O
Espiritismo nos ensina que os Espíritos constituem a população invisível do
globo, que estão no espaço e entre nós, nos vendo e nos acotovelando sem
cessar, de tal sorte que, quando, nos acreditamos sós, temos constantemente testemunhas
secretas de nossas ações e de nossos pensamentos. Isto pode parecer incômodo
para certas pessoas, mas uma vez que assim é não se pode impedir que o seja;
cabe a cada um fazer como o sábio que não tinha medo de que sua casa fosse de
vidro.
Sem
dúvida nenhuma, é a esta causa que é preciso atribuir a revelação de tantas
torpezas e más ações que se cria enterradas na sombra. Além disso sabemos que,
além dos assistentes corpóreos, há sempre ouvintes invisíveis; que sendo a
permeabilidade uma das propriedades do organismo dos Espíritos, estes podem se
encontrar em número ilimitado num espaço dado.
Frequentemente,
nos foi dito que, em certas sessões, estavam em quantidades inumeráveis. Na
explicação dada ao Sr. Bertrand a propósito das comunicações coletivas que
obteve, foi dito que o número dos Espíritos presentes era tão grande, que a
atmosfera estava, por assim dizer saturada de seus fluidos. Isto não é novo
para os Espíritas, mas não se deduziu disto talvez todas as conseqüências.
Sabe-se
que os fluidos emanados dos Espíritos são mais ou menos salutares segundo o
grau de sua depuração; conhece-se o seu poder curativo em certos casos, e também
seus efeitos mórbidos de indivíduo a indivíduo.
Ora,
uma vez que o ar pode estar saturado desses fluidos, não é evidente que segundo
a natureza dos Espíritos que proliferam em um lugar determinado, o ar ambiente
se acha carregado de elementos salutares ou malsãos, que devem exercer uma
influência sobre a saúde física tão bem quando sobre a saúde moral?
Quando
se pensa na energia da ação que um Espírito pode exercer sobre um homem,
pode-se admirar daquela que deve resultar de uma aglomeração de centenas ou de
milhares de Espíritos? Esta ação será boa ou má conforme os Espíritos derramem
no meio dado um fluido benfazejo ou malfazejo, agindo à maneira das emanações
fortificantes ou dos miasmas deletérios, que se esparramam no ar.
Assim
podem se explicar certos efeitos coletivos produzidos sobre as massas de indivíduos,
o sentimento de bem-estar ou de mal-estar que se sente em certos meios, e que
não têm nenhuma causa aparente conhecida, o arrastamento coletivo para o bem ou
o mal, os impulsos gerais, o entusiasmo ou o desencorajamento, por vezes
espécie de vertigem que se apodera de toda uma assembléia, de todo um povo
mesmo.
Cada
indivíduo, em razão do grau de sua sensibilidade, sofre a influência dessa
atmosfera viciada ou vivificante. Por este fato, que parece fora de dúvida, e
que confirmam, ao mesmo tempo, a teoria e a experiência, encontramos nas
relações do mundo espiritual com o mundo corpóreo, um novo princípio de higiene
que a ciência, sem dúvida um dia fará entrar em linha de conta.
Podemos,
pois, subtrair-nos a essas influências emanando de uma fonte inacessível aos
meios materiais? Sem nenhuma dúvida; porque do mesmo modo que saneamos os
lugares insalubres destruindo-lhes a fonte dos miasmas pestilentos, podemos
sanear a atmosfera moral que nos cerca, subtraindo-nos às influências
perniciosas dos fluidos espirituais malsãos, e isto mais facilmente do que não podemos
escapar às exalações pantanosas, porque isto depende unicamente de nossa vontade,
e ali não estará um dos menores benefícios do Espiritismo quando for universalmente
compreendido e sobretudo praticado.
Um
princípio perfeitamente averiguado por todo Espírita, é que as qualidades do fluido
perispiritual estão em razão direta das qualidades do Espírito encarnado ou desencarnado;
quanto mais seus sentimentos são elevados e livres das influências da matéria,
mais seu fluido é depurado.
Segundo
os pensamentos que dominam num encarnado, ele irradia raios impregnados desses
mesmos pensamentos que os viciam ou os saneiam, fluidos realmente materiais,
embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis para os
sentidos perispirituais, e visíveis para os olhos da alma, uma vez que
impressionam fisicamente e tomam aparências muito diferentes para aqueles que
estão dotados da visão espiritual.
Unicamente
pelo fato da presença dos encarnados numa assembléia, os fluidos ambientes serão,
pois, salubres ou insalubres, segundo os pensamentos dominantes sejam bons ou
maus. Quem traz consigo pensamentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho,
de egoísmo, de animosidade, de cupidez, de falsidade, de hipocrisia, de maledicência,
de malevolência, em uma palavra, pensamentos hauridos na fonte das más paixões,
espalha ao seu redor eflúvios fluídicos malsãos, que reagem sobre aqueles que o
cercam.
Numa
assembléia, ao contrário, onde todos não trouxessem senão sentimentos de
bondade, de caridade, de humildade, de devotamento desinteressado, de benevolência
e de amor ao próximo, o ar estará impregnado de emanações saudáveis no meio das
quais sente-se viver mais comodamente.
Se
se considera agora que os pensamentos atraem os pensamentos da mesma natureza,
que os fluidos atraem os fluidos similares, compreende-se que cada indivíduo conduz
consigo um cortejo de Espíritos simpáticos, bons ou maus, e que assim o ar está
saturado de fluidos em relação com os pensamentos predominantes.
Se
os maus pensamentos estão em minoria, eles não impedirão as boas influências de
se produzirem, mas as paralisam. Se eles dominam, enfraquecem a irradiação
fluídica dos bons Espíritos, ou mesmo por vezes, impedem os bons fluídos de
penetrar nesse meio, como o nevoeiro enfraquece ou detém os raios do sol.
Qual
é, pois, o meio de se subtrair à influência dos maus fluidos? Este meio
ressalta da própria causa que produz o mal. Que se faz quando se reconheceu que
um alimento é contrário à saúde? É rejeitado, e se os substitui por um alimento
mais sadio. Uma vez que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e
os atraem, é preciso se esforçar e deles não ter senão bons, repelindo tudo o
que é mau, como se repele um alimento que pode nos tornar doentes, em uma palavra,
trabalhar pela sua melhoria moral, e, para nos servir de uma comparação do
Evangelho, "não só limpar o vaso por fora, mas limpá-lo, sobretudo, por
dentro".
A
Humanidade, em se melhorando, verá se depurar a atmosfera fluídica no meio da qual
ela vive, porque não a rodeará senão de bons fluidos, e que estes últimos
oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser
povoada senão por homens praticando entre eles as leis divinas, de amor e de
caridade, ninguém duvida que não se encontrem nas condições de higiene física e
moral diferentes daquelas que existem hoje.
Esse
tempo está ainda longe sem dúvida, mas em esperando-o, estas condições podem
existir parcialmente, e é nas assembléias espíritas que cabe dar-lhe o exemplo.
Aqueles
que tiverem possuído a luz, serão um tanto mais repreensíveis quanto terão tido
entre as mãos os meios de se esclarecer; incorrerão na responsabilidade dos
atrasos que seu exemplo e sua má vontade terão levado na melhoria geral.
Isto
é uma utopia, uma má declamação? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos
que o Espiritismo nos revela a cada dia. Com efeito, o Espiritismo nos prova
que o elemento espiritual, que, até o presente, foi considerado como antítese
do elemento material, tem, com este último, uma conexão íntima, de onde resulta
uma multidão de fenômenos inobservados ou incompreendidos.
Quando
a ciência tiver assimilado os elementos fornecidos pelo Espiritismo, ela nele
haurirá novos e importantes recursos para a própria melhoria material da
Humanidade. Assim, cada dia vemos se estender o círculo das aplicações da
doutrina que está longe, como alguns o crêem ainda, de estar restrita ao pueril
fenômeno das mesas girantes ou outros efeitos de pura curiosidade.
O
Espiritismo, realmente, não foi tomado em seu vôo, senão do momento em que
entrou na via filosófica; é menos divertido para certas pessoas, que nele não
procuravam senão uma distração, mas é melhor apreciado pelas pessoas sérias, e
o será ainda mais, à medida que for melhor compreendido em suas conseqüências.
Compilado
por Harmonia Espiritual
Fonte.:
Revista Espírita – Allan Kardec
Maio
de 1867