Embora o júbilo que a todos nos dominava,
após as excelentes experiências de que participamos na clínica psiquiátrica,
mantivemos silencio e reflexão, durante o transcurso da jornada em direção do
nosso campo de repouso, em face da quantidade de material para pensar.
A alienação mental, sob qualquer aspecto
considerada, não deixa de ser áspera provação necessária ao restabelecimento da
paz no Espírito rebelde. A perda do raciocínio e a incapacidade de exercer o
autocontrole geram no individuo situações calamitosas, desagradáveis,
infelizes.
Se as pessoas saudáveis se permitissem
visitar, periodicamente que fossem, alguma clínica psiquiátrica ou mesmo outras
encarregadas de atender portadores de enfermidades degenerativas como Parkinson,
Alzheimer, câncer, hanseníase, é muito provável que se dessem conta da
vulnerabilidade do corpo físico e dos seus processos de desorganização, optando
por diferente conduta mental e moral.
Compreenderiam de visu (de fato) que os males
atormentadores procedem do Espírito, podendo ser evitados com muita facilidade,
em cujo labor seriam aplicados todos os recursos que se multiplicariam em
benesses compensadoras.
Ilhadas, porém, nas sensações mais imediatas,
nem todas se encontram despertas para entender os reais objetivos da existência
humana, optando pelo gozo incessante em vez da busca superior da felicidade.
Esse processo inevitável de conscientização
acontecerá, sem dúvida, e para que logo chegue, todos devemos contribuir com os
nossos melhores recursos, diminuindo as consequências lamentáveis da
imprevidência moral e dos seus desregramentos que desbordam nos conflitos
individuais e sociais.
Quando chegamos ao núcleo de renovação de
forças, a noite havia descido sem preâmbulos, abençoada pelos ventos brandos
que vinham do mar, carregados de energia balsâmica e restauradora.
O nosso orientador afastou-se por breve
tempo, entrando em contato com outros responsáveis por diferentes grupos que
confabulavam sobre as atividades desenvolvidas. Podia-se sentir-lhes a alegria
resultante dos deveres nobremente cumpridos e das expectativas felizes em
relação ao futuro.
Preferi mergulhar em profundas reflexões,
acercando-me do oceano rico de mensagens de vida complexa, quase infinita, nas
suas manifestações. Não podia deixar de considerar a grandiosidade da revelação
espírita, que enseja ao ser humano, na Terra, o conhecimento da realidade
transcendente da vida, oferecendo-lhe seguras diretrizes para a conquista da
harmonia e da plenitude.
Considerei, intimamente, a sabedoria divina
que não tem pressa, deixando-se desvelar, à mediada que o ser adquire
discernimento e responsabilidade para apreender o significado dessa dimensão
incomum e seguir conscientemente, conquistando mais espaço mental e edificação
moral.
Um misto de felicidade e nostalgia
invadiu-me, estimulando-me a narrar aos companheiros da vilegiatura carnal as
realizações do mundo além da estrutura física, de forma que adquiram mais
lucidez em torno da imortalidade, preparando-se para os cometimentos que virão
iniludivelmente.
Busquei, então, fixar mais os detalhes das
conversações e das lições que nos eram ministradas, de forma que possam
contribuir para o esclarecimento dos mais interessados na libertação dos
vínculos retentores com a retaguarda do progresso espiritual.
Nesse ínterim, Germano acercou-se me, e
dialogamos em torno das ocorrências vivenciadas na clínica psiquiátrica, bem
como a respeito dos processos de degenerescência mental, dos transtornos
obsessivos perversos, agradecendo a Deus a ímpar felicidade que desfrutávamos
por haver conhecido e adotado os ensinamentos espíritas que nos libertaram da
ignorância.
O amigo Germano, que fora médico, consoante
já referido, era hábil trabalhador espiritual, dedicado ao socorro a portadores
de obsessões fisiológicas, aqueles que sofrem a impertinência do ódio dos
adversários introjetado no organismo somático.
Ele informou-me como a incidência da mente
cruel sobre os delicados tecidos orgânicos termina por afetá-los,
desorganizando a mitose celular, produzindo distúrbios funcionais, qual ocorre
nos aparelhos digestivo, cardiovascular e abrindo campo no sistema imunológico
para a instalação das doenças.
No início do processo (disse-me, bondoso) a
enfermidade é mais psíquica do que física, isto é, as sensações são absorvidas
diretamente do Espírito doente, perispírito a perispírito, impregnando o corpo
hospedeiro da parasitose até este incorporar a energia deletéria que o desgasta
no campo vibratório, atingindo, a breve prazo, a organização fisiológica.
O número de portadores de doenças orgânicas
simulacro, conforme as denominamos, cuja procedência é obsessiva, não tem sido
anotado, sendo muito maior do que pode parecer. Invariavelmente os cultores do
intercâmbio espiritual e espiritistas, quase em geral, reportam-se às
influências obsessivas de natureza mental e comportamental.
O organismo físico, no entanto, é caixa de
ressonância do que ocorre nos corpos espiritual e perispiritual. Da forma como
sucede com a obsessão de natureza psíquica, quando prolongada, que termina por
degenerar os neurônios, dando lugar à loucura convencional, o fenômeno orgânico
obedece aos mesmos critérios. O que é válido numa área, também o é noutra.
Indispensável que seja mantida muita atenção
diante de afecções e infecções orgânicas, examinando-lhes a procedência no
campo vibratório, no qual, não raro, encontramos mentes interessadas em
desforços, muitas vezes, ignorando a operação destrutiva que vem realizando nos
tecidos.
Como sabemos, nem todo Espírito vingador
conhece as técnicas de perseguição, mantendo-se imantado ao seu antigo
desafeto, em face da Lei de afinidade vibratória, isto é, graças à semelhança
de sentimentos e de moralidade, o que faculta a plena interação de um com o
outro e intercâmbio de emoções de um no outro.
Com as cargas mentais e emocionais
transmitidas, mesmo que as desconhecendo, são constituídas de campos de
ressentimentos e de vingança, essa contínua onda vibratória nociva é assimilada
pelo ser energético, que passa a mesclá-la com as suas próprias, gerando
desconforto e disfunções nos equipamentos que sustenta.
Iniciando-se a desconectação do fluxo de
energia emitida pelo Espírito encarnado, em face da intromissão daquelas
morbosas, as defesas imunológicas diminuem, abrindo campo para a instalação de
invasores microbianos degenerativos. As doenças aparecerão logo depois.
Toda terapia antibactericida, portanto, que
objetive apenas os efeitos dessa ocorrência, irá combater somente os invasores
microbianos, não reequilibrando o campo organizador biológico, cuja sede é o
perispírito, que se encontra afetado pelo agente espiritual desencarnado.
Nunca será demasiado repetir que, em qualquer
processo de enfermidade e disfunção fisiológica ou psicológica do ser humano, o
doente é o Espírito convidado à reparação dos erros cometidos, responsáveis que
são pelas tormentas orgânicas de que o mesmo se torna vítima.
Ele calou-se por um pouco e eu considerei:
Embora não me fosse desconhecida a ocorrência, esse tipo de obsessão
fisiológica, não poderia imaginar que apresentasse uma estatística tão
expressiva conforme o amigo me relata.
O irmão Miranda sabe que os elementos
constitutivos do perispírito são de energia muito específica, ainda não havendo
sido classificada pelos estudiosos da física quântica.
Pensam muitos especialistas de nosso plano
que ele seria constituído por átomos muito sutis ionizados ou por partículas
semelhantes aos neutrinos ainda mais tênues e velozes do que aqueles que foram
detectados nos formidandos laboratórios terrestres, nada obstante, prefiro, a
definição do preclaro codificador, quando se refere a um envoltório
semimaterial, portanto, em termos muito simples, resultado de uma energia
semimaterial, de um campo específico.
A sua irradiação contínua impregna a
organização física dos seus conteúdos, que são resultantes dos atos que
procedem do ser pensante, o Espírito imortal. Essa maravilhosa estrutura
energética pode ser penetrada por outras, dependendo dos valores morais do ser
espiritual que a acolhe, de acordo com a afinidade de constituição.
Quando é superior, torna-se mais vibrante e
resistente, gerando valores positivos no organismo; sendo de procedência
inferior, termina por tornar-se cediça e frágil, apresentando lesões que se
refletem como distúrbio equivalente no mundo das formas. Forma energética do
corpo somático, tudo aquilo que lhe ocorre na organização, será refletido na
forma.
Eis por que, toda e qualquer terapêutica
direcionada a doenças deve sempre considerar o ser humano total, não apenas
como o corpo ou como o corpo e a mente (Espírito) mas como Espírito,
perispírito e corpo. Quando isso ocorrer, e não estão longe os dias da sua
aceitação, o binômio saúde-doença estará recebendo muito melhor contribuição do
que aquela que lhe tem sido direcionada até estes dias.
Compreendo, a realidade do enfoque
apresentado pelo caro amigo, porque muitos cancerologistas, cardiologistas e
outros profissionais da saúde de ambos os planos da vida, são unânimes em
afirmar que transtornos psicológicos, raiva e ressentimentos, ciúme e inveja,
isto é, todos esses fatores de perturbação emocional, refletem-se na área da
saúde, dando surgimento a patologias graves, como algumas das que dizem
respeito às suas especialidades.
Por outro lado, verificamos amiúde, os casos
de problemas orgânicos derivados dos conflitos, particularmente, dos aparelhos
digestivo e cardíaco, por somatização. Se a mente pessoal gera esses fenômenos
perturbadores, sob ação de outras mentes mais vigorosas, ainda sob a cruz dos
conflitos originados na conduta extravagante do passado, é claro que os efeitos
danosos são muito mais fortes, favorecendo o surgimento de doenças mais graves,
produzidas pelos agentes microbianos de destruição dos tecidos.
Em assim sendo, qual a melhor terapia para se
aplicada? Indiscutivelmente, a do Evangelho, isto é, a da transformação moral
do paciente, que é a sua parte fundamental, e a nossa contribuição em relação a
ele, a fuidoterápica, a fim de afastar o agente desencadeador do problema, a
sua conveniente doutrinação, a compaixão e misericórdia para com ele, sem
nenhuma diferença daquela que seria aplicada nos transtornos obsessivos mentais
e comportamentais.
Pelo pensamento, cada um de nós elege a
companhia espiritual que melhor nos apraz. Na larga experiência de lidar com
obsessos físicos, tenho aprendido que é a mente o grande agente fomentador de
vida, como de destruição dos seus elementos constitutivos. Afinal, o que criou
e rege o universo é a mente divina, na qual tudo se encontra imerso.
A mente humana, nos seus limites, produz a
constelação de ocorrências próximas à sua fonte emissora de energia, sempre em
sintonia com a qualidade de vibrações exteriorizadas. Pensar bem, portanto, já
não tem sentido apenas ético ou religioso, mas uma abrangência muito maior que
é o psicoterapêutico preventivo e curador.
Sorrimos, jovialmente, e levantamo-nos,
seguindo em direção à sala onde receberíamos as instruções para o próximo
labor. Eu me sentia edificado e feliz
Compilado do livro: Entre os dois Mundos
Autor: Manoel P. de Miranda (espírito) e
Divaldo P. Franco