Fabiano de Cristo
08/02/1676 – 17/10/1747
Em
Soengas, às
margens do rio Minho, Portugal, numa família pobre, como muitas daquele lugarejo, vivendo
de cuidar de ovelhas e, quando há colheita, são as uvas que ajudam a colocar
alguns níqueis nas casas paupérrimas, para que pudessem se alimentar melhor e
nutrir os filhos, no dia 8 de fevereiro de 1676, nasceu o novo "pastor de
ovelhas de Jesus", o menino recebeu o nome de João Barbosa, mais tarde
Fabiano de Cristo, reencarnação do Padre José de Anchieta.
Procurou
atender a todos os familiares, amigos e necessitados de todas as formas, com
dinheiro, remédios e alimentos. Mas Barbosa não estava satisfeito, algo dentro
dele o impelia para outras coisas. O que seria? Por que aquela insatisfação se possuía
tudo o que queria? Sobre negócios sua sorte era infinita, bastava colocar suas
mãos e o dinheiro se multiplicava.
Barbosa
chega a conclusão que deveria haver algo além do ouro. Sua alma pedia outros
caminhos. Tinha
quase que a certeza que sua verdadeira tarefa na Terra não havia ainda começado. Corre o ano de 1704.
Barbosa caminhava pensativo pelas ruas desertas daquela noite fria. Acabara de
atender a um pedido feito por uma família em alimentos e agasalhos. E agora o
que fazer? Continuava a sentir o vazio interior.
Repentinamente,
vê que muitas pessoas passavam desviando-se de algo estendido na calçada. Que
seria? Por quê não paravam para ver do que se tratava? Apressa os passos e
depara-se com uma pessoa a estrebuchar-se no chão frio. Parece que seu
sofrimento era de muitas dores. Abaixa-se e o recolhe em seus braços. Aquele corpo
estremecia e o suor escorria-lhe pelo rosto. Barbosa diz:
“Vamos
amigo, não tenha medo, procurarei ajudá-lo”. Barbosa sente algo estranho e
parecia-lhe que uma luminosidade partia do seu coração. De repente os olhos
daquele desconhecido abre-se e com dificuldades ele diz: “Fui vítima de
assaltantes”. Não fale agora. Aqui perto há uma hospedaria. Lá será mais
confortável e mais fácil tratá-lo.
Barbosa
não arreda pé e passa a noite tentando baixar a febre do pobre homem. Em meio
aos delírios, ele olha com ternura para Barbosa e procurando segurar uma de
suas mãos, ele diz: “Finalmente vens de encontro ao meu regaço”.
“Mas
quem é o senhor que parece conhecer-me? Sou aquele a quem há muitos séculos serves.
Voltastes a procurar-me porque cansaste de juntar bens materiais, mas vieste ao meu
encontro por procurares atender os aflitos, aplacando a fome do corpo. Mas seu
coração inundado de luz alcança muito mais. Para continuar a servir-me, vá onde
a dor é imensa”.
“Enxugue
as lágrimas maternais, ensine o caminho do Bem a quem desviar-se por
arrastamentos e tentações inferiores. Veja que é chegada a hora para ti, de
encontrares o verdadeiro tesouro que está nas Leis do nosso Pai”. - Mas quem é o senhor
afinal? - pergunta Barbosa aflito.
“Eu
sou o Cristo, meu filho e voltei para buscar-te e lembrar-te de tua verdadeira
missão. A
todos que servires, será a mim que estarás servindo. Portanto, dá tudo o que
tens e terás a vida eterna. Me terás por inteiro, e dessa forma trabalharemos
juntos a servir o nosso Pai”.
Grossas
lágrimas rolaram dos olhos de Barbosa que agora teria muito em que refletir. O
dia já amanhecera e Barbosa deixa a hospedaria sentindo o sol a querer
iluminar-lhe a mente. O dia foi angustiante para Barbosa. A noite fora de
insônia. Tudo estava confuso. As palavras que ouvira daquele homem ainda eram visíveis
em seus olhos e ouvidos. Renunciar a tudo, lhe pedira. Dizia ser o Cristo. Assim Barbosa
consegue, quase ao amanhecer, adormecer.
Vê-se na
espiritualidade. Uma figura meiga e luminosa, com um hábito franciscano
aproxima-se e sorrindo estende-lhe a mão. Barbosa, caindo de joelhos, diz
emocionado: “Francisco de Assis! - reconhecendo o grande amigo de outrora. “Pois
bem, meu irmão (diz Francisco de Assis), se seu coração anseia em amparar os
aflitos e servir ao Senhor Jesus, vem comigo.
Mas
tenho que despojar-me dos bens terrenos. O "pobre de Deus" falou-lhe
brandamente: “Os bens da vida eterna é que devem ser entesourados, Barbosa”. De agora em diante, o
Evangelho será o seu tesouro maior. Não percas mais tempo.
Aplique-o
na prática da caridade maior, entre todos. Você não precisará mais percorrer
muitos lugares para falar da paz e do amor de Cristo. Muitos irão
procurá-lo e você irá orientar-lhes para que encontrem o Reino de Deus.
Para que
você trabalhe com tranqüilidade, seu trabalho será de cargo singelo. Seu
coração se nutrirá de paciência e resignação. Seu corpo sofrerá para que liberto
seja o seu espírito das tentações da carne. Aos poucos as palavras de Francisco de Assis
iam ser tornando incompreensíveis e a figura desaparece.
Barbosa
abre os olhos, despertando e sem saber porque o “Convento de Santo Antônio”, ali
mesmo no Rio de Janeiro, surgiu em sua memória. Era ali que ele daria continuidade à
sua missão na Terra. E um sorriso de felicidade abriu-se em seu rosto. Barbosa desfez-se de
todos os seus bens terrenos. Doa primeiramente ao Convento de São Bernardino de Sena,
em Angra dos Reis, e após vai ao Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro,
isto por volta de 1705.
Com sua
característica simples, já vestindo o hábito franciscano, pés descalços, bate à porta do
Convento e é recebido pelo Superior. Este recebe Barbosa com alegria e agradece ao
dote recebido. Barbosa emocionado diz que gostaria de ali permanecer para
servir, aprendendo a amar o semelhante como Jesus ensinou em suas lições.
Se é o
seu desejo - fala o Superior -, mesmo sabendo que a função que você aqui
desempenhará é a mais humilde, porque você é leigo. Sua vida será completamente
diferente, sem luxo algum. Seu quarto será uma simples cela, tendo apenas um catre e
uma pequena mesa com uma cadeira e uma jarra com um copo de água, para aplacar sua sede.
Sua
função será o de porteiro do Convento de Santo Antônio.
Estou
feliz, senhor! Agradeço por permitir que eu ingresse neste local e que possa
tornar útil esta minha vida, em contato com a dor alheia. Pois então seja bem vindo
e que Deus o abençoe. De agora em diante seu nome será Fabiano de Cristo, por tudo ter
renunciado em nome de Jesus Cristo.
Fabiano
de Cristo começava sua nova vida. Ali ouviria o semelhante, choraria com suas
dificuldades físicas e espirituais, porém, saberia que dessa forma estaria com
o Mestre Jesus. Lágrimas rolaram mais uma vez pelas faces do agora Frei Fabiano
de Cristo, cuja única bandeira que levantaria de ora em diante seria
"Caridade".
No
momento de sua elevação ao Senhor, sentiu o envolvimento da presença fraterna
de seu patrono, Francisco de Assis. Fabiano realizava sua tarefa com todo amor.
Consolava a todos os aflitos, curava chagas profundas, físicas e espirituais. Desdobrava-se com
facilidade e socorria enfermos a grandes distâncias.
Sua fama corria por todos os lugares. Ele nunca dizia-se cansado, estava sempre disposto, apesar de sofrer profundamente com uma grande ferida em sua perna, que provocava dores intensas, mas Fabiano não reclamava. Nenhum dos seus companheiros do Convento o viu alguma vez reclamar de dor ou de cansaço.
Mesmo
sem ter conhecimento em enfermagem, recebeu o cargo de enfermeiro em 1708, pois a
medicação usada por ele nas doenças físicas e espirituais, era a água
fluidificada pelas suas mãos, e pelas suas preces à Virgem Maria de Nazaré. Este procedimento de
Fabiano em apenas administrar água para os enfermos e logo após vê-los curados,
chamou a atenção do Dr. Fortes que voluntariamente atendia também no Convento e
em seu consultório.
Fabiano
o auxiliava em tudo, por isso, certa feita, Dr. Fortes chamou Fabiano e lhe
falou: Observo
Frei a sua dedicação para com os enfermos, e sei que nada mais fazes do que dar
e limpar as feridas com a água. Vejo que logo após, os doentes melhoram e
curam-se rapidamente. O que há nessa água? Qual a medicação que colocas nela?
Nada
mais faço que orar, senhor. Peço ao nosso Pai e a Jesus, o verdadeiro médico,
que ajude a sarar os ferimentos da alma e do corpo das criaturas. Se for da vontade do
Pai, o doente se cura também por sua fé.
Creio
que se o senhor fizer o mesmo, Ele o atenderá com muito mais facilidade, pois o
senhor é mais sábio que eu em cultura e conhecimento médico. Eu nada sou. Sabe-se que desse dia
em diante o Dr. Fortes era visto muitas vezes com as mãos sobre o copo de água
antes de dá-la aos enfermos.
Muito
realizou o grande Fabiano de Cristo. Trabalhou durante 38 anos de completa dedicação
à porta do Convento e em atendimento de socorro por toda a parte. Era profundamente
respeitado por todos. Sua presença humilde restabelecia a paz por onde
passasse.
Previu
seu desencarne três dias antes. Avisou seus companheiros desse acontecimento. Era
14 de outubro de 1747. Fabiano dirige-se ao Superior do Convento para se
despedir e também obter licença para abraçar um por um dos enfermos e dos
amigos que ali encontrou, e que agora teria de deixá-los.
Para
onde irás, caro Fabiano? Pretendes viajar? Sim, uma longa viagem, mas irei
feliz. Creio
que Deus me quer em outras paragens. O Superior entendeu a que Fabiano se
referia.
Profundamente emocionado, abraça aquele velhinho que com setenta anos, os viveu
apenas para os semelhantes.
No dia
seguinte, 15 de outubro de 1747, Fabiano ainda alentava os enfermos,
confortando-os com suas preces. Dia 16 de outubro de 1747, todos querem
adentrar na cela onde Frei Fabiano de Cristo ocupa. Querem retribuir, de certa
forma, o carinho que sempre receberam daquele enorme coração. Lágrimas rolam de
todas as faces. Como viver sem a presença desse que transmitia só amor e
alegria? Onde buscar alegria para vencer a dor? E Fabiano ainda respondeu: Em Deus, meus filhos.
Procurem estar sempre no regaço do Cristo. Só Ele poderá ajudá-los, nunca
esqueçam disso! Dia 17 de outubro de 1747. Fabiano de Cristo desencarna.
Uma
romaria imensa vai em direção do Convento de Santo Antônio. Todos querem levar
o adeus àquele que de pés descalços, adentrou aquele Convento para mudar o rumo
daqueles corações e de outros que na porta encontravam a semente do Amor e da Luz do
Mestre Jesus.
Legiões de espíritos vêm ao encontro de Fabiano. Deixa ele aquele corpo para, em espírito, continuar espalhando seu perfume por onde passa e envolver em luz muitos corações que elevam a ele suas preces, pois o retorno é de paz e fortalecimento renovado.
"O
Pai dos Pobres partia da Terra, mas está eternamente em cada ser",
retribuiu com estas palavras seu eterno companheiro Francisco de Assis.
Compilado do Seareiro – órgão divulgador do
Núcleo de Estudos Espíritas “Amor e Esperança”
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