Não sabemos ainda como se deu a criação do espírito, pois a sua
geração pela vontade suprema do Criador perde-se na eternidade, numa época em
que a consciência espiritual se escondia na intimidade da mônada divina, recém-criada
e individualizada e ainda sem noção de si mesma, por se encontrar na fase
inicial de sua evolução.
Eis a dificuldade dos espíritos em localizar, num tempo que se dilata
na eternidade, a sua criação e as formas pelas quais vieram a existir.
Sabemos, no entanto, que esse princípio inteligente, ou mônada,
iniciou suas experiências revestindo-se da matéria primordial ou fluido
cósmico, passando por etapas sucessivas de materialização e desmaterialização,
até atingir vibratoriamente a união com a matéria mais grosseira e bruta do plano
físico, em processos de despertamento de suas qualidades adormecidas, ainda
incompreensíveis para a humanidade.
Utilizando-nos da linguagem bíblica, de sua simbologia, podemos
ter uma idéia desse processo evolutivo. "Disse Deus: Haja luz. E houve
luz." É a vontade do Eterno, do Incognoscível, em sua ação criadora, que
produziu a luz da vida, como se fora uma emanação de sua própria essência
divina.
Como tudo que existe, respira e vibra tem a sua existência em
Deus, em sua própria essência, que preenche todas as dimensões e campos de evolução
universais, torna-se razoável o fato de que a morte não possa ter uma
existência real, como sendo cessação da vida, pois nada no universo existe fora
da mente divina.
O Gênesis descreve-nos em sua linguagem belíssima: "E o
Espírito de Deus pairava sobre as águas"(Gn 1:2). Logo após, foi criado o elemento
árido, e as águas produziram seus habitantes, a terra, o reino vegetal e animal
e, por fim, o homem terrestre, numa síntese da evolução do espírito, que
estagiou em todos os reinos da natureza até atingir a luz da razão, na condição
humana.
Podemos ver, no simbolismo do espírito pairando sobre as águas,
o princípio espiritual que se envolve com o elemento material, transmitindo-lhe
seus atributos e qualidades. Preparou-se assim, ao longo de incontáveis eras,
para uma união mais íntima e organizada com um futuro corpo, que lhe daria mais
recursos para expressar sua natureza íntima.
Após esse estágio inicial, vemos que o mesmo princípio inteligente
— que, por efeito didático apenas, aqui chamaremos de espírito — estabelece uma
relação mais direta com a matéria, fecundando-a de vida, de sua própria
essência.
Também no Gênesis encontramos: "Produza a Terra toda espécie
de seres viventes" (Gn 1:20). É a fecundação da matéria pelo espírito,
pois, na expressão "seres viventes", podemos entender somente a união
definitiva do espírito com a matéria, ou do princípio espiritual com o elemento
material, estabelecendo uma ligação intensa, que resulta na evolução de ambos.
Nesse ponto encontramos o princípio do conflito entre o espírito
e a matéria. São atributos distintos que lutam por se estabelecer definitivamente,
gerando conflitos íntimos ou externos que promovem mais tarde a evolução. É o
drama evolutivo.
Primeiramente, em sua materialização, ou quando se revestem da
matéria do plano físico, em sua fase inicial de aprendizado, os atributos
espirituais da mônada são eclipsados devido à natureza da matéria grosseira.
Aos poucos, vão despertando, acordando a sua espiritualidade passando pela fase
conflitante até atingirem o ponto em que se colocam acima da matéria,
dominando-a e demonstrando plenamente a sua verdadeira face espiritual.
Após intelectualizar a matéria por meio de seus atributos divinos,
o espírito utiliza-a agora como forma de expressar sua intimidade, sua individualidade,
enfim, suas qualidades, que foram despertadas na grande luta milenar da
Criação.
É o triunfo do espírito imortal sobre as formas materiais,
expressando assim a sua verdadeira natureza. O conflito deixa então de existir,
e a ascendência espiritual sobre a materialidade torna-se uma realidade
objetiva, passando o ser a evoluir em outros campos vibratórios além dos
limites estreitos do mundo da forma.
Compilado do livro Gestação da Terra
Autor: Alex Zarthu (espírito) e Robson
Pinheiro