A alma pareceria assim ter sido o princípio inteligente dos
seres inferiores da criação? Não dissemos que tudo se encadeia na natureza e
tende a unidade? É nesses seres, que estais longe de conhecer totalmente, que o
princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para
a vida, como dissemos. É, de alguma sorte, um trabalho preparatório, como a
germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação
e se toma Espírito. (O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - pergunta 607)
No plano da criação divina, podemos admitir o fluido universal
como elemento formador da matéria condensada e semi-condensada, tal como os
mundos, os corpos dos seres vivos, a parte perispiritual dos seres, o duplo
etérico, o fluido vital. Mas cada um desses elementos oriundos do fluido
universal, caracterizado como material ou semi-material, sofre as modificações
inerentes à matéria, que vão desde as transformações físicas e químicas até a
desagregação com conseqüente retorno à fonte que lhes deu origem.
O Espírito, dotado de instinto, inteligência, pensamento,
abstração, sentimentos, emoções não poderia possuir as características
materiais, sob pena de voltar ao todo universal sem a manutenção de sua
individualidade, o que seria inglório para ele, e medíocre como plano traçado
por quem detém a sabedoria suprema. Tal pensamento leva-nos a crer, que o
princípio inteligente deve ter sido criado distintamente do princípio material,
como se ambos fossem de essências diferentes, que deveriam unir-se para
aperfeiçoamento conjunto.
Se Deus fez em primeiro lugar o princípio espiritual que veio a
gerar o Espírito, ou o fluido cósmico modelador dos mundos, isso não sabemos. O
fato é que o princípio inteligente deveria juntar-se ao princípio material,
para que não houvesse mundos materiais e seres espirituais como realidades
distintas e separadas. Mundos materiais para quê então?
Criados os mundos e existindo os princípios inteligentes estes
passam a habitar a matéria, iniciando um longo trabalho de elaboração de sua
vestimenta perispiritual, podendo assim manifestar-se em plano mais denso
através desse intermediário, o perispírito. Quis Deus que a aprendizagem do
Espírito se fizesse em sucessivas romarias nos orbes materiais, partindo este
sob sua tutela, para as conquistas da autoafirmação, sobre um universo criado
para a sua glória.
Matriculado como aprendiz na escola do trabalho árduo e da
santificação permanente, caminho que, se preterido aciona um mecanismo de
homologação onde o retorno e a recapitulação do citado curso são obrigatórios,
parte da escuridão da simplória ignorância para a luz da sabedoria. Não há como
furtar-se a esse destino: nascer, viver, aprender, renascer, aprender sempre,
de vez que não existe retrocesso na lei divina.
O princípio inteligente não pode agir diretamente sobre a
matéria, a não ser revestindo-se de outro tipo de matéria semi-condensada que
possibilite o intercâmbio de informações e sensações de um para o outro. O
início de nosso estudo sobre perispírito começa neste ponto, onde o princípio inteligente
aliando-se aos cristais demora-se por séculos, forçando a matéria a obedecer a
uma geometria definida, tornando seu esboço perispiritual maleável, gravando no
mesmo formas e linhas precisas.
Quanto aos corpos brutos, tais como os minerais (rochas, ferro,
ouro, zinco) abstenho-me de comentários, mesmo porque encontro pouca lógica na
união do princípio inteligente na matéria bruta, onde ele ficaria adormecido
sem nenhuma aprendizagem. Na condição de prisioneiro em matéria bruta ele
permaneceria adormecido, estático, sem registros. Talvez esteja desenvolvendo a
sua afinidade de ordem química?
A matéria bruta é destinada ao consumo e a transformações
irreversíveis. O ferro é trabalhado pelo fogo e serve às necessidades humanas.
De outra feita sofre oxidação e é consumido pela ferrugem. A rocha é desgastada
pelas intempéries e vira pó. Outro tanto vai para as construções de estradas e
residências, açudes.
O ouro é transformado em jóias para adornar a vaidade e fomentar
a cobiça, ou fica preso em cofres fortes. O zinco cobre os barracos dos
favelados. Poder-se-ia dizer que nesses materiais o princípio inteligente
estaria hibernando. Pode alguém afirmar que o princípio inteligente se encontra
adormecido na matéria. Mas em quais tipos de materiais? E o que ocorre com ele
quando esses materiais sofrem transformações irreversíveis, tais como a queima
da madeira, a transformação do ferro em ferrugem? Uma lei não pode ser
estabelecida em cima de incertezas.
Ou o princípio inteligente encontra-se adormecido nos minerais
ou não. Apelando para o senso prático, perguntamos: por que estaria, para nada aprender
ou em nada contribuir? Onde a matéria bruta inicia um princípio de organização
formal (não falo de átomos e moléculas) obedecendo a formas geométricas em sua
divisão, é que iniciaremos o nosso estudo, colocando aí a união dos dois princípios,
material e inteligente, gênese da mais admirável de todas as sagas do universo,
a busca da autonomia espiritual.
Compilado do livro “O
Perispírito e suas Modelações” de Luiz Gonzaga Pinheiro.