Ninguém
contesta os altos predicados do Criador reconhecendo-lhe Onipotência, Onisciência, Justiça, Bondade e
Misericórdia. Não cessando de criar, criou a Terra. Deve a Terra ser um
planeta que, como os demais do seu sistema, haja atingido o grau de evolução
até alcançar a escala de mundo de expiações, consoante a classificação do
mestre Kardec no capítulo III de O Evangelho segundo o Espiritismo.
Desde a formação da sua nebulosa há ter sido dirigido por
prepostos do Supremo Arquiteto para o majestoso trabalho. Que foi Jesus quem
tomou a direção do seu governo no momento em que os povos estavam preparados
para as injunções morais da Lei, não o podemos
duvidar, fiados na sua revelação exclamativa:
"Tu
agora, Pai, glorifica-me a mim em ti mesmo, com aquela glória que eu tive antes
que houvesse mundo. Eu manifestei o teu nome aos homens que tu me deste do
mundo." (João, cap. XVII, 5, 6.) Para provar a sua antiguidade e a sua
comunicação direta com o Criador, aqui transcrevo uma
das interessantes passagens do evangelista João:
"Disseram-lhe os judeus: Agora é que conhecemos que estás possesso do
demônio. Abraão morreu, e os profetas morreram e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, não provará a morte. Acaso és tu maior do
que nosso pai Abraão e do que os profetas, que também morreram? Quem te fazes
tu ser? Respondeu Jesus:
“Se eu a
mim mesmo glorifico, não é nada a minha glória: meu
Pai é quem me glorifica, aquele que vós dizeis que é vosso Deus. E entretanto, vós não
o tendes conhecido; mas eu conheço-o, e se disser que não o conheço serei como
vós mentiroso”.
Mas eu
conheço-o e guardo a sua palavra. Vosso pai Abraão desejou ansiosamente ver o
meu dia: viu-o e ficou cheio de gozo. Disseram-lhe por isso os judeus: Tu ainda
não tens cinquenta anos, e viste a Abraão? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão
fosse feito fui eu". (Cap. VIII, 52, 58.) Noutra passagem, diz Ele: "Eu, que sou a luz, vim ao mundo para que todo o
que crê em mim não fique em trevas." (Cap. XII,v. 46).
"O Filho do homem é aquele em quem o
Pai pôs o seu selo." (Cap. VI, 27.) "Agora é o juízo do mundo. Agora será
lançado fora o príncipe deste mundo." (Cap. XII, 31.) Mestre Supremo,
é Ele mesmo quem o divulga em mais de um passo:
"Mas
vós não queirais ser chamados mestres; porque
um só é o vosso mestre, e vós todos sois irmãos. Nem vos intituleis,
mestres; porque um só é o vosso mestre, o Cristo (Mateus, cap. XXIII, 8:10). "Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem,
porque o sou". (João, cap. XIII, 13.)
A sua supremacia se afirma nesta passagem: "Eis aqui o meu
servo, que eu escolhi, o meu amado, em quem a minha alma tem posto a sua
complacência. Porei o meu Espírito sobre Ele, e Ele anunciará às gentes a
justiça" (Mateus, cap. XII, 18).
Era a
confirmação de Isaías. Depois de submetido à formalidade característica da
época, que era o batismo, os céus se lhe abriram. "E viu o Espírito de
Deus que descia como pomba e que vinha sobre Ele. E eis uma voz dos céus que
dizia: “Este é o meu filho amado, no qual
tenho posto a minha complacência." (Mateus, capítulo III, 16 e 17.)
"E tu, Belém Efrata, tu és pequenina entre os milhares de Judá, mas de ti
é que tem de sair aquele que há de reinar em Israel e cuja
geração é desde o princípio, desde os dias da eternidade." (Miquéias, cap. 2).
E tanto
era Jesus quem dirigia os povos em todos os tempos, que deixou transparecer na
sua exclamação: "Jerusalém, Jerusalém, que
matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar
teus filhos, do modo que uma galinha recolhe debaixo das asas os seus pintos, e
tu o não quiseste." (Mateus, cap. XXIII, 37)
No princípio da terra era o caos. Os elementos estavam confundidos. Pouco a pouco apareceram os seres viventes, apropriados
ao estado do Globo, e que já existiam em gérmen. Esses
elementos achavam-se em estado de fluido. (O Livro dos Espíritos, n.° 43.)
Sobre a
ação dos Espíritos nos fenômenos da Natureza, assim se exprimem os mensageiros
da Terceira Revelação ao mestre Kardec: "Deus
não atua diretamente sobre a matéria; tem agentes dedicados em todos os graus
da escala dos mundos." (Ob. cit. n.° 536.)
Perguntando qual a classe de Espíritos que desempenham os encargos, é
respondido ao consulente: "É conforme o
papel mais ou menos material e inteligente que desempenham; uns ordenam, outros
executam; os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior,
entre os Espíritos como entre os homens." (Ob. cit. n.° 538.)
Provêm
desses ensinos que tudo está regulado
no Universo por leis sábias, às quais não é indiferente a intervenção dos seres
errantes (A maioria das vibrações do éter não nos afetam (informa um
espírito), se bem saibamos, por meio de instrumentos, que elas existem é sempre
existiram.
Será
concebível haja outros seres capazes de sentir o que nenhuma sensação nos
causa, ou estará a soma total da
inteligência confinada no que chamamos humanidade? Não haverá
inteligências capazes de apreciar as ondas do éter, abaixo ou acima dos limites
da nossa restrita capacidade? A adoção desse critério certamente revela
profunda ignorância.
Sabemos
que o homem de antanho apenas tinha aptidão
para apreciar o que se achava imediatamente ao seu derredor e que olhava as
estrelas como luzes fixadas no firmamento, para seu gozo especial. Nos dias atuais, a
mente humana pode arrojadamente compreender a grandeza e majestade do universo
físico. O universo do éter só poderá ser apreciado depois que aquele outro se
achar devidamente compreendido.
J. Arthur
Findlay, e como corolário deve haver um chefe de ascendência superior a dirigir
a intensa maquinação das forças criadoras. Esse
chefe teria a incumbência principal de trazer às gerações nascentes os
primeiros lampejos da vida no sentido de a conduzir para a salvação da alma
primitiva, desde que o Pai as houvera criado para alcançarem a perfeição, e
não se compreende progresso sem os rudimentos morais da idéia religiosa.
O gérmen
da crença num Deus existe em estado
latente na alma em início, e para o seu desabrochamento não pode o ser ainda
selvático prescindir de um mentor. Esse mentor foi
Jesus. Os
primeiros surtos da religião devem ter saído da
influência daquele em quem o Pai tinha posto a sua complacência. Foi decerto Jesus quem
embalou a Humanidade nos seus primeiros vagidos, embora ela não pudesse
entendê-lo na sua insciência infantil.
Daí a
infantilidade com que nos apareceram os divulgadores a quem já me referi, e
que, não obstante, foram inspirados por Jesus
para que não periclitasse de todo a obra preciosa do Senhor que os antepassados
viam sob nomes vários: Siva, Hórus, Vishnu, Aelohim, Ormuzd, Tabu, Tot, Alá,
Zeus, Buda, Eli, Jeová, etc.
Todavia,
não se pode negar a influência do Divino
Mestre na obra esparsa através das idades, visto que se notam as noções
renovadoras da alma primitiva, todas bordando conceitos de altíssimas virtudes, quais as expendidas
por vários dos missionários de antanho, e especialmente depois que
Melquisedeque e Moisés abordaram os problemas da vida superior, conforme já se
viu do que nos ensinou Imperator.
Apesar
da sua pretensão a deuses, “Brama e Buda” legaram algumas lições
que não deslustram a intervenção do Mentor essencial, e “Confúcio”, bem como mais tarde “Maomé”, foram mais passivos às
inspirações do Cristo.
Quem não
vê em Akhenaton, contemporâneo dos faraós, fundador do Atonismo, um inspirado sublime quando eliminou as representações
materiais das coisas da Terra, acabando com os deuses do simbolismo, as
estátuas, as imagens e outras formas de adoração e culto? Esse faraó , Áton,
adorava o deus Sol, e todavia decretou a suspensão da guerra, assim se
justificando: "Todo aquele que abençoado pelo Sol e envolvido em seus
raios benéficos e divinos, não poderia odiar nem destruir." E no reinado acabaram as guerras.
Donde viria a crença dos islamitas sobre ser Jesus, o seu profeta? E se Jesus os assistiu após o seu advento como negar a
sua influência nos primeiros tempos os iniciadores da moral evangélica? Todos os livros
de Confúcio, Livro da Obediência Filial, A Grande Ciência, Livro da Invariabilidade
dos Meios, Livro dos Entretenimentos Filosóficos, bem assim o Livro dos Vedas e
o Alcorão de Maomé e demais Códigos escritos, são
incontestavelmente inspirados pelo Divino Mestre, conquanto influenciados pelas
idéias dos reveladores, todos eles médiuns submetidos às concepções coetâneas,
sacrificados por preconceitos e outros grilhões de ordem subjetiva, que adulteravam o
pensamento inicial, de que já forneci explicações de Imperator linhas atrás.
Todos os profetas, de que a Bíblia faz menção,
foram médiuns predestinados a servirem ao pensamento de Jesus, e assim é que os
Provérbios, os Paralipômenos, os Salmos, os cinco livros do Pentateuco, o
Eclesiastes, as Tábuas da Lei, os livros dos quatro profetas, Isaías, Jeremias,
Daniel e Ezequiel não podem deixar de
haver recebido o bafejo do Divino Mestre, bem como depois da sua partida,
assistiria a Maomé e os albinenses, os cátaros, que condenavam a guerra.
No
Talmude de Jerusalém, como no Talmude da Babilônia, nos
aforismos de Hilel, no livro de Henoc, nas máximas morais do poeta Publius
Sirus, nas preleções de Sócrates e finalmente em todas as filosofias
semelhantes ao que Jesus ensinou, quem pode duvidar que ali andou o seu dedo?
"Aquele
que vinha mudar as crenças do mundo nada tinha que
aprender com os homens e não era mais que obra sua própria. Era uma vergôntea
vigorosa respirando o ar livre por todos os poros e não recebendo outro orvalho
senão o rocio do céu." (Orsini)
Bossuet
exclamara certa vez referindo-se ao Cristianismo: "Aí tendes a religião
sempre uniforme, ou antes, sempre a mesma desde o princípio do mundo". Isso a que chamamos religião cristã - disse Santo
Agostinho — existia nos tempos antigos e nunca deixou de existir desde a origem
do gênero humano até os dias em que Jesus-Cristo veio ao mundo. Os próprios judeus se
espantavam quando perguntavam: "Como sabe estas letras não as tendo
estudado (João, cap. VII, 15). Por sua vez, Jesus declarou: "A minha doutrina não é minha, mas d'Aquele que me
enviou." (João, cap, VII, 16)
Um
escritor francês, Alfred Poizat, diz muito bem no seu livro, La víe et l'ouvre
de Jesus, que Jesus não veio fundar uma nova
religião. Uma religião não se funda, porém se enriquece, se estende, se
reforma, se completa. Mas é sempre julgada como sendo a primitiva saída do primeiro
casal humano. Melhor diria: ensinada aos primeiros povos.
Quando Jesus disse que não vinha destruir a lei, mas completá-la, claro que deixava implicitamente entender que
estava organizada em obediência aos desejos do Senhor, e nesse caso não fora
obra feita à revelia dos missionários legisladores de todos os tempos.
Que
houve uma só inteligência a dirigi-la é o que a mais rudimentar criatura
concebe, a não julgar que Deus se descuidasse
do principal objeto a regular e que deveria obedecer a um programa uniforme e
homogêneo visando o mesmo intento reformador da alma em prova e evolução. Por isso, tenho para
mim e me foi o Divino Mestre. Essa supremacia não se lhe pode negar.
Esse endeusado fundador das
religiões da Índia e do Egito, que foi Rama, cuja origem parece desconhecida, pois o
livro sagrado dos persas, Zend-Avesta, apenas a ele se refere sob o nome de
Yima, e Zoroastro diz ser o primeiro homem a quem falou Ormuzd, o Deus vivo,
esse modelar legislador, que, segundo Fabre d'Olivet na sua Histoire
Philosophique du Genre Humain e Edouard Schuré em Lês Grands Initiées ,
dão como sendo Ram, mais adiante Rama, era um
jovem druida doce e grave, cujo espírito profundo se revoltava contra o culto
sanguinário, e se afligia com os padecimentos da humanidade.
Com um parasita que nasce sobre os ramos das palmeiras, o visgo, e atendendo a uma aparição de uma entidade que lhe
surgiu em sonhos aconselhando-o a servir-se daquele remédio, consegue produzir
verdadeiros milagres, quais os fizera mais tarde o Cristo, tornando-se querido
entre os da Síntia, e que o julgavam um taumaturgo e um semideus.
Tornando-se
chefe da seita, promoveu a união da
família, a harmonia entre os revoltosos, a igualdade de vencedores e vencidos,
a abolição de sacrifícios humanos e a da escravatura, e o respeito da mulher no
lar.
E, ao morrer, declara aos reis e enviados dos povos a quem revelara o fim da
sua missão:
"Não quero o poder supremo que vós me ofereceis. Guardai as vossas coroas
e observai a minha lei. A minha tarefa está
finda. Retirar-me-ei para sempre com os meus iniciados para uma montanha do
Airiana-Vaeia. De lá velarei por vós. Vigiai pelo fogo divino.
Por fim,
sentindo-se morrer, o grande iniciado
ordena aos seus que ocultem a sua morte e que prossigam a sua obra,
perpetuando-lhe a fraternidade. Efetivamente, os povos da Índia creram durante
séculos que Rama, envolto na sua tiara, vivia sempre na sua montanha santa.
Pode conceber-se que quem assim pensava não fosse dirigido por uma mentalidade
divina ao serviço do Mestre, a quem mais tarde ficaríamos devendo a eclosão de
leis tão liberais? Na iniciação bramânica
da Índia, Bhagavad-Gità legisla por este modo admiravelmente concorde com o
espírito cristão, e que Sócrates e Platão não saberiam dizer melhor: "Tu trazes em ti
mesmo um amigo que desconheces. Porque Deus reside no íntimo de cada ser, mas
poucos sabem que o trazem lá”.
"O
homem que sacrifica os seus desejos e as suas obras ao Ser de que procedem os
princípios de todas as coisas, e por quem o Universo foi formado, obtém por
esse sacrifício a perfeição. "Porque, aquele
que encontra em si mesmo a sua felicidade, a sua alegria e em si mesmo a sua
luz, identifica-se com Deus”.
Ora -
sabei-o -, a alma que encontrou Deus,
libertou-se do renascimento e da morte, da velhice e da dor, e bebe água da
imortalidade." De quem vieram as inspirações para essa orientação cristã?
Fonte.: Texto de Antonio Lima