Nas Fronteiras da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco
Centro Espírita Nosso Lar – Grupo de Estudos das obras
de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda.
54. Como os Benfeitores agem
A genitora pediu ao Mentor
fosse seu filho tratado no Posto de Socorro, antes de ser transferido para
outra estância. Dr. Bezerra aquiesceu e o irmão Artur, valendo-se de um pequeno walkie-talkie,
solicitou ao Acampamento enviasse veículo e padioleiros para o transporte de
novo paciente.
Ali mesmo, sob o carinho
dos familiares, ele foi socorrido com passes que o amolentaram, auxiliando-o na desintoxicação
psíquica de que necessitava,
com o que adormeceu. Mais tarde, Philomeno soube que no instante da reflexão
profunda do Dr. Bezerra, ao ser avisado da tentativa de suicídio de Noemi, o
Mentor fizera uma consulta aos Centros de Informação da esfera espiritual, a respeito do conteúdo obsessivo do
problema, simultaneamente quem se encontrava envolvido e como alcançá-lo.
Enquanto se dirigiam ao
Hospital, Mensageiros
providenciaram a vinda dos familiares do perseguidor, que também aguardavam oportunidade como
aquela, a fim de atingi-lo para a sua redenção. Logo que pôde, Philomeno
indagou: "Se o nosso irmão persistisse no erro, no propósito nefasto, que
recursos seriam utilizados?" Dr. Bezerra respondeu: "Não há força que suplante o
amor.
Recorrendo à fonte
sublime do Amor Sem Limite, através da oração, fomos visitados pela resposta
superior do Céu, que o dulcificou, num átimo, fazendo-o recordar-se da própria
filhinha, que um dia fora raptada da sua companhia. O amor que nele estava enfermo, escravo
da revolta, rompeu as amarras e ele cedeu, o que lhe facultou sintonizar com os afetos familiares, convidados para aquele momento". E
acrescentou: "Não nos esqueçamos do ensino sempre atual de Jesus: Pedi e
dar-se-vos-á; É necessário pedir, saber fazê-lo e esperar com
receptividade". (Cap. 13, pp. 102 a 104)
55. O lar de Noemi
Ao saírem do Hospital, o
Mentor e Philomeno ficaram conhecendo Enalda (a viúva de Artur) e Cândido, o
esposo de Noemi, que lhe havia ministrado os primeiros socorros em seguida à
tentativa de suicídio. Artur contou que sua filha renascera naquele lar, sob o impositivo de grave
provação, com raízes no passado. Enalda sofrera oportunamente penosa injunção em relação a ela, o
que a circunstância maternal deveria anular, através do amor e do perdão.
Portadora, no entanto, de caráter débil e voluntariosa nos
caprichos femininos, a mãe agravou a situação com sérios deslizes morais. Imatura, no que tange aos compromissos
nobres, a viúva não aprendera a valorizar o tempo, em favor da própria
ascensão, e sonhava com os prazeres extenuantes, a que gostaria de se
entregar, pouco lhe importando as conseqüências perniciosas que adviessem.
A viuvez um tanto súbita
pareceu liberá-la. Artur prosseguiu dizendo que a formação religiosa do casal
não fora das melhores.
"Vinculamo-nos, disse ele, a uma doutrina ortodoxa, mais por praxe do que
por convicção e sentimento, praticando o culto sem aprofundamento nas lições
que ouvíamos. De minha
parte, encontrava dificuldades para uma aceitação racional e profunda dos seus
postulados, que me não pareciam responder às questões atormentantes que
defrontamos no dia-a-dia. A filosofia do dogma, em caráter de fé cega,
repugnava-me."
Ele resolveu então, sem
se afligir com o que não concordava na religião, adotar um comportamento
coerente com o mandamento maior, que recomenda "O amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo", por
compreender que ele sintetizava a Lei e os seus profetas, constituindo a base
dos ensinos morais de Jesus. A esposa, por sua vez, aceitava o comportamento
religioso, sem compromisso moral com a fé. "Agora compreendo porque, disse
ele, ao considerar que ela
reencarnou sob macerações íntimas resultantes da existência anterior que não
pôde superar." (Cap.
14, pp. 105 e 106)
Artur explicou, na
seqüência de sua narrativa, que o casamento de Noemi com Cândido não estava nos planos do seu
processo regenerador. Sentindo-se
desamada, no lar, um tanto só e carente, ela transferiu a afetividade que
deveria ser educada para vivência no momento próprio, para o jovem, igualmente
irresponsável.
Sob o apoio de Enalda,
que se encantou com o rapaz, precipitou acontecimentos que o livre-arbítrio
atraiu para complicação deles mesmos. Passados os primeiros meses de convivência, surgiram as desinteligências
por coisa nenhuma. Pequenos
arrufos, discordâncias de opinião, remoques de parte a parte tornaram-se
habituais, e Enalda, deixando-se
fascinar pelo genro, sustentava-lhe as falsas razões, dando-lhe injustificável
apoio, em detrimento da
orientação e cuidados que lhe competia distender à filha.
Para culminar, a contínua
aproximação entre sogra e genro, apesar da imensa diferença de idade, degenerou em relacionamento delituoso
dentro do próprio lar. Enalda
e Cândido, entregues à licenciosidade, não se davam conta de que Noemi percebia
o comportamento de exagerada amizade entre ela e o esposo. Agasalhando as
farpas do ciúme, pôs-se de guarda a relacionar pequenos fatos que lhe
consubstanciavam a suspeita.
Nessa tormentosa situação
mental e moral, todos
atraíram seus inimigos desencarnados, abrindo campo aos processos de cruel
indução obsessiva que passaram a corporificar-se. O Espírito perturbador, que acabara de ser resgatado da
alucinação de que padecia, fora antiga vítima de Noemi, envolvida no rapto de
sua filhinha na anterior existência.
"Como sabemos, comentou
Artur, somente sucedem
obsessões, porque existem endividados. Todo obsessor, por mais insensível e cruel, é somente alguém
doente, que se viu traído e não tem sabido ou querido superar a condição de dor
a que foi arrojado." "Enquanto
não luz o perdão na antiga vítima e a transformação moral do infrator, a
problemática aflitiva prossegue, mudando apenas de forma ou de atitude de quem
persegue e de quem é perseguido." Foi isso que fez com que ele passasse a inspirar Noemi, de maneira
a surpreender Enalda e Cândido.
Magoada, era-lhe mais fácil aceitar a idéia
infeliz do que o pensamento de coragem de Artur, seu pai, que tentava ajudá-la
a superar esse momento difícil, como ocorrera na semana anterior, quando pôde falar-lhe, na
esfera dos sonhos, demonstrando-lhe que as vítimas são sempre mais felizes,
senão hoje, mais tarde. (Cap. 14, pp. 107 e 108)
57. Traição e violência
Artur contou que
incentivara a filha a ter paciência, porque em breve Cândido
mudaria de atitude em relação a Enalda, que somente estava a despencar em
abismo de difícil saída. "Assim lhe expliquei, relatou o amigo, após
ouvi-la relatar o drama que a dilacerava intimamente. Retrucou-me, informando que só uma
atitude de dura vingança poderia lavar-lhe a honra ultrajada pelo esposo e
pela genitora.
Aquiesci, e
apresentei-lhe a vingança
em termos de perdão e prosseguimento no reto dever, sugerindo que instasse com o marido
para realizarem uma viagem e, na volta, assumirem a responsabilidade de ter a
casa em que fossem viver as próprias experiências, com mais simplicidade, o que
lhes era possível, sem outra, senão a tutela de Deus."
Noemi, informou Artur, chorou
muito e despertou sob a
impressão de haver estado realmente com o pai. Falou então ao marido, sem deixar transparecer as
suspeitas, a respeito da necessidade de fazerem uma pequena viagem,
aproveitando os dias do Carnaval, quando conversariam com calma sobre o
futuro. Ele, porém, opôs-se a sair do Rio no período momesco, desgostando-a e predispondo-a à ação maléfica que
lhe era induzida pelo adversário desencarnado.
"Na manhã de hoje
Noemi, duramente hipnotizada
pelo inimigo, foi inspirada a armar uma cilada, na qual tombaria, como
vimos", prosseguiu o
amigo. "Planejou visitar amigos, prometendo retornar após o almoço e
deixando os doentes morais desimpedidos, para que dessem curso às paixões
dissolventes." O plano fora bem urdido, porque, logo a jovem se afastou,
os levianos entregaram-se à desordem moral, sem qualquer escrúpulo.
Retornando quinze
minutos depois, sob a alegação de haver esquecido algo, entrou no lar e
surpreendeu a ambos. Tresvairada, discutiu com os infelizes traidores e, porque Cândido a esbofeteasse,
correu na direção do banheiro, onde tentou seccionar as veias, agora sem a
imposição mental do perseguidor, que desejava deixar sobre ela a responsabilidade do gesto louco.
"A minha carência de valores não pôde impedir os acontecimentos,
demorando-me em prece até o momento em que vos vim rogar auxílio",
concluiu Artur. (Cap. 14, pp. 108
a 110)
“A publicação do estudo continuará
nas próximas semanas”