Ter uma crença religiosa influencia na saúde?
Dr. Luiz Antônio de Pádua (médico psiquiatra)
Em 1947, a Organização Mundial
da Saúde definiu, um avanço para a época, que “a saúde não é apenas a ausência de
doença, mas o estado mais completo de bem-estar físico, psíquico e social”. Desde então o conceito
evoluiu muito, pois novas dimensões do homem têm sido consideradas e que muito
afetam o seu bem-estar.
Um
importante aspecto do homem integral, a espiritualidade, tem sido negligenciado
pela nossa cultura orientada pelo reducionismo materialista. Entretanto, cientistas
de vários ramos da ciência, como antropólogos, médicos, biólogos, filósofos,
físicos etc. têm demonstrado que a religiosidade e, consequentemente, a espiritualidade é intrínseca
ao homem.
Alguns
estudos chegaram ao ponto de levantar a hipótese de que nossa configuração
cerebral, determinada por nossos genes, compeliu o homem à crença em Deus e na
alma. E
que esta função teria grande importância evolucionária, pois foi a partir dela
que o homem tornou-se gregário e veio a desenvolver a fala. Em outras palavras,
foi a
religiosidade inata que nos fez tal como somos.
Conquanto
haja tais constatações, cientistas agnósticos e ateus insistem em atribuir tais
características ao acaso, esse extraordinário “Acaso” que teceu o fio
condutor da evolução das espécies até o homem, e determinou leis perfeitas que
sustentam o Universo. Talvez “Acaso” seja o novo nome de Deus.
Grandes
centros acadêmicos de pesquisa em todo o mundo, incluindo Alemanha, Reino Unido,
Estados Unidos e até mesmo o Brasil têm realizado estudos e pesquisas sobre saúde
e espiritualidade. Dentro do mais acurado rigor científico pesquisam como a
oração, a fé, a religião, isto é, a espiritualidade, desempenha importante
papel na manutenção da saúde e do bem-estar, assim como na recuperação mais célere
das enfermidades.
No
Brasil, os
estudos têm sido realizados em várias Universidades , principalmente nas
públicas,
como USP, UNIFESP, UNICAMP, UNESP, Universidade Federal do Ceará, Universidade
Federal do R. G. do Sul e Universidade de Brasília.
Nos
Estados Unidos, destaca-se o Duke’s Center para estudos da Religião e da
Espiritualidade, da renomada Universidade de Duke. Merece citação os
trabalhos de pesquisa liderados pelo seu diretor, o médico Harold Koenig, Ph. D,
e que é autor do livro já traduzido para o vernáculo, “Manual de Religião e
Saúde”.
Os
trabalhos de Harold Koenig têm demonstrado inequivocamente que “os praticantes
ativos de uma crença podem obter benefícios físicos e mentais, entre eles, um sistema
imunológico mais resistente e menor propensão a determinadas doenças, bem como
melhor capacidade de recuperação de enfermidades”.
O médico
Fernando Lucchesse, doutor em cardiologia e professor dos cursos de mestrado e
doutorado da Universidade Federal do R. G. do Sul, define saúde de uma forma
muito mais completa: diz que é o bem-estar físico, psíquico, familiar, financeiro,
profissional, ambiental e espiritual.
Refere
que 70% das mortes ocorrem em decorrência de três epidemias que vivenciamos na
atualidade: aterosclerose, depressão e neuroses, que por sua vez têm
decisivo impacto nas causas de infarto, acidentes vasculares cerebrais e
câncer.
O Dr.
Lucchesse afirma que a alma doente adoece o corpo e que, em especial, o “trio maléfico”
composto pela raiva, inveja e vaidade são os maiores vilões. Diríamos nós que este
trio está presente em todos aqueles que inconsciente ou conscientemente praticam o egoísmo,
tido pelo Espiritismo, juntamente com o orgulho, como razão principal para a
infelicidade humana.
Se viver
é a arte do encontro, o mais importante encontro é conosco mesmo, com a nossa
realidade essencial. E a espiritualidade faz parte desta realidade, conquanto preterida
e ignorada pela insana adesão aos falsos valores do ter a todo custo, do
consumismo compulsivo e da comparação com os outros (inveja).
O
despertar da espiritualidade e o seu cultivo far-nos-á reconciliados, serenos, mais
saudáveis e, sobretudo, mais felizes com o que temos e com o que somos. Não é o
que as religiões dizem, mas o que a ciência está a reconhecer e recomendar. “Buscai, em primeiro
lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas” Jesus - Mateus 6, 33.
Luiz Antônio de Paiva é médico psiquiatra
vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Goiás.