Homossexualismo

O que nos aconselha a Doutrina?

Vladimir Aras Salvador

Eis um tema que muito tem incomodado as consciências de espíritas e não espíritas, de médicos e sociólogos, de psicólogos e terapeutas.

Debate interessante e oportuno em dias nos quais o Congresso Nacional vem de propor a regulamentação da união civil entre homossexuais, iniciativa legiferante com a qual concordamos porquanto destinada a disciplinar situações jurídicas que de fato existem e que repercutem no meio social, não podendo ser ignoradas pelo Direito.

No entanto, temos feito, principalmente no meio espírita, “tabula rasa” do assunto homossexualismo. E isso não é desejável, pois em sede de Espiritismo muito importam a conduta, a reforma íntima, a exemplificação e a orientação.

Em muitos centros espíritas, a apreciação que vem sendo feita em torno do assunto tem sido aligeirada e sem o aprofundamento doutrinário necessário, como de resto (e infelizmente) tem ocorrido com grande parte dos problemas do movimento espiritista.

Por conseguinte, parece-nos conveniente buscar o embasamento doutrinário para o enfrentamento do tema. O que nos diz a Consoladora Doutrina? Por primeiro, examinemos a pergunta 202 de “O Livro dos Espíritos”.

Pergunta: “Quando errante, que prefere o Espírito, encarnar no corpo de um homem, ou no de uma mulher? Resposta: Isso pouco lhe importa. O que o guia na escolha são as provas por que haja de passar.”

Percebe-se claramente que Kardec e os Espíritos da Codificação referem-se a provas no corpo masculino ou no corpo feminino a serem enfrentadas no mundo físico. Fica claro também que não se pode falar em preferência espiritual por um ou outro sexo, mas que, feita a escolha (ou imposta determinada forma), são provas o que enfrentaremos como Espíritos encarnados.

Se um determinado Espírito em uma dada encarnação se revestir da “forma” masculina, ele devera enfrentar as provas reservadas a tal opção. Se a encarnação desse Espírito se der no vaso feminino, suas provas serão daquelas reservadas as mulheres, como a maternidade, por exemplo.

Por conseguinte, a nos outros cabe-nos suportar com resignação as provas inerentes a um e a outro sexo físico. Disso não poderemos nos afastar.

Podemos exemplificar o raciocínio com a prova da pobreza, que quase sempre vem para o Espírito como mecanismo reparatório do egoísmo e da prodigalidade ou em razão do mau uso da riqueza que se haja feito em vida pretérita.

Não é licito ao pobre desta vida furtar, corromper-se ou praticar fraudes para fugir a prova da miserabilidade transitória. O enfrentamento das carências materiais com serenidade levará a evolução moral do Espírito. Disso ninguém discorda.

Por igual, ao ser espiritual que vivencia a experiência física masculina não é dado fugir a prova da masculinidade, cedendo aos arrastamentos de um suposto sexo psíquico, diverso daquele que se apresenta materialmente. A condição de sua evolução é justamente não ceder a tais condutas instintivas, para, então, reequilibrar-se e evoluir.

O mesmo vale para os seres revestidos de envoltório corporal feminino, que não se podem deixar levar por costumes pretéritos, que eram lícitos ha milênios na Ilha de Lesbos, mas que não se coadunam, hoje, com o ideal de uma vida em equilíbrio e em harmonia.

Daí não podermos encarar o grave problema da homossexualidade com despreocupação, cedendo apenas aos apelos de uma conduta que se supõe politicamente correta ou acertadamente cristã.

Obviamente, nossos irmãos homossexuais merecem o respeito devido a todos os seres da criação; não podem ser discriminados, nem rejeitados, pois, como disse o meigo Rabi da Galiléia, “aquele dentre vos que não tiver pecados, atire a primeira pedra”.

Possivelmente muitos entre nos já passaram pelos desvios homossexuais na fieira de existências anteriores, na Grécia, em Roma ou alhures.

Mas evidentemente o homossexual (como também o heterossexual desregrado) não é um ser em equilíbrio espiritual. Ao contrario, tanto um quanto outro quase sempre estão sob cerrado ataque fluídico negativo ou em estrito conluio psíquico com entidades trevosas. Este é o discernimento que nos cabe alcançar.

Jorge Andrea, no seu livro “Forcas Sexuais da Alma”, editado pela FEB, assegura que o homossexualismo tem “conotação patológica” (capitulo IV, pág. 132, da 6a edição), nele identificando-se “indivíduos em distonias de variada ordem, que procuram atender aos sentidos com o parceiro do mesmo sexo, em praticas deformantes e desarmonizadas”.

Continua o renomado escritor: “Consideramos, sem qualquer sombra de dúvida, que o homossexual, ao atender os sentidos em satisfação sexual, jamais estará em processo de realização conforme pensam algumas escolas.

Ninguém se realiza no caminho do desequilíbrio e da desordem. A prática deformante é resultado da distonia íntima que carrega consigo, cujo processo desencadeará desajustes, principalmente no setor moral".

Dessa falta de sintonia entre o “ser e o querer ser, ou entre o que se é e o que se pensa ser”, transforma o homossexual, masculino ou feminino, num ser frustrado (ainda que a negativa seja comum, num mecanismo psicológico por demais conhecido), atormentado por ilusões e anseios de consumação as vezes impossível e que o debilitam moralmente, abrindo porta larga a terríveis obsessões.

Mais adiante, na mesma obra, Jorge Andrea diz que “Para o homossexual existirá necessidade intransferível de vivência na castidade construtiva, a fim de encontrar a harmonia para as futuras formações corpóreas que as reencarnações podem propiciar”.

Dúvida não pode haver de que cabe aos homossexuais buscar sua reforma íntima, resistindo aos arrastamentos instintivos e sensuais que os acometem. A nós cabe respeitá-los, informar-lhes, orientá-los, sem descurar da reparação de nossas próprias faltas, para que nos seja moralmente lícito exemplificar.

Nunca, contudo, nos será permitido, por omissão ou por enganosa “caridade”, fechar os olhos ao problema, supondo que ele inexiste. A nossa frente, sempre haverá um irmão ou uma irmã que necessita de apoio firme e interessado em sua edificação.

Quem se omite ou finge não perceber graves problemas morais na pederastia ou no lesbianismo, engana-se a si mesmo e contribui para propiciar, por inação, terríveis males para o ser imortal, com sensíveis repercussões na própria casa espírita.

A escritora espírita Therezinha Oliveira, no texto “Pode o Homossexual Freqüentar o Centro Espírita?” leciona que: Se aspirarmos ingressar no seu serviço, é mister um esforço de renovação íntima, para corresponder a dignidade do ambiente.

“Quem não renunciar a si mesmo não pode ser meu discípulo”, dizia Jesus, e Kardec esclarecia: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para dominar as suas más tendências”.

Tais atitudes se recomendam a todos quantos procuram a casa espírita e, portanto, também aos que, no mundo, transitam atualmente pelas experiências do homossexualismo (in AIDS, Homossexualismo, Alcoolismo, Conflitos Familiares e Temas Diversos, EME Editora, página 14).

Em conseqüência, cabe aos dirigentes das casas espíritas agir com tato para vedar a participação de pessoas que se dediquem a práticas homossexuais nos trabalhos do centro espiritista, principalmente nas tarefas vinculadas a mediunidade e a doutrinação.

No que tange ao mediunato, muito grave seria permitir que uma pessoa em desarmonia sexual se lançasse ao intercâmbio mediúnico. Quantos processos obsessivos e interferências deletérias poderiam dai advir?

A lei de afinidade informa que semelhante atrai semelhante. Evidentemente, isso não significa que se deve afastar por completo o homossexual (e o heterossexual desregrado) do trabalho doutrinário. Não, em absoluto. O que deve ser compreendido e que, embora palavras emocionem, é o exemplo que arrasta os homens ao progresso.

Sem compromisso íntimo de reforma as tarefas desses irmãos devem-se reduzir, durante determinado período, a assistência a palestras, ao recebimento de tratamento fluidoterápico e a participação em grupos de estudo direcionados a compreensão da problemática sexual, a fim de que possam direcionar suas energias genésicas para a criação em níveis mais elevados e para sua própria edificação.

Quando recuperados, podem, como qualquer pessoa, integrar-se as atividades da casa espírita. No mesmo livro (pág. 23), Carlos de Brito Imbassahy, iniciando uma abordagem naturalística do tema, por assim dizer, escreve que “o homossexualismo como prática costumeira em detrimento do hetero é pernicioso porque contraria a lei natural dos seres vivos”.

Só as lesmas é que são bissexuadas; isso deve ser ponderado para análise. O porque do fato. Se homossexualismo, em si, devesse ser adotado, a própria Natureza nos dotaria simultaneamente de ambos os órgãos, como no caso das flores e dos hermafroditas.

O pesquisador Ney Prietto Peres, no “Manual Prático do Espírita” (Editora Pensamento, 1993, capitulo 14, pág. 65) assegura que “também pelos abusos sexuais comprometemos o nosso corpo físico e o nosso equilíbrio emocional, dispersando as energias vitais procriadoras e enfraquecendo a nossa mente com imagens eróticas e perniciosas. Como todo ato natural, a união sexual representa uma manifestação divina quando as condições espirituais e os reais objetivos são seguidos”.

Daí se compreende que o ato sexual é “divino” quando suas condições espirituais (prova masculina ou feminina) e os seus “reais objetivos” (procriação, reencarnação) são seguidos. Se tais condições e objetivos não são atendidos, tem-se um ato anti-natural e desarmonizador, que contribui para desagregar a mente do ser encarnado.

Se os abusos heterossexuais (ser dado a poligamia, a orgias, a sadomasoquismo, a necrofilia, a pedofilia, etc.) comprometem nosso corpo físico e nosso equilíbrio sexual, que dizer então das praticas homossexuais?

Tais condutas afrontam leis naturais (leis de Deus, portanto) como a da reprodução, a da procriação e a da continuidade das espécies, além de levar ao uso de certos órgãos diversamente do que recomenda sua biologia, sua fisiologia e sua concepção estrutural.

O homossexualismo também implica grave comportamento omissivo diante da lei geral de reencarnação. Se os casais homossexuais proliferam, perdem-se valiosas oportunidades reencarnatórias, pois que evidentemente não haverá procriação. Logo, menos Espíritos poderão evoluir nas provas terrenas, o que repercute negativamente sobre toda a humanidade.

André Luiz, no livro “Conduta Espírita” (FEB, capitulo 34, pág. 120), recomenda “Distinguir no sexo a sede de energias superiores que o Criador concede a criatura para equilibrar-lhe as atividades, sentindo-se no dever de resguardá-la contra os desvios suscetíveis de corrompê-la".

Ou seja, o sexo é um instrumento de equilíbrio da criatura. Mal exercido, com desvios e corrupção de seus propósitos, torna-se instrumento de desequilíbrio do ser, diferenciando-se do conceito de normalidade.

Geziel Andrade em “Doenças, Cura e Saúde a Luz do Espiritismo” (EME, 1992, capitulo 8, pág. 74), em consonância com André Luiz, Jorge Andrea e Ney Prietto Peres, afirma que:

“A sexualidade desvirtuada conduz a graves conseqüências. O uso das faculdades genésicas de modo irresponsável e fora da Lei do Amor, revelando desvirtuamento ou depravação, ocasiona repercussões dolorosas para o Espírito no Além e na próxima reencarnação".

Talvez a mais grave condenação ao homossexualismo como prática (e não aos homossexuais, veja-se bem) esteja inserida no ótimo livro “Vampirismo” do filósofo J. Herculano Pires (Paidéia, 3a edição, 1991, capitulo IV, pág. 29). Palavras desse expoente do movimento espírita:

“O homossexualismo, nos dois sexos, por sua intensidade nas civilizações antigas e sua revivescência brutal em nosso tempo, é a mais grave dessas anormalidades que hoje se pretende declarar normais”.

“E é precisamente nesse campo, o mais visado pelo vampirismo desde os íncubos e súcubos da Idade Media até os nossos dias, que incidem hoje os destemperos criminosos dos libertinos diplomados”.

Em sua explanação, J. Herculano Pires considera os homossexuais como pessoas sujeitas ao fenômeno espiritual do vampirismo, em que uma entidade trevosa liga-se, em simbiose, ao perispírito de um ser encarnado para compartilhar energias polarizadas negativamente, no caso as sexuais.

Espíritos "íncubos" e "súcubos" seriam entidades pouco evoluídas que costumam “copular”, durante o sono, com pessoas sexualmente viciadas ou desviadas, impulsionando-as, em vigília, a práticas semelhantes, por uma espécie de pressão psíquica (quase) irresistível.

Numa das manifestações da lei de afinidade, “Espíritos de criaturas sensuais ligam-se a criaturas do mesmo tipo”, haurindo, nesse intercâmbio vicioso, energias sensuais de baixíssimo teor vibracional.

Nesse processo, desgasta-se o corpo físico do ente encarnado, minam-se suas defesas psíquicas, amoitam-se a sua espreita patologias extremamente perniciosas e estimula-se o apetite fluídico de vorazes criaturas do além, que, por sua vez, impulsionam o enfermo encarnado a novos desregramentos, fechando-se assim o ciclo.

Após tratar do aspecto científico de normalidade, Herculano Pires diz que “toda prática sexual que não corresponda a sua finalidade ao mesmo tempo equilibradora, produtora e reprodutora do organismo humano é anormal, acusando disfunções e desvios mórbidos no individuo e no grupo social”.

Qualquer justificativa dessas anormalidades não passa de sofisma atentatório da própria existência da espécie. Tal raciocínio é lógico e irrefutável.

Não se pode considerar normal um comportamento que, se aceito indistintamente por todos os seres, acabaria por levar a destruição desses mesmos seres, como é o caso do homossexualismo, em face da impossibilidade da sobrevivência da espécie humana pela reprodução.

Emmanuel, na obra “Mãe”, editado pela FEB alerta para a necessidade de fiscalizarmos nossos próprios desejos, pois “Todo pensamento acalentado tende a expressar-se em ação”.

Quase sempre, os que chegam ao além-túmulo, sexualmente depravados, depois de longas perturbações, renascem no mundo, tolerando moléstias insidiosas, quando não se corporifiquem em desesperadora condição inversiva, amargando pesadas provas como conseqüência dos excessos delituosos a que se renderam.

O que quer dizer que aquele que se excede nas práticas sexuais retorna a carne em condição inversiva, ou seja, no sexo oposto aquele no qual se excedeu, “amargando provas” das quais não deve fugir, pois nada mais são que o resultado de erros pretéritos no campo sexual.

Supõe-se, portanto, que os homossexuais seriam Espíritos que, encarnados, tiveram experiências exageradas e infelizes em sexo diferente do atual. Dai a atração compulsiva por pessoas do mesmo sexo, atração a qual devem resistir para seu aperfeiçoamento moral.

Emmanuel, em “O Consolador” (FEB, pergunta 184) esclarece que “Deus não extermina as paixões dos homens, mas fá-las evoluir, convertendo-as pela dor em sagrados patrimônios da alma, competindo as criaturas dominar o coração, guiar os impulsos, orientar as tendências, na evolução sublime de seus sentimentos”.

O nobre Espírito complementa dizendo que: “Observamos, muitas vezes, almas numerosas aprendendo, entre as angustias sexuais do mundo, a renúncia e o sacrifício, em marcha para as mais puras aquisições do amor divino”.

“Depreende-se, pois, que, ao invés da educação sexual pela satisfação dos instintos, é imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do sexo”.

Emmanuel, encerra o livro “Vida e Sexo” com a seguinte recomendação: “Diante de toda e qualquer desarmonia do mundo afetivo, seja com quem for e como for, colocai-vos, em pensamento, no lugar dos acusados, analisando as vossas tendências mais íntimas e, após verificardes se estais em condições de censurar alguém, escutai, no âmago da consciência, o apelo inolvidável do Cristo: Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.

O alerta do companheiro espiritual de Francisco Xavier vale pra todos nós no trato com os criminosos, com os desregrados do sexo, com os amigos e com inimigos, com estranhos e familiares. A lição é a da fraternidade, mas temos o dever (o dever, escrevi) de evangelizar, de instruir, de estudar, de orientar e de combater as falácias que se arrojam sobre o Espiritismo e que tem atrasado a marcha da humanidade rumo a redenção.

Uma delas é a tese da normalidade da cupidez e da concupiscência, tese que só é valida para aqueles que não pretendem ser verdadeiros espíritas, os que são reconhecidos pelo esforço que fazem para domar suas más tendências.

Compreender e respeitar é necessário. Instruir e evoluir é imprescindível. O Codificador deixou assentado nas páginas de “O Livro dos Médiuns” que os defeitos que afastam os bons Espíritos de nosso campo vibratório são “o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões que escravizam o homem a matéria” (capitulo XX, item 227).

Libertemo-nos e ajudemos outros a se libertarem, mas com caridade sempre.

Vladimir Aras Salvador – Boletim número 260 do Grupo de Estudos Avançados Espíritas (GEAE).