1. Sustento do princípio inteligente: O princípio inteligente,
que exercitara a projeção de impulsos mentais fragmentários para nutrir-se
durante largas eras, alçado ao Plano Espiritual, na condição de consciência
humana desencarnada, começa a plasmar novos meios de exteriorização, em favor
do Sustento próprio.
No mundo das plantas, com o parênquima clorofiliano, aprendeu a
decifrar os segredos da fotossíntese, absorvendo energia luminosa para elaborar
as matérias orgânicas, e lançando de si os gases essenciais que contribuem para
o equilíbrio da atmosfera. No domínio de certas bactérias,
inteirou-se dos processos da quimiossíntese, aproveitando a energia química haurida
na oxidação de corpos minerais.
Entre os seres superiores, consagrou-se à biossíntese, em novo
câmbio de substâncias nos vários períodos da experiência física, para garantir
a segurança própria, sob o ponto de vista material e energético.
Habituado aos fenômenos do anabolismo, na incorporação dos
elementos de que se nutre, e do catabolismo, na desassimilação respectiva,
automatiza-se lhe a existência, em metamorfose contínua das forças que lhe
alcançam a máquina fisiológica, através dos alimentos necessários à restauração
constante das células e ao equilíbrio dos reguladores orgânicos.
2. Início da Mentossíntese: Erguido, porém, à geração
do pensamento ininterrupto, altera-se lhe, na individualidade, o modo
particular de ser. O princípio inteligente inicia-se, desde então, nas operações
que classificaremos como sendo de “mentossíntese”, porque baseadas na troca de
fluídos mentais multiformes, através dos quais emite as próprias idéias e
radiações, assimilando as radiações e idéias alheias.
O impulso que Lhe surgia na mente embrionária, por interesse
acidental de posse, ante a necessidade de alimento esporádico, é agora desejo
consciente. E, sobretudo, o anseio genésico instintivo que se lhe sobrepunha
à vida normal em períodos certos, converteu-se em atração afetiva constante.
Aparece, assim, a sede de satisfação invariável como estímulo à
experiência e prefigura-se lhe na alma a
excelsitude do amor encravado no egoísmo, como o diamante em formação no
carbono obscuro.
A morte física interrompe lhe, as construções no terreno da
propriedade e do afeto e a criatura humana, a iniciar-se no pensamento
contínuo, sente-se quebrada e aflita, cada vez que se desvencilha do corpo
carnal adulto.
A liberação da veste densa, impõe-lhe novas condições
vibratórias, como que obrigando-o à ocultação temporária entre os seus para que
se lhe revitalizem as experiências, qual ocorre à planta necessitada de poda
para exaltar-se em renovação do próprio valor.
Épocas numerosas são empregadas para que o homem senhoreie o corpo
espiritual, nos círculos da consciência mais ampla, porque, como deve
compreender por si o caminho em que se conduzirá para a Glória Divina, cabe-lhe
também debitar a si mesmo os bens e os males e as alegrias e as dores da
caminhada.
Arrebatado aos que mais ama e ainda incapaz de entender a transformação
da paisagem doméstica de que foi alijado, revolta-se comumente contra as novas
lições da vida a que é convocado, em plano diferente, e permanece fluidicamente
algemado aos que se lhe afinam com o sangue e com os desejos, comungando-lhes a
experiência vulgar.
Nesse sentido, será, pois, razoável recordar que em seu recuado
pretérito aprendeu, automaticamente, a respirar e a viver, justaposto ao hausto
e ao calor alheio.
3. Simbiose Útil: Revisemos, assim, a simbiose
entre os vegetais, como, por exemplo, a que existe entre o cogumelo e a alga,
na esfera dos liquens, em que as hifas ou filamentos dos cogumelos se
intrometem nas gonídias ou células das algas e projetam-lhes no interior certos
apêndices, equivalendo a complicados haustórios, efetuando a sucção das
matérias orgânicas que a alga elabora por intermédio da fotossíntese.
O cogumelo empalma-lhe a existência, todavia, em compensação, a
alga se revela protegida por ele contra a perda de água, e dele recolhe, por
absorção permanente, água e sais minerais, gás carbônico e elementos azotados,
motivo pelo qual os líquens conseguem superar as maiores dificuldades do meio.
Entretanto, o processo de semelhante associação pode estender-se
em ocorrências completamente novas. É que se dois líquens, estruturados por
diferentes cogumelos, se encontram, podem viver, um ao lado do outro, com talo
comum, pelo fenômeno da parabiose ou união natural de indivíduos vivos.
Dessa maneira, a mesma alga pode produzir líquens diversos com
cogumelos variados, podendo também suceder que um líquen se transfigure de
aspecto, quando uma espécie micológica se sucede à outra.
Julgava-se antigamente, na botânica terrestre, que os liquens
participassem do grupo das criptogâmicas, mas Schwendener incumbiu-se de salientar
lhes a existência complexa, e Bonnier e Bornet, mais tarde, chamaram
a si a obrigação de positivar lhes a simbiose, experimentando a cultura
independente de ambos os elementos integrantes, cultura essa que, iniciada no
século findo, somente nos tempos últimos logrou pleno êxito, evidenciando,
porém, que a vida desses mesmos componentes, sem o ajuste da simbiose, é
indiscutivelmente frágil e precária.
Outro exemplo de agregação da mesma natureza vamos encontrar em
certas plantas leguminosas, que guardam os seus tubérculos nas raízes, cujas
nodosidades albergam determinadas bactérias do solo que realizam a assimilação
do azoto atmosférico, processo esse pelo qual essas plantas se fazem preciosas
à gleba, devolvendo-lhe o azoto despendido em serviço.
4. Simbiose Exploradora: Contudo, além desses fenômenos
em que a simbiose é simples e útil, temos as ocorrências desagradáveis, como
sejam as micorrizas das orquidáceas, em que o cogumelo comparece como sendo
invasor da raiz da planta, caso esse em que a planta assume atitude anormal
para adaptar-se, de algum modo, às disposições do assaltante, encontrando, por
vezes, a morte, quando persiste esse ou aquele excesso no conflito para a
combinação necessária.
Nesse acontecimento, como assinalou Caullery, com justeza de
conceituação, tal simbiose deve ser capitulada na patologia comum, por
enquadrar-se perfeitamente ao parasitismo. Identificaremos, ainda,
a simbiose entre algas e animais, em que as algas se alojam no plasma das
células que atacam, como acontece a protozoários e esponjas, turbelários e
moluscos, nos quais se implantam, seguras.
5. Simbiose da Mentes: Semelhantes processos de
associação aparecem largamente empregados pela mente desencarnada, ainda
tateante, na existência além-túmulo. Amedrontada perante o desconhecido, que
não consegue arrostar de pronto, vale-se da receptividade dos que lhe choram a
perda e demora-se colada aos que mais ama.
E qual cogumelo que projeta para dentro dos tecidos da alga
dominadores apêndices, com os quais lhe suga grande parte dos elementos
orgânicos por ela própria assimilados, o Espírito desenfaixado da veste física
lança habitualmente, para a intimidade dos tecidos fisiopsicossomáticos
daqueles que o asilam, as emanações do seu corpo espiritual, como radículas
alongadas ou sutis alavancas de força, subtraindo-lhes a vitalidade, elaborada
por eles nos processos da biossíntese, sustentando-se, por vezes, largo tempo,
nessa permuta viva de forças.
Qual se verifica entre a alga e o cogumelo, a mente encarnada
entrega-se, inconscientemente, ao desencarnado que lhe controla a existência,
sofrendo-lhe temporariamente o domínio até certo ponto, mas, em troca, à face
da sensibilidade excessiva de que se reveste, passa a viver, enquanto perdure
semelhante influência, necessariamente protegida contra o assalto de forças
ocultas ainda mais deprimentes.
Por esse motivo, ainda agora, em plena atualidade, encontramos
os problemas da mediunidade evidente, ou da irreconhecida, destacando, a cada
passo, inteligências nobres intimamente aprisionadas a
cultos estranhos, em matéria de fé, as quais padecem a intromissão de idéias de
terror, ante a perspectiva de se afastarem das entidades familiares que lhes
dominam a mente através de palavras ou símbolos mágicos, com vistas a
falaciosas vantagens materiais.
Essas inteligências fogem deliberadamente ao estudo que as libertaria
do cativeiro interior, quando não se mostram apáticas, em perigosos processos
de fanatismo, inofensivas e humildes, mas arredadas do progresso que lhes
garantiria a renovação.
6. Histeria e Psiconeurose: Entretanto, as simbioses dessa
espécie, em que tantas existências respiram em reciprocidade de furto psíquico,
não se limitam aos fenômenos desse teor, nos quais Espíritos desencarnados,
estanques em determinadas concepções religiosas, anestesiam ou infantilizam
temporariamente consciências menos aptas ao autocontrole, porquanto se
expressam igualmente nas moléstias nervosas complexas, como a histero-epilepsia,
em que o paciente sofre o espasmo tônico em opistótono, acompanhado de
convulsões crônicas de feição múltipla, às vezes sem qualquer perda de
consciência equivalendo a transe mediúnico autêntico, no qual a personalidade
invisível se aproveita dos estados emotivos mais intensos para acentuar a
própria influenciação.
E, na mesma trilha de ajustamento simbiótico, somos defrontados
na Terra, aqui e ali, pela presença de psiconeuróticos da mais extensa
classificação, com diagnose extremamente difícil, entregues aos mais obscuros
quadros mentais, sem se arrojarem à loucura completa.
Tais entidades imanizadas ao painel fisiológico e agregadas a
ele sem o corpo de matéria mais densa, vivem assim, quase sempre por tempo
longo, entrosadas psiquicamente aos seus hospedadores, porquanto o
Espírito humano desencarnado, erguido a novo estado de consciência. Começa a elaborar
recursos magnéticos diferenciados, condizentes com os positivos da própria
sustentação, tanto quanto, no corpo terrestre, aprendeu a criar, por
automatismo, as enzimas e os hormônios que lhe asseguravam o equilíbrio
biológico, e, impressionando o paciente que explora, muita vez com a melhor
intenção, subjuga-lhe o campo mental, impondo-lhe ao centro coronário a
substância dos próprios pensamentos, que a vítima passa a acolher qual se
fossem os seus próprios.
Assim, em perfeita simbiose, refletem-se mutuamente,
estacionários ambos no tempo, até que as leis da vida lhes reclamem, pela
dificuldade ou pela dor, a alteração imprescindível.
7. Outros Processos Simbióticos: De outras vezes, o desencarnado
que teme as experiências do Mundo Espiritual ou que insiste em prender-se por
egoísmo aos que jazem na retaguarda, se possui inteligência mais vasta que a do
hospedeiro, inspira-lhe atividade progressiva que resulta em benefício do meio
a que se vincula, tal como sucede com a bactéria nitrificadora na raiz da
leguminosa.
Noutras circunstâncias, porém, efetua-se a simbiose em condições
infelizes, nas quais o desencarnado permanece eivado de ódio ou perversidade
enfermiça ao pé das próprias vítimas, inoculando-lhes fluídos letais, seja
copiando a ação do cogumelo que se faz verdugo da orquídea, impulsionando-a a
situações anormais, quando não lhe impõe lentamente a morte, seja reproduzindo
a atitude das algas invasoras no corpo dos anelídeos, conduzindo-os a longas
perturbações, fenômenos esses, no entanto, que capitularemos, com apontamentos
breves, em torno do vampirismo, como responsável por vários distúrbios do corpo
espiritual a se estamparem no corpo físico.
8. Ancianidade da Simbiose Espiritual: Justo,
assim, registrar que a simbiose espiritual permanece entre os homens, desde as
eras mais remotas, em multifários processos de mediunismo consciente ou
inconsciente, através dos quais os chamados “mortos”, traumatizados ou
ignorantes, fracos ou indecisos, se aglutinam, em grande parte, ao “habitat”
dos chamados “vivos”, partilhando-lhes a existência, a absorver-lhes
parcialmente a vitalidade, até que os próprios Espíritos encarnados, com a força
do seu próprio trabalho, no estudo edificante e nas virtudes vividas, lhes
ofereçam material para mais amplas meditações, pelas quais se habilitem à
necessária transformação com que se adaptem a novos caminhos e aceitem encargos
novos, à frente da evolução deles mesmos, no rumo de esferas mais elevadas.
Compilado do livro: Evolução em Dois Mundos
Autor: André Luiz (espírito) e Francisco Cândido Xavier