O Ser real é constituído de corpo, mente e espírito. Dessa forma,
uma abordagem psicológica para ser verdadeiramente eficaz deve ter uma visão
holística do ser, tratando de seu corpo (físico e periespirítico), de sua mente
(consciente, inconsciente e subconsciente) e de seu espírito imortal que traz consigo uma
bagagem de experiências anteriores à presente existência e está caminhando para
a perfeição Divina.
(Joanna de Ângelis)
Segundo Jung, a consciência é uma aquisição muito recente da
natureza e ainda está num estágio “experimental”. É frágil, sujeita a ameaças de perigos
específicos e facilmente danificável. Impossível considerar a consciência como
totalidade da psique, o que seria considerar que temos o conhecimento total
sobre ela. Evidentemente sabemos que da mente conhecemos a mínima parte, de modo que seu
conteúdo jaz ainda mergulhado no desconhecido.
Podemos dizer que a consciência seria como uma rolha flutuando em um
imenso oceano, o inconsciente. Este oceano, como diz Joanna de Angelis,
contém todas as experiências do ser (desde suas primeiras impressões, seus
períodos de desenvolvimento e evolução até a atual lucidez do pensamento
lógico, conquistado através das sucessivas reencarnações), sendo responsável
pelos fenômenos automatistas primitivos (impulsos e atavismos existenciais) e também
por muitas manifestações de natureza consciente. É também nele que se encontra
a presença e significado de Deus.
O inconsciente somente se expressa através de símbolos, nos sonhos
e imaginação ativa (que é uma forma criativa do pensamento), devendo ser
buscados para conveniente interpretação, facilitando o desenvolvimento do
indivíduo. Também mediante a concentração, a oração, a meditação e durante alguns transes
mediúnicos o inconsciente libera suas impressões (fenômenos anímicos). Interpretar estas
mensagens tem como objetivo utilizar de forma conveniente as forças portadoras
de energia de crescimento, elevação, conhecimento e libertação que lá se encontram e
que podem produzir felicidade e auto-realização.
Segundo Joanna de Angelis, a concentração propicia o
encontro com os arquivos que guardam as impressões passadas e geram dificuldades
ou problemas no comportamento atual; a meditação propicia auto-identificação,
facultando alcançar estruturas mais estratificadas da personalidade, revolvendo registros
arcaicos
que se lhe transformaram em alicerces geradores da conduta presente.
A oração suaviza aflições e contribui para a elaboração
dos fenômenos da “Imaginação Ativa”, liberando impressões que, por associação, lhe ampliarão o
campo do entendimento da realidade, diluindo fantasmas, ressuscitando traumas
que podem ser sanados e ficando com o campo mais livre de imagens perturbadoras para os mecanismos
automatistas dos sonhos.
Além disso, o desdobramento consciente da personalidade
permite, devido ao estado de maior liberdade do Espírito, superar as sequelas
dos conflitos de reencarnações passadas, em depósito no inconsciente.
Diz a nobre mentora que esse mergulho consciente nas estruturas do
eu total faculta liberação das imagens conflitantes do passado espiritual e do
presente próximo, ensejando harmonia. Enquanto o indivíduo não descobre a realidade
do seu inconsciente, permanece vítima de transtornos neuróticos, que decorrem
da fragmentação, do vazio existencial, da falta de sentido psicológico, por
identificar somente uma parte daquilo que denomina como realidade.
Percebe-se que ainda que as lembranças espirituais não cheguem à
consciência, interferem de maneira indireta, proporcionando estados
inquietadores e desconhecidos da estrutura do ego (este último, por
sua vez, trata-se de uma pequena parte da psique, identificada consigo mesma -
autoconsciente).
Jung percebeu que no inconsciente estão presentes muitos símbolos,
em grande pluralismo que deve ser controlado até atingir um sentido de unidade em
equilíbrio
(como na filosofia oriental o Yin e Yang, ou (feminino, frio, passivo) e (masculino,
quente, ativo).
Eles se conflitam, pois no momento em que se pensa em fazer algo,
surge uma idéia no sentido contrário. Joanna de Angelis acrescenta que somente a
reencarnação explica essa multiplicidade de conteúdos psicológicos nas
criaturas,
tornando-as distintas umas das outras, já que procedendo do mesmo tronco, cada
uma viveu situações muito especiais e diferentes.
Há também uma dualidade existente nas criaturas: “a anima” (representação
feminina nos sonhos dos homens) e “o animus” (representação masculina, nos
sonhos das mulheres). Segundo Joanna de Angelis, tais personagens são
reminiscências das vidas anteriores arquivadas no inconsciente de cada um,
graças ao perispírito. Jesus, por exemplo, harmonizava as duas naturezas usando energia e
vontade forte quando necessário, mas também atendendo aos necessitados com doçura
e bondade.
As inúmeras experiências da reencarnação deixam infinitas
características que, segundo a mentora, podem ser compreendidas como os “arquétipos junguianos”. Heranças ancestrais,
que se transformam em material volumoso no inconsciente, ditando os processos
de evolução das ocorrências no ser e que o propelem para as diferentes atitudes
comportamentais do cotidiano. Psicologicamente existem no inconsciente todos os
símbolos das diferentes culturas, que se mesclam, formando a realidade
individual.
Os arquétipos são imagens universais, preexistentes no ser – ou que
procedem do primeiro ser – desde os tempos imemoriais. Permanecem estes
símbolos no inconsciente humano, independendo de quaisquer outras construções
psicológicas, dando-lhe semelhança e até uniformidade de experiência,
tornando-se uma representação que perdura imaginativamente. (...) Muitas vezes
esses arquétipos surgem nos sonhos como imagens preexistentes, liberando-se do
inconsciente.
No entanto, nem todos os símbolos são procedentes dos arquétipos, porque podem ter
origem na própria energia do indivíduo, nas suas atuais fixações, traumatismos
psicológicos, conflitos, frustrações, ansiedades e desejos. Diferem, os
arquétipos, dessa energia inerente ao ser, porque os primeiros tem um caráter
universal, enquanto os outros são individuais.
Demônio (arquétipo símbolo do mal), anjo, amor, ódio, etc. são
símbolos que sempre existiram no íntimo dos seres e que se transmitem
através do inconsciente coletivo, exercendo um papel preponderante na linguagem
onírica e no comportamento existencial.
Entretanto, como diz Joanna de Angelis, muitos símbolos que
se apresentam como arquétipos, provém de um outro tipo de herança primordial: a
da experiência de cada espírito nas reencarnações. Graças às mesmas, são
transmitidas as vivências de uma para outra etapa, prevalecendo como
determinantes do comportamento aquelas que foram mais vigorosas, assim estabelecendo,
no inconsciente individual e profundo, símbolos que emergem no sonho ou durante
a lucidez como conflitos variados, necessitados de liberação.
O processo da reencarnação explica a presença dos arquétipos no ser
humano, porque
ele é herdeiro das suas próprias realizações através dos tempos, adquirindo em cada
etapa valores e conhecimentos que permanecem armazenados nos refolhos do ser
eterno que é.
O estudo das reencarnações demonstra que, mesmo em forma de
símbolos, algumas
das lendas e mitos presentes na história dos povos são resultantes da
inspiração espiritual, de insights experimentados por inúmeras pessoas, assim também
confirmando a preexistência do Espírito ao corpo e a sua sobrevivência à morte.
Certamente, como afirma Jung, esses arquétipos aparecem nos sonhos
como personalidades divinas, religiosas, portadoras de conteúdos
transcendentais e se apresentam como sobrenaturais, invencíveis. Em muitas
circunstâncias, porém, são encontros com seres transpessoais, que sobrevivem à morte e
que habitam, não só o mundo das ideias, da concepção platônica, mas o da
energia,
precedente ao material, ao orgânico, que é causal e atemporal.
Podemos, portanto, em uma visão transpessoal dos acontecimentos, associar os
arquétipos a outro tipo de realidade vivida e ínsita no inconsciente profundo –
o Espírito – ditando os comportamentos da atualidade, que são as experiências
espirituais, parapsíquicas e mediúnicas.
As criaturas são todas multidimensionais, possuindo características
comuns, resultado da perfeita reunião dos arquétipos que constituem cada
individualidade. Assim, cada indivíduo é único, constituindo-se através do
somatório da infinidade de suas experiências, apesar de todas as analogias
comuns aos demais membros da família humana. O crescimento psicológico do ser reside na
busca de si mesmo (não de ser como aqueles a quem se julga melhores, perdendo a
identidade).
Individuação é o processo onde o ser opera a transformação
moral de si, tornando-se total, original, libertando a consciência das
constrições mais vigorosas do inconsciente dominador. Diz Joanna de Angelis que
“é
indispensável enfrentar o inconsciente com serenidade, descobrindo-o e
integrando-o à consciência atual. Cada ser encontra sua própria rota, que deve
seguir, trabalhando-se sempre, sem culpa, sem ansiedade, sem receios
injustificáveis, sem conflitos responsáveis por remorsos.
Esse processo pode durar toda a existência, o que é muito saudável,
porque
o ser se descobre em constante renovação para melhor, liberando-se das cargas
negativas que lhe ditavam as reações e lhe produziam problemas em forma de
distúrbios íntimos, afetando-lhe a conduta.”
Cada ser possui uma infinita riqueza no seu mundo interior, que é a herança
divina nele jacente, que agora desperta e torna-lhe a consciência, libertando-o dos
atavismos perturbadores.
A psique humana que se constrói como resultado dos símbolos
universais existentes, dilata-se na individuação que aguarda ser alcançada por todos os
seres pensantes, por outro lado, meta da reencarnação: a conquista do Si, a
elevação do Espírito, pairando sobre os destroços das experiências malogradas,
transformadas em edificações de paz.
Aprofundar a busca no oceano do inconsciente para eliminar os
conflitos decorrentes das várias ocorrências passadas – as atuais e as das
reencarnações anteriores – conseguir a individuação, eis a meta que aguarda aquele
que deseja estar desperto, consciente da sua realidade e que luta em favor da
sua iluminação interior e felicidade total.
Compilado dos livros “Vida Desafios e Soluções”, de Joanna de
Angelis por Divaldo Franco e “O Homem e Seus Símbolos” de Carl G. Jung.