Meu reino não é deste mundo
Eliana Thomé
Jesus, a
eterna referência para o homem da Terra, não titubeou em afirmar que o seu reino não
era deste mundo. Se a Terra não é a morada do Cristo, a que reino então estaremos
sendo levados?
A
pergunta número 55 de “O Livro dos Espíritos” nos dá uma pista quando
fala da pluralidade dos mundos: Todos os globos que circulam no espaço são
habitados? Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como pensa, o primeiro
em inteligência, bondade e perfeição.
Entretanto,
há homens que se julgam superiores a tudo e imaginam que somente este pequeno
globo tem o privilégio de ter seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus
criou o universo só para eles. A Terra é assim a abençoada escola da alma imortal, que
nela estagia por longos períodos na purificação do próprio ser.
Da mesma
forma que o aluno, após ser diplomado, não precisa mais dos bancos escolares,
também o homem, depois de adquirir as virtudes pelas quais trabalhou em
sucessivas encarnações, não mais precisa estagiar em mundos materiais, podendo, a partir daí,
ter na Espiritualidade e em mundos mais evoluídos as experiências de que agora
carece.
Compreendendo
a grande escala evolutiva do ser e a necessidade de libertação do homem, Paulo,
o apóstolo dos gentios, alerta em carta aos Romanos que o reino de Deus não consiste
no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Espírito
Santo (Paulo, aos Romanos, 14:17).
A
primeira mensagem atesta a existência do plano espiritual e dos vários mundos que servem de asilo
para a alma na concretização de suas virtudes. A segunda, importantíssima, nos
dá a receita de como atingir os planetas em condições melhores que o nosso.
Ambas
são claras na necessidade de passarmos pela Terra sem nos deixar aprisionar por ela. Viver a vida material
lutando para que a matéria e tudo o que a engloba sejam elementos
providenciais, ferramentas que o Espírito encarnado deve manipular sem atritos
ou sangrias.
No
entanto, vemos nos dias de hoje a supervalorização de princípios calcados na
beleza do corpo e na posse de dinheiro e bens materiais, que estão longe de
constituir aquele passaporte que nos permitirá galgar um andar acima visando o mais alto
que nos aproximará do Pai.
Pode-se
ser belo, ter um bonito corpo e mesmo ter-se dinheiro. É a valorização em
demasia desses elementos que constitui obstáculo para alguns. De repente a beleza
passa a ser algo tão importante para certas pessoas que tudo sacrificam
por ela:
tempo, dinheiro, família, amizade etc., numa inversão completa dos valores.
E o
maior sacrifício, se assim podemos dizer, que Deus pede aos seus filhos, é que saibamos nos
amar uns aos outros. Perdemo-nos na vida na luta pela própria subsistência, enquanto o
trabalho, canal de ocupação e mecanismo de aplicação das forças e faculdades
humanas para alcançar um determinado fim, como ensina o Aurélio, torna-se, em nossa
visão pequena e egoísta, um empecilho da felicidade.
Devemos,
portanto, ocupar nosso tempo da forma mais positiva possível, distribuindo e
colhendo afetos por onde passarmos. Saibamos honrar cada dia como uma dádiva de
Deus aos filhos bem-amados. Aprendamos a viver dentro de nossas próprias capacidades, pois a espiritualidade
nada pode fazer quando a nossa imprevidência nos coloca em situações difíceis,
principalmente na questão monetária.
O
justo viverá pela fé, já nos alertava o sempre querido Paulo em carta aos Romanos (1:17).
Não apenas não
devemos misturar o espiritual com o material, no ensaio de uma miscigenação
impossível,
cada elemento é único em sua essência, como devemos honrar a oportunidade da
reencarnação assumindo todos os deveres que ela nos exige em nível social e
moral.
Jesus
deixou essa repartição bem clara quando salientou firmemente aos fariseus que
tentaram embaraçá-lo na questão dos impostos cobrados por César: É-nos
permitido pagar ou deixar de pagar a César o tributo? Jesus, lúcido quanto
à oportunidade da lição, responde firme: Dai, pois, a César o que é de César e
a Deus o que é de Deus (Mateus, 22:15-22).
Assim é
o mundo material, uma escola plena de desafios, cheia de grandeza e de grandes e
necessárias provas. Os que carregam seus fardos e assistem os seus irmãos são os
meus bem-amados, já nos alertava o Espírito de Verdade em mensagem inserida em
“O Evangelho segundo o Espiritismo” (cap. VI, item 6), na qual nos pede para
nos instruirmos na preciosa doutrina que dissipa o erro das revoltas e nos
mostra o sublime objetivo da provação humana, que é o de poder ingressar finalmente
nos mundos celestes ou divinos, habitações de Espíritos depurados, onde
exclusivamente reina o bem.
A Terra,
segundo o Espiritismo, pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive
o homem a braços com tantas misérias (ESE, cap. III item 4). É, portanto,
na Terra que devemos desenvolver a inteligência e sublimar o nosso mundo moral, a
alma, para
conseguir as virtudes necessárias que nos farão ingressar no reino colocado por
Jesus, sendo então como ele exemplo de bondade e perfeição.