Compilado do livro
Transição Planetária
Manoel P. de Miranda
(espírito) Divaldo P. franco
Após
algum tempo de repouso e de meditação, deixei-me inspirar pela oração, entregando-me ao
Senhor da Vida para o ministério que deveria exercer com os nobres Espíritos que logo mais
visitaríamos a Terra.
Às 18h,
encontramo-nos, e após uma oração pronunciada pelo Dr. Charles White, tomamos o veículo
especial que nos conduziu à cidade de Sumatra, na Indonésia, considerado o quarto
país mais populoso da Terra, que fora assolada entre outras cidades dos muitos
países atingidos, onde deveríamos instalar-nos com os demais grupos que nos
anteciparam.
A cidade
tivera mais
de dois terços da sua área afetada pela inundação e pela destruição. Igualmente considerada
o país mais populoso dentre os muçulmanos, seu povo, espalhado pelas inúmeras
ilhas, não
podia imaginar a grandeza da calamitosa ocorrência, por falta de
comunicação entre aquelas de origem vulcânica e as outras de formação calcária.
Alguns
Espíritos nobres acercaram-se da região no começo de dezembro, a fim de organizarem
as comunidades transitórias para receberem os que desencarnariam em aflição, no
terrível futuro evento sísmico. Transcorrido algum tempo de viagem, chegamos à comunidade
espiritual situada sobre a área tristemente atingida.
Embora
houvéssemos acompanhado alguns lances da tragédia em nossa Colônia , podíamos agora ver
diretamente os danos causados pela onda imensa e as que a sucederam, destruindo tudo com a
velocidade e a força ciclópica do terremoto nas águas profundas do oceano
Indico, e logo depois, as contínuas vibrações e seguidos choques destruidores.
Como
resultado lastimável ocorreram alterações na massa terrestre, no seu movimento, na
inclinação do eixo, que embora não registradas com facilidade pelos seus habitantes,
foram detectadas por instrumentos sensíveis.
A
primeira onda avassaladora ceifara mais de 150.000 vidas, enquanto as sucessivas
carregadas de destroços de casas, barcos e construções de todo tipo, de árvores
arrancadas e pedras, semearam o horror, arrasando as comunidades litorâneas.
A
psicosfera ambiental era densa, denotando todos os sinais inequívocos das
tragédias de grande porte. Ouvíamos o clamor das multidões desvairadas, enlouquecidas
pelo sofrimento decorrente da morte dos seres queridos, assim como em relação aos
desaparecidos, à perda de tudo, vagando como ondas humanas sem destino.
De
imediato, começaram a chegar as contribuições internacionais, porém, os instintos
agressivos dominavam grupos de exploradores, de vadios e criminosos que se
aproveitavam da oportunidade para ampliar a rapina e o terror. Tempestades
vibratórias descarregavam energias densas sobre o rescaldo humano e geográfico,
confrangendo-nos sobremaneira.
Logo após
encontrarmos o lugar que nos deveria servir de suporte para as incursões ao
planeta, onde
igualmente se alojavam outros grupos espirituais socorristas, o nosso gentil condutor
explicou-nos qual a tarefa que deveríamos desempenhar naqueles primeiros minutos
e, orientando-nos, mergulhamos na densa noite que se abatia sobre a região
devastada.
Os
corpos em decomposição amontoavam-se em toda parte, após ligeira identificação
de familiares e a remoção de alguns para outros lugares, chamando-nos a
atenção as fortes ligações espirituais mantidas pelos recém-desencarnados, que
nem sequer se haviam dado conta da ocorrência grave.
Imantados
aos despojos, estorcegavam, experimentando a angústia do afogamento, as dores
das pancadas produzidas pelos destroços, o desespero defluente da ignorância. De
quando em quando escutavam-se preces e súplicas dirigidas a Allah, logo seguidas
de blasfêmias e imprecações tormentosas.
Movimentavam-se
muitos encarnados em atividades de auxílio, apesar da noite densa, demonstrando
a solidariedade humana, inúmeros dos quais haviam chegado de outros países,
especialistas nesse tipo de socorro, que se misturavam aos caravaneiros do Além,
igualmente dedicados ao amor ao próximo.
O Dr.
White caminhou entre os muitos destroços e cadáveres na direção de um
grupo de desencarnados, que me fazia recordar uma alcatéia de lobos famintos,
ou chacais disputando os despojos das presas mortas. A balbúrdia era
expressiva, e o pugilato entre alguns Espíritos era igualmente vergonhoso.
Disputam
as energias dos recém-desencarnados, elucidou o respeitável médico. Com essa
atitude, agridem os Espíritos em desespero, que mais se apavoram e tentam absorver-lhes as
energias animais de que se nutrem, iniciando o infeliz processo de
vampirização.
Identificando-se
com aqueles
cujas existências foram de irresponsabilidade, o que lhes permite a sintonia
vibratória, buscam exauri-los, o que apressará a decomposição cadavérica, arrastando-os
para regiões de desdita onde os submeterão a sevícias e exploração mental de longo
curso.
E como
são profundamente infelizes, disputam as vítimas como fariam os animais ferozes com
os despojos das caças que acreditam pertencer-lhes. Nosso compromisso de
momento é afastá-los do local e tentar despertá-los para a sua realidade
espiritual.
Aproximamo-nos,
e a um sinal do médico, Abdul, que se encontrava com a indumentária muçulmana
convencional, levantou a voz e recitou um ayat (versículo) de uma das Suras (capítulos)
do Corão, em tonalidade ritmada, qual faria um muzlim no seu recitativo na torre da
mesquita.
Com
vibração especial e profunda, o amigo continuou emitindo o som que envolvia as
palavras, e, subitamente, houve um silêncio aterrador, com os bandoleiros
espirituais como que despertando da alucinação.
Nesse
momento, Ana aproximou-se carregando um archote que clareava o ambiente,
erguido com o braço direito acima da cabeça e, tomados de espanto, os vampiros e
exploradores pararam a agressividade.
Um deles
destacou-se com o semblante fescenino e cruel, gritando que nada tinha a
temer, e que todos se voltassem contra os invasores e os submetessem. Abdul, porém,
manteve-se irretocável, continuando a recitar o Livro, com respeito e
seriedade, o que produzia impacto muito grande na massa alucinada.
Foi
então, que o Dr. White explicou-lhes a ocorrência que tivera lugar pouco tempo
antes, naquele dia 26, era ainda dezembro, a partir das 8h da manhã, e todos eles,
colhidos pela morte, necessitavam de justo repouso, assim como os seus despojos
deveriam ser cremados coletivamente, a fim de serem evitadas as epidemias que
sucedem após esses infaustos acontecimentos, recordando que já se anunciavam
algumas.
Ante o
espanto natural que tomou conta dos desordeiros espirituais, o padre Marcos tomou
das mãos, que pareciam garras de um deles, o Espírito que se debatia entre os
fluidos materiais como resultado das ligações do perispírito ainda não
totalmente interrompidas, o que lhe proporcionava angústias inenarráveis e o pavor pelo que
experimentava decorrente do rude verdugo, que não resistiu ao gesto bondoso.
Observando
os vínculos que se alongavam até um dos cadáveres em deplorável estado de
decomposição, o religioso, com movimentos circulares, no sentido oposto aos
ponteiros do relógio, trabalhou o chakra coronário, deslindando o Espírito que
gemia e retorcia-se em agonias inenarráveis, até que as cargas densas e pútridas que eram
eliminadas, a pouco e pouco foram diminuindo de volume e esgarçando-se até
diluir-se totalmente. Vi, então, o desencarnado cambalear e desfalecer.
Ajudado
por Ivon, o benfeitor retirou-o do magote, colocando-o a regular distância, em
sono agitado, dando prosseguimento com outro infeliz. O agitador que
ameaçava Abdul, disparou em velocidade abandonando o grupo, enquanto o servidor do
Bem continuava conclamando-os à paz, ao respeito pelas vítimas, à compaixão e
misericórdia preconizados pelo seu livro sagrado.
Ato
contínuo, embora prosseguisse a agressão de alguns mais rebeldes, seguimos a atitude
do padre Marcos e procuramos atender alguns sofredores em comovedora aflição,
que se libertavam das mãos perversas que os exploravam, trabalhando-lhes as
fixações perispirituais, de modo a atenuar-lhes os sofrimentos acerbos.
À medida
que eram diminuídas
as ligações com os cadáveres a que se encontravam imantados, experimentavam o
torpor da desencarnação, entrando em sono agitado, típico das últimas imagens captadas
antes da morte física.
Colocados
um pouco distante da zona infectada pelos fluidos densos e danosos, grupos de
padioleiros que se dedicavam a transferi-los para nossa comunidade espiritual
temporária,
conduziam-nos silenciosamente.
Enquanto
ocorria essa atividade, Abdul falava diretamente com alguns obsessores e zombeteiros que
se encontravam presentes, explicando-lhes o sentido da vida e as Leis que regem
o Universo,
naturalmente incluindo o sombrio mundo em que se agitavam tentando manter o
mesmo comportamento vivenciado na Terra.
Tratava-se
da necessidade de transformação moral para melhor, a fim de poderem
viver realmente, libertando-se da névoa que lhes entorpecia a inteligência e
alucinava os sentimentos.
Conhecedor
da alma humana, o hábil esclarecedor não se intimidava ante as ameaças de alguns
seres hediondos que dele escarneciam, assim como de todos nós, gritando epítetos
vulgares e aberrantes, ameaçando-nos de combate em defesa dos seus interesses.
Sem
enfrentamento verbal ou mental, continuávamos cuidadosamente em nosso mister, diminuindo o número
daqueles que se mantinham fixados nos corpos danificados, desejando reerguê-los,
retomá-los, para prosseguirem na caminhada humana.
Dando-se
conta da impossibilidade, caindo na realidade que não desejavam aceitar, perdiam
completamente a lucidez e atiravam-se de encontro ao solo ou uns contra os outros,
revoltados e em pranto de agonia, impedindo qualquer ajuda de nossa parte.
Era
natural, portanto, que houvesse um ponto de contato que nos facilitasse a
execução do mister a que nos dedicávamos. Não existem violências nas Leis de amor, sendo necessário
qualquer forma de identificação entre aqueles que necessitam e quem se
predispõe a ajudá-los.
Eis por
que, não poucas vezes, o sofrimento ainda é a melhor psicoterapia de que a vida se
utiliza para despertar os dementados pelo prazer e os aficionados da crueldade.
O labor
era exaustivo e de grande significado, porque o auxílio liberador a cada
Espírito que se beneficiava com a dádiva do sono e a imediata transferência para um
dos setores de auxílio em
nossa Esfera , assinalava-lhe o novo caminho a percorrer, após despertar do
letargo que passariam experimentando por algum tempo.
Momentos
houve de agitação, porque alguns dos exploradores de energia recusavam-se ceder as
suas vítimas ao nosso apoio, altercando e apresentando-se em condições próprias para um
pugilato físico, distante de qualquer método de equilíbrio.
O Dr.
White, porém, comunicava-se mentalmente conosco, estimulando-nos ao prosseguimento,
aproveitando-se da indecisão de alguns verdugos, vinculando-nos a Jesus no Seu
ministério de amor junto aos obsidiados a quem socorrera, usando da Sua
autoridade, e, desse modo, continuamos.
A
patética da gritaria infrene e da desolação em volta comovia-nos, no entanto,
não podíamos deslocar-nos mentalmente da atividade que nos dizia respeito
naquele reduto de putrefação e loucura.
Atendendo
a uma mulher
desvairada que segurava uma criança também lacrimosa e inconsolável,
percebi-lhe a alucinação defluente do momento em que se desejou salvar com a
filhinha de poucos anos de idade, buscando a parte superior da casa em que
viviam, e a onda arrancou-a dos alicerces despedaçando-a e esmagando contra os
destroços ambos os corpos.
Podia-se
ver-lhe os registros na mente alucinada. Não parava de gritar suplicando socorro,
acreditando-se, como realmente se encontrava, perseguida por seres demoníacos
que a desejavam submeter.
Tocando-lhe
a fronte espiritual e emitindo sucessivas ondas de amor e de paz, percebi que me
captava o pensamento e, porque estivesse estimulada à fé religiosa, pôde perceber-me em
seu e no auxílio à filhinha, deixando-se conduzir para fora do círculo em que
se encontrava aprisionada, embora ainda vinculada ao corpo reduzido a
frangalhos.
A
pequenina encontrava-se
livre da injunção perispiritual da matéria, e logo asserenou-se ao receber as vibrações
que se exteriorizavam deste servidor em sua direção.
Ivon
veio em meu socorro e começamos a concentrar a nossa atenção nos laços que a
mantinham presa ao veículo carnal sem qualquer utilidade naquele momento. Algum tempo depois,
após conseguirmos esgarçar as ataduras energéticas entre o Espírito e a matéria, por fim, acalmou-se,
deixando-se conduzir, enquanto chorava comovedoramente, lamentando o
acontecimento da desencarnação de que se dava conta.
Buscamos
falar-lhe de imortalidade através do pensamento que ela captava, apresentando-lhe a
filhinha que deveria cuidar, prosseguindo como se estivesse na Terra e
preparando-se para auxiliar aos demais familiares que, se não estivessem
conduzidos pelo carro da morte, muito necessitariam da sua cooperação, para
poderem continuar no processo de recuperação nos dias porvindouros.
Convidada
à reflexão da família, o instinto maternal apresentou-se lhe mais forte e ela acedeu em acalmar-se. Conseguiu
locomover-se, embora com alguma dificuldade, abraçando a criancinha que
adormecera no seu regaço, e a conduzimos a um grupo de auxiliares especiais
que, a partir daquele momento, se encarregariam das providências compatíveis ao
seu estado.
Ainda
não víramos tudo de que a natureza humana é capaz enquanto lhe predominam as
forças brutais do primarismo. Estávamos absortos no atendimento daquela mole
sofrida, quando alguns indivíduos ainda reencarnados, começaram a remover os
corpos sem qualquer consideração, aproveitando-se das sombras terríveis da
noite.
Trata-se
de assaltantes de cadáveres, informou-nos Dr. White, que os estão
vasculhando em busca de qualquer coisa de valor, considerando-se que a morte os
surpreendeu num momento de atividade normal, sem aviso prévio.
Embora
as autoridades estejam tentando pôr ordem no caos, os infelizes aproveitadores
recorrem a todos os expedientes possíveis, objetivando lucrar com a desdita dos
outros.
Removendo
os cadáveres em putrefação, não receiam contaminação da alguma natureza e suportam
os odores terríveis dominados pelo álcool que antes ingerem e pela ambição desmedida de
amealhar algo para os prazeres degradantes.
Continuemos
sem prestar-lhes atenção, desde que estamos em campos vibratórios muito
diferentes.
Compilado do capítulo 5 (Novas experiências) do livro Transição
Planetária de Manoel P. de Miranda (espírito) e Divaldo Pereira Franco.