Entre a
alma, prestes a reencarnar na Terra, e o Mensageiro Divino travou-se expressivo diálogo: “Anjo bom, disse ela,já fiz numerosas romagens no mundo. Cansei-me de prazeres envenenados e posses inúteis. Se posso pedir algo, desejaria agora colocar-me em serviço, perto de Deus, embora deva achar-me entre os homens”.
Sabes
efetivamente a que aspiras? que responsabilidade procuras?, replicou o
interpelado. Quando falham aqueles que servem à vida, perto de Deus, a obra da vida, em
torno deles, é perturbada nos mais íntimos mecanismos. Por misericórdia, anjo
amigo! Dar-me-ás instruções. Conseguirás aceitá-las? Assim espero, com o
amparo do Senhor. O Céu, então, conceder-te-á o que solicitas.
Posso
informar-me quanto ao trabalho que me aguarda? Porque estarás mais perto de
Deus, conquanto entre os homens, recolherás dos homens o tratamento que eles
habitualmente dão a Deus.
Como
assim? Amarás
com todas as fibras de teu espírito, mas ninguém conhecerá, nem te avaliará as
reservas de ternura! Viverás abençoando e servindo, qual se carregasses no próprio
peito a suprema felicidade e o desespero supremo. Nunca te fartarás de dar e os
que te cercarem jamais se fartarão de exigir.
Que
mais? Dar-te-ão no mundo um nome bendito, como se faz com o Pai Celestial; contudo, qual se faz
igualmente até hoje na Terra com o Todo-Misericordioso, reclamar-se-á tudo de
ti, sem que se te dê coisa alguma. Embora detendo o direito de fulgir à luz do
primeiro lugar nas assembléias humanas, estarás na sombra do último.
Nutrirás
as criaturas queridas com a essência do próprio sangue; no entanto, serás
apartada geralmente de todas elas, como se o mundo esmerasse em te apunhalar o coração.
Muitas vezes, serás obrigada a sorrir, engolindo as próprias lágrimas, e
conhecerás a verdade com a obrigação de respeitar a mentira.
Conquanto
venhas a residir no regozijo oculto da vizinhança de Deus, respirarás no fogo
invisível do sofrimento! Que mais? Adornarás as outras criaturas para que brilhem nos
salões da beleza ou nos torneios da inteligência; entretanto, raras te
guardarão na memória, quando erguidas ao fausto do poder ou ao delírio da fama.
Produzirás
o encanto da paz; todavia, quando os homens se inclinem à guerra, serás
impotente para afastar-lhes o impulso homicida. Por isso mesmo, debalde chorarás
quando se decidirem ao extermínio uns dos outros, de vez que te acharás perto do
Todo-Sábio e, por enquanto, o Todo-Sábio é o Grande Anônimo entre os povos da
Terra.
Que
mais? Todas as profissões no Planeta são honorificadas com salários
correspondentes às tarefas executadas, mas o teu ofício, porque estejas em mais
íntima associação com o Eterno e para que não comprometas a Obra da Divina
Providência, não terá compensações amoedadas.
Outros
seareiros da Vinha Terrestre serão beneficiados com a determinação de horários
especiais; contudo,
já que o Supremo Pai serve dia e noite, não disporás de ocasiões para descanso
certo, porquanto o amor te colocará em permanente vigília! Não medirás
sacrifícios para auxiliar, com absoluto esquecimento de ti; no entanto, verás
teu carinho e abnegação apelidados, quase sempre, por fanatismo e loucura.
Zelarás
pelos outros, mas os outros muito dificilmente se lembrarão de zelar por ti. Farás
o pão dos entes amados. Na maioria das circunstâncias, porém, serás a última
pessoa a servir-se dos restos da mesa, e, quando o repouso felicite aqueles que te
consumirem as horas, velarás, noite adentro, sozinha e esquecida, entre a prece
e a aflição.
Espiritualmente,
viverás mais perto de Deus, e, em razão disso, terás por dever agir com o
ilimitado amor com que Deus ama. Anjo bom, disse a Alma, em pranto de emoção e
esperança, que missão será essa?
O
Emissário Divino endereçou-lhe profundo olhar e respondeu num gesto de bênção: Serás
mãe!
Do livro Estante da Vida do Irmão X (espírito)
Psicografia de Francisco Cândido Xavier