Nas Fronteiras da Loucura – 16 Parte

Nas Fronteiras da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco

70. Erraticidade inferior

Diz Manoel P. de Miranda que existem, em torno da Terra, faixas vibratórias con­cêntricas, que a envolvem, desde as mais condensadas, próximas da  área física, até as mais sutis, distanciadas do movimento na Crosta. Essas faixas são vitalizadas pe­las sucessivas ondas mentais dos habitantes do planeta, que de alguma forma sofrem-lhes a condensação perniciosa.

São, porém, permeáveis à força psíquica de mais elevada estrutura, que as atravessa, a fim de sintonizar com as de constituição menos densa e portadoras de mais in­tensa energia. Por um processo de sintonia decor­rente do comportamento mantido no mundo, os Espíritos imantam-se àque­las que lhes são afins, graças ao teor de valores morais que caracte­riza cada um.

Constituem regiões densamente povoadas as de conden­sações mais fortes, onde se encontram os Núcleos de dor e aflições mais primitivas, em que os in­vigilantes e irresponsáveis se demoram. Nas  áreas metropolitanas, onde os hábitos humanos são mais promíscuos, multiplicam-se esses redutos.

Dessas multidões aturdidas, que consti­tuem centenas de milhões de se­res em trânsito, vivendo o estado de Erraticidade inferior, são arre­banhados para lugares ermos, cavernas e pantanais do planeta os Espí­ritos culpados e tombados nas armadilhas da leviandade, por algozes desencarnados, que os exploram e seviciam em colônias específicas construídas por sua maldade, que eles supõem tratar-se de purgatórios ou infernos, governados por verdadeiros gê­nios do mal.

A vida men­tal, nessas esferas de intranqüilidade e nas suas colônias de terror, atinge inimagináveis expressões de vileza e primarismo. A crueldade assume ali proporções de insânia imprevisí­vel. Em muitos desses sí­tios programam-se atentados sórdidos contra os homens e elaboram-se atividades que objetivam a extinção do bem. As Entidades malignas lu­tam tenazmente contra os Emissários da Luz, que elas não conseguem vencer jamais, e, na insânia de que padecem, acabam sendo, sem o sa­berem, os instrumentos da Justiça Superior que a todos alcança, con­forme as necessidades de cada um. (Cap. 19, pp. 135 e 136)

71. O bem já está vencendo

Postos de socorro cristão, núcleos de apoio, centros de atendimento multiplicam-se nesses sítios, mais pare­cidos com um campo de guerra, dos quais são libertados e conduzidos a outros planos vibratórios todos aqueles que reunam condições para tal, em face da mudança de seu padrão mental.

Nesse serviço, em vista das cargas mefíticas dos pensamentos vulgares que sustentam tais climas, os obreiros da fraternidade sofrem as condições ali reinantes, como verdadeiros cireneus, que se sacrificam visando ao bem do próximo, graças à renúncia pessoal e ao sacrifício. Na última noite de Carna­val, era possível perceber a densa e larga faixa de vibrações mais fortes que envolvia a cidade, numa espessura de alguns quilômetros.

Philomeno se refere às vias especiais de comunicação e às estradas próprias para os veículos que conduzem os trabalhadores do Evangelho, em determinadas circunstâncias, dizendo que mesmo nessas estradas sen­tiam-se os bruscos movimentos dos veículos, quando penetravam nessas faixas de sombra, qual acontece com as aeronaves atingidas por turbu­lências atmosféricas.

A grande concentração mental de milhões de pes­soas na fúria carnavalesca afetava para pior a imensa  área de trevas, que acabava influenciando os seus mantenedores, por obnubilar lhes os centros da razão e exacerbar-lhes as ânsias do prazer exorbitante.

A sensação que a paisagem escura transmitia era penosa e Philomeno ficou a meditar no tempo que certamente há de transcorrer até que mude a configuração moral do planeta, o que depender é evidentemente, da transformação do homem. Dr. Bezerra percebeu o teor dos pensamentos do amigo e, generoso, lembrou-lhe:

"Não se esqueça, caro Miranda, que esta luta vem sendo travada com resultados excelentes e o bem está sempre vencendo. Há milhões de pessoas envolvidas no bárbaro diverti­mento, que não censuramos, entretanto, há número muito superior de criaturas que lhe não oferecem culto, nem mesmo sequer experimentam qualquer interesse ante os apelos da folia momesca".

E o Mentor lem­brou os que buscam, nesses dias, as regiões serranas ou as praias para refazimento, e os que aproveitam os feriados carnavalescos para estu­dos, meditações e encontros de renovação espiritual e lazer. "Há  um grande progresso moral que viceja na Humanidade e não podemos descon­siderar", asseverou Dr. Bezerra.

"Jamais houve tão grande interesse dos homens pelos seus irmãos, em tentativa de ajudá-los a levantar-se e marchar com dignidade. As atividades que visam ao enobrecimento do ser humano multiplicam-se, abençoadas, fomentando a alegria e a paz. As minorais raciais recebem respeito; os preconceitos vão sendo varri­dos do planeta; os direitos do cidadão, embora ainda violados, são de­fendidos; a ecologia consegue adeptos afervorados; as classes menos favorecidas, que padecem miséria sócio-econômica, já não são despreza­das."
(Cap. 19, pp. 137 e 138)

72. O amor do Pai é para todos

Continuando, Dr. Bezerra disse que a liberdade já  sustenta ideais de dignidade entre os povos, os proletários fazem-se ouvidos, cogita-se de multiplicar os órgãos de assistência social aos carentes de toda ordem, as leis tornam-se mais benignas e "estudiosos do comportamento estão identificando mais doen­ças na criatura humana do que maldade, mesmo naquelas que resvalam nos abismos dos crimes mais hediondos".

Essas conquistas morais da Humani­dade, registradas em pouco mais de cento e cinqüenta anos, prenunciam aquisições ainda mais relevantes em relação ao futuro; por isso, não é lícito deixar-nos esmorecer. "O que observamos, afirmou o Mentor, são remanescentes do passado de todos nós, ainda não superado, que permanece retendo-nos na retaguarda das dissipações, embora a voz e o magnetismo do Cristo nos estejam arrastando das sombras para a luz, que já  estamos entendendo e aceitando." "Alegremo-nos, portanto, e observemos com otimismo o que desfila diante de nós."

Na seqüência, após lembrar que Jesus foi o Mensageiro da alegria, da esperança e da paz e que o Evangelho é um hino de eloqüente beleza à vida, Dr. Bezerra ad­vertiu: Estas são horas muito importantes de transição moral da Terra e dos seus habitantes. Legiões que se demoravam retidas nessas faixas, ainda assinaladas pela barbárie, portadoras de instintos agressivos em afloramento, vêm sendo trazidas à reencarnação em massa, obtendo a oportunidade de fazer a opção para a liberdade ou o exílio.

Encontram corpos geneticamente sadios com excelentes possibilidades de que se podem utilizar para a grande escolha". "O amor do Pai a todos ofe­rece oportunidades iguais, assim facultando que cada qual eleja o que melhor lhe aprouver, enquanto assim o desejar."

O Amorável Instrutor informou então que inumeráveis colônias de amor, nas proximidades da Terra, são de construção recente, frutos de trabalho de abnegados apóstolos do bem, enquanto que na Crosta surgem novos postos de aten­dimento e em muitíssimos lares, bafejados pela mensagem espírita, a treva bate em retirada sob as claridades do estudo sistemático do Evangelho em família, num perfeito entrosamento superior dos homens com os Espíritos benfazejos.

"Por enquanto, é noite densa, aparva­lhante, dominadora. Todavia, a madrugada chega sutilmente e vai ven­cendo-a, até que raie, em triunfo, o Dia. Confiemos!", acrescentou aquele que foi entre nós o Médico dos Pobres.
(Cap. 19, pp. 138 a 140)

73. A mágoa é um perigo

Dr. Bezerra foi visitar Noemi, que se encon­trava na UTI do Hospital, tendo ao lado seu pai Artur, que a as­sistia. Embora refizesse aos poucos as lembranças, que culminaram na tentativa contra a vida, sem a indução do infeliz obsessor e carinho­samente am­parada por seu pai, a jovem experimentou um certo bem-estar. Os acon­tecimentos vinham, porém, à sua mente e a aturdiam, fazendo-a lamentar não haver morrido e possuir-se de grande angústia em face do futuro incerto.

Com essas idéias negativas na mente, o desespero pas­sou a to­mar-lhe conta, dando lugar ao pranto e à revolta. Artur, aten­dendo a uma sugestão de Dr. Bezerra, foi inspirar o médico para que a viesse ver, o que logo ocorreu. Foi ministrado então um sedativo na paciente, a fim de que o repouso prosseguisse. A jovem, envolvida pelo carinho do pai, adormeceu, prosseguindo contudo agitada em Espírito, a ruminar planos de vingança.

"Era de presumir-se esta reação", expli­cou Dr. Bezerra. "Espírito comprometido, a nossa irmã não possui ainda a matu­ridade, nem o adestramento para reagir de forma conveniente numa con­juntura deste porte. A precipitação, que é irmã da revolta, res­ponde por muitos males que poderiam ser evitados, caso as pessoas preferis­sem o clima da concórdia e da calma."

O Amorável Benfeitor disse então que a mágoa é fator dissolvente, pelos desastres íntimos que ocasiona: "Sob sua ação desarticulam-se os equipamentos do sistema nervoso cen­tral, que sofrem a ação de diluentes de ordem mental, inter­rompendo o ritmo das suas respostas na manutenção do equilíbrio emocional e, ao largo do tempo, de ordem fisiológica. Aí estão enfer­mos psicossomáti­cos cuja gênese dos males que sofrem encontra-se no comportamento psíquico, defluente da fraqueza da vontade, como da aco­modação moral".  E ajuntou: "Por isto, cada qual elege e constrói o paraíso ou o in­ferno que prefere, no íntimo, passando a vivê-lo na es­fera das reali­dades em que transita".
(Cap. 20, pp. 141 e 142)
74. A vida é como um rio

Dr. Bezerra passou a emitir cargas mentais positivas, que alcançaram o Espírito de Noemi, asserenando-o de imediato. Em seguida, aplicou energias na  área cerebral do corpo, liberando a consciência espiritual que jazia entorpecida, repetindo depois o processo na esfera psíquica da jovem em parcial desprendi­mento, conseguindo assim despertá-la para a vida em outra dimensão. Ao ver o pai, a enferma abriu-lhe os braços e chorou, pungida pela dor que se lhe afigurava insuportável, sem limites.

Quando pôde falar, perguntou ao genitor: "Onde está  Deus, que permitiu tanta desdita? Por que não me acontecera um acidente antes de constatar tanta vileza, de que eram portadores minha mãe e meu marido? Não sou inocente, cumpri­dora dos meus deveres? Por que sofria desta forma?"

Com serenidade, o pai pediu-lhe, primeiramente, não blasfemar e disse que seu gesto de fugir pela rampa falsa do suicídio era atitude de rebeldia das mais vis. Assim, ele não poderia dizer quem estava mais errado entre os três. As palavras de Artur foram esclarecedoras.

Tratando com proficiência a justiça do Pai e asseverando, com convicção, que "ninguém sofre sem uma ponderável razão, nem pessoa alguma que delinqüe, fugir de ser recambiado à justiça", o genitor falou-lhe também sobre as re­encarnações:

"A vida pode ser comparada a um rio de largo curso. Suas  águas saem da nascente, descendo continuamente até alcançar o mar. Uma curva aqui, outra ali, um obstáculo à frente, lodo e areia no leito, calhaus e pedras largas que vão ficando para trás, até o desa­guar no oceano que o aguarda".

"Muitas etapas são indispensáveis para a vida: ora no corpo, em várias experiências, ora dele liberada, em novas conquistas. Em cada fase, surgem impedimentos, que devem ser su­perados de modo a que alcancem o Oceano da paz."
(Cap. 20, pp. 142 a 144)

75. Revendo o passado

Artur disse ainda à filha que nossa as­censão feliz depende unicamente da liberação do presídio, o erro, em que nos fixamos. Para isso, o Senhor nos concede contínuas oportunidades que, apaixonados ou mesquinhos, não sabemos valorizar, compli­cando muitas vezes a nossa situação, pela sistemática rebeldia em que nos comprazemos.

"Eis porque, asseverou Artur, nos é importante a fé religiosa, racional e clara, influenciando o nosso procedimento hon­rado, mesmo que sob chuvas de incompreensões, problemas e dores físi­cas ou morais, dos quais sairemos, se agirmos com correção, para a paz e a felicidade."

Dito isso, Artur contou à jovem que ela, graças ao Senhor, pôde ser socorrida a tempo, eis que a vida física é sublime concessão que ninguém deve interrom­per, seja qual for a alegação em que se pretenda apoiar. Nesse ponto, Dr. Beze­rra fez-se visível à jo­vem que, sinceramente comovida, ao ou­vir seu pai pronunciar o nome do Amorável Benfeitor, exclamou:

"Sim, já  ouvi falar dele. É um anjo de luz!" O Mentor disse-lhe, então, com a clareza que lhe é habitual: "A menina, como todos nós, vem de expe­riências muito  ásperas, nas quais nem sempre agiu como deveria fazê-lo. Atuando com incorreção, atraiu animosidades e tombou nas armadil­has da insensatez, donde se dever  liberar na presente oportu­nidade".

Ato contínuo,  sugeriu à jo­vem: "Vejamos se você recorda. Durma um pouco... Durma e sonhe com o seu passado, o passado próximo... Portu­gal de 1832, a cidade do Porto... Recorde determinado conciliábulo, em outubro desse ano..." A jovem, que havia adorme­cido, subi­tamente estremeceu, agitando-se, como se, em sonho, voltasse a viver acontecimentos apagados na memória an­terior, como realmente era o que ocorria.

As cenas que lhe ressurgiam pas­saram a ser registradas também por Manoel P. de Miranda que, a con­vite do Mentor, fixou o centro da memória de Noemi. A regressão pôde esclarecer as coisas. Noemi, então uma dama de menos de quarenta anos, envolvera-se no rapto de uma menina de oito anos, filha de um adver­sário político, Manuel Trindade, o mesmo que, em Espírito, a pertur­bara até momentos antes. Tratava-se de uma disputa política, mas no seqüestro inglório morreram o pai e a criança, em circunstâncias que na época não ficaram esclarecidas. (Cap. 20, pp. 144 a 147)