Gratidão

Meta essencial da existência humana
Compilado do livro Psicologia da Gratidão
Joanna de Ângelis (espírito) Divaldo P. Franco

Visitado pelos transtornos emocionais de qualquer etiologia: ansiedade, anorexia, bulimia, distimia, medo, solidão, depressão, dentre outros, o indivíduo debate-se em aflições íntimas sem a capacidade mental lúcida para discernir a melhor maneira de conduzir-se.

A queixa e a reclamação constituem-lhe bengalas psicológicas em que busca apoio para a manutenção do estado mórbido, inconscientemente reagindo às possibilidades de refazimento e recuperação.

O sofrimento decorrente atira-o ao abismo do egotismo e da autocomiseração, tornando-se incapaz de adotar a conduta afetiva indispensável para a vigência da gratidão, o que lhe caracteriza o primarismo emocional.

Havendo, no entanto, amadurecimento psicológico, apesar da injunção penosa, dá-se conta do empenho que lhe cumpre desenvolver, de modo que conquiste a harmonia, ora desorganizada.

O self lúcido, sofrendo o impositivo da sombra, aturde-se, e o ego enfermo predomina, criando dificuldades para a recuperação da saúde emocional.

Graças ao desenvolvimento psicológico, o impositivo da disciplina moral e o cultivo dos hábitos saudáveis proporcionam a vitória sobre os transtornos emocionais, evitando que se instale a depressão com toda a carga de prejuízos que proporciona.

Os estímulos que defluem do hábito de pensar corretamente contribuem para a produção dos neurotransmissores do bem estar e o self termina superando as imposições malsãs, controlando o comportamento que restaura a saúde.

Nesse embate exitoso, o sentimento de gratidão exterioriza-se como significativas emoções de reconhecimento que facultam experiências psicológicas de plenitude.

Equivocadamente se pensa em gratidão quando somente sucedem as ocorrências felizes, quando são recebidos benefícios de qualquer tipo, dando lugar à retribuição como maneira ética do bom proceder.

Não desmerecendo o seu valor significativo, defrontamos, no caso em tela, vestígios de egotismo, por significar reconhecimento pelo bem que ao ego foi oferecido, e não pelo prazer de ser-se agradecido.

A gratidão real e nobre vai além da retribuição gentil, afável e benéfica, manifestando-se também nas situações desagradáveis de dor, reafirmamos, de sombra, de enfrentamentos agressivos. Diante das mais graves tragédias, sempre se encontram razões para as manifestações gratulatórias.

Situações funestas que surpreendem em clima de terror e de debilitação das forças morais podem ser encaradas com menos angústias se pensar-se que, estando-se vivo, sempre haverá como lhes diminuir as conseqüências perversas e cáusticas.

Enquanto se pode lutar, embora as circunstâncias negativas, dispõe-se de possibilidades de futuro encantamento e prazer, construindo-se novos fatores de alegrias e de paz, superando a noite tempestuosa e encontrando o amanhecer benfazejo.

Situações que parecem insuportáveis, quais aquelas dos fenômenos sísmicos destrutivos, do terrorismo e de outros crimes hediondos, quem os sobrevive dispõe de recursos morais e emocionais para louvar e agradecer.

Isso porque, permanecendo a existência orgânica, dispõem-se de meios para se diminuir os danos e reiniciar experiências evolutivas, tendo em vista que a vida verdadeira encontra-se além das dimensões somáticas.

Ademais, a filosofia das vidas sucessivas leciona que tudo quanto acontece ao ser humano, especialmente no que diz respeito ao sofrimento, e não foi ele quem o provocou, procede-lhe do passado espiritual, sendo, portanto, para o seu próprio bem.

Quando Jesus enunciou que no mundo somente se teriam tribulações, não apresentou uma tese pessimista, mas realista, em razão do processo evolutivo em que estagiam os Espíritos no corpo físico domiciliados.

Complementando o ensinamento, Ele aduziu: “{...} mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”, demonstrando que o êxito é natural e inevitável se houver o empenho e a dedicação para consegui-lo.

Desse modo, ao invés do receio e da rebeldia ante tais insucessos, a bênção da gratidão, porque a dor somente se expressa como investimento da vida em favor da plenitude do ser.

Nenhuma conquista ocorre sem o contributo do esforço, da temperança, da constância, do sacrifício. A inquietação de um momento, examinada com cuidado e bom direcionamento, resulta na paz de outro instante.

Nos denominados livros sagrados de todas as religiões, que sempre exerceram um papel psicológico significativo no desenvolvimento das criaturas, à gratidão são reservados textos e páginas de conteúdo enriquecedor, envolvendo as emoções em encantamento e saúde como resultado desse comportamento.

A Bíblia, por exemplo, é portadora de momentos ricos de exaltação ao sentimento gratulatório tanto no Velho como no Novo testamento.

O Livro de Jô, por exemplo, oferece  testemunho do amadurecimento psicológico de alguém que ama a Deus e que, mesmo sob o açodar da vicissitudes, O exalta e agradece a miséria, a enfermidade e a perda dos filhos, dos rebanhos, dos escravos e dos servos. Essa conduta favorece-o com a restituição de tudo quanto se havia diluído durante o infausto período anterior.

Os Salmos cantam as glórias da vida e convocam ao júbilo perene, seja em qual condição esteja o ser humano. E o evangelho de Jesus é uma sinfonia de gratidão entoada em todas as fases do seu ministério. Quando ele enunciou que nos trazia boas novas de alegria, propôs-nos a felicidade, e esta, de imediato, adorna-se de gratidão.

O desenvolvimento emocional alarga os horizontes mentais do ser humano, contribuindo para a sua auto realização. Nesse estágio experienciam-se conquistas íntimas relevantes: autoconsciência, tranqüilidade, espírito de solidariedade, bem-estar e amor pleno.

Atingida essa faixa vibratória, pode-se viver no mundo sem as mesquinhezas do ego e suas deploráveis imposições: ciúme, insegurança, competição, medo e seus sequazes.

Nesse clima, o mal dos maus não faz nenhum mal, porque se lhe percebe o primarismo, a inferioridade, entendendo-o, desculpando-o e contribuindo para a sua erradicação. A postura inevitável em circunstância desse porte não pode ser outra senão a da gratidão.