Nas Fronteiras da Loucura – 15 Parte

Nas Fronteiras da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco

65. Como enfrentar as borrascas da vida

Reportando-se ainda aos que advogam, por receio, o fechamento do Centro Espírita nos dias de Carnaval, Genézio Duarte asseverou: A Sociedade Espírita que se sustenta na realização dos postulados que apregoa, tem estruturas que a defendem, de um como do outro lado da vida.

Depois, cumpre aos dirigen­tes tomar providências, mediante maior vigilância em tais oca­siões, que impeçam a intromissão de desordeiros ou doentes sem condi­ção de ali permanecer. Acautelar-se, em exagero, do mal, é duvidar da ação do bem; temer agir corretamente constitui ceder o campo à insâ­nia.

Nestes dias, nos quais são maiores e mais freqüentes os infortúnios, os insucessos, os sofrimentos, é que se deve estar a posto no lar da caridade, a fim de poder-se ministrar socorro. Genézio contou então o caso de um abnegado servidor da mediunidade que se queixou ao Mentor do grupo acerca das dificuldades que o sitiavam, em forma de familia­res exigentes, amigos ingratos, fragilidade na saúde, interfe­rências espirituais negativas.

Após relacionar os fortes impedimen­tos, ro­gou ao Benfeitor que o orientasse no procedimento a manter. O Mentor respondeu-lhe narrando uma pequena história segundo a qual um anjo, ao preparar um pupilo para vir à Terra, deu a este, durante o treinamento, um guarda-chuva; tempos depois, galochas, e mais tarde cha­péu e capa impermeáveis, sem lhe dar maiores explicações.

Um dia come­çou a chover torrencialmente e o candidato à elevação gritou: Anjo bom, chove! Que faço? O orientador respondeu-lhe, sem delongas: Use o material que lhe dei. O Mentor disse, então, ao servidor que se queixara: "Você tem recebido a luz e o discernimento do Evangelho, a revelação do Espiritismo, o apoio do Mundo Espiritual, não como prê­mio à inutilidade, senão como recurso de alto valor para os momentos difí­ceis que sempre chegam.

Agora desaba a tempestade. Use esses te­souros ocultos que vem guardando e não tema. Enfrente as borrascas, que maltratam, porém passam." Eram 19h30 quando Philomeno seguiu com o amigo à Casa Espírita, situada em bairro próximo ao Posto. À en­trada, Espíritos amigos saudaram-nos, corteses, afirmando que os labo­res a que se dedicavam, na vigilância e defesa da Casa, estavam em paz, transcorrendo em ordem.
(Cap. 17, pp. 125 e 126)

66. O significado de remorrer

Em volta da mesa havia dez confra­des; os demais sentavam-se em filas sucessivas de cinco cadeiras cada. Diversos amigos espirituais já  se encontravam no recinto, porque os serviços dessa natureza, não raro, têm uma preparação antecipada de até quarenta horas, quando são trazidos os participantes desencarnados ou se faz, psiquicamente, a sincronia fluídica dos mesmos com os médiuns que os irão incorporar, transmitindo, em psicofonia atormentada, as suas necessidades.

De outras vezes, ali se demoram os que experi­mentam assistência prolongada, antes de serem transferidos para trata­mento próprio no plano espiritual. Philomeno viu no ambiente dois jo­vens e um cavalheiro ansioso, todos eles desencarnados, que iriam, na­quela noite, comunicar-se, através da psicografia, com seus familia­res.

Os dois jovens, informou Genézio, tinham sido vitimados em acidentes; o cavalheiro tivera morte natural. Todos estão ansiosos por este encontro, que logo se dará , a fim de poderem repousar,  acrescentou Genézio. O amigo explicou então que a mente da família, neles fixada, vitalizava-lhes as lembranças que gostariam de esquecer.

A recordação do instante da morte, que os afligia, era sustentada pe­los seres queridos, obrigando-os a reviver o que já  poderia estar amortecido em suas memórias. O intercâmbio teria, pois, vantagens du­plas: acalmaria os que ficaram e permitiria que eles remorressem, tranqüilizando-se.

Como Genézio usara o verbo remorrer, um neologismo que significa morrer de novo, Philomeno indagou: Se aquelas pessoas estavam mortas, como iriam remorrer? Genézio explicou: A morte do corpo não desobriga o Espírito de permanecer atado ao mesmo, em per­turbação breve ou longa qual é do seu conhecimento.

As impressões que se demoram, como no caso das partidas para cá, mais violentas, aturdem o ser espiritual que oscila entre as duas situações vibratórias, a an­terior e a atual, sem fixar-se numa ou noutra. Chamado pelos afetos da retaguarda, condensa fluidos que deveriam diluir-se, sofrendo, e por­que noutra faixa vibratória, tenta desobrigar-se dessas cargas afligentes.

Terminado o atendimento aos familiares, estes reconfortam-se, rompem os elos que os prendem e, amparados, os nossos irmãos aqui re­pousam mais demoradamente, num sono de morte com fins terapêuticos, acordando em renovação para iniciar a etapa que lhes diz respeito na vida nova.
(Cap. 17, pp. 127 e 128)

67. Uma sessão mediúnica séria

No tocante ao conteúdo das mensa­gens que logo seriam transmitidas, o irmão Genézio forneceu uma infor­mação bem curiosa. Disse ele: Os familiares sempre desejam que os seus amados cá estejam bem, fruindo de felicidade e paz a que nem sem­pre fazem jus. Serão confirmadas, certamente, estas situações, desde que as mensagens estarão necessariamente controladas, evitando-se la­mentações injustificáveis como informações inoportunas.

E adi­tou: O importante são as notícias tranqüilizadoras e o conteúdo imor­talista de que se farão objeto. A reunião teve início com a leitura de trechos do Livro dos Espíritos, do Livro dos Médiuns e do Evangelho segundo o Espiritismo, que foram comentados pelos partici­pantes da sessão. Em seguida, foi proferida a prece de início e o tra­balho, propriamente dito, começou.

Após a instrução psicofônica do Orientador, iniciaram-se as comunicações dos irmãos excruciados pelas dores decorrentes da última jornada mal sucedida. Na sessão, todos, médiuns e doutrinadores, irradiavam luzes que diferiam na cor e no tom, correspondendo ao transe em que mergulhavam e à sintonia com as Entidades que se dispunham às incorporações.

O Mentor do trabalho su­pervisionava a nobre, encaminhando os mais difíceis de comuni­car-se, produzindo imantações magnéticas e fluídicas entre eles e os sensiti­vos. Os doutrinadores usavam da terapia da bondade, evitando a discus­são inoportuna e transmitindo, com a palavra serena, as vi­brações de amor e interesse de renovação, que os pacientes assimilavam de pronto. (Cap. 17 e 18, pp. 128 a 130)

68. A mensagem

Algumas Entidades calcetas, mais rebeldes, que insistiam em perturbar o trabalho, tomando os preciosos minutos, eram hipnotizadas pelos doutrinadores encarnados, auxilia­dos por hábeis técnicos da esfera espiritual. É que as induções hipnóticas do dou­trinador, porque carregadas de energias emanadas do cérebro físico, faziam-se portadoras de mais alto teor vi­bratório que atingia os Espí­ritos, através da cerebração do intermediário.

De imediato, cediam ao sono reparador, sendo transferidos para os leitos que lhes estavam re­servados. Jonas, o médium psicógrafo, movimentava-se com relativa fa­cilidade no desdobramento lúcido, enquanto o corpo, em transe pro­fundo, era manipulado pelos Mensageiros Superiores. Nesse momento, o jovem desencarnado em acidente de moto aproximou-se.

Estava semi-hebe­tado e con­duzia cargas vibratórias enfermiças que o deixavam em deplo­rável es­tado psíquico. Uma tia desencarnada, também presente, já lhe ministrara as pri­meiras informações a respeito do seu novo estado. Apesar disso, ele não conseguia conciliar os dois estados que o perturbavam. Esclarecido do cometimento que logo teria lugar, afligia-se, em razão do muito que desejava dizer, sem saber, no entanto, como agir.

O Diretor recomendou-lhe serenidade e confiança em Deus. Apli­cou-lhe, em seguida, recursos calmantes e, to­mando-lhe do braço, colo­cou-o sobre o do médium em perfeita sincronia, en­quanto controlava os centros motores do encarnado para o ditado cuida­doso. A carta começou a ser escrita com certa dificuldade, pela falta de treinamento do mis­sivista.

À medida, porém, que este se concen­trava, facilitava-se o cometimento que o Men­tor realizava, fil­trando-lhe os pensamentos e dese­jos, ao tempo em que lhes dava forma, corpo­rificando-se nas frases que escorriam com velo­cidade pela ponta do lápis.

De vez em quando havia uma mais forte irrupção de emotividade no comunicante, que o Diretor amigo contro­lava, facultando que escrevesse apenas o essencial, rela­cionando dados familiares e datas significati­vas que lhe afloravam à memória e com­pletavam o conteúdo da mensagem.

A linguagem da mensagem foi edificante e diminuiu o impacto da morte, além de oferecer aos pais esperanças e conforto na ação da caridade, encami­nhando-os às ati­vidades socorristas junto aos que ca­recem de família no mundo, como a melhor homenagem de amor que lhe de­dicariam. No mo­mento da assina­tura, o Diretor as­senhoreou-se mais completamente das forças nervosas do médium, condu­zindo o comuni­cante para autografar a página final, o que foi conse­guido com êxito.
(Cap. 18, pp. 130 a 132)

69. Sutilezas da psicografia

Logo depois, aproximou-se o outro jovem, que desencarnara em acidente automobilístico. Philomeno viu en­tão que o Espírito encarnado do sensitivo servia de hábil intermediá­rio, ele próprio escrevendo, com independência mental, a nova mensa­gem.

O desencarnado ditava-lhe o que desejava informar, ao tempo em que somava detalhes novos e fatos de importância, que eram grafados no estilo de linguagem do próprio médium.

O Diretor esclareceu: A grande sensibilidade do percipiente, que é dotado de aparelhagem psíquica muito delicada, sofreria danos graves, se ficasse sob a indução fluí­dica do comunicante que, no estado de grave perturbação em que se en­contra e experimentando os sérios conflitos que o atormentam, destram­belharia esses sutis equipamentos de base nervosa, prejudicando a or­ganização mediúnica e a saúde do cooperador humano.

Tendo em vista a facilidade de movimentar-se entre nós e bem conduzir as suas forças medianímicas, o caro Jonas atua comandando o corpo com muita facili­dade como se fora um desencarnado, agindo sobre a estrutura mediú­nica.

No instante da assinatura, o comunicante foi estimulado a firmar o documento de amor, o que fez com dificuldade compreensível, dei­xando, no entanto, traços gráficos que evidenciavam a autenticidade da caligrafia.

A terceira mensagem, escrita pelo cavalheiro desencarnado por morte natural, obedeceu a mecanismo diferente. Tendo em vista que o leito de dor, em larga enfermidade, diluíra-lhe as energias mais grosseiras, a densidade vibratória era menos perniciosa ao médium, o que facilitou fosse o comunicante quem a escrevesse sob o comando na­tural do Dr. Bezerra.

Philomeno observou também que, durante as comu­nicações psicofônicas dos mais sofredores, a palavra de orientação aos que se manifestavam alcançava outros doentes sintonizados na mesma faixa de necessidade espiritual.

Enquanto isso, o atendimento do lado espiritual realizava-se com eficácia, diminuindo a soma de aflições dos que haviam sido programados para aquele serviço. Os médiuns pas­sistas auxiliavam os médiuns psicofônicos, revitalizando-os  com as energias de que eram portadores.

E Entidades que perseguiam al­guns dos presentes eram também atendidas, sem que suas vítimas se dessem conta do ocorrido, estendendo-se o atendimento aos Espíritos trazidos do Subposto de socorro, instalado próximo da Casa Espírita.

No final, Dr. Bezerra dei­xou para todos oportuna mensagem e, feita a prece, foram lidas as páginas psicografadas, que desperta­ram prantos de saudade e alegria, com o que se romperam as amarras fortes, facultando aos missivistas adormecerem em paz. (Cap. 18, pp. 132 a 134)