Memória

Para que uma sensação seja notada e incorporada à consciência, é necessário observarmos determinadas condições, tais como: intensidade, duração, e algumas vezes, a observação. Para que se efetue uma percepção, exige-se do fenômeno que a desencadeia uma intensidade compatível com a faixa auditiva, visual, gustativa em questão, para que venhamos a notar-lhe a existência.

Mas se essa intensidade não for seguida de uma duração para que possamos captar detalhes do ocorrido, ou seja, tomar conhecimento mais aprofundado do evento, este não penetra em nossa consciência, a não ser por um esforço de imaginação ao tentar reconstituí-lo.


Ocorre, no entanto, que o Espírito percebe tudo ao seu redor, detendo-se apenas naquilo que lhe interessa, o que se lhe torna consciente ficando gravado em sua intimidade. O que é gravado permanece no campo da consciência por determinado período, recuando para o inconsciente a posteriori, cedendo lugar a outras observações que o Espírito faz em seu constante relacionamento com o meio.


Poder-se-ia dizer que é no Espírito e não no perispírito que se localiza a sede da memória, conservando-se nele gravados os instintos, as aquisições morais e intelectuais, as conquistas da evolução milenar, constituindo-se em registro vivo das imagens, lembranças, sensações, impressões, acontecimentos passados e presentes, formando-lhe o inconsciente.

A memória é um arquivo que sob o esforço de uma evocação traz à tona os referenciais de tempo e de espaço, relacionados ao evento que se quer recordar, transferindo do inconsciente para o consciente as informações solicitadas no momento. Grava-se na memória toda a vivência do princípio inteligente, até que, atingindo a forma humana, pelo uso do livre-arbítrio, passa a incorporar também o resultado de seus pensamentos e ações, enriquecendo-a sobremaneira com as suas construções.

O Espírito tem, portanto, imensa biblioteca ou complexo computador de incomensurável banco de dados, sendo ele mesmo o programador que, mal elaborando seus projetos pode provocar circuitos nos sistemas perispiríticos, por ter entrado em choque com os objetivos da criação. Daí a condição única que a vida apresenta para a volta ao equilíbrio é uma reprogramação, arcando o Espírito com os danos causados a si mesmo por sua desídia.

Em se tratando dos animais inferiores, o mecanismo da memória vai gerar o instinto com suas ações reflexas, e igualmente os hábitos peculiares à espécie em seu relacionamento com o meio. Mesmo quando separado implume de seus pais, o joão-de-barro fará quando adulto, o lar. Segundo a arquitetura própria de sua espécie. Isso ocorre devido à repetição do mesmo trabalho via encarnação, gerar nessa espécie uma memória intelectual restrita a essa necessidade específica.

Assim a aranha tece seus fios segundo o padrão a que se acostumou em exercícios anteriores, o pato corre a nadar sem lições na área de natação, o polvo lança de sua sépia, a tinta que confunde seus inimigos, sapos pressionam o ventre de suas companheiras para que lancem os óvulos na água, caranguejos farão enorme esforço em carregar conchas vazias para se protegerem, castores fazem diques, bactérias passam para o estado de esporos onde dormem por séculos à espera de condições favoráveis à sua sobrevivência.

Isso acontecerá sempre; mesmo que esses animais sejam isolados de suas espécies e colocados em terreno neutro. A memória, cujo arquivo ordena o procedimento quando o meio requisita a ação, é que permite a recapitulação das conquistas já efetuadas.

Grava-se na memória biológica (anatômica e fisiológica) a nível perispiritual, toda a saga da matéria, com a conquista de seus condicionamentos, a imprimir movimentos autônomos ao complexo corpo-perispírito. Na memória psicológica imprimem-se a filosofia e a ciência dos eventos, a que o princípio inteligente e posteriormente o Espírito têm acesso em cada degrau de sua caminhada.

O Espírito tem, portanto, uma memória psicológica e o perispírito uma memória biológica, por força da capacidade de registrar em sua substância os pensamentos e as modificações a que estes induzem. Sendo o perispírito o veículo de manifestação do Espírito, este recebe através daquele, as impressões do mundo onde habita, intercâmbio que se tornará senão impossível, pelo menos dificultoso, caso o Espírito se desloque para outro ambiente, superior ou inferior, ao que habita sem uma necessária troca de vestimenta.

Como o perispírito é formado de fluidos do planeta em que o Espírito habita, ele se capacita a receber impressões deste mundo ao qual está adaptado, ficando sem condições de exercitar os seus sentidos de maneira adequada em um outro mundo de diferente estágio evolutivo que o seu, por incompatibilidade fluídica entre o seu perispírito e o ambiente.

Assim, um Espírito Superior em nosso meio, sem uma adaptação perispiritual aos nossos fluidos, não pode receber os estímulos e impressões que a nossa matéria causa a nós outros. As sensações de frio, calor, o som, os aromas, gostos não se manifestariam para a análise do Espírito, por seu instrumento de intercâmbio com a matéria circundante não registrar o compasso energético do ambiente em que ora se encontra.

O mesmo ocorreria se nós, momentaneamente nos transferíssemos para um plano superior, sem essa adaptação fluídica. Não veríamos ou registraríamos quase nada. Toda a tecnologia avançada, sensações inúmeras, corriqueiras para quem lá habita, passariam desapercebidas para nós, por falta de olhos para ver e ouvidos para registrar.

A memória biológica (do perispírito) de um plano mais avançado, sendo outra com mais conquistas, não nos permitiria adaptação a esse novo dinamismo, bem como a nossa memória psicológica (do Espírito) acusaria apenas aquilo em que encontrasse alguma analogia com o seu conteúdo armazenado.

Sem essa afinidade fluídica entre o planeta e o seu habitante, o perispírito não se adaptaria; não teria condições de transmitir do Espírito e para o Espírito, as sensações e impressões advindas do relacionamento Espírito-ambiente, sem o qual, toda intermediação seria impossível.

Compilado do livro: O Perispírito e suas modelações
Autor: Luiz Gonzaga Pinheiro