A vida é uma vibração imensa que enche o universo e cujo foco
está em Deus. Cada alma, centelha destacada do Foco Divino, torna-se, por sua
vez, um foco de vibrações que hão de variar, aumentar de amplitude e
intensidade, consoante o grau de elevação do ser. Esse fato pode ser verificado
experimentalmente.
Toda alma tem, pois, a sua vibração particular e diferente. O
seu movimento próprio, o seu ritmo, é a representação exata do seu poder
dinâmico, do seu valor intelectual, da sua elevação moral. Toda a beleza, toda
a grandeza do universo vivo se resume na lei das vibrações harmônicas.
As almas que vibram uníssonas reconhecem-se e chamam-se através
do espaço. Daí as atrações, as simpatias, a amizade, o amor! Os artistas, os
sensitivos, os seres delicadamente harmonizados conhecem essa lei e sentem-lhe
os efeitos. A alma superior é uma vibração na posse de todas as suas harmonias.
A entidade psíquica penetra com as suas vibrações todo o seu
organismo fluídico, o perispírito, que é a sua forma e imagem, a reprodução
exata da sua harmonia pessoal e da sua luz; mas chega a encarnação e essas
vibrações vão reduzir-se, amortecer-se sob o invólucro carnal. O foco interior
já não poderá projetar para o exterior senão uma radiação enfraquecida,
intermitente.
Entretanto, no sono, no sonambulismo, no êxtase, desde que à
alma se abre uma saída através do invólucro de matéria que a oprime e agrilhoa,
restabelece-se imediatamente a corrente vibratória e o foco torna a adquirir
toda a sua atividade. O Espírito encontra-se novamente nos seus estados
anteriores de poder e liberdade. Tudo o que nele dormia desperta.
As suas numerosas vidas reconstituem-se, não só com os tesouros
do seu pensamento, com as reminiscências e aquisições, mas também com todas as
sensações, alegrias e dores registradas em seu organismo fluídico. É essa a
razão pela qual, no transe, a alma, vibrando as recordações do passado, afirma
as suas existências anteriores e reata a cadeia misteriosa das suas
transmigrações.
As menores particularidades da nossa vida registram-se em nós e
deixam traços indeléveis. Pensamentos, desejos, paixões, atos bons ou maus,
tudo se fixa, tudo se grava em nós. Durante o curso normal da vida, essas
recordações acumulam-se em camadas sucessivas e as mais recentes acabam por
apagar, pelo menos aparentemente, as mais antigas. Parece que esquecemos
aqueles mil pormenores da nossa existência dissipada.
Basta, porém, evocar, nas experiências hipnóticas, os tempos
passados e tornar, pela vontade, a colocar o sujeito numa época anterior da sua
vida, na mocidade ou no estado de infância, para que essas recordações
reapareçam em massa. O sujeito revive o seu passado, não só com o estado de
alma e associação de idéias que lhe eram peculiares nessa época, idéias às
vezes bem diversas das que ele professa atualmente, com os seus gostos,
hábitos, linguagem, mas também reconstituindo automaticamente toda a série dos
fenômenos físicos contemporâneos daquela época.
Leva-nos isso a reconhecer que há íntima correlação entre a
individualidade psíquica e o estado orgânico. Cada estado mental está associado
a um estado fisiológico. A evocação de um na memória dos sujeitos traz
imediatamente a reaparição do outro. Dadas as flutuações constantes e a
renovação integral do corpo físico em alguns anos, esse fenômeno seria
incompreensível sem a intervenção do perispírito, que guarda em si, gravadas na
sua substância, todas as impressões de outrora.
É ele que fornece à alma a soma total dos seus estados
conscientes, mesmo depois da destruição da memória cerebral. Assim o demonstram
os Espíritos nas suas comunicações, visto que conservam no espaço até as
menores recordações da sua existência terrestre.
Esse registro automático parece efetuar-se em forma de
agrupamento, ou zonas, dentro de nós, que correspondem a outros tantos períodos
da nossa vida, de maneira que, se a vontade, por meio da auto-sugestão ou da
sugestão estranha, o que é a mesma coisa, pois que, como vimos, a sugestão,
para ser eficaz, deve ser aceita pelo paciente e transformar-se em
auto-sugestão, se a vontade, dizemos, faz reviver uma lembrança pertencente a
um período qualquer do nosso passado, todos os fatos de consciência que têm
conexão com esse mesmo período desenrolam-se imediatamente numa concatenação
metódica.
Gabriel Delanne comparou esses estados vibratórios com as
camadas concêntricas observadas na secção de uma árvore e que permitem se lhe
calcule o número de anos. Isso tornaria compreensíveis as variações da
personalidade de que falamos. Para observadores superficiais, esses fenômenos
se explicam pela dissociação da consciência.
Estudados de perto e analisados, representam, pelo contrário,
aspectos de uma consciência única, correspondentes a outras tantas fases de uma
mesma existência. Esses aspectos revelam-se desde que o sono é bastante
profundo e o desprendimento perispiritual suficiente. Se se tem podido
acreditar em mudanças de personalidade, é porque os estados transitórios,
intermediários, faltam ou apagam-se.
O desprendimento, dissemos precedentemente, é facilitado pela
ação magnética. Os passes feitos em um sensitivo relaxam pouco a pouco e
desatam os laços que unem o Espírito ao corpo. A alma e a sua forma etérea saem
da ganga material e essa saída constitui o fenômeno do sono.
Quanto mais profunda for a hipnose, tanto mais a alma se separa
e se afasta, recobrando a plenitude das suas vibrações. A vida ativa
concentra-se no perispírito, ao passo que a vida física está suspensa. A
sugestão aumenta também o ritmo vibratório da alma. Cada idéia contém o que os
psicólogos chamam a tendência para a ação e essa tendência transforma-se em ato
pela sugestão.
Esta, com efeito, não é mais do que um modo da vontade. Levada à
mais alta intensidade, torna-se força motriz, alavanca que levanta e põe em
movimento as potências vitais adormecidas, os sentidos psíquicos e as
faculdades transcendentais. Vê-se então se produzirem os fenômenos da
clarividência, da lucidez, do despertar da memória.
Para essas manifestações se tornarem possíveis, o perispírito
deve ser previamente impressionado por um abalo vibratório determinado pela
sugestão. Esse abalo, acelerando o movimento rítmico, tem por efeito
restabelecer a relação entre a consciência cerebral e a consciência profunda,
relação que está interrompida no estado normal durante a vida física.
Então as imagens e as reminiscências armazenadas no perispírito
podem reanimar-se e tornar-se novamente conscientes; mas, ao despertar, a
relação cessa logo, o véu torna a cair, as recordações longínquas apagam-se
pouco a pouco e tornam a entrar na penumbra.
A sugestão é, pois, o processo que se deve empregar, de preferência,
nessas experiências. Para reconduzir os sujeitos a uma época determinada do seu
passado são eles adormecidos por meio de passes longitudinais, depois se lhes
sugere que têm tal ou qual idade.
Assim, faz-se que remontem a todos os períodos da sua
existência; podem obter-se fac-símiles da sua letra, que variam segundo as
épocas e são sempre concordes, quando se trata das mesmas épocas evocadas no
curso de diferentes sessões. Por meio de passes transversais faz-se com que
voltem depois ao ponto atual, tornando a passar pelas mesmas fases.
Pode-se também – e nós assim o temos feito – designar ao sujeito
uma data determinada do seu passado, ainda o mais remoto, e fazê-lo renascer
nele. Se o sujeito for muito sensível, vê-se então se desenrolarem cenas de
cativante interesse com pormenores sobre o meio evocado e as personagens que
nele vivem, pormenores que são às vezes suscetíveis de verificação.
“Tem-se podido reconhecer – diz o Coronel de Rochas – que as
recordações assim avivadas eram exatas e que os sujeitos tomavam sucessivamente
as personalidades correspondentes à sua idade”. Continuamos a tratar desses
fenômenos, cuja análise projeta uma luz viva sobre o mistério do ser.
Todos os aspectos variados da memória, a sua extinção na vida
normal, o seu despertar no transe e na exteriorização, tudo se explica pela
diferença dos movimentos vibratórios que ligam a alma e o seu corpo psíquico ao
cérebro material. A cada mudança de estado as vibrações variam de intensidade,
fazendo-se mais rápidas, à medida que a alma se desprende do corpo.
As sensações são registradas no estado normal, com um mínimo de
força e duração; mas a memória total subsiste no fundo do ser. Por pouco que os
laços materiais se afrouxem e a alma seja restituída a si mesma, ela torna a
encontrar, com o seu estado vibratório superior, a consciência de todos os
aspectos da sua vida, de todas as formas físicas ou psíquicas da sua existência
integral.
É, como vimos, o que se pode verificar e reproduzir
artificialmente no estado hipnótico. Para bem nos orientarmos no labirinto
desses fenômenos é preciso não esquecer que esse estado comporta muitos graus.
A cada um desses graus vincula-se uma das formas da consciência e da
personalidade; a cada fase do sono corresponde um estado particular da memória;
o sono mais profundo faz surgir a memória mais extensa.
Esta restringe-se cada vez mais, à medida que a alma reintegra o
seu invólucro. Ao estado de vigília, ou acordado, corresponde a memória mais
restrita, mais pobre. O fenômeno da reconstituição artificial do passado
faz-nos compreender o que se passa depois da morte, quando a alma, livre do
corpo terrestre, torna a achar-se em presença da sua memória aumentada,
memória-consciência, memória implacável que conserva a impressão de todas as
suas faltas, tornando-se o seu juiz e, às vezes, o seu algoz; mas, ao mesmo
tempo, o “eu” fragmentado em camadas distintas, durante a vida deste mundo,
reconstitui-se na sua síntese superior e na sua magnífica unidade.
Toda a experiência adquirida no decorrer dos séculos, todas as
riquezas espirituais, frutos da evolução, muitas vezes latentes ou, pelo menos,
amortecidas, apoucadas nesta existência, reaparecem no seu brilho e frescura
para servir de base a novas aquisições. Nada se perde.
As camadas profundas do ser, se contam os desfalecimentos e as
quedas, proclamam também os lentos e penosos esforços acumulados no decorrer
das idades para constituírem essa personalidade, que irá sempre crescendo,
sempre mais rica e mais bela, na feliz expansão das suas faculdades adquiridas,
suas qualidades e suas virtudes.
Compilado do livro: O Problema do Ser, do Destino e da Dor –
Autor: Leon Denis