Nesse instante, duas entidades que cooperavam nas reuniões mediúnicas
normais da Sociedade Espírita adentraram-se, trazendo em maca, adormecido, um
dos seus diretores. Tratava-se do confrade Anacleto, com um pouco mais de meio século
de existência terrestre, que ficara viúvo, há cinco anos, aproximadamente, que
fora antes, dedicado servidor do Evangelho, que se constituíra um dos pilares
de segurança da instituição.
Segundo pude depreender mentalmente, em razão das emissões do pensamento
do nosso mentor, de maneira invigilante ele passou a cultivar ideias de
exaltação e comportamento agressivo, tornando-se um espinho ferinte no grupo de
trabalho.
Responsável por atividade de relevante importância, manteve-se
cauto sexualmente durante o período matrimonial. Após a desencarnação da
esposa, igualmente trabalhadora dedicada, passou a cultivar sentimentos
perturbadores e tormentos adormecidos, dando largas à imaginação e gerando
imagens mentais tóxicas, lentamente absorvidas e transformadas em hábitos
psíquicos.
A pouco e pouco, deixou-se embriagar pela sensualidade, no
difícil período da andropausa, tornando-se indócil e prepotente. Por qualquer
coisa agredia os companheiros com palavras chulas, desviando-se da boa conduta
moral, frequentando motéis com jovens aventureiras, igualmente perturbadas.
Narcisista, desligou-se emocionalmente dos deveres espirituais e
comparecia ao grupo sem compromisso íntimo, demonstrando desinteresse pela
função que exercia. Em consequência, as suas atividades tornaram-se
desconsideradas e porque os demais membros da diretoria necessitassem do
entrosamento entre todos, quando chamado à cooperação reagia de maneira rude,
para não dizer grosseira. Chegará ao cúmulo de estar desviando valores da
contabilidade da Casa, a fim de atender a volúpia dos seus tormentos.
A esposa desencarnada, em aflição compreensível, ao constatar os
desmandos do consorte aturdido recorreu ao mentor, solicitando-lhe ajuda
imediata. Esse, por sua vez, dirigiu a sua rogativa ao Menestrel de Deus, que
tomou as providencias agora materializadas na equipe de que fazíamos parte, a
fim de serem evitados danos mais graves ao próprio enfermo e à sociedade.
O que nele se apresentava com caráter de maior gravidade, era a
alucinação de autopoder que o mesmo se atribuía, não prestando contas dos seus
atos administrativos aos demais companheiros, nem aceitando qualquer ingerência
ou atitude fraternal que pudesse modificar a situação. Várias tentativas de
diálogo foram rebatidas com os comportamentos chocantes, desrespeitando todos
aqueles que se lhe acercavam.
Atingindo o ápice, os amigos estavam dispostos a convocar uma
assembléia geral e removê-lo do quadro administrativo, o que redundaria, sem
dúvida, em um escândalo, porque, certamente, o paciente reagiria de forma
inesperada e infeliz, complicando-se mais e afetando o conceito da Casa
dedicada ao amor e à caridade.
Trazido a sala de atendimentos, ressonava ruidosamente,
demonstrando os conflitos que o afligiam, e agitava-se, como desejando
libertar-se de alguma constrição que lhe fazia mal. Observando-o com mais
atenção, pudemos notar que se encontrava fortemente submetido a uma injunção
obsessiva de natureza grave, porque notávamos diversas formas “ovoidais”,
fazendo recordar a medusa da mitologia grega. Essa cabeleira, constituída por
seres espirituais inferiores, flutuava em volta da sua cabeça, e emitia ruídos
estranhos, peculiares, como sons de animais ferozes.
Tratava-se de espíritos vítimas da monoideia, que lhes fora
inculcada em experiências hipnóticas perversas, trabalhada por hábil adversário
do bem, que se acreditava responsável por verdadeira legião de desencarnados
que lhe sofriam os acicates cruéis.
Detendo-nos, na observação, percebíamos que dois deles
fixavam-se no sistema nervoso central, outros dois no aparelho genésico, mais
um no chakra cerebral, em verdadeira parasitose exploradora grave. Tão ligados
estavam esses espíritos deformados e insanos que não puderam ser desligados
anteriormente do enfermo agora trazido ao auxilio espiritual.
A área genésica apresentava-se dominada por verdadeiros vibriões
criados pela dissolução moral a que o paciente se entregara, ameaçando-lhe a
organização fisiológica, obrigada ao atendimento da mente desvairada. Era
natural que o seu fosse o pensamento do desajuste moral, em razão do cérebro
sofrer a insidiosa presença do ser infeliz que lhe dominava a nobre região
coronária, encharcando-a de energias deletérias.
O sistema nervoso central, por sua vez, sofria a ingerência da
mente espiritual desditosa que se nutria do seu tônus energético, exaurindo a
vítima com lentidão e segurança. Sem dúvida, com pouco tempo de persistência
desse quadro, seria impossível a continuação da existência estável. Com
certeza, alguma enfermidade devoradora se aproveitaria da falta de resistências
do sistema imunológico igualmente comprometido, dilacerando o corpo já
alquebrado.
Concomitantemente, o dislate levaria o pensamento à loucura e as
consequências seriam imprevisíveis, não fossem as providencias terapêuticas a
que seria submetido a partir daquele momento. A repercussão de um escândalo, de
uma agressão física ou de algo mais funesto seria terrível para o grupo de
servidores de Jesus, apreensivos e inquietos.
O irmão Anacleto, sem dúvida, era vítima de uma obsessão
impiedosa cujo controle encontrava-se distante, mas bem direcionado. A
aparência física já denunciava o estado de desnutrição e falta de vigor, em
razão do roubo de vitalidade que padecia.
No silêncio natural em que a sala estava mergulhada, envolta em
dúlcidas vibrações harmoniosas, Dr. Bezerra exorou o auxílio de Jesus para a
atividade que ia iniciar-se, suplicando as Suas bênçãos em favor de todos
aqueles que se encontravam envolvidos no quadro desolador da obsessão: a vítima
e os seus algozes. Uma diáfana claridade tomou todo o recinto como a resposta
dos Céus ao apelo da Terra.
O médico espiritual aproximou-se do doente encarnado e
fixando-lhe o centro genésico, no qual se hospedavam duas entidades deformadas,
pôs-se a aplicar uma energia especial em movimentos anti-horários, como se
estivesse desparafusando o tentáculo de cada uma delas que se fixava,
respectivamente, nas gônadas.
Pude perceber que se apresentavam como ventosas comuns aos
polvos com alto poder de fixação e absorção dos conteúdos em cujo exterior se
prendiam. Todos encontrávamo-nos profundamente concentrados, direcionando nosso
pensamento como força atuante em favor da operação que estava sendo levada a
efeito.
Por mais de cinco minutos o dedicado benfeitor permaneceu no
processo libertador, até quando foram desligados os tubos fluídicos que serviam
de duto nutriente aos infelizes. Automaticamente, e com carinho as formas
ovoidais que flutuavam foram seguras pelo nobre cirurgião e por José Petitinga
que funcionava como seu auxiliar direto.
Ouvíamos os estranhos ruídos que se exteriorizavam daqueles
seres degenerados, que haviam tido modificado o períspirito e se apresentavam
na condição degenerada, fruto espúrio do comportamento que ser permitiram nas
jornadas anteriores, culminando com a queda nas armadilhas do soez hipnotizador
que os manipulava. Ato contínuo, foram conduzidos e localizados na aura da
dedicada Sra. Celestina e de outro médium, ambos em profunda concentração.
Ao ligarem-se energeticamente aos dois médiuns disciplinados,
logo puseram-se a agitar-se, movendo-se continuamente, apresentando alguns
estertores e emitindo sons animalescos que denotavam um sofrimento inenarrável,
porque impossibilitados de exterioriza-los por meio da verbalização. Recebendo
energia que se estendia das mãos de Hermano, Petitinga e Jésus, num contato
transcendente e de natureza calmante, com voz suave e mentor falou-lhes:
“A libertação de que necessitam começa agora, embora se
prolongue por algum tempo. É necessário recuperar a forma perdida,
utilizando-se do involucro perispiritual desses que se lhes transformaram em
intermediário, de modo que, no futuro, em processo de reencarnação dolorosa,
possam voltar ao estado anterior que usaram indevidamente.
Têm sido longos os anos dessa radical transformação, mas soa o
momento para a recuperação da vida normal. Todo o patrimônio armazenado através
dos tempos e que hoje se encontra arquivado no cerne do ser, volverá lentamente
e ser-lhes-á possível avançar pela estrada do progresso.
Jesus sempre vai em busca da ovelha tresmalhada, e os irmãos são
bem o exemplo daquelas que tombaram, renitentes, no fundo do abismo onde ora se
encontram. Como são capazes de pensar, embora não se possam expressar,
voltem-se para Deus e supliquem-lhe misericórdia. Os dias de horror e de
desventura estão prestes a ceder lugar ao período de esperança e da alegria de
viver”.
Enquanto falava e transmitia energias saudáveis aos espíritos
disformes, podíamos captar-lhes o desespero que expressavam pelo pensamento,
embora a monoideia que, em cada um degenerava a forma perispiritual,
mantendo-os naquela deplorável situação. Havia nessas mensagens mentais
desespero e alucinação, ansiedade e angústia.
Voltando à palavra articulada, a fim de que pudessem captá-la por
intermédio da faculdade mediúnica dos abnegados instrumentos, informou-lhes o
benfeitor: Vocês serão conduzidos com carinho a um núcleo espiritual
hospitalar, onde serão tratados de maneira conveniente, preparando-os para a
reencarnação na Terra, onde a bênção da expiação lhes devolverá a harmonia
perdida. Nunca se olvidem do amor, considerando que o erro é uma sombra que
acompanha indelevelmente aquele que o comete.
O amor de nosso Pai, no entanto, não tem dimensão nem fronteira,
permanecendo como força motriz do Universo. Deixem-se inundar por essa energia
sublime e facilmente conseguirão a paz. Mesmo que, aparentemente, demore o
processo de total libertação, logo sucederá a vitória, pois que longos foram os
tempos de fixação do mal, assim como da sua execução, especialmente nas
aberrações praticadas na louca busca do prazer sensorial irresponsável e
criminoso. Acalmem-se e deixem-se conduzir pela misericórdia do Senhor, não
recalcitrando contra o aguilhão que se impuseram”.
Lentamente as oscilações e pequenas convulsões dos médiuns foram
diminuindo, à medida que os comunicantes eram desvencilhados dos fluidos
generosos em que se encontravam mergulhados. A seguir, foram acomodados em maca
adrede preparadas e transferidos para o local próprio na sala de onde seriam
levados para a assistência hospitalar de longo curso.
Imediatamente, o generoso guia retornou à proximidade da cama em
que se encontrava Anacleto ainda adormecido e gemendo sempre, vítima da
contínua constrição dos inimigos desencarnados e repetiu a experiência com as
duas expressões ovoidais que se fixavam no sistema nervoso central, presos na
base posterior do cérebro, no ponto em que nasce a medula, procedendo de
maneira idêntica.
As entidades pareciam perceber o que estava se passando porque,
flutuando no espaço pareceram agitadas, de maneira negativa, como que
insistindo para permanecer na mesma situação vampiresca. Imperturbável e
consciente, o cirurgião do amor e da caridade prosseguiu no seu ministério por
tempo um pouco mais dilatado, conseguindo retirá-las e procedeu de maneira
semelhante, levando-as à comunicação atormentada através dos dois médiuns em
concentração, condição essencial para a ocorrência feliz.
Quando a agitação se apresentou maior e mais angustiante, o
mentor falou-lhes: Nada permanece conforme nossos caprichos, porque a vida tem
uma finalidade sublime, e mesmo quando o ser humano se compromete com a desdita
é-lhe concedida a oportunidade redentora. A compaixão do Pai pelos filhos
enganados ultrapassa tudo quanto a mente humana é capaz de conceber.
Desse modo, é chegado também o momento de ambos que, a partir de
agora, enfrentarão as consequências da própria incúria, a fim de despertarem
para realidades novas e inadiáveis. Inutilmente o mal permanecerá na Terra e o
seu curso, por mais longo se apresente, será sempre de breve duração, porque
somente o bem possui caráter de permanência, por proceder de Deus.
Seduzidos pelo seu sicário, ainda se rebelam por haver perdido a
exploração energética do nosso pobre equivocado, sem dar-se conta de que todos
merecem misericórdia e compaixão no estado em que se encontram. Nossa
preocupação, nesse momento, é com vocês, irmãos queridos, desde que largos já
se fazem os tempos dessa brutal deformação que os degrada.
A melhor conduta, neste instante, é o abandono da ideia de
vingança, assim como a do prazer criminoso que os transformou em degenerados
diante das divinas leis”. Na pausa inevitável, podíamos captar-lhes as ondas de
revolta e de indignação, bem diferentes dos dois anteriormente atendidos.
O benfeitor prosseguiu: Impossível a treva resistir à luz e o
ódio contrapor-se ao amor. A vitória, sem dúvida, será sempre do Eterno Bem.
Agora adormeçam, repousando um pouco, em face do desvario que os consome. Logo
mais será novo dia e a oportunidade que surge é bênção incomum em favor da
felicidade futura de suas vidas.
Mantenham-se em paz, porquanto, ninguém foge por tempo ilimitado
em relação ao próprio destino, fruindo de plenitude que todos alcançaremos um
dia. Deus os abençoe, irmão queridos! Repetiu-se o procedimento realizado em
relação aos anteriores socorridos.
Terminada essa tarefa, o mentor acercou-se de Anacleto e
despertou-o com palavras suaves e gentis. Visivelmente atordoado, com fácies
congestionada, no desar que sofria, interrogou: Estou em algum tribunal de
justiça? Qual é a acusação?
Muito calmo, Dr. Bezerra respondeu-lhe: O amigo encontra-se em
nosso santuário de amor e de caridade. O tribunal a que se refere permanece na
sua consciência, onde está escrita a lei de Deus. Os conflitos de conduta
assustam-lhe a consciência temerosa da divina justiça por causa das infrações
cometidas contra os deveres espontaneamente assumidos. A resposta oportuna fê-lo
acalmar-se e dar-se conta de que se encontrava em desdobramento espiritual na
sociedade em que era diretor.
Conscientizando-se e percebendo a figura veneranda do diretor
dos trabalhos, assim como a presença do pequeno grupo de trabalhadores
espirituais, foi tomado pelo pranto em quase desespero, reclamando: As trevas
tomaram conta de mim. Encontro-me abandonado pelos meus guias, eu que lhes
tenho sido muito fiel, e já por um bom tempo.
Não assuma a atitude de mártir ou vítima de abandono, elucidou o
amorável mentor, quando o irmão sabe, perfeitamente, que tem sido o responsável
por vários transtornos de conduta e pelo perigo que vem rondando a venerável
instituição em decorrência da irresponsabilidade e da insânia moral que se vem
permitindo.
A voz era enérgica, necessária para o despertamento do
embusteiro, que agora se passava como esquecido da Providência. Ato continuo, o
mentor explicou: Aqui estamos tomando providencias para minimizar os danos
causados pelos descalabros do caro irmão, também com o objetivo de chamá-lo à
atenção para a responsabilidade dos seus compromissos, de modo a mudar de
conduta e, dessa forma, libertar-se das trevas, sim, que o têm envolvido por
anuência total de sua parte.
Onde está a sua responsabilidade em relação ao trabalho de Jesus
e à firmeza da fé, se logo se permite percorrer a senda de espinhos da
insanidade, tornando-se instrumento de perturbação e de desastre para um
trabalho que é piloti de sustentação na edificação do Espiritismo na Terra? Não
se brinca com as questões do Espirito imortal, nem se podem abandonar graves
responsabilidades sem sofre-lhes as consequências do ato leviano. Portanto,
mude o foco do seu pensamento e conversemos.
O paciente, que despertava emocional e psiquicamente para
aquilatar os disparates que se vinha permitindo, foi tomado pelo pranto natural
de arrependimento, manifestando desejo de recuperar a paz. Enfrentando a
realidade com lucidez ouviu o bondoso guia informa-lo: A oração e a disciplina
moral deverão constituir lhe roteiro de segurança, em reflexão positiva e
contínua, mantendo-se vigilante em relação às façanhas do prazer doentio e
prejudicial.
Reconquiste o caminho perdido, avançando com harmonia interior
pela senda redentora ao lado dos amigos e cooperadores, sem transformar-se em
abismo ou impedimento à realização dos elevados objetivos espirituais que nos
dizem respeito.
Agora, repouse e preserve a lembrança deste momento que deverá
ser-lhe inolvidável. Amanhece-lhe a oportunidade nova que deverá ser
aproveitada com sabedoria. Deus o abençoe!
Envolvido em enternecimento e harmonia, Anacleto adormeceu sem
convulsão, em paz, sendo conduzido de retorno ao lar, por nosso Jésus Gonçalves
e outro auxiliar da atividade mediúnica.
Compilado do livro: Amanhecer de uma Nova Era
Autor: Manoel P de Miranda (espírito) e Divaldo Franco