Perdão

O fundamento do perdão - Adams Auni

Jesus, o justo por excelência, responde a Pedro: “Tu perdoarás, mas sem limites. Perdoarás ainda que a ofensa te seja feita muitas vezes. Ensinarás aos teus irmãos o esquecimento de si mesmos, que os torna invulneráveis a agressões, aos maus procedimentos e às injúrias. Serás doce e humilde de “coração”. (ESE, Cap.10, item 14)

As necessidades de perdoar e pedir perdão estão diretamente relacionadas a uma correspondência biunívoca do Espírito a sua “espiritualidade”, isto é, a sua evolução. Superação gradativa à dependência da matéria emocional, das paixões viciantes, do remorso pernicioso, da frustração atormentadora e todos os outros que comprometem o “bom êxito” das reencarnações e expiações que delas provem.

Perdão e perdoar são necessidades daqueles Espíritos que ainda possuem “pendências emocionais” em suas estruturas espirituais. Que dependem ou se ressentem de compensações emocionais para a “elaboração energética” dessas paixões para transmutar, nesse processo íntimo, de uma energia de baixa vibração (material) para energia de alta vibração (espiritual).

A solução não está apenas no ato de perdoar e ou ser perdoado, mas na “essência do espírito” ao transitar pelo processo de provas e expiações em paz consigo mesmo e de conseqüente paz com os demais.

Perdoar não 7 vezes, mas, 70 vezes 7 como sugeriu Jesus (Mateus,Cap.18,v.22) um total de 490 vezes, repetidamente uma única atitude, um único pensamento, no processo e exercício de auto transformação. O comprometimento com as ações para a paz dentro e fora de si mesmo, as práticas e os pensamentos na sustentabilidade dessa paz.

Tudo isso dedicado a mesma e única ofensa no mesmo dia, demonstra que há uma necessidade literal de dissolver a ofensa, algo material, emocionalmente real e material, para algo intangível, imaterial, mas o melhor termo deve ser: estado “incorpóreo” da ofensa.
        
Retirando-a do ponto mais denso, material, em cada um, para ser elaborada pelo Espírito em evolução, já equilibrado e harmonizado, Espírito já liberto dessas “paixões âncora”.

Aquele que ainda não se encontra neste nível, não saberá como tratar dessa ofensa, exigirá compensação de igual forma para que se sinta desculpado, compensado em igual intensidade, quase um reviver da Lei de Talião: “O olho por olho e dente por dente.”

Esse Espírito deve assumir sua natureza espiritual, de forma a não ser afetado por qualquer ofensa. Esse comportamento austero, expressado pelo manso e pacifico de coração, traduz a superioridade desse Espírito, que se disciplina a transformar a si mesmo.

Como em um processo quântico, diante do fenômeno imediato, não se define posição ou velocidade, mas a natureza do fenômeno que é a sua “realidade” (Principio de Incerteza de Heisenberg).

ESE, Cap.II, item 4, A realeza de Jesus: “Meu reino (realidade) não é deste mundo”. (S. João, cap.18 v.33 a 37).
 
Entender o processo como um todo, eliminando a fase da compensação para o estabelecimento da compreensão em benevolência, indulgencia e perdão, sendo algo natural da sua atual natureza, da sua “realidade” e não mais um conjunto de práticas, iniciando esse processo em si mesmo, a exemplo de Jesus, o mais célebre Espírito entre nós no processo do perdão.

Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, 10 ano, No. 4, Abril 1867, Galileu... O Espiritismo está fundado sobre a existência do princípio espiritual, como elemento constitutivo do Universo... Neste vasto conjunto, cada um em sua missão, seu papel, os deveres a cumprir, desde os mais ínfimos até os anjos, que não são outros senão Espíritos humanos chegados ao estado de puros Espíritos. A matéria e o espírito são os dois princípios constitutivos do Universo.

Introdução ao Estudo da Doutrina dos Espíritos, item 6, Resumo dos principais pontos da Doutrina Espírita: “O Espírito, quando encarnado, está sob a influência da matéria. O homem que supera essa influência pela elevação e pela depuração de sua alma aproxima-se dos bons Espíritos. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões e coloca todas as alegrias da sua existência na satisfação dos apetites grosseiros se aproxima dos Espíritos impuros, porque nele predomina a natureza animal.”

LE 907 - O princípio das paixões, sendo natural, é mau em si mesmo? Não. A paixão está no excesso acrescentado à vontade, já que o princípio foi dado ao homem para o bem, e as paixões podem levá-lo a realizar grandes coisas. É no seu abuso que está a causa do mal.

LE 908 - Como definir o limite em que as paixões deixam de ser boas ou más? A paixão, propriamente dita, conforme habitualmente se entende, é o exagero de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa; e esse excesso torna-se mau quando tem por conseqüência um mal qualquer. Toda paixão que aproxima a pessoa da natureza primitiva a afasta de sua natureza espiritual. Todo sentimento que eleva a pessoa acima da natureza primitiva revela a predominância do Espírito sobre a matéria e a aproxima da perfeição.

LE 909 - O homem poderia sempre vencer suas más tendências pelos seus esforços? Sim, e algumas vezes com pouco esforço; é a vontade que lhe falta. Como são poucos dentre vós os que se esforçam!

LE 911 - Não existem paixões tão vivas e irresistíveis que a vontade não tenha o poder de superá-las? Aquele que procura reprimi-las compreende sua natureza espiritual; vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria.

LE 912 - Qual o meio mais eficaz de combater a predominância da natureza corporal? Praticar o desprendimento. (Logo, o desprendimento das paixões, grifo nosso)

Nível de espiritualidade mais elevado, sem a dependência emocional das paixões e menos ligado a matéria. O ego não se ressente e ama mais. Não é mais dependente emocional do  perdoar e/ou pedir perdão. Vive pleno no amor que pode dar sem nada pedir em troca. Espírito em expiação e/ou missão.

Nível de espiritualidade em desenvolvimento, grande dependência emocional das paixões, mais ligado a matéria. O ego se ressente. Vive mais pelo amor que deseja receber, que o amor que já pode dar. Emocionalmente ainda depende de perdoar e pedir perdão. Espírito em prova.

Parte II, LE, Mundo Espírita ou dos Espíritos, capítulo 1, Dos Espíritos, item, Escala Espírita: “A classificação dos Espíritos é baseada no grau de seu adiantamento, nas qualidades que adquiriram e nas imperfeições de que ainda devam se livrar”.

No início da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o Espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda são caracterizados pela predominância do Espírito sobre a matéria e pelo desejo do bem: esses são os bons Espíritos.

O fundamento do perdão, LE 886 - Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus? “Benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas”.

Primeiramente benevolência consigo mesmo, indulgência com as próprias e relutantes imperfeições e profundo compromisso com o “autoperdão”.

Para muitos o processo de perdoar e pedir perdão é possível, mas uma grande maioria ainda não consegue “liberar o perdão”, pois se encontra profundamente marcado em suas raízes psíquicas por mais que se trabalhe de reencarnação em reencarnação.

Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, 10o ano, No. 5, Maio 1867, Atmosfera Espiritual, “As qualidades do fluido perispiritual estão em razão direta das qualidades do Espírito “encarnado ou desencarnado”; quanto mais seus sentimentos são elevados e livres das influências da matéria, mais seu fluido é depurado”.

Ele irradia raios impregnados desses mesmos pensamentos que os viciam ou os saneiam fluidos realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, mas perceptíveis para os sentidos perispirituais e visíveis para os olhos da alma.

Quem traz consigo pensamentos de ódio, de inveja, de ciúme, de orgulho, de egoísmo, de animosidade, de cupidez, de falsidade, de hipocrisia, de maledicência, de malevolência, em uma palavra, pensamentos hauridos na fonte das más paixões, espalha ao seu redor eflúvios fluídicos malsãos, que reagem sobre aqueles que o cercam.

O Espiritismo nos prova que o “elemento espiritual”, que, até o presente, foi considerado como antítese do elemento material, tem,com este último,uma conexão íntima de onde resulta uma multidão de fenômenos inobservados ou incompreendidos.