que lá ficaram, fazem-se verdadeiros propagandistas da orgia despudorada, tentando arrebanhar mais vítimas para a bacanal da extravagância."

Após uma breve reflexão, deu prosseguimento: “Não são poucos os indivíduos que sentem a atração para o mal, para o vício, para as tendências ancestrais e permanecem receosos, vivendo o claro-escuro da decisão a tomar. Subitamente, porém, enveredam pelos escusos caminhos da morbidez e do escândalo, assumindo comportamentos que envilecem em atitude de desrespeito aos valores morais e sociais vigentes, logo transformando-se em líderes e modelos singulares”.

"Invariavelmente são arrebanhados por esses representantes perversos que lhes influenciam a conduta, demonstrando-lhes a necessidade de serem assumidos exteriormente os conflitos e torpezas interiores, a fim de experienciarem a liberdade e o direito de viver conforme lhes apraz. Demonstram uma alegria que estão longe de possuir, um cinismo que, em verdade, é a máscara que esconde as aflições quase insuportáveis que os transtornam, porém, insensatamente, vinculando-se a esses campeões do desequilíbrio, tombam-lhes nas redes bem urdidas do prazer, não conseguindo desvincular-se deles com facilidade. Somente através das dores excruciantes, das enfermidades dilaceradoras, das angústias morais que os assaltam é que, encontrando orientação e compaixão, liberam-se das amarras fortes do mal em predomínio”.

“A grande maioria, porém, desencarna durante esse comportamento doentio e quase todos são arrastados para o sórdido campo de luxúria, sofrendo por decênios e mesmo séculos até o momento em que buscam a renovação e são socorridos por especialistas em libertação, que periodicamente visitam esses sítios de horror e de sofrimento irracional."

Novamente silenciou, e, tomado de imensa ternura acompanhada de compaixão, deu prosseguimento: “A mente é sempre a construtora da vida, oferecendo a energia com a qual são condensados os anseios e as necessidades de todas as criaturas. O sexo, por sua vez, porque carregado de sensações e de emoções, quando vilipendiado e exercido com ignorância das suas sagradas funções, transforma-se em geratriz de tormentos que dão curso a outros vícios e alucinações, empurrando as suas vítimas para as drogas, o álcool, o tabaco, a mentira, a traição, a infâmia e todo um séquito de misérias morais que entorpecem os sentimentos e obnubilam a razão”.

“Enquanto não houver um programa educativo baseado nas nobres finalidades da existência humana, cujo objetivo essencial é o progresso intelecto-moral e não a utilização do corpo para o prazer e a leviandade, permanecerão equivocados os valores éticos, sendo utilizados pelo egoísmo para o gozo e a insensatez. Vive-se, na Terra da atualidade, a exorbitância da lubricidade, da pornografia, da exibição das formas físicas direcionadas para o comércio da lascívia e da exploração”.

"A morte, porém, que a ninguém poupa, ao desvestir da carne os equivocados, abre-lhes a cortina da realidade, e todos se dão conta do alto significado da vida física e do respeito que merece dos aprendizes da evolução. Por enquanto, somente nos cabem as atitudes de compaixão e de solidariedade, de compreensão e de amor, porque os irmãos anestesiados pelo prazer, inconscientes do que lhes ocorre, aguardam ajuda e orientação fraternal para despertarem para a verdadeira alegria de viver.

Nesse empreendimento, incluímos também os companheiros desencarnados que, com eles, se encharcam de sensações doentias. Chegará o momento adequado, e todos nós deveremos empenhar por apressá-lo, quando luzir o pensamento de Jesus nas consciências humanas, em que o homem e a mulher compreenderão que o sexo existe para fomentar a vida e procriar, amparado por emoções enobrecedoras do intercâmbio de energias revigorantes, e não para o banquete asselvajado dos instintos e das sensações, desbordando em crimes e destruição da vida. Que possamos contribuir em favor desse momento, edificando-nos no bem e preservando-nos interiormente das ciladas do mal e das tentações perturbadoras."

Calou-se o nobre amigo, deixando-nos a refletir. O dia luculiano estuava em festival de bênçãos demonstrando a vitória da luz sobre a treva, infundindo-nos confiança e coragem para a luta.