Ambições psicológicas e transtornos de conduta
Joanna de Ângelis (espírito) Divaldo P. Franco
Infelizmente,
o ser humano atual renasce num contexto cultural imediatista, utilitarista, em que
os valores reais são postos em plano secundário e é-lhe exigida a conquista daqueles
que são de efêmera duração, porque pertencemos ao carreiro material.
A
formação cultural e educacional centra-se especialmente na meta em que se
destacam os triunfos de fora, as conquistas dos recursos que exaltam o ego, que o
alienam, que entorpecem os melhores sentimentos de beleza e de amor, substituídos pelo poder
e pelo ter, através de cujos significados acredita-se em vitória e triunfo
social, econômico, político, religioso ou de outras denominações.
Raramente
se pensa na construção interior saudável do ser que (re) inicia a jornada
carnal, incutindo-lhe
as propostas nobres da auto realização pelo bem, pelo reto cumprimento do dever, pelas
aspirações da beleza, da harmonia e da imortalidade.
Todos
como de significação modesta, que se os podem reservar para a velhice ou para
quando se instalem as doenças, tal filosofia da comodidade suplanta a busca do
equilíbrio emocional e moral, porquanto se mantém no patamar dos prazeres sensoriais.
Perante
esse comportamento, o egoísmo assinala o percurso da preparação do ser jovem, insculpindo-lhe na
mente a necessidade de destacar-se na comunidade a qualquer preço, o que o perturba nesse
período de formação da personalidade e da própria identidade, tomando como
modelo o que chama a atenção: os comportamentos exóticos, alienantes, as
paixões de imediatos efeitos, sem que os sentimentos educados possam fixar-se nos
painéis dos hábitos para a construção da conduta do futuro.
Ressumam
as culpas que lhe dormem no inconsciente e ressurgem as qualidades negativas,
que deveriam ser corrigidas, mas que encontram campo para se expressar através da irresponsabilidade
moral e comportamental em uma sociedade leniente, que tudo aceita, desde que
esteja nos padrões do exibicionismo, da fama, da fortuna, da transitória mocidade
do corpo e da sua estética.
Paralelamente,
apresentam-se
os vícios sociais como forma de participação dos grupos em que se movimenta, iniciando-se pelo
tabaco, a seguir pelo álcool, quando não se apresentam simultaneamente, abrindo
espaço para as drogas alucinógenas e de poder destrutivo dos neurônios, do
discernimento, da saúde orgânica, emocional e mental.
Nessa
conceituação, o importante é o prazer, e tudo se aceita como natural, normal,
alegre, mesmo
que seja à custa de substâncias químicas devastadoras e de comprometimentos
sexuais desgastantes.
A
cultura jaz permissiva e cruel, na qual a ética e a moral são tidas como amolecimento
do caráter, debilidade mental, conflito de inferioridade com disfarces de
pureza, em
lamentável ironia contra os tesouros espirituais, únicos a proporcionarem saúde
real e equilíbrio.
Lentamente,
o exibicionismo do crime que se torna legal estimula ao desrespeito às leis da
vida, quando
os multiplicadores de opinião e pessoas ditas famosas, mais pela exuberância do
desequilíbrio do que pela construção edificante, apresentam-se na mídia para narrar as
experiências dolorosas dos abortos praticados, das traições conjugais, das
mudanças de parceria em adultérios chocantes ou relacionamentos múltiplos e
promíscuos, como sendo os novos padrões de conduta.
Marchando
para a decrepitude que não demora para se lhes instalar no organismo gasto nas
futilidades e na corrupção, subitamente se dão conta de que se encontram no exílio,
ao abandono, no esquecimento, graças ao surgimento de outros biótipos mais
ousados e paranóicos, experimentando remorso e fazendo lamentáveis quadros de depressão
tardiamente.
A medida
que a velhice lhes devora a vitalidade orgânica e a morte se lhes avizinha,
quando os não surpreende nos bacanais, nas overdoses, na luxúria e no
despautério, desesperam-se e buscam novos escândalos para serem notícias que
desapareceram da mídia que os explorou e consumiu, logo se apagando no
silêncio do anonimato ou sendo estigmatizados pelos novos deuses de ocasião.
Nesse
ínterim, manifestam-se os transtornos psicológicos, nas áreas da afetividade,
da conduta, das emoções. Sem as necessárias resistências morais para os enfretamentos
naturais
que ocorrem com todos os seres vivos, apegam-se à negativa, posição cômoda para
justificar a falta de valor íntimo, permitindo que a sombra lhes passe a governar
os sentimentos angustiados.
Abre-se-lhes,
então, a comporta emocional para a fuga psicológica e a transferência de
responsabilidade para os outros, variando de algoz e sempre culminando no
governo, em Cristo ou mesmo em
Deus. Essa conduta resulta da necessidade de realizar a compensação
interna, libertando-se do auto enfrentamento para se transformar em vítima da
família, da sociedade, da vida.
O significado
da existência encontra-se também no transcurso em que se viaja na direção da
meta colocada como determinante para o bem-estar. Nesse sentido, é necessário
manter-se em atitude receptiva em relação aos donos do existir, retirando os
melhores resultados de cada momento, sem angústia nem projeção para o objetivo
pelo qual se luta.
Qualquer
indivíduo que aspira ao bem e ao amor trabalha-se interiormente e recorre aos
relacionamentos afetivos ou não, experimentando satisfação a cada momento, porque a experiência
da ambos os sentimentos transforma-se em alegria de viver pelos conteúdos de
que se revestem.
Há muita
coisa no mundo da ilusão de que não se tem necessidade. Nada obstante, o apego egoico às
quinquilharias, às quais se atribui valor, atormentam o ser que as não possui, levando-o a uma
permanente inquietação para aumentar a posse, acumulando inutilidades em
detrimento dos bens internos que enriquecem a vida.
A
preocupação em consumir é contínua, sem valorizar realmente as bênçãos de que
se encontra investido na saúde, na lucidez mental, nos movimentos harmônicos,
na afetividade compensadora. Seria ideal que cada um que desperta para os bens
imateriais possa afirmar, sorrindo: “Quanta coisa eu já não necessito! Agradeço,
portanto, a Deus, a dádiva de haver superado essa fase da minha existência.”
Vencendo
o conflito e o transtorno psicológico, a emoção gratulatória assoma e a satisfação
existencial toma sentido no constructo pessoal. Quando surgem os pródromos da gratidão,
mesmo diante do que se considera falta ou insucesso, percebe-se a conquista da
normalidade emocional e mental do indivíduo.
Anteriormente,
as cidades celebrizavam-se pela presença das suas catedrais, cada qual mais
suntuosa, demonstrando o poder e a grandeza da urbe. Na atualidade, aqueles santuários
vêm sendo substituídos pelos shoppings centers e pelos motéis atraentes e
perversos.
Houve de
alguma sorte, a superação da beleza, da arte, da fé religiosa, mesmo que
arbitrária anteriormente, para o consumismo, o tormento das aquisições e o
relaxamento no prazer sexual de origem duvidosa e de efeitos perturbadores.
Em razão
disso, surgem as crises, cada uma delas mais vigorosa, até o momento em que
o indivíduo desperta para a mudança interior, agradecendo aquilo que lhe constituiu
desventura e o despertou para a realidade.
Pessoas
que tiveram morte clínica e retornaram, que estiveram a um passo da desencarnação por
acidentes, que foram vítimas de ocorrências danosas, de perdas significativas,
logo superado o período de aflição, mudam de conceituação a respeito da vida e
dos seus valores. Tornam-se agradecidas ao que lhes aconteceu.