O primeiro procedimento adotado por Allan Kardec na abertura da
gigantesca obra da Codificação foi se preocupar com as questões filosóficas, desta forma, o mestre
inaugura a Doutrina dos Espíritos em seu primeiro parágrafo: Para se designarem
coisas novas são precisos termos novos. Assim o exige a clareza da linguagem, para
evitar a confusão inerente à variedade de sentidos das mesmas palavras.
Pode-se notar que evitar ambiguidades era uma das tarefas a ser
cumpridas. Para minha surpresa, ao pesquisar para este artigo, não encontrei,
formalmente, em nenhuma parte da Codificação ou na Revista Espírita a definição
da “Lei de
causa e efeito”.
Encontramos o axioma (*): “para todo efeito existe uma causa e não há
causa sem efeito”. Essa máxima vulgarizada nas obras do mestre como um princípio, foi transformada em
lei por espíritos pós-codificação, isto é, a partir deste axioma se torna,
facilmente, dedutível a lei implícita.
A Lei de causa e efeito, ensinada por alguns espíritos tem um caráter
moral e também físico; ao agirmos no universo, cada ato tem uma consequência, cada
gesto, cada pensamento se reflete no universo micro e macro cósmico. O fato de refletir não
traz a ideia de uma reação imediata e implacável, por exemplo, quando alguém
deseja um mal, o objeto receptor, não tem a obrigação de devolver o mal na
mesma moeda, desta forma, uma ação pode desencadear infinitas possibilidades de
consequências.
Confunde-se a 3ª Lei de Newton, que é uma lei restrita a física, já que as
leis de Newton não valem nos limites quânticos nem relativísticos, com o
princípio de causa e efeito. Define Newton, em sua obra Principia, o princípio da Ação
e reação: A
qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são
sempre iguais e se exercem em sentidos opostos.
Se um dedo aperta uma pedra, a pedra apertará o dedo, se um cavalo
puxa uma corda, a corda puxará o cavalo. Aplicado ao pé da letra, em todas as
situações ocorreriam da mesma forma; como exemplo, se uma pessoa te feriu,
ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade.
Outra questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes
e nunca se anulam. A reação sendo “positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação,
logo, o mal nunca poderia anular o bem. O princípio de causa e efeito, ensinado
pelos espíritos, diz que quando há abuso do livre-arbítrio, a causa e o efeito estão na
pessoa; quando se faz o bem, a causa está na pessoa, e o efeito também.
Quando afirma-se: Aquilo que plantar, isso mesmo irá colher. O que
significa colher? Sofrer as consequências do ato, sendo este bom ou mau. Sabemos da misericórdia
Divina que perdoa e ensina, não sendo necessário que uma pessoa que matou tenha
que morrer nas mesmas circunstâncias. Mesmo se fosse, não seria uma aplicação
da lei de ação e reação, sendo a lei de Talião, proclamada por Moisés, mais
próxima deste princípio.
Causa e efeito
material: Poderia usar infinitos exemplos, porém, contentar-me-ei apenas com
um: se uma pessoa de tez branca ficar exposta à irradiação solar, sem proteção alguma,
por horas e horas, ela estaria sujeita a dois tipos de efeitos possíveis: os efeitos “determinísticos”
que são os que aparecem imediatamente, como queimadura e insolação, e os efeitos
“estocásticos” que podem se manifestar ou não, como o câncer.
Causa e efeito moral: sabemos que os efeitos
estocásticos podem estar relacionados com os problemas morais, pois somos seres
trinos
(espírito, perispírito, corpo-físico). Uma pessoa que matou não tem a necessidade
de morrer, podendo passar por dificuldades e saldar sua dívida. Quando alguém nos
deseja o mal, podemos anular os efeitos, em nós, pela oração e prática no bem, mas os efeitos no
agente cabe, a ele mesmo, minimizá-lo pela reforma interior.
Lei do Carma: Alguns espíritos
espíritas, como Bezerra de Menezes, utilizaram essa expressão, mas não é um
termo do vocabulário Kardequiano, visto que o codificador conhecia a expressão, mas não
utilizou devido às suas formas de serem interpretadas. Ensina-nos Herculano
Pires: A palavra carma (em sânscrito karma ou karman e em pali kamma) utilizada
na Índia e por muitas correntes filosóficas religiosas, significa em
primeira instância “ação”, “trabalho” ou “efeito”. No sentido secundário,
o efeito de uma ação, ou se preferirmos, a soma dos efeitos de ações (vidas)
passadas se refletindo no presente
Na concepção hindu, “carma” quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos
atos foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane
(virtuosa),
ao passo que aqueles cujos os atos foram
maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão muitas desgraças,
acabando como simples escravos.
A lei do carma aproxima-se da interpretação da Lei de ação e
reação, porém, mesmo essa “lei”, nunca será igual à lei Newtoniana. Nós,
espíritas brasileiros, temos facilidade em aceitar conceitos novos e sofrermos influência
das novidades ou tendência a agregar a nossa cultura a termos estrangeiros ou alienígenas
à codificação.
Esse é um erro que cometemos, muitas vezes repetimos frases de efeito,
máximas e nem nos detemos em reflexões, para após essas reflexões e um estudo baseado
na codificação tirarmos consequências. Mesmo que esses termos sejam velhos como a história,
devemos ter cuidado. O cuidado não significa um vão preciosismo, sendo um zelo sem sectarismo.
A Lei de causa e efeito é totalmente conforme o Espiritismo, já a
lei de ação e reação está totalmente disforme aos princípios que o Espiritismo
veio proclamar. Fujamos dos modismos e abracemos a simplicidade, para, desta
forma, errarmos menos.
(*) O termo axioma é originário da palavra grega αξιωμα (axioma),
que significa algo que é considerado ajustado ou adequado, ou que tem um
significado evidente. A palavra axioma vem de αξιοειν (axioein), que significa
considerar digno. Esta, por sua vez, vem de αξιος (axios), significando digno.
Entre os filósofos gregos antigos, um axioma era uma reivindicação que poderia
ser vista como verdadeira sem nenhuma necessidade de prova.
Lei, no sentido cientifico, é uma regra que descreve um fenômeno
que ocorre com certa regularidade. Princípio: Lei fundamental.
Jorge Medeiros, estudante de Física (UFRJ)