Nas Fronteiras Da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco
Centro Espírita Nosso Lar – Grupo de Estudos das obras
de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda.
6. Intercâmbio mental
Fixada a idéia infeliz, os porões do inconsciente deixam transbordar as impressões angustiosas que dormem armazenadas, confundindo-se, na consciência, com as informações atuais, ao tempo em que se encontra em desordem pela influência da parasitose externa que se vai assenhoreando do campo exposto, sem defesas.
Por natural processo seletivo, e considerando as tendências, as preferências emocionais e intelectuais do paciente, a injunção produz melhor aceitação das recordações perniciosas, que servem de veículo e acesso ao pensamento do invasor.
Em casos desta natureza, a polivalência mental tende ao monoideísmo, que produz os quadros da fascinação torturante e, por fim, da subjugação de difícil reversibilidade.
A obsessão simples é, pois, parasitose comum em quase todas as criaturas, em se considerando o natural intercurso psíquico vigente em todas as partes do Universo.
Tendo-se em vista a infinita variedade das posições vibratórias em que se demoram os homens, estes sofrem, quanto influem em tais faixas, sintonizando, por processo normal, com os outros comensais aí situados.
Se são portadores de aspirações nobilitantes, haurem, onde se fixem, maior impulso para o crescimento. Permanecendo na construção do bem, dificilmente assimilam as induções perversas ou criminosas procedentes dos estagiários das regiões inferiores, mas não ficam indenes à agressão temporária ou permanente de que se liberam em face dos objetivos morais que perseguem, graças aos quais vibram em mais elevada escala psíquica.
Se interessados, porém, na vulgaridade e no prazer, na impiedade ou na preguiça, no vício ou na desordem, recebem maior influxo de ondas mentais equivalentes, resvalando para os despenhadeiros da emoção aturdida e do desequilíbrio.
Tais pacientes conduzem ao leito, antes do repouso físico, as apreensões angustiantes, as ambições desenfreadas, as paixões perturbadoras, demorando-se em reflexões que as vitalizam, vivendo-as pela mente, quando não encontram meios de fruí-las fisicamente.
Ao se desdobrarem sob a ação do sono, encontram-se com os afins (encarnados ou não)com os quais se identificam. Quando despertam, trazem a mente atribulada, tarda, sob incômodo cansaço físico e psíquico, encontrando dificuldade para fixar os compromissos e as lições edificantes da vida. Nessa posição, a idéia obsidente fixada e a viciação estabelecida, dá-se o intercâmbio mental.
Já não é o pensamento que busca acolhida, mas a atividade que tenta intercâmbio, mantendo diálogo, discutindo, analisando as questões em pauta, do que decorre a predominância do parasita espiritual, que mais se acerca psiquicamente da casa mental e da vontade do seu consorte. (Análise das Obsessões, pp. 11 e 12)
7. Reflexos da interferência
Como efeito dessa interferência, surgem as síndromas da inquietação: as desconfianças, os estados de insegurança, as enfermidades de pequena monta, os insucessos em torno do obsidiado, dando campo a incertezas, a mais ampla perturbação interior.
Gera uma psicosfera perniciosa à própria volta pela eliminação dos fluidos deletérios de que é vítima e absorve-a mais condensada, por escusar-se a ouvir sadias questões, participar de convívios amenos, ler páginas edificantes, auxiliar o próximo, renovar-se pela oração.
Conforme a constituição de seu temperamento, se tende à depressão, faz-se apático, adentrando-se pela melancolia, em razão da mensagem telepática deprimente e os clichês mentais pessimistas que ressumam do arquivo da inconsciência.
Em sentido oposto, se é dotado de constituição nervosa excitada, torna-se agressivo, violento, em desarmonia de atitudes (explode por nonadas, e logo se arrepende) expondo a aparelhagem psíquica e os nervos a altas cargas de energias que danificam os sensores e condutores nervosos, com singulares prejuízos para a organização físio-psíquica.
Nesse período podem-se perceber os estereótipos da obsessão, que facilmente se revelam pelas atitudes inusitadas, pelo comportamento ambivalente (equilíbrio e distonia, depressão e excitação) alienando a criatura.
Aos hábitos salutares vão-se sucedendo as reações intempestivas, rotuladas como exóticas, a perda dos conceitos de critério e valor, que dão lugar a estranhas quão paradoxais formas de conduta.
A linha do equilíbrio psíquico é muito tênue e delicada. As interferências de qualquer natureza sobre a faixa de movimentação da personalidade produzem, quase sempre, distúrbio, por empurrarem o indivíduo a procedimentos irregulares a princípio, que depois se fixam em delineamentos neuróticos.
A ação fluídica dos desencarnados, pela sua insistência, interfere no mecanismo do hospedeiro, complicando o quadro com a indução inteligente, em telepatia espiritual, que facilita a simbiose com o anfitrião. Nessa fase, e antes que o paciente assuma a interferência de que é vítima, a terapia espírita torna-se de resultado positivo, liberador.
Ideal, no entanto, é a atitude nobre diante da vida, que funciona como psicoterapia preventiva e que constitui dieta para o otimismo e a paz. (Análise das Obsessões, pp. 12 e 13)
8. Obsessão por fascinação
Estabelecidos os liames da comunicação, o processo continua, no sentido de se firmarem os "plugs" do canal obsessivo no recipiendário, que a partir daí comparte as suas idéias com as que lhe são insufladas. Na medida em que o campo mental da vítima cede área, esta assimila não apenas a indução telepática, mas também as atitudes e formas de ser do seu hóspede.
A pessoa perde a noção do ridículo e das medidas habituais que caracterizam o discernimento, acatando sugestões que incorpora, aceitando inspirações como diretrizes que todos consideram disparatadas, mas que a ela são perfeitamente lógicas.
Conhecendo as imperfeições morais, o caráter e a conduta daqueles a quem perturbam, os Espíritos inspiram e impõem idéias absurdas, com que objetivam isolar o paciente das pessoas que o podem auxiliar.
Enquanto se barafustam na fascinação, de que se tornam fácil presa, desconectam-se as últimas defesas e arriam-se as comportas dos diques da lógica, dando oportunidade à incidência mais complexa da turbação mental. As dificuldades de tratamento se ampliam, por não se poder contar com o auxílio do obsidiado.
Como em toda obsessão, como em qualquer sofrimento, estão em pauta os recursos débito-crédito do indivíduo, a disposição deste contribui muito, e decisivamente, para os resultados do tentame.
Os esforços que a pessoa empreende, a par das ações que executa, constituem-lhe couraça contra o mal, conquistas capazes de alçá-lo às faixas vibratórias próprias que a defendem e liberam.
Como a fascinação decorre da indolência moral e mental do paciente, os tentames para a sua libertação tornam-se mais complexos, exigindo abnegação, esforço, assistência contínua. (Análise das Obsessões, pp. 14 e 15)
9. Obsessão por subjugação
Em cada caso de alienação obsessiva encontram-se razões propelentes que caracterizam o processo. Por isso, apesar de a gênese serem as faltas morais do enfermo, sendo agente a Entidade desencarnada, os móveis predisponentes e preponderantes variam de acordo com cada pessoa.
A terapêutica é genericamente a mesma, contudo seus resultados variam segundo os pacientes, suas fichas cármicas e os esforços que empreendem para destrinçarem a trama em que se envolvem.
Na obsessão, à medida que se agrava o quadro de interferência, a vontade do hospedeiro perde os contatos de comando pessoal, na razão direta em que o invasor assume a governança.
Isso é mais grave quando se trata de Espírito mais lúcido, técnica e intelectualmente, que se assenhoreia dos centros cerebrais com a imposição de uma deliberação bem concentrada nos móveis que persegue, manipulando com habilidade os dispositivos mentais e físicos do alienado.
A subjugação pode ser então física, psíquica ou, simultaneamente, físio-psíquica. A primeira não implica a perda da lucidez intelectual, porquanto a ação se dá diretamente sobre os centros motores, obrigando o indivíduo a ceder à violência que o oprime, ainda que se negue a obedecer.
Neste caso, podem irromper enfermidades orgânicas, por se criarem condições celulares próprias para a contaminação por vírus e bactérias, ou mesmo sob a vigorosa e contínua ação fluídica dilacerarem-se os tecidos fisiológicos ou perturbar-se o metabolismo geral, com singulares prejuízos físicos.
No segundo caso, o paciente, dominado mentalmente, tomba em estado de passividade, não raro sob tortura emocional, chegando a perder por completo a lucidez, visto que perde temporária ou definitivamente, durante sua atual reencarnação, a área da consciência, não podendo livremente expressar-se.
O Espírito encarnado movimenta-se, então, num labirinto que o atemoriza, algemado a um adversário que lhe é impenitente, maltratando-o, aterrando-o com ameaças cruéis, em parasitose firme na desconsertada casa mental.
No terceiro caso, o Espírito assenhoreia-se, simultaneamente, dos centros do comando motor e domina fisicamente a vítima, que lhe fica inerte, subjugada, cometendo atrocidades sem nome.
Nos processos obsessivos estão incursas na Lei as pessoas que constituem o grupo familiar e o grupo social do paciente, situado aí por necessidade evolutiva e de resgate para todos.
Não se podem evadir à responsabilidade os que foram cúmplices ou co-autores dos delitos, quando os infratores mais comprometidos são alcançados pela justiça. A cruz da obsessão é peso que tomba sempre sobre os ombros das consciências comprometidas. (Análise das Obsessões, pp. 15 a 17)
“A publicação do estudo continuará
nas próximas semanas”